Desvendando a espuma II: de volta ao enigma da classe média

A repercussão do meu artigo “Desvendando a espuma: o enigma da classe média brasileira” (https://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-o-enigma-da-classe-media-brasileira) foi tamanha neste blog, que eu não pude me furtar ao dever de retornar à discussão proposta pelas centenas de comentários que ele ensejou. Como não posso responder a cada um individualmente, embora eu o quisesse e muitos merecessem, faço isto com este novo texto, desta vez um pouco mais sistemático, com o intuito de reafirmar algumas questões, esclarecer outras, e aprofundar ainda outras. 

Inicialmente, gostaria de agradecer a todos os comentaristas que, mesmo os mais críticos, acabaram por valorizar a discussão provocada pelo texto, e motivaram-me a aprofundar algumas questões neste novo post.

O que eu afirmei no texto anterior é que as posições reacionárias de boa parte da classe média identificadas pela Marilena Chauí são sustentadas fundamentalmente por um “ethos meritocrático”, embora eu reconheça que não tenha esclarecido suficientemente o que seria isto, o que causou muita confusão. Pretendo clarear esta posição aqui. Então vamos lá que o caminho é longo!

Decodificando o “ethos meritocrático”

A palavra “ethos” foi usada no artigo “Desvendando a espuma…” para designar uma espécie de síntese das crenças e valores desta classe média a qual me referi. Eu penso que uma parte significativa da classe média comunga de um sistema de crenças que associa o mérito à eficiência, progresso e justiça; portanto, uma sociedade só progrediria, só seria eficiente e justa se organizada sob um regime meritocrático, que premiasse o mérito e punisse o demérito. Políticas públicas que subvertem o mérito gerariam indolência, ineficiência, estagnação e injustiça, o que, reconheçamos, é a base da maioria das críticas aos programas sociais e ações afirmativas atuais.

Acho que este sistema de crenças ficou ainda mais claro pelo teor dos comentários da maioria daqueles que, em crítica ao meu texto anterior, bradaram em defesa da meritocracia. É claro que existe um componente de “interesse” associado a este ethos, ou seja, ele não se resume a um sistema de crenças e valores; aqueles que alcançaram posições de sucesso por mérito próprio, ao defenderem a meritocracia defendem também seus interesses pessoais, mas estou certo de que fazem isto acreditando na justiça que isto representa, pois creem ser justa a posição que ocupam por ter sido conquistada pela via do mérito.

Muitos dos que defendem a meritocracia usam como referência, inclusive, suas histórias pessoais, que geralmente contam da ascensão social obtida com esforço e superação pessoal, o que mostra que este “ethos” tem a ver com o modo como se formou e se reproduz socialmente esta porção da classe média de quem eu falo. É muito comum pessoas que tiveram histórias pessoais de superação, que ascenderam na vida com muito esforço pessoal, tornarem-se meritocratas fervorosos e conservadores, com base em um raciocínio muito simples e dedutivo: “se eu que tinha poucas condições consegui, todos podem conseguir; se não conseguem é porque não se esforçaram o suficiente; e se não se esforçaram, então não merecem”.

Mas, embora a história pessoal de cada um faça parte da formação do seu sistema de crenças e valores, extrapolar, por silogismo, o seu caso particular para a sociedade é um reducionismo inconsequente. Exemplos individuais não funcionam bem para extrapolações sociais, pois a sociedade é bem mais do que a soma dos indivíduos que a compõem. Esta concepção de um sistema social ser uma pura e simples agregação de indivíduos está superada na maioria das ciências sociais e humanas.

O foco central do texto “Desvendando a espuma” foi mostrar como este ethos meritocrático leva a atitudes reacionárias de parte da classe média, ou seja, como esta forma de crença na meritocracia pode fundamentar um tipo de ideologia que produz pessoas que, do ponto de vista da vida coletiva, são intolerantes, avessas à atividade política, individualistas, aparentemente insensíveis aos problemas sociais, e reativas a qualquer política compensatória ou distributivista.

Neste texto, pretendo argumentar que certas promessas da meritocracia, estas mesmas que produzem comportamentos políticos reacionários, são crenças vãs, e que a meritocracia produz uma ilusão de eficiência, de progresso e de justiça que não corresponde à realidade.

Meu propósito, porém, não é acabar com a meritocracia (eu não proporia substituir os concursos públicos, por exemplo, pelas antigas indicações pessoais), mas sim relativisá-la, mostrando que ela não corresponde ao ideal de eficiência, progresso e justiça que a sustenta como crença. Proponho-me, assim, a desconstruir suas bases racionais, mostrando a falaciosidade de cada uma destas crenças, para liberar as políticas públicas para que possam atuar sob outras bases de legitimação, para buscarem desenvolvimento e justiça por fora dos limites da meritocracia.

A ilusão de eficiência e progresso da meritocracia

Meritocracias modernas são sistemas burocráticos. O primeiro cientista social a desvendar o nascimento da meritocracia como fundamento da autoridade nas organizações modernas, esta meritocracia ungida pela racionalidade e pela ciência, foi o sociólogo alemão Max Weber. Ele Fez isto justamente ao dissecar a passagem das organizações pré-modernas, tradicionais, cuja autoridade era baseada na tradição ou no carisma, para as grandes e modernas organizações burocráticas, cuja autoridade é de fundamentação legal-racional. O mérito, portanto, e não a tradição nem o carisma, passava a ser o critério para ocupar cargos de autoridade e ter acesso a recursos de poder.

Não só as burocracias são sistemas meritocráticos, como também as meritocracias, em regimes democráticos, tendem a se burocratizarem com o tempo. A burocracia é uma força modeladora inescapável quando se racionaliza e regulamenta algum campo de atividade, como a meritocracia exige. Claro, não estou falando em meritocracias baseadas exclusivamente no desempenho de mercado, em sistemas de mercados totalmente desregulados, de uma forma tal que nem existem casos empíricos, nem nas meritocracias de regimes autoritários. Falo em meritocracias reguladas por instituições sociais em regimes democráticos, como normalmente ocorrem no mundo real, sobretudo nas democracias liberais ocidentais.

Pense em um sistema meritocrático qualquer e você verá que precisará de um complexo sistema de avaliações para estabelecer a discriminação de mérito entre as pessoas e entre as organizações. Comece a montar este sistema e você invariavelmente tenderá a estabelecer regras, hierarquias de valor, critérios, indicadores, etc. Inescapavelmente você criará um sistema burocrático, que orientará e circunscreverá as ações de seus avaliados da mesma maneira que os estatutos de servidores regem as ações dos funcionários públicos. Pessoas sob regimes de avaliação meritocrática se tornam burocratas comportamentais. Os sistemas de avaliação são as novas normas de atuação individual e organizacional, a semelhança do que fazem os estatutos funcionais das organizações mais burocráticas.

Os grandes problemas funcionais das burocracias já foram vastamente dissecados e tem a ver exatamente com a eficiência. Burocracias produzem comportamentos ritualistas e formalistas, levam à excessiva impessoalidade, criam resistência às mudanças e dificuldades de adaptação, produzem centralização, dentre outras tantas que conhecemos muito bem. Pois todas elas podem ser atribuídas também às meritocracias, uma vez que estas produzem sistemas de avaliação que burocratizam a ação.

Mas, o mais profundo efeito social da burocracia e da meritocracia, como afirmei no meu primeiro texto, é sobre a racionalidade humana. A meritocracia burocrática estimula a racionalidade formal, desautoriza as pessoas a pensar racionalmente nos fins, desestimulando o raciocínio crítico e as ações orientadas por valores e por convicções pessoais. Submetidos a sistemas meritocráticos, todos se orientam por metas e estímulos avaliativos externos, sobre os quais não tem controle. Professores e pesquisadores guiam-se pelos pontos que cada atividade sua proporciona em seu Lattes, escolas orientam-se pelos critérios de avaliação do Ideb, alunos se envolvem apenas com o conhecimento que cai no vestibular, artistas orientam-se pelo que tem demanda de mercado ou pode ser convertido em mercadoria. Assim, professores viram ritualistas e formalistas produtores de artigos, não de conhecimento; escolas viram formadoras de alunos, não de cidadãos; alunos se tornam especialistas em provas, não em saberes; e artistas já não produzem obras artísticas, e sim produtos. De alguma forma, a racionalidade meritocrática dá origem a um certo irracionalismo, a uma prisão do homem às regras e à racionalidade formal, mais ou menos no sentido do “eclipse da razão” descrito por Horkheimer, e da “gaiola de aço” a que Weber chamou as burocracias (a Iron Cage weberiana).

A meritocracia no sistema acadêmico brasileiro é muito ilustrativa desta lógica, e é preciso que eu corte a própria carne para falar disto. Mas de certa forma, todos na academia sabem que os sistemas de avaliação da CAPES e do CNPq têm levado a um produtivismo estéril, e alguns compartilharam isto em seus comentários sobre o meu primeiro artigo. Ao rankear pesquisadores e programas de pós-graduação quase que exclusivamente pela produção de artigos em periódicos, o sistema meritocrático da academia brasileira transformou a todos, pesquisadores, professores e estudantes em ritualistas e formalistas produtores de artigos. O significado do conhecimento produzido não é importante, desde que ele esteja publicado em uma revista também devidamente rankeada pela CAPES.

