Canal da Nicarágua, um marco no comércio latino com a China

Enviado por Adir Tavares

Do Tijolaço

Canal da Nicarágua, um marco no comércio latino com a China

Por Fernando Brito

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Começa na segunda-feira a obra de construção do segundo canal de navegação entre o Oceano Atlântico e o Pacífico, o Canal da Nicarágua.

Aqui, o assunto é praticamente ignorado, embora a China seja hoje a maior parceira comercial do Brasil.

E a potência comercial em maior expansão no mundo.

O canal, com 278 quilômetros – 105 deles aproveitando o Lago Nicarágua, próximo à costa Oeste daquele país e sua abertura é iniciada exatamente um século da inauguração do Canal do Panamá, que atendeu aos interesses estratégicos dos Estados Unidos.

(Para se ter uma idéia, o Panamá nasceu por causa do canal, pois a área pertencia à Colômbia e os rebeldes da região panamenha só puderam proclamar sua independência porque Theodore Roosevelt mandou para lá uma baita canhoneira americana que fez os colombianos engolirem a perda de território)

A obra, de US$ 50 bilhões, é oficialmente contratada pela  Xinwei Telecom Technology, do megaempresário Wang Jing, mas ninguém duvida que este tem o governo chinês a garanti-lo.

Mas o que faz os chineses se lançarem a um empreitada deste vulto se já existe – a 600 km de distância – o Canal do Panamá e que, embora sobrecarregado, está em vias de inaugurar uma ampliação, inclusive com a ampliação da capacidade de operar grandes navios sendo dobrada, para até 150 mil toneladas de porte bruto ou até 13 mil conteiners?

Não é só porque por ali poderão passar navios de até 330 mil toneladas ou 30 mil conteiners, o que certamente tornará muito mais econômicas as viagens de minério, petróleo e outras mercadorias e porque, com navios maiores, o custo do transporte da  carga chega a cair 60%.

Os chineses, com interesses russos a reboque, não querem depender do controle – militar ou econômico – norte-americano sobre sua rota mais curta com o ocidente: a América Latina e até, no caso de uma deterioração das condições políticas no Golfo de Suez, com a Europa e o Norte da África.

Para o  Brasil (e para Venezuela, Colômbia e Cuba, além de todo o Caribe) as possibilidades de ampliação do comércio com os chineses (e Russia, Austrália e o Sudeste Asiático) são imensas.

Mas aqui, pouca ou nenhuma atenção se presta a isso.

Os eixos de poder econômico no mundo estão mudando e, com eles, os de poder político.

http://tijolaco.com.br/blog/?p=23884

 

Redação

19 Comentários

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  1. Mediocridade jornalística

    Uma notícia sobre o canal da Nicarágua saiu, agora, no “Bom Dia Brasil”. O viés da notícia foi o impacto ambiental da obra e a indenização de indígenas por cujas terras o canal passará. A que eu me lembre, foi só isso que preocupou a editoria do programa. Ao se comparar as omissões da notícia da Globo e os aspectos da obra que a preocuparam com a análise do Fernando Brito aí em cima, vê-se que a Globo não pode reclamar de sua perda acelerada de audiência.

    1. Esse povo não tem a menor

      Esse povo não tem a menor idéia de que estão pulando da frigideira direto no fogo.

      Nunca negociaram com um chinês, não tem a menor idéia de como pensam.

      Ao invés de lutarem por um país e um continente autônomo, estão querendo se livrar de im império e se jogar nos braços de outro, infinitamente pior. 

       

    2. O Joseph McCarthy do blog…

      O Sr. Araujo vive acusando as pessoas de esquerda de serem doutrinários e ideológicos, mas na verdade é ele que vê um fundo ideológico primário, digno dos piores momentos da guerra fria, em relação a tudo que comenta.

      É ridículo.

      Nem o texto nem os comentários estão vendo o projeto como uma prova da estatização superando a iniciativa privada, o debate segue por outro caminho, com o texto analisando as mudanças geopolíticas em curso e o significado desse projeto em relação ao papel da China como potência econômica frente ao período unipolar que se seguiu ao final da Guerra Fria.

      Mas o Sr. Araújo prefere exercer um ridículo e primário macarthismo, acusando aqueles que chama de “antiamericanos” (como se o antiamericanismo fosse um pecado) que nem ao menos chegaram a se manifestar no post e defendendo a iniciativa privada de argumentos estatizantes que nem sequer foram feitos.

      Fica claro com isso quem aqui é fanático por uma ideologia.