Os resultados deste sistema são trágicos: professores e alunos relegando para segundo plano as atividades de formação; desestímulo total à produção de livros de forma que em muitas áreas eles ou sumiram totalmente, ou são apenas adaptações de teses e dissertações, ou então coletâneas de artigos; surgimento de toda a sorte de fraude e engodo que produza artigos (compartilhamento de publicações entre pessoas que não participaram da produção, republicação de artigos com outro título, fracionamento desnecessário de produções para produzir vários artigos, dentre outros), e estímulo à esterilidade científica, à produção sem significado, sem relevância, sem substância inovadora.

As exigências de produtividade são um estímulo ao status quo, obstruindo a criatividade, a iniciativa, o senso crítico e a inovação. Quando se tem metas produtivas a cumprir, inovar, criar, empreender, fugir ao normal pode ser perigoso, pode ser incerto, pode ser arriscado, portanto não é desejável. O mais seguro é fazer “mais do mesmo”.

Isto não acontece somente aqui, não é mais uma destas coisas que se acha que só acontecem no Brasil. O pesquisador australiano Stewart Clegg afirmou, certa vez, que “pesquisadores que buscam legitimação profissional podem com muita facilidade ser pressionados a aprender mais e mais sobre problemas cada vez mais desinteressantes e irrelevantes, ou a investigar mais e mais soluções que não funcionam”.

Coisas da meritocracia no sistema acadêmico, levando simultaneamente à ineficiência e à estagnação/desutilidade do conhecimento. Como associar meritocracia com eficiência e progresso, se sistemas meritocráticos tendem a levar à burocratização das ações humanas, a fomentar à racionalidade formal e a desestimular a criatividade, a iniciativa, o senso crítico e a inovação?

A ilusão de justiça da meritocracia

Muitos dos comentaristas do texto “Desvendando a espuma” tentaram argumentar que não é a meritocracia em si, mas a meritocracia brasileira que é injusta porque nem todas as pessoas têm as mesmas condições de competir, porque há uma desigualdade de pontos de partida que privilegia aqueles mais bem posicionados na sociedade. É verdade, este é um problema a mais para a meritocracia, mas vou tentar mostrar que mesmo que todos tivessem as mesmas condições de concorrência, que dispusessem dos mesmos recursos, ainda assim a meritocracia não poderia, por si só, conduzir à justiça.

Primeiro, cabe destacar que estamos lidando com um conceito amorfo, controverso, “justiça”, muito difícil de ser tratado, que provavelmente terá uma conotação diferente para cada corrente ideológica, o que já é um problema para a meritocracia, pois contradiz a sua pretensão de objetividade e imparcialidade. Neste sentido, no ethos meritocrático, a defesa da meritocracia como justa é um tanto tautológica, pois para um meritocrata o conceito mesmo de justiça está associado ao mérito: “justiça é dar a cada um conforme seu esforço e sua capacidade”. Então, no ethos meritocrático, a questão não é se a meritocracia levaria ou não a uma sociedade justa; o mérito mesmo é que estaria na própria definição de justiça, e a meritocracia seria, portanto, intrinsecamente justa.

Este conceito de justiça do ethos meritocrático tem duas premissas com as quais eu não concordo: que numa meritocracia cada um, realmente, recebe o que é merecido conforme seu esforço e sua capacidade; e que, socialmente, se pode formar o todo a partir da mera soma das partes (justiça social seria uma mera soma destas justiças individuais), ignorando mecanismos sistêmicos e estruturas econômicas e sociais que operam na sociedade por sobre e além dos indivíduos.

Vou tentar desenvolver aqui a ideia de que, se a meritocracia baseia-se no desempenho e não no merecimento (portanto, depende mais de instrumentos do que de valores); se o desempenho de mercado não pode prover a justiça social; se o desempenho, em geral, e os critérios que o medem são moldados pelos poderes políticos e econômicos; e se o mérito é apenas uma convenção social e não uma substância dos seres que são avaliados, não há como a justiça ser um valor intrínseco à meritocracia, ou a meritocracia, por si só, produzir uma ordem social justa.

Como eu já havia afirmado no texto anterior, numa meritocracia o mérito é medido pelo desempenho, que muito provavelmente não indica o verdadeiro merecimento. E este desempenho, numa sociedade de economia mista como a nossa, refere-se tanto a resultados obtidos no mercado como a resultados obtidos em processos de avaliação de mérito (vestibular, concursos públicos, processos de avaliação, concorrências em editais, processos judiciais e tantos outros). A pergunta a fazer então é, será que medidas que premiam os bons desempenhos no mercado e em processos de avaliação de mérito são boas para promover uma organização social “justa”?

Bem, com relação ao desempenho de mercado, não me parece necessário maiores digressões para afirmar que ele, por si só, não pode prover a justiça. Até o pai dos liberais, Adam Smith, reconhecia que prover a justiça é uma das funções do Estado. O mercado pode até prover com abundância bens e serviços, mas não necessariamente com justiça, por isto os próprios liberais preferem tratar o mercado como uma instituição aética. As leis da oferta e da demanda se orientam pela oportunidade, não por valores morais; já vi, por exemplo, nos dias subsequentes a uma tempestade de granizo que destruiu principalmente as casas mais humildes, o preço da telha quase dobrar em função do aumento da demanda, tornando a agonia dos flagelados ainda maior. Isto é das leis de mercado, e pode até ter melhorado o desempenho das empresas de materiais de construção, mas certamente não promoveu justiça alguma.

Meu argumento para refutar o desempenho de mercado como capaz de prover justiça social não depende de qualquer análise marxista, que seria óbvio demais. Ao contrário, os primeiros a identificarem e reconhecerem as falhas do mercado como geradoras de “custos sociais” foram economistas neoclássicos – liberais, portanto – como Arthur Pigou e Ronald Coase, que desenvolveram o conceito de externalidade negativa ou custo externo (custos privados externalizados para a sociedade). Muitas políticas intervencionistas e regulacionistas são baseadas nestes conceitos, mesmo nas economias mais liberais. Os mercados, livremente, não conseguem garantir sequer as próprias condições do seu funcionamento, a concorrência, base de sua suposta eficiência, pois o oportunismo privado tende a levar à concentração de mercado, ao conluio e à busca pelo poder de monopólio. Por isto os países têm suas “leis de defesa da concorrência”, cujo nome é bem sugestivo das contradições do mercado: a concorrência é um valor dos mercados que precisa ser defendida da própria lógica do mercado.

A maioria das economias de mercado, atualmente, sobrevivem de uma armadilha perversa e inescapável. Para sustentarem seus padrões de crescimento, sem os quais estas economias entrariam em colapso, as empresas precisam vender sempre mais e para isto precisam fomentar o consumo; para fomentarem o consumo, elas precisam vender produtos que sejam rapidamente superados por outros, então, elas programam inovações que obsoletizam os seus próprios produtos, no círculo vicioso da concorrência, inovação e “obsolescência programada”. Isto gera toda a sorte de custos sociais, como o lixo que se acumula nas cidades, o excesso de carros no trânsito, a poluição do ar e dos rios, o lixo cultural, etc. Então, a busca por desempenho de mercado pode causar grandes custos à sociedade.

Nestas condições, não vejo como associar desempenho de mercado com uma ordem social justa. Portanto, o desempenho de mercado pode ser meritório apenas do ponto de vista individual, privado, na luta do indivíduo contra si mesmo, contra os seus desafios e suas limitações, mas não justifica organizar a sociedade em função dele.

Já o desempenho nas avaliações de mérito, outro pilar das meritocracias, também não é capaz de conectar meritocracia e justiça para além da concepção tautológica do ethos meritocrático. Simplesmente porque o que se chama de mérito é algo subjetivo, parcial e convencional, e por isto mesmo está frequentemente em disputa. Então, a meritocracia não pode ser intrinsecamente justa, ao contrário, o conceito de justiça de cada ideologia política é que define o que é meritório ou não.

Vou dar um exemplo simples surgido aqui mesmo neste blog, nos comentários do meu primeiro texto. De antemão, peço desculpas por usar-me como referência, mas a analogia é irresistível. Um dos comentaristas do texto “Desvendando a espuma” escreveu, elogiando-me, “ótimo trabalho do Renato, que deve ser um ótimo professor”; já outro, em sua crítica a mim e ao texto, escreveu “senhor professor, lamento pelos seus alunos”.

Não tenho nenhum reparo a fazer a qualquer dos dois comentários a meu respeito, mas estas palavras dizem muito sobre o que eu escrevi. Se eu fosse avaliado no mérito docente por aquele texto, qual deveria ser a avaliação considerada? Eu tenho méritos para ser professor ou não? Certamente as avaliações de ambos os comentaristas estão balizadas por posições político ideológicas diferentes, e dizem um pouco do que cada um espera de um professor, embora digam coisas absolutamente antagônicas.

Na verdade, o que me legitima como docente foi ter passado em um concurso público, em que a maioria da banca avaliou o meu desempenho em algumas provas, segundo normas preestabelecidas, e concluiu que eu tive um desempenho melhor que os demais concorrentes. Mas nesta como em qualquer outra avaliação de mérito, não se estabelece uma “verdade”; o que dá legitimidade para uma decisão de mérito são os procedimentos. Sim, embora as pessoas individualmente avaliem o mérito com base em seus valores pessoais, como os meus comentaristas acima, do ponto de vista social, coletivo, o mérito não é um valor em si, ele é uma convenção: se convenciona o que se estabelecerá como juízo de mérito.

O judiciário é um exemplo rico do que estou falando. Na sua avaliação de mérito em um processo, o STF pode condenar um réu que obteve 5 votos como culpado e 4 como inocente. O que dá legitimidade à condenação é o procedimento da “maioria simples”, mas isto não significa que se chegou a uma “verdade”, a uma conclusão incontroversa, o que de fato não ocorreu se houve quatro votos pela inocência; portanto, o mérito verdadeiro da questão não foi alcançado. Observe que se o procedimento para estabelecer este mérito fosse o consenso, o resultado seria inverso. Porém, após a decisão tomada, o réu é condenado, e as decisões assumem “efeitos de verdade”. Culpado! declara-se. Da mesma forma, após a aprovação no concurso público, o mérito está estabelecido, não importam as controvérsias a respeito da avaliação dos candidatos, nem o que acontece depois. E qualquer contestação, se houver, será dirigida por procedimentos, não por valores em si, não pelo mérito da questão.

É claro que eu estou falando, aqui, das sociedades que chamamos de “democracias pluralistas”, estas com ideologias, interesses e valores concorrentes, que disputam e, muitas vezes, se alternam no poder. Nestas o mérito é uma convenção que é disputada politicamente. Não vou me ocupar, portanto, dos regimes autocráticos; nestes, mérito e justiça podem ter menos correlação ainda, pois o mérito é um juízo de valor feito pelo ocupante do poder, que não precisa justificá-lo racionalmente nem precisa de sistemas burocráticos de mediação. Nestes casos, o mérito é uma imposição. O autocrata não precisa de convenções nem de mediações, ele é ao mesmo tempo o juíz e a lei! No campo político, esta não é a nossa realidade, portanto, não estou me ocupando dela, embora pense que não se deva confundir a meritocracia nestas duas condições distintas. Somos uma economia de mercado com uma dita democracia pluralista, baseada na burocracia e no sistema de representação, e isto faz muita diferença, por exemplo, em relação a regimes imperiais. 

O sociólogo alemão Niklas Luhmann tratou disto nas sociedades modernas, em seu livro “Legitimidade pelo Procedimento”, sobre a sociologia do direito. Lá ele afirmou que devido à alta complexidade, variabilidade e potencial de contradição dos inúmeros temas que tratamos nas modernas sociedades, é praticamente impossível se chegar a consensos, se chegar a convicções compartilhadas e se alcançar a verdade em cada coisa que é objeto de decisão. Por isto, se estabelecem procedimentos para decidir, para separar, para classificar, e se legitimam por estes procedimentos – não mais pelas convicções, como no passado – as decisões e ações. Então, se o mérito de determinada matéria é convencionado e legitimado pelos procedimentos, num tipo de sociedade como a nossa, a justiça mesma é uma convenção.

O que estou querendo dizer é que, a despeito de muitos acharem as avaliações meritocráticas (base de qualquer meritocracia) objetivas, isentas de juízos de valor, de subjetividade, de interesses, de controvérsias, de poderes, elas não o são. Portanto, o merecimento não é alcançado pela meritocracia, tampouco a justiça: o mérito é, na verdade, uma convenção, e o que lhe dá legitimidade não são valores substantivos, convicções ou verdades objetivas, mas sim procedimentos e regras. E os procedimentos usados para avaliar desempenhos, dos quais fazem parte critérios subjetivos, dependem de nossas crenças, ideologias e interesses, e estes estão frequentemente em disputa. Dependem, portanto, da política. Assim, o mérito não é algo objetivo, ele é “objetivado”. Se eu fosse avaliado no meu mérito docente pelos comentaristas deste blog, provavelmente o meu destino dependesse das opiniões dominantes por aqui e do poder que elas acumularam neste espaço, e nenhum de nós poderia negar que isto está atrelado às crenças, interesses e ideologias de cada um e de cada grupo. Sendo assim, eu não deveria me sentir melhor ou pior por ser aprovado ou rejeitado pela maioria.

O “mérito”, então, não está no avaliado, e sim no avaliador. Não é algo intrínseco aquele ou aquilo que é avaliado: ele se forma subjetivamente na mente daquele que avalia e se objetiva no sistema (nos procedimentos e normas) de avaliação. Portanto, contraditoriamente, o que está em jogo nas avaliações de mérito não é o valor daquele ou daquilo que será premiado ou punido pela meritocracia, mas os interesses, crenças, ideologias e poderes daqueles que avaliam e do sistema de mérito que eles representam. Então, é aí que se deve buscar a justiça, não na recompensa ou não pelo mérito.

Por isto eu escrevi que, apesar da meritocracia escamotear as reais operações de poder, os poderes econômico e político, não raras vezes, é que estão por trás dos critérios avaliativos e dos “bons” desempenhos. Como desempenho e mérito são convencionados, e convenções são disputadas politicamente, a meritocracia opera as mesmas relações de poder e dependência as quais ela veio pretensamente combater.

O real valor e o lugar da meritocracia na atualidade

O real valor dos sistemas meritocráticos ainda existentes nas sociedades modernas não está associado às crenças do ethos meritocrático expressas neste texto, que associam mérito a eficiência, progresso e justiça, e que depositam na meritocracia a possibilidade de redenção da raça humana da ingerência indevida e perniciosa da política e dos políticos. Não, lamento dizer, mas a realidade é exatamente o contrário, os sistemas de mérito e as burocracias modernas é que estão a serviço dos sistemas políticos, sobretudo nas democracias pluralistas típicas dos países ocidentais.

Como defendeu Paul du Gay no seu “In praise of bureaucracy”, nestes sistemas políticos, como já frizei acima, onde interesses, valores e ideologias convivem e disputam cotidianamente a possibilidade de influir nos destinos da nação, e frequentemente se alternam no poder, os sistemas de mérito baseados em valores, procedimentos e critérios pré-convencionados, tal como se descreveu aqui, garantem uma certa mediação imparcial dos conflitos típicos destes regimes, evitando que o Estado seja apropriado privadamente a cada vez que um novo grupo político assume o poder. Assim, existem concursos públicos e estabilidade no emprego para o funcionalismo público, não por que seja necessariamente mais eficiente obter e manter funcionários desta forma, ou que este seja o critério mais justo ou mesmo que assim as ações públicas serão mais progressistas. Não, eles existem para dar alguma estabilidade às organizações de Estado quando o poder político troca de mãos.

Não há outra razão para que as burocracias, que são os típicos sistemas meritocráticos, sobrevivam até hoje e tenham, inclusive, recrudescido nas últimas décadas, quando todos sabem, desde os idos anos de 1950-60, que elas são ineficientes, perdulárias, pesadas, rígidas e disfuncionais para a promoção do desenvolvimento e da justiça. A burocracia e a representação política são os dois pilares das democracias pluralistas, a versão moderna do liberalismo político.

Mas veja bem, este valor associado à meritocracia não a exime de todos os seus defeitos já apontados, e não tem nada a ver com a crença que muitos têm nela, ligadas ao ethos meritocrático que eu analisei aqui. Então, muitas políticas pretensamente meritocráticas, atualmente, são desenvolvidas e implantadas pelas razões erradas, porque comungam das crenças erradas e pensam que podem promover eficiência, desenvolvimento e justiça com sistemas meritocráticos. Ledo engano, promoverão exatamente o contrário. De outro lado, outras tantas políticas que operam no campo dos valores substantivos, que perseguem outras concepções de justiça e desenvolvimento, por exemplo, são combatidas por aqueles que comungam deste ethos meritocrático. Portanto, defende-se a meritocracia pelas razões erradas, e usa-se-a politicamente por fundamentos igualmente errados.  

Se bem compreendido, este valor que os critérios de mérito tem para as democracias pluralistas jamais poderia levar a uma posição política reacionária, ou a qualquer tipo de comportamento intolerante em relação às diferenças ideológicas, de valores e de interesses, ou ainda a qualquer comportamento reativo à atividade política, como tem acontecido com parte da classe média que comunga daquele ethos meritocrático do qual tenho falado. Ao contrário, se este tipo de sistema de mérito ainda existe para garantir a pluralidade e a alternância de poder, ele deveria produzir mentalidades tolerantes, reconhecedoras do pluralismo democrático, conscientes do caráter meramente convencional e formal do mérito, e sabedoras de que o espaço público da política, e não o microespaço privado do mérito em si, é que é o legítimo locus coletivo para se buscar o desenvolvimento e a justiça social. Portanto, políticas não meritocráticas podem ser mais democráticas, desenvolvimentistas e justas.

Finalmente, mesmo reconhecendo o que alguns propuseram, que um sistema só seria mesmo meritocrático se todos partissem do mesmo lugar, se todos tivessem as mesmas condições de concorrência, tenho convicção de que mesmo assim a meritocracia não daria conta das suas promessas de eficiência, progresso e justiça. Como tentei mostrar aqui, qualquer sistema exclusivamente meritocrático com o tempo se retroalimenta para produzir a desigualdade e a exclusão, para criar círculos viciosos baseados na racionalidade instrumental e formal, para criar comportamentos ritualistas e formalistas, para fomentar práticas fraudulentas, e para criar estruturas de poder paralelas que controlam as avaliações e forjam desempenhos. Sistemas puramente meritocráticos deformam a sociedade e afastam-na do desenvolvimento humano e da justiça social.