       

  2. Inercia brasileira!

    O que não entendo é porque o Brasil não agiu pra entrar nesse empreendimento junto com a China. Temos capacidade tecnica e recursos para participar e, acredito eu, que o governo tem alguma influencia pra ter entrado no empreendimento junto com os chineses.

    1. “Entrar nesse empreendimento

      “Entrar nesse empreendimento junto com a China”” e quem é que disse que a China quer socios? O Brasil não tem interesse estraegico que justifique investir bilhões de dolares em um canal sob controle chinês.

  3. Lastimável

    Depois de um século, a América Central, como de resto toda a América Latina, continua sendo apenas um quital de impérios. Mudou o império, para pior.

    No ramo de eletrônicos há anos, já negociei com yankees, alemães, japoneses e ultimamente apenas com chineses. condição que se impõe hoje, é isso ou ficar fora do mercado.

    Esse pessoal que defende o avanço do império chinês deveria fazer um cursinho intensivo de uma semana ali na região da 25 de Março, com  os “importadores”  chineses que já dominaram todo o comércio desse tipo de produto.  Na verdade, apenas representantes do industrial chinês, que os plantou aqui, afastando o importador brasileiro do negócio. Ver como eles tratam seus empregados, a sonegação de impostos, etc

    Esse canal, quando pronto deverá fazer o produto chinês chegar ainda mais barato ao Brasil, acabando de vez com nossa indústria, e em contra partida, fará os nossos produtos primários chegarem ainda mais barato para eles também. Par eles é o ganha-ganha, para nós é o perde-perde.

    Abaixo, os integrantes de um movimento popular agrário de nicaraguenses que perderão suas poucas terras para o canal, aguardam a chegada das máquinas.

    É compreensível sua revolta. Eles tem que submeter a normas ecológicas em suas atividades para preservar os 14 ecossistemas que serão afetados pelas obras, enquanto o magnata chinês recebe carta branca do congresso nicaraguense para meter o trator a vontade.

     

    1. Uai, a Receita não dá em cima

      Uai, a Receita não dá em cima deste povo? Vou tentar sonegar o meu contracheque prá ver o que vai dar. Quem sabe dou sorte.

    2. A China é um problema inevitável

        Concordo com as suas críticas, mas não vejo como escapar disso. Se você optar pela compra de eletrônicos da Apple, por exemplo, irá pagar mais caro por um produto fabricado na China e com utilização de mão de obra escrava. Ao submeter-se às imposições norte-americanas, você não elimina a influência chinesa, apenas acrescenta à ela a influência dos Estados Unidos.

      1. Pelo visto vc fica muito

        Pelo visto vc fica muito impressionado com manchetes. Eu vi o vídeo em que se baseou toda a reportagem sobre a Apple.

        Nada diferente do Brasil.

        O pessoal quis relativisar o conceito de escravidão… agora é só uma questão de ponto de vista.

        Se vc olhar o problema de PERTO(veja o vídeo), vc vai concluir diferente.

        A denúncia é: dizer o que os trabalhadores tem que marcar na prova de multipla escolha de admissão na fábrica. Pronto, disse para parcar em ordem tipo 1, d, e, c e isso caracteriza o trabalho escravo. Risível…mas só se vc assistir ao vídeo. Se ler a reportagem aí não é risível, é gravíssimo.

    3. Deplorável

      Nem no texto do post nem em nenhum comentário (pelo menos até o momento em que escrevo) defende o avanço do “Império Chinês”, portanto não sei de quem o Sr. está falando.

      Já vi neste blog, em alguns poutros posts, pessoas colocando como positivo o fato de haver uma mudança na conjuntura geopolítica mundial, com a ascenção dos BRICS indicando a possibilidade de um mundo menos unipolar em um futuro próximo.

      Pessoalmente considero isso positivo, não por achar os chineses bonzinhos, nem por saudades da posição da Rússia durante a Guerra Fria e menos ainda por antiamericanismo fanático do qual o McCarthy do blog acusa todo mundo que não fique de quatro e diga “amém” a tudo o que os americanos fazem, mas apenas por achar que um mundo multipolar é mais equilibrado do que um que tem uma única superpotência hegemônica.

      Posso estar errado mas certamente não estou sendo fanático, nem antiamericano e muito menos defendendo o avanço do “Império Chinês”.

      Sem esses estereótipos ridículos e sem uma postura macarthista fanática, talvez o debate se torne mais produtivo e interessante.

       

      1. Querido

        Se a China tivesse interesse num mundo multipolar não estaria espalhando seus cidadãos pelo mundo a destruir as cadeias produtivas e distributivas instaladas.

        O interesse chinês é imperial. 