Mesmo que as democracias pluralistas precisem que alguns espaços públicos sejam ocupados por critérios de mérito, para garantir a estabilidade e regularidade das ações do Estado face à alternância de poder, isto não significa que elas devam ser sistemas sociais meritocráticos. A meu ver, a meritocracia implícita no ethos meritocrático continua a ser ineficiente, reacionária e injusta. Portanto, a meritocracia não é nem o remédio “contra” a política, nem uma diretriz para a política pública. Qualquer meritocracia é debitária da política, ela opera sob juízos de valor relativos ao mérito que são políticos e, em parte, a meritocracia burocrática é uma espécie de sustentáculo das democracias pluralistas e representativas. Nada mais! Nada de eficiência, progresso ou justiça lhe são intrínsecos.

Redação

174 Comentários

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  1. Meritocracia

    Renato, sua análise tem grande mérito teórico, mas vc partiu de uma premissa equivocada: meritocracia = reacionarismo. Daí vc cometeu vários outros equívocos, p.ex., no primeiro artigo disse que a meritocracia valoriza “predicados pessoais (habilidade, conhecimento, competência, etc.)”, mas não os “valores sociais universais (direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.)” Pelo contrário, na verdadeira meritocracia esses valores se fundem e são complementares.

    Outro equívoco grave: pressupor que no Brasil existe meritocracia. Mérito, qualificação técnica e ética nunca foram na História do Brasil critérios para se pertencer aos quadros dos governos ou da máquina burocrática ou para presidir a Câmara e o Senado. O que sempre definiu as nomeações foi a lealdade política, o partido, Quem Indica etc. É portanto um sistema oligárquico patrimonial, não meritocrático. Num país em que os mais pobres dependem de assistência permanente do Estado, não existe meritocracia. Num país em que a educação básica pública é medíocre e a boa escola particular é cara, não se pode falar que a classe média deixa para os filhos “o estudo e uma boa formação profissional”, como vc disse no primeiro artigo. 

    Outro equívoco metodológico – e este não é exclusividade sua – foi falar da classe média como se fosse uma categoria definida, fixa e acabada. Não existe uma classe média, mas classes médias, não só pelo critério financeiro, mas também político. Todos os movimentos de transformação social do mundo moderno foram protagonizados sobretudo pelas classes médias, até a Revolução Francesa. A resistência à ditadura brasileira foi quase toda das classes médias. Por isso outro equívoco é dizer que a maior parte da classe média brasileira é reacionária. Marilena Chauí fez aquela crítica por ressentimento pessoal, depois de se sentir humilhada por um casal num shopping.

    Outro equívoco seu: considerar reacionário quem é contra as cotas (muitos negros também são contra), o bolsa-família, os altos impostos, a impunidade e a mediocridade da maioria dos políticos. Aí você caiu num simplismo maniqueísta de viés governista. 

    Vc citou agora Max Weber como o pioneiro na conceituação da meritocracia como fundamento da autoridade nas organizações modernas. Mas desde 200 anos antes de Cristo a China já era governada por princípios meritocráticos inspirados em Confúncio. Aliás, concordo com vc quando diz que os sistemas de mérito e as burocracias modernas estão a serviço dos sistemas políticos, mas isso nos países ricos e na China, que está adotando talvez o mais bem-sucedido sistema de governança meritocrática do mundo. Membros do governo passam por rigorosos exames de competência e ética antes de serem empossados, incluindo análise de seu desempenho prévio na erradicação da pobreza, criação de emprego, desenvolvimento econômico na sua região, pesquisas de opinião, avaliação interna no órgão que ocupou. O critério é preencher cargos públicos com lideranças de alta competência. E ao contrário do que se pensa, o PC chinês atualmente é uma das instituições mais meritocráticas do país. Por essas e outras a China se tornou a economia que mais cresce no mundo. O mesmo acontece em Singapura.

    1. “Renato, sua análise tem

      “Renato, sua análise tem grande mérito teórico, mas vc partiu de uma premissa equivocada: meritocracia = reacionarismo”:

      Aqui temos de novo a visao de classe interferindo, Renato, nao disse?

      Uma equivalencia que talvez ate a propria Marilene Chaui faria nao tem valor em toda classe social.  Basta perguntar pras classes mais baixas -a esse ponto essa falacao teorica de “meritocracia” nao eh capaz de enganar nem sequer a eles exceto com a conceituacao mais primitiva…  que OS ALICIA pro lado da meritocracia e mais tarde os trai -sem uma unica excessao aa vista.

      Eu concordo com voce:  meritocracia eh reacionarismo sim.  Eh usado pra exclusao de vastas maiorias.  Mas a aplicacao do mesmo conceito que eu usaria numa favela, por exemplo, seria necessariamente limitada aa experiencia de vida deles e se eu os quizesse lubridiar, era so ficar no primitivismo conceitual e nao no que realmente ocorre em favelas por causa da meritocracia usada contra eles.

    2. Caro JasonForam tantas as

      Caro Jason

      Foram tantas as suas críticas que não poderei responder a todas elas, ao menos não em profundidade. Também considero que muitas respostas minhas seriam inúteis. Mas vamos a algumas ao menos.

      a) Eu não disse que a meritocracia é igual a reacionarismo, mas disse que a crença na meritocracia da forma como eu descrevi o “ethos meritocrático” gera um pensamento e um comportamento político reacionário. A meritocracia como sistema, como diretriz de política pública que exclui outras possibilidades, também entendo ser reacionária. Agora, o termo reacionário pode ser moldado por quem o utiliza, não vamos brigar por isto. Para muitos, eu é que sou reacionário. Mas eu acho que deixei claro o que entendo ser este comportamento reacionário no meu texto, e de certa forma utilizei este termo porque a origem de toda esta reflexão foram as provocativas afirmações da Marilena Chauí. Tomei o termo emprestado dela, então.

      b) Sim, eu acho que no Brasil existe meritocracia. O Brasil não é uma meritocracia, mas há muitos mecanismos de mérito por aqui, até mais que em outros países. Compare, por exemplo, com os EUA, que tem sido apontado aqui nos comentários como um país ultrameritocrático. No Brasil um promotor de justiça é concursado, com todos os requintes procedimentais da mais fina burocracia, e um jovem recém saído da universidade mas com um bom desempenho nas provas, pode se tornar um operador da justiça. Lá ele é eleito ou é cargo de confiança do prefeito. A própria administração da justiça por lá (quem “promove” a justiça) é uma atividade condicionada politicamente. Nada de meritocracia. Nas universidades, a mesma coisa, um sistema de ingresso muito menos rígido que os nossos, boletins escolares (não importando a variabilidade da qualidade das escolas) e até mesmo habilidades para o esporte valem no pleito por uma vaga. E as cotas para negros existem desde os tempos do Nixon. O controle sobre a atividade e a produtividade dos corpos docentes não chega aos pés dos sistemas de avaliação de mérito que temos no Brasil (aliás, suspeito que é por isto que a produção acadêmica deles é mais significativa que a nossa). Então, no Brasil há clientelismo, há compadrio, há coronelismo, e há meritocracia. E há tudo isto dentro dos próprios sistemas meritocráticos existentes.

      c) Com relação à classe média, sei que a concepção é genérica, mas sem generalizações não há qualquer possibilidade de teorização. Além disso, não acho que uma precisão maior em relação a esta categoria social seja essencial ao que eu escrevi. Também acho plenamente plausível admitir que a meritocracia está mais presente na classe média que em qualquer outra. Isto por si só poderia ser deduzido pela lógica racional, como fiz no primeiro texto, mas a minha vivência cotidiana com a classe média também me permite uma convicção maior ainda.

      d) Por fim, vou abordar a crítica do teu comentário que me é mais cara. O que difere profundamente a meritocracia do Weber da de Confúcio e da do PC chinês é a “era moderna” ocidental. Eu afirmei que Weber foi o primeiro a “dissecar o nascimento da meritocracia como fundamento da autoridade nas organizações modernas, esta meritocracia ungida pela racionalidade e pela ciência” cuja autoridade tem caráter legal-racional. A posição da racionalidade, da ciência e da legalidade como fundamentos do mérito e da autoridade fazem com que estas meritocracias ocidentais modernas difiram drasticamente das que tu citaste. Pouca coisa sobra de semelhança entre elas. Além do mais, a meritocracia weberiana está inscrita no Estado moderno, nas democracias pós “contrato social”, pluralistas, representativas e constitucionais, cujo poder público é outorgado por convenção e não por imposição.

      Juntando-se isto, você verá que a meritocracia que Weber desvendou desembocava inexoravelmente em organizações burocráticas. E assim sendo, elas não poderiam ser “eficientes” nem fomentar o progresso, como os teus exemplos. Disto, nem a meritocracia confucionana nem a comunista da China atual padecem. Porém, é a weberiana que se parece com as nossas meritocracias ocidentais atuais, não a de Confúcio nem a do PC Chinês. Mas eu não trocaria a nossa por a deles, só porque são mais eficientes e crescimentistas.

      Se você tem o poder do Imperador ou de um partido único, em regimes que não tem alternância de poder nem ideologias disputando o poder político, as meritocracias podem operar na ausência de regras e estruturas burocráticas, pois é o poder do imperador (no tempo de Confúcio) e do PC que impõem o juízo de valor sobre o mérito, e este não está em disputa nem precisa ser convencionado e normatizado para que se resguarde dos conflitos ideológicos e da alternância de poder. Estas meritocracias não são como a que eu descrevi, nestas o mérito não é uma convenção e o sistema de avaliação não é uma estrutura de regras burocráticas; o mérito é simplesmente um juízo de valor diretamente atribuído por quem detém o poder político (o imperador ou o PC) a quem é avaliado. Não há a mediação das estruturas burocráticas típicas das democracias plurais ocidentais. Portanto, é de se esperar mesmo que elas sejam mais eficientes e sirvam mais ao crescimento. Mas eu não trocaria o nosso crescimento pífio mas democrático por um exuberante crescimento autoritário.

      Além disso, você sabe, na China eles podem preencher os cargos desta forma porque não há eleição e não há oposição, não há aquela preocupação com a reprodução do poder político que nos assola a cada dois anos. Por aqui, os cargos não tem só uma função técnica, eles tem funções políticas, de levar o discuso governistas a todos os cantos burocráticos das organizações públicas, e de ajudar na tarefa da reeleição, sem a qual todo o esforço de ação seria efêmero e vão. Mazelas da democracia, que como dizia Churchil, “é o pior regime de governo que existe, exceto todos os outros”

      Abraço, e obrigado pela leitura e pela crítica.

      1. “Se você tem o poder do

        “Se você tem o poder do Imperador ou de um partido único, em regimes que não tem alternância de poder nem ideologias disputando o poder político…”

        Renato, esses dias o Ruda Ricci comentou um artigo que mostraria que há sim ideologias disputando o poder político na China. Ele não chegou a postar o link para o artigo lá, mas como eu consegui achar pelo Google, segue o link também.

        http://rudaricci.blogspot.com.br/2013/11/as-tres-correntes-intelectuais-da-china.html

        http://www.nuso.org/upload/articulos/3955_1.pdf

      2. A China tem eleição

        Além disso, você sabe, na China eles podem preencher os cargos desta forma porque não há eleição e não há oposição, não há aquela preocupação com a reprodução do poder político que nos assola a cada dois anos.

        Caro Renato,

        Você sabe que isto não é verdade. A China tem eleições: as Assembleias de Representantes do Povo são eleitas diretamente. Os representantes eleitos  irão eleger os representantes da  Assembléia Nacional de Representantes do Povo.

        Pode-se até criticar a efetividade da representação popular nas eleições chinesas, desde que consigamos fazer o mesmo com as nossas esdruxulas “democracias” ocidentais. Você citou alguns exemplos dos EUA, porque analisamos tão pouco o sistema eleitoral americano que, justificado pela busca de uma maior estabilidade política, criou um sistema que é, para dizer o mínimo, absolutamente particular: O presidente pode, p.e., ser eleito com menos votos dos representantes que o oponente. A mesma análise crítica pode ser feita para qualquer “democracia” ocidental.

        Não estou defendendo que adotemos o modelo chines, mas todos temos ainda muito a aprender sobre democracia, justiça, igualdade e liberdade. É melhor que nos atenhamos aos nossos problemas, ou examinemos com isenção TODAS as alternativas oferecidas.

        Aliás, a ultima instância decisória de nosso país, tem seus membros nomeados…      

  2. Ótimo texto

    Parabéns pelo trabalho. Embora na minha opinião, depois de refletir sobre seu texto, a meritocracia é como o capitalismo, eles tem problemas intrínsecos, mas a outra opção é mais prejudicial à vida, justiça, liberdade, etc. Quanto aos problemas do capitalismo temos muita coisa escrita, até agora nunca tinha pensado ou lido sobre essa abordagem da meritocracia, realmente, ficou um texto muito bom.

     

     

  3. Parabens, mais de 400

    Parabens, mais de 400 comentarios nao eh pra qualquer item nem aqui nem na maioria dos blogs brasileiros!

    Mas eu nao comentei (exceto um off-topic).  O que Marilene Chaui chama de “classe media” nao eh remotamente o que a “nova classe media” sequer se aproxima de ser.  Essa eh uma nova classe, de fato, e esta sendo chamada de “nova classe media” com intuito de os valorizar perante a sociedade e ate mesmo aos proprios olhos.

    O que o Brasil tem de “classe media real” eh pouquissimo.  O conceito foi importado, nao a realidade de classes alta/media/baixa.

    Eh quase inexistente uma classe media real no Brasil.  E eles sao tudo que Chaui diz deles mesmo.  Nao eh pra menos.

  4. Mais um aprendizado

    Mais um aprendizado proporcionado pelo texto. Essa reflexão em torno da meritocracia e de todos os seus desdobramentos é mesmo fundamental para compreendermos melhor a nossa sociedade. Acho que ainda vou precisar de um pouco mais de tempo para digerir melhor todos os ensinamentos do texto. Mas acredito que o essencial já ficou bem demonstrado, e assimilado também.

  5. Como tudo na vida, nada é 8

    Como tudo na vida, nada é 8 ou 80.

    Nem tudo é baseado no mérito puro, mas claro que o mérito existe sim e é, de alguma maneira, importante.

    Um exemplo: não é só a pessoa ter uma propriedade que ela vai conseguir extrair o máximo da mesma. Claro que quem for mais preparado para administrá-la, quem tiver mais mérito, na média, conseguira um retorno maior.

    No livro do Paul Singer, “Aprender Economia”, em determinado capítulo ele indaga: Como se dá a distribuição de riquezas na sociedade ? Em seguida responde, de maneira muita honesta intelectualmente, segundo duas teorias: a neoclássica e a marxista. 

    Segundo a teoria neoclássica a divisão se dá exclusivamente por mérito e trabalho de cada um.

    Segundo a teoria marxista a divisão se dá de acordo com as classes sociais existentes e muito mais baseado em herança.

    Desde que li o livro, há uns 5 anos, sempre acreditei e continuo acreditando que nenhum das duas teoria está totalmente correta mas também não totalmente falsa.

    A resposta que mais se aproxima da realidade é uma junção das duas teorias.

  6. O texto é genérico

    Jason, eu entendo que essas observações não valem apenas para “quadros dos governos ou da máquina burocrática”.

    Elas valem também para as atividades na iniciativa privada. 

  7. Muito bom o texto, vale

    Muito bom o texto, vale lembrar ainda que o “mérito” é uma medida que depende de fatores históricos e culturais, NÃO HÁ JUSTIÇA EXCLUSIVAMENTE NO MÉRITO.

    Um exemplo bobo para explicar: se o Ronaldo fenômeno tivesse nascido na idade média sua habilidade (desempenho) em fazer gols seria no máximo uma curiosidade, na pior das hipóteses ele poderia ser taxado de mancomunado com o demo.

  8. A política, não é mais a arte da direção de uma nação

    “Se é verdade que critérios de mérito são ainda necessários, eles precisam estar submetidos a outros sistemas que operem no campo dos valores, e não apenas do desempenho, das convenções e das normas. E estes sistemas, queiramos ou não, gostemos ou não, são operados pela política.”

    Renato,

    Você nos deve um novo artigo, uma proposta sobre como se daria a operação do sistema pela política.

    Para a política, pode-se colocar a mesma questão relativa ao mérito:

    A pergunta a fazer então é, será que medidas que premiam os bons desempenhos no mercado e em processos de avaliação de mérito são boas para promover uma organização social “justa”?

    Os operadores da política estão hoje sujeitos aos mesmos mecanismos de avaliação de desempenho do mercado. As campanhas, não são caras por acaso. A maior parte dos recursos não provém de pessoas preocupadas em promover uma organização social “justa”. Há um nó aqui a ser desfeito: Não é a política que opera o mercado. Ela é, já há algum tempo, operada por ele.

    A propósito, o enigma da classe média só persiste porque esquecemos, ou deixamos de lado, a discussão sobre a igualdade.

     

     

    1. Caro GilbertoTens toda a

      Caro Gilberto

      Tens toda a razão sobre as mazelas da política, mas eu não tenho as respostas que me cobras. Se eu fosse escrever o artigo que me propões, ele seria bem mais breve, talvez tivesse poucas linhas afirmando: não há saídas, ou “cura”, para a política fora da própria política; a construção da “boa” política que tanto desejamos deve se dar por dentro deste campo mesmo; o campo político é um campo de lutas, e não se pode esperar dele e para ele uma “solução” que seja estabilizadora ou sustentável. Não se pode cobrar da política o que ela não pode nos dar.

      Meu argumento é que a meritocracia não é nem o remédio contra a política, nem uma diretriz de política pública. A meritocracia é debitária da política, ela opera sob juízos de valor relativos ao mérito que são políticos e, em parte, a meritocracia burocrática é uma espécie de sustentáculo das democracias pluralistas e representativas, por garantir uma relativa imunidade e estabilidade às estruturas de Estado para que estas suportem a transitoriedade do poder político. Nada mais! Nada de eficiência, progresso ou justiça são intrínsecos a ela.

      Abraço

      1. Ficou mais claro

        Caro Renato,

        A circunscrição da crítica, feita no segundo parágrafo, deixa mais claro o seu intento.

        Quanto à colocação  a construção da “boa” política que tanto desejamos deve se dar por dentro deste campo mesmo, concordo. Penso porém que existe a necessidade de “perceber”  e entender melhor este campo político.