        Em poucos anos você estara trabalhando para eles, morando numa casa feita nas suas fábricas de casas que fazem milhares de kits por dia, andando num carro deles e abastecendo-o num posto de bandeira chinesa.

        Vai sonhando com seu mundo multipolar, quando acordar será bastante tarde. 

         

        1. Nossa, que paranóia…
          Nem a China, nem os EUA estão interessados em multipolaridade. Quem está por cima quer ficar lá sozinho. A questão é que eu não acho que os chineses são bonzinhos. Mas também não acho que os americanos são bonzinhos, como parece ser o seu caso. A multipolaridade vem do fato de existirem muito pólos, um competindo com o outro e é essa competição que gera o equilíbrio, não o fato deste ou daquele serem bonzinhos… Nesse sentido um mundo com China e EUA é mais equilibrado que um do com os EUA. Um mundo com os BRICS e o G7 é mais equilibrado do que um do com o G7. Mas p seu caso parece ser de sinofobia grave. Sugiro procurar tratamento.

          1. Bem

            Primeiro você tem que se decidir, senão inviabiliza a discussão.

            Na primeira resposta você vem falando que uma multipolaride, supostamente proporcionada pela China, faria um mundo melhor.

            Agora adota o discurso de que uma bipolaridade, EUA e China, também é melhor.

            Decisa-de, ou você quer um mundo multipolar como eu, e isso passa não pelo fortalecimento de outro império que desafie o primeiro, mas sim pelo enfraquecimento de ambos, ou você acha bom ser alvo de disputa entre dois impérios econômicos mundiais.

            E não se faça de desentendido quanto a questão chinesa. Você sabe que seu poderio econômico advém da precarização do trabalho em relação até mesmo aquilo que nós tinhamos conseguido aqui na América Latina, em relação a América do Norte e Europa a distância é brutal.

            E muito mais que a precarização do trabalho, que por si só já é um fator a condenar todo o crescimento chinês, o sistema condena a miséria em regiões rurais um bilhão de pessoas para que o sistema possa ser o que é, condenando outros 300 milhões a trabalharem em condições inaceitáveis para os padrões que atingimos já há um bom tempo.

             

          2. Eu já me decidi faz tempo…

            Me decidi por não ser cinófobo e saudar o aparecimento de outros players importantes no cenário internacional, para competir com os EUA e o G7.

            Essa historinha de enfraquecimento do império americano no lugar do fortalecimento do império chines é viagem da sua cabeça, não da minha. Não tem chance de serem todos fracos igualmente e essa sua historinha não tem pé nem cabeça.

            O que você acha? Que vai ter uma recessão mundial, todos os países vão ficar na merda economicamente falando e aí todos serão iguais? Respeito seu pensamento pelo fato de todo mundo ter a liberdade de pensar como quiser, mas acho que não tem nada a ver…

            Mas se é isso que você defende seria bom deixar mais explícito porque o que você fez não foi a defesa do enfraquecimento dos impérios, foi na verdade um discursinho xenófobo dos mais tacanhos. Talvez você não tenha percebido isso e escreveu sem intenção. Então #ficaadica, ficou xenófobo (até mesmo racista) para Bolsonaro nenhum botar defeito. Se a intenção não é essa, talvez seja interessante explicar melhor e maneiras no xingamento a essa etnia específica.

          3. Elêlê

            Não misture alhos com bugalhos, meu querido.

            Até porque é uma constatação lógica e consciente, sob uma análise baseada em dados concretos.

            Trata-se de uma crítica ao modelo de negócio chinês, altamente predatório. 

            Mas tudo bem, se você acha que será bom para você, só posso lhe dizer que o tempo é o senhor da verdade. 

  4. Faltou pesquisar um pouquinho

    Faltou pesquisar um pouquinho antes de sair a gritar anti americanismo tosco. Em 1977 o canal passou a ter administração conjunta do Panamá e EUA.  Em 1999 o Panamá assumiu a administração e controle do canal através de uma agência de seu governo. Quem começou a construir o canal foram os franceses que desistiram perto do final do sec 19 e os malvados americanos assumiram o projeto em 1904.ou seja, os americanos controlaram o canal durante 63 anos, de 14 a 77 sozinhos, depois mais 22 em conjunto com o estado panamense. Eu conheço uma empresa espanhola que tem a concessão de estradas na europa e no Canadá que tem prazo de 99 anos e ninguém quer pegar em armas Contra os espanhóis. 

    A pergunta a ser feita é quem ira controlar o futuro canal na nicaragua e por outra, porque a gritaria contra um dito imperialismo americano e aceitação tácita de outro, desta vês chinês? 

     

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