        A classe média, quando faz a defesa da meritocracia por exemplo, no meu entender, não “acha” que está fazendo política. Pensa que está praticando ou cobrando objetividade. Aliás, parte desta classe, vê com maus olhos a política e julga que a mesma é um campo exclusivo para “políticos profissionais”.

        À partir destas premissas, acredito que a forma mais eficaz de crítica à “política profissional”, seria atrair o maior número de pessoas para o campo da política. Mostrar que o campo político de atuação do cidadão comum é possível, desejável, mesmo atuando fora do campo da “política profissional”.

        Para isto, é necessário sair das queixas e das críticas genéricas, da simples cobrança ao governo ou a Geni da hora. Para reclamar de algo, é necessário conhecer minimamente o seu campo, ser capaz de fazer a crítica, de propor alternativas à respeito, formular e precisar o desejo.  A “política profissional”, por exemplo, não é aquilo que desejamos. Porém, não somos capazes de modifica-la, delegamos a outros a tarefa. É um jogo circular, culpamos os políticos por tudo mas não somos verdadeiramente capazes de articular para criar o campo  político que gostaríamos de ter. Isto exige mais do eleger “representantes” para faze-lo. 

        Queremos um estado justo, porém dadivoso, uma espécie de cornucópia milagrosa que tudo fornece. Raramente nos perguntamos, com o que tal cornucópia se alimentaria. Dos meus impostos, diria a maioria, mesmo sabendo que são poucos os que os recolhem corretamente. Esquecendo também, mesmo aqueles que procedem com total retidão, que o sonho de uma sociedade justa exige mais que isto: Um mínimo de participação política.

        Não basta votar para que um representante, “pago com o nosso dinheiro”, faça “o resto” por nós. Não basta tornar o nosso “sonho”, mais uma relação de consumo com queixa ao SAC. É necessário contribuir de várias outras formas. Todas as nações que conseguiram se aproximar de um regime mais justo contaram com a participação efetiva da população. Com a queixa, com a cobrança, mas também com a participação efetiva na vida pública.        

            

  9. subversão da meritocracia

    Como uma visão geral do funcionamento do sistema , o texto funciona bem. Entretanto, a cooptação e o uso do conceito da meritocracia são subversivos e demeritórios.

    Há a renitente insistência em se misturar burocracia e meritocracia quando as relações de causa e efeito não são de fácil compreensão. De fato, a meritocracia é colocada a serviço da burocracia ou de qualquer sistema dominante. O Renato ,ao relativizar ao extremo a meritocracia , a identica muito bem no mundo privado, onde o trabalhador, por melhor que seja, tem prazo de validade.

    Entretanto, a meritocracia é vítima e não consequencia do sistema.   Ao assumir que a meritocracia corrobora com o sistema vigente, o Renato parte para um salto lógico que a simples observação não admite, ainda mais no Brasil, o país do capitalismo de compadres.

    A méritocracia, com todos os defeitos, ainda é a única porta de saída para uma parcela da população talentosa, mas sem “QI” (quem indicou).

    Ainda há a falaciosa associação entre reacionários e meritocratas. Como diria o filósofo, prefiro acreditar que uma coisa é uma coisa ,outra coisa é outra coisa.   

    1. Por que falaciosa?

      Você sabem muito bem que ele quis associar algumas facetas do reacionarismo, como retratividade as politicas de transferencia de renda. O problema é que o texto do Rentao é um daqueles que despertam a ira simplesmente por fazer refletir e se identificar com algo que se desejava maquiar. Ou você não vai admitir que aquela apssagem do texto em que ele sintetisa o pensamento de muitos meritocratas: ” se eu consegui sozinho, então eles tambem podem”. Esse “sozinho” é a verdadeira falacia que arquteta a hipocrisia dos que acham que chegaram lá.

      1. não há estatísticas

        1-Acredito que hajam reacionários ricos, de classe média e pobres. Acredito que hajam meritocratas ricos, de classe média e pobres.

        2- Não acredito que existam estatísticas confiáveis sobre o tema

        3- O peso atribuido a classe média na modelagem da sociedade, atribuida pelo Renato, me parece desproporcional.

        4- Assim como a democracia, a meritocracia não é melhor sistema. É apenas o possível e o menos pior. 

  10. Papo MBA

    Uma pesquisa quantitativa talvez pudesse detectar uma altíssima presença desse “credo no mérito” entre o pessoal que fez MBA – além, é claro, de médicos e outras profissões “tradicionais”, como foi lembrado.

    Parece halloween.

  11. Muito bom, vai pro FB, de

    Muito bom, vai pro FB, de novo. Não pensei que fosse viver para ver a discussão acerca da tal meritocracia, a meu ver, o mais cruel de todos os conceitos. Afinal, o grande mérito que o conceito contrabandeia é o de ser bem nascido ou bem orientado, indicado…

  12. Li as 8 páginas…

    … e fiquei surpreso ao constatar que a tua formação não é na área de humanas.

    No primeiro artigo e neste o professor não delimita qual é a classe média a que se refere, Sei que é a detestada pela Chauí, mas nessa o único traço agregador dos párias fefelechianos é o antilulopetismo.

    O que o Renato chama de meritocracia foi a solução, tudo bem que concebida pela burguesia, para substituir o direito pelo nascimento da aristocracia. Ao invés de ocupar uma determinada posição por herança a obteria pelo seu valor pessoal. Com isto Luís Inácio ocupou a chefia de Estado e de Governo e Bertrand jamais.

    Não concordo com a confusão deliberada entre o mérito pessoal e o empresarial, tendo em vista que as qualidades necessárias para cada um poucas vezes coincidem e em muitas divergem. Um não é mera continuação do outro. A competição entre pessoas, mesmo que absolutamente dentro da legalidade, não pode ter como instrumentos os mesmos utilizados pelas empresas. A ética na esfera individual é muito mais exigente. A reputação do indivíduo que se utiliza de subterfúgios é corroída, todos conhecemos exemplos disto, seja no trabalho, nos laços de amizade ou na família.

    Outro detalhe que parece não ter sido levado em conta. Mesmo nas classes proletárias, homenagem aos marxistas do blog, as pessoas também são reconhecidas pela capacidade, honestidade e esforço. Isso não é assumir, por imitação ou imposição o conjunto de valores das outras classes, é inerente a ela. Outra vez em homenagem aos nossos vermelhos, o discurso do Renato, derivado da Marilena, representa subordinar a sociedade ao lumpesinato. Não considerem aqui apenas os mais miseráveis, mas todos aqueles que pela frouxidão ética e moral acreditam possuir  o direito nato de usufruir do produto do esforço coletivo mesmo que para ele não tenha contribuído. Incluam do beneficiário do bolsa família que nada faz para melhorar a própria condição pessoal ou da família, apenas saca o valor, ao empresário que obtém empréstimo subsidiado no BNDES.

    Outro aspecto que é solenemente ignorado. Além dos mecanismos distributivos diretos desconheço outras áreas das políticas sociais que sofram oposições. Para efeito de comparação vamos delimitar a classe média a qual o Renato se refere. Acredito que deva ser a tradicional, aquela que por algumas gerações acumulou educação formal e preparo intelectual, rede de ligações pessoais e algum patrimônio material. Mesmo nesta pequena parcela da nossa sociedade, falamos aqui de Brasil, qual é o percentual que se opõe aos gastos públicos com saúde, educação e previdência social? Claro que existirão algumas exceções, quase todas ligadas ao mercado financeiro globalizado.

    Para finalizar. Embora o autor considere que uma análise marxista seria por demais óbvia para demonstrar a incapacidade do mercado em prover justiça social, é justamente isto o que faz. O Subtexto dos dois artigos é onipresente e gritante: a cada um conforme a sua necessidade. O surgimento de uma nova nobreza, dos cento e poucos Reais para muitos a bilhões para alguns. Desde que se enquadrem nas diretrizes governamentais.

    Na nossa sociedade, neste tempo e espaço que vivemos, a meritocracia não tem a importância atribuida pelo Renato na formulação da política no Brasil. Ele importou uma parte da realidade americana. Porém não estranho, ela deve estar desembarcando agora. Veio se encontrar com o racialismo, o nazifeminismo, o gayzismo e outros fenômenos oriundos daquelas plagas. Foi bom ter lido todo o texto, surgiram alguns raciocínios com boas possibilidades para se desenvolverem.

    P.S.: Vou deixar de lado o “produtivismo burocrático” confundido com meritocracia.

    P.S. II: Qual esfera da atividade humana não é “operada” pela política? Em todos os sentidos, direita, esquerda, abaixo, acima, verso, anverso, reverso, vice-versa e muito pelo contrário?

    P.S. III: Alguém poderia me dizer onde se encontra o diretório em defesa do mérito no Brasil?

     

     

     

    1. Neurose

      Você está na “banca”, então, né? 

      Com que credenciais (tem que ter , sim!)?

      Tá cavando uma “coluna” na folha, tá?

      Tá batendo boca com marxismo de butiquim, tá?

      Tá fazendo acerto de contas com a gerra fria, tá?

      Do jeito que se pronuncia parece muito novo pra um papo tão cansado – quase falando sozinho (ou só com atormentados, o que dáno mesmo)!

      Já brigou muito em casa por causa de política, é?

      “”Diretório” em defesa do mérito”, ai, meu Deus! Quer ser julgador com base em neurose de DCE!

      Esses diplomados…

      Ainda ficou “se perguntando” sobre a formação do autor do texto!

      Riram no DCE, riram?

       

      1. Vamos lá

        Já fui bancário. A minha opinião sobre os bancos e banqueiros é bem semelhante a do Thomas Jefferson, porém um pouco mais radical.

        Credenciais do leitor ávido e contumaz.

        Jamais seria colonista da famiglia Frias.

        Não estou batendo boca com marxista de botequim. Estou dando uma opinião sobre o texto do Renato. Ele não me convence e nem eu a ele.

        Acerto de contas com a guerra fria seria quente? Alias a guerra fria não acabou, caso não saiba, apenas um dos polos se fragmentou. Tornando-a mais difusa por mais países estarem envolvidos, com interesses cruzados muitas vezes conflitantes.

        Novo? O quê será o novo? Em idade não, mas garanto que a minha mente ainda não chegou aos 18.

        Nunca briguei em casa por causa de política. Nem mesmo quando era simpatizante do PT e o meu pai “getulista” ainda vivia. Na época, tal como FHC, o PT pretendia enterrar a era Vargas.

        Diretório, para quem está na faculdade o significado desta palavra é o que você cita, mas não se resume a ele:

        (di.re.tó.ri.o)

        sm.

        1. Equipe com função de direção ou de representação de um grupo, partido, instituição etc. (diretório do partido, diretório estudantil)

        2. Hist. Especificamente, o conselho de cinco membros que dirigiu a França de 1795 a 1799. [Com inicial maiúscula.]

        3. Inf. Subdivisão de um disco ou de outro suporte físico na qual se armazenam organizadamente arquivos, programas etc.: Abra o diretório principal e crie um arquivo novo

        4. Inf. A lista dos arquivos contidos nessa subdivisão: Aquele arquivo não aparece no diretório

        5. Livro ou papel com instruções ou orientação para a condução de determinado assunto ou negócio

        6. Litu. Livro com os ofícios de cada dia litúrgico, indicação dos paramentos cabíveis em cada um etc.

        adj.

        7. Que tem função de direção (conselho diretório)

        8. Próprio, no estilo do período do Diretório (2) francês (mesa Diretório) [Com inicial maiúscula.]

        [F.: Do lat. tar. ecls. directorium ‘regras de procedimento etc.’, pelo fr. directoire.]

        Sobre a formação do autor, por puro preconceito meu, acreditava que fosse um ociólogo… a turma da masturbação pseudo-intelectual, como sociólogo, antropólogo, filósofo, cientista político, etc… Realmente me surpreendeu a realidade, o Renato é engenheiro.
         

         

         

        1. vamos lá

          Desculpe-me (se for o caso), se pareci beligerante no post anterior. Confesso que tenho implicância com esse tom e me policio também.

          Dito isso, vamos lá, também:

          * Me escapou a ironia, mas a acepção de “banca” era sobre a pretensão de “analisar” a “tese” apresentada.

          Para isso, insisto

          * Não basta interesse, avidez ou contumácia: precisa, sim, precisa demonstrar, sim, demonstrar proficiência sobre o tema

          * Não anula a hipótese de ser convidado

          * Não é o que parece. Mais uma vez: precisa, sim, precisa demonstrar, sim, demonstrar proficiência sobre o tema. “Convencimento” depende de compreensão recíproca do ponto de vista de cada um (George Mead e Niklas Luhmann, citado por Renato poderiam te interessar).

          * quem viveu e vive intensamente a guerra fria vai morrer com ela e ela vai morrer com ele

          * Novo é quem nasceu ontem

          * Votei muito tempo em Brizola e nunca arrumei briga com petista, tampouco hoje em dia. Lembro que brizola e outros do “campo da esquerda” alertavam o pessoal do pt que as lutas sociais não começaram com o pt. Este era contra o que o “peleguismo” que remanescia, segundo eles, da era vargas

          *Tem gente que nunca saiu do “diretório”. Outros estão “batendo boca” com ele até hoje.

          * Compreendo.

          * Ideologia não depende de um diretório central para se difundir. Ela é dependente das relaççoes de produção.

          * Desqualificar todo um ramo do saber ou vários soa pretensioso.

    2. P.S. III: Alguém poderia me

      P.S. III: Alguém poderia me dizer onde se encontra o diretório em defesa do mérito no Brasil?

       

      Bom, posso citar o Movimento Brasil Competitivo, o Instituito Millenium (www.imil.org.br), a Fundação Brava (brava.org.br) e a Fundação Lemann (www.fundacaolemann.org.br)

      São instituições apoiadas, por exemplo, por parceiras como a Globo (que sabe tudo sobre meritocracia), o Itaú Unibanco (cuja família Moreira Salles também entende tudo de meritocracia), aquelas em que o Lemann possui participação (esse também é outro que manja tudo de meritocracia).

      A propósito, são parceiras como essas que procuram implantar a meritocracia (deles) na administração pública, vide Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, da qual fazem parte o Gerdau, o Abílio Diniz, o presidente da Suzano Celulose e o ex-presidente da Petrobrax (governo FHC).

       

    3. Para finalizar. Embora o

      Para finalizar. Embora o autor considere que uma análise marxista seria por demais óbvia para demonstrar a incapacidade do mercado em prover justiça social, é justamente isto o que faz. O Subtexto dos dois artigos é onipresente e gritante: a cada um conforme a sua necessidade.

      Onipresente e gritante, a meu juízo, se contraposta à exortação completa, não a uma parte descontextualizada para desfigurar a argumentação do autor:

      “Na fase superior da sociedade comunista, quando houver desaparecido a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, o contraste entre o trabalho intelectual e o trabalho manual; quando o trabalho não for somente um meio de vida, mas a primeira necessidade vital; quando, com o desenvolvimento dos indivíduos em todos os seus aspectos, crescerem também as forças produtivas e jorrarem em caudais os mananciais da riqueza coletiva, só então será possível ultrapassar-se totalmente o estreito horizonte do direito burguês e a sociedade poderá inscrever em suas bandeiras: De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.

      Karl Marx, Crítica ao programa de Gotha

      Obs: os grifos nas duas transcrições são meus.

      O ethos meritocrático é apenas a expressão do egoísmo agora disfarçado de individualismo. Somos uma espécie social. Assim, em termos éticos, o necessitado do bolsa-família está no mesmo nível daquele que se diz “vencedor” ou mais “capaz”. Méritos só podem ser evocados quando as condições são iguais para todos. E isso, parodoxalmente, nunca existirá. 

      Deste modo, concordo com o autor do texto quanto ser a política a única instância verdadeiramente mediadora desse conflito. 

       

  13. Testando, 1, 2…

    “Como não posso responder a cada um individualmente, embora eu o quisesse e muitos merecessem, faço isto com este novo texto”

    Comecei a ler seu novo (mas igualmente prolixo) texto e concordo, por exemplo, com sua crítica a burocratização da produção acadêmica; no entanto, não creditaria esse problema a lógica meritocrática. Debateria esse e outros aspectos para se chegar a um consenso, só que tenho sérias dúvidas se deseja realmente debater ou apenas dar vazão a uma idéia sua. Porque o que observei no outro texto é que só se deu o trabalho de responder a quem de alguma forma concordava com sua opinião.

    1. Cesar
      Desculpe se a minha

      Cesar

      Desculpe se a minha forma prolixa de escrever te incomoda, confesso que as vezes me incomoda também, mas podes crer que o texto era ainda maior, e fiz um esforço hercúleo para reduzi-lo um pouco. Ainda ficou grande e prolixo, mas cada um com os seus defeitos.  É que eu prefiro ser criticado pelo que eu disse do que pelo que faltou dizer, e definitivamente não controlo a arte da concisão.  Jamais poderia ser publicitário.

      Com relação aos comentários, se observar, eu comecei a responde no início das postagens do outro texto a alguns deles, depois eles se acumularam de tal forma que não tive mais como estabelecer um debate assim, individual. Tornou-se inviável, embora talvez você não avalie o quanto eu gostaria de debater o tema da forma mais direta Achei mais útil escrever outro texto, até para não parecer que, após tantas críticas virulentas que o primeiro sofreu, eu houvesse me escondido ou recuado. Não, vim aqui para reafirmar e aprofundar minas posições.

      Quanto à meritocracia no sistema acadêmico, tenho convicção nas minhas afirmações (embora elas sejam apenas as “minhas verdades”) porque convivo com ela diariamente, já coordenei um Programa de pós-graduação, sou bolsista do CNPq, participei de reuniões da CAPES que definem critérios de avaliação dos cursos, e sempre defendi estas ideias. Quando se opera o sistema se vê o quanto ele, que é aparentemente objetivo e imparcial, é influenciado por operações políticas e posições de poder, e o quanto as concepções das áreas dominantes são impostas como convenção sobre as demais, produzindo uma homogeneidade que deforma muitas das áreas de avaliação. Lamentavelmente, e eu não gostaria de dizer isto, vejo os professores-pesquisadores das universidades enredados num circulo vicioso produtivista que lhes roubou qualquer possibilidade de vislumbrar o novo, de variar, de propor novos olhares sobre o mundo. Nas ciências humanas e sociais, por exemplo, somos todos consumidores de teorias estrangeiras porque os nossos acadêmicos estão voltados para alimentar o seu Lattes, não podem se dar ao luxo de produzir novos saberes e conhecimentos.

      De qualquer forma, agradeço as palavras e a leitura.Cesar

      Desculpe se a minha forma prolixa de escrever te incomoda, confesso que as vezes me incomoda também, mas podes crer que o texto era ainda maior, e fiz um esforço hercúleo para reduzi-lo um pouco. Ainda ficou grande e prolixo, mas cada um com os seus defeitos.  É que eu prefiro ser criticado pelo que eu disse do que pelo que faltou dizer, e definitivamente não controlo a arte da concisão.  Jamais poderia ser publicitário.

      Com relação aos comentários, se observar, eu comecei a responde no início das postagens do outro texto a alguns deles, depois eles se acumularam de tal forma que não tive mais como estabelecer um debate assim, individual. Tornou-se inviável, embora talvez você não avalie o quanto eu gostaria de debater o tema da forma mais direta Achei mais útil escrever outro texto, até para não parecer que, após tantas críticas virulentas que o primeiro sofreu, eu houvesse me escondido ou recuado. Não, vim aqui para reafirmar e aprofundar minas posições.

      Quanto à meritocracia no sistema acadêmico, tenho convicção nas minhas afirmações (embora elas sejam apenas as “minhas verdades”) porque convivo com ela diariamente, já coordenei um Programa de pós-graduação, sou bolsista do CNPq, participei de reuniões da CAPES que definem critérios de avaliação dos cursos, e sempre defendi estas ideias. Quando se opera o sistema se vê o quanto ele, que é aparentemente objetivo e imparcial, é influenciado por operações políticas e posições de poder, e o quanto as concepções das áreas dominantes são impostas como convenção sobre as demais, produzindo uma homogeneidade que deforma muitas das áreas de avaliação. Lamentavelmente, e eu não gostaria de dizer isto, vejo os professores-pesquisadores das universidades enredados num circulo vicioso produtivista que lhes roubou qualquer possibilidade de vislumbrar o novo, de variar, de propor novos olhares sobre o mundo. Nas ciências humanas e sociais, por exemplo, somos todos consumidores de teorias estrangeiras porque os nossos acadêmicos estão voltados para alimentar o seu Lattes, não podem se dar ao luxo de produzir novos saberes e conhecimentos.

      De qualquer forma, agradeço as palavras e a leitura.

      1. Não se desculpe, resolva.

        1) Corte do texto todo contexto ou julgamento personalista.

        2) Depois corte toda afirmação que não possa ser referenciada ou demonstrada analiticamente.

        3) Por fim, procure cortar toda redundância ou repetição com outras palavras do que já disse (e não me refiro ao fato de ter replicado os mesmos parágrafos como foi o caso aqui).

         

        Exemplo, corte as seguintes partes sublinhadas:

         

        Desculpe se a minha forma prolixa de escrever te incomoda, confesso que as vezes me incomoda também, mas podes crer que o texto era ainda maior, e fiz um esforço hercúleo para reduzi-lo um pouco. Ainda ficou grande e prolixo, mas cada um com os seus defeitos.  É que eu prefiro ser criticado pelo que eu disse do que pelo que faltou dizer, e definitivamente não controlo a arte da concisão.  Jamais poderia ser publicitário.

         

        Com relação aos comentários, se observar, eu comecei a responde no início das postagens do outro texto a alguns deles, depois eles se acumularam de tal forma que não tive mais como estabelecer um debate assim, individual. Tornou-se inviável, embora talvez você não avalie o quanto eu gostaria de debater o tema da forma mais direta Achei mais útil escrever outro texto, até para não parecer que, após tantas críticas virulentas que o primeiro sofreu, eu houvesse me escondido ou recuado. Não, vim aqui para reafirmar e aprofundar minas posições.

         

        Quanto à meritocracia no sistema acadêmico, tenho convicção nas minhas afirmações (embora elas sejam apenas as “minhas verdades”) porque convivo com ela diariamente, já coordenei um Programa de pós-graduação, sou bolsista do CNPq, participei de reuniões da CAPES que definem critérios de avaliação dos cursos, e sempre defendi estas ideias. Quando se opera o sistema se vê o quanto ele, que é aparentemente objetivo e imparcial, é influenciado por operações políticas e posições de poder, e o quanto as concepções das áreas dominantes são impostas como convenção sobre as demais, produzindo uma homogeneidade que deforma muitas das áreas de avaliação. Lamentavelmente, e eu não gostaria de dizer isto, vejo os professores-pesquisadores das universidades enredados num circulo vicioso produtivista que lhes roubou qualquer possibilidade de vislumbrar o novo, de variar, de propor novos olhares sobre o mundo. Nas ciências humanas e sociais, por exemplo, somos todos consumidores de teorias estrangeiras porque os nossos acadêmicos estão voltados para alimentar o seu Lattes, não podem se dar ao luxo de produzir novos saberes e conhecimentos.

        1. César, obrigado por me

          César, obrigado por me ensinar a escrever melhor, talvez um dia eu consiga escrever como você.

          Certa vez um jornalista perguntou ao Louis Armstrong “o que é o jazz?”. Ele respondeu, “se você precisa perguntar, não vai adiantar responder”. Certas coisas não merecem resposta, as palavras só atrapalhariam…

          1. Renato, “citando” o que alguém já pode ter escrito…

            “Nem todo mundo é capaz de reconhecer um presente.”

            Antes de escrever minha tese, a primeira coisa que meu orientador fez foi emprestar um livrinho do Umberto Eco chamado “Como se Faz uma Tese”. O livrinho foi devolvido, mas o presente ficou.

             

            Antes de postar qualquer coisa releio o texto, tentando encontrar erros e idéias inconsistentes, subjetivas, redundantes. E sempre encontro. E isso é o mínimo que se espera de quem busca poupar o leitor de falhas que introduzem ruído e de nada servem.

            Repare nas partes que eu cortei, particularmente o primeiro parágrafo, seu modo personalista e apego a auto-indulgência. Para um poeta tudo bem, mas para um cientista esse vívio é inadmissível.

            Para arrematar, postou a resposta com texto duplicado. Cheguei até pensar que foi proposital da sua parte, uma piada com sua prolixidade, mas é mais provável ter sido desleixo em corrigir o que evitaria do leitor perder tempo identificando a falha.

            E esse vício e esse desleixo o que denota? Que você tem condição de ser irônico sobre o que é escrever melhor? Acho que não.

            Discordo também da atitude, desprezível, de julgar o que merece e o que não mercê resposta. Tudo merece resposta. E não me furto a responder nada, inclusive as do tipo do Argolo acima. Se não o fizer pode acreditar que foi por falta de tempo.

        2. Liga não, ele não sabe o que é prolixidade

          César é mais um que confunde texto fundamentado com prolixidade.

          De resto, a sugestão dele é patética. Ele quer receitar regras objetivas de como escrever um texto, segundo ele acha mais apropriado, menos “prolixo”.

          No entanto, o que ele faz é meramente acabar com o traço subjetivo da escrita, impondo ele mesmo a sua subjetividade.

          Isso é mais velho do que andar para frente. E é uma porcaria de sugestão.

          Parece professor de redação ou um autor de manuais sobre como escrever “correto”. Isso é tão atrasado que eu fiquei perplexo com a sugestão.

          1. Também não ligo

            Argolo é mais um que confunde texto fundamentado com prolixidade.

            De resto, a critica dele é “patética”. Ele despreza regras objetivas de como escrever um texto, segundo ele, acha apropriado ou indiferente ser prolixo. Não só isso, confunde ser prolixo com usar traço subjetivo da escrita impondo sua própria idéia OBJETIVA do que qualifica ser o melhor modo de escrever.

            Isso é uma “porcaria” de crítica

          2. A falta de argumentos não me comove

            Como não pode fazer frente aos meus argumentos, resta a trollagem infantil de repetir o que eu escrevi.

            A propósito, a sugestão, a par de não fazer nenhum sentido (sequer foi explicado porque os trechos que deveriam ser cortados implicavam prolixidade, que Cesar não sabe o que significa), continua patética.

            Algo como “escrevam como eu sugeri, pois é mais objetivo porque eu estou dizendo que é e escrever do outro jeito é prolixidade porque eu também estou dizendo que é”.

            Isso é o que acontece quando alguém não fundamenta suas afirmações.

            Cesar é mais um que joga no time do obscurantismo.

          3. Resposta ao cometário abaixo

            Como não pode fazer frente aos meus argumentos, resta a trollagem infantil de repetir o que eu escrevi.

            Já é um começo ter notado. Apesar de ser impreciso porque o que se repete é mais a sua estrutura de argumentação. Mas se faz o que prega, por que não experimenta pegar “meus” comentários, grifar as partes que julga serem falsas e em seguida demonstrar analiticamente por que é falso… Seria muito interessante ver desmontar a si mesmo.

            E quem foi o primeiro a comentar sem argumentos?… Note, depois de dizer simplesmente que não entendo o que é prolixidade e dizer que você entende, teria que ter apontado explicitamente as partes que cortei do texto do Renato e em seguida demonstrar por que não caberia cortar. Só que preferiu outro caminho de início. Quem é o troll aqui então?

            A propósito, a sugestão, a par de não fazer nenhum sentido (sequer foi explicado porque os trechos que deveriam ser cortados implicavam prolixidade, que Cesar não sabe o que significa), continua patética.

            Algo como “escrevam como eu sugeri, pois é mais objetivo porque eu estou dizendo que é e escrever do outro jeito é prolixidade porque eu também estou dizendo que é”.

            Isso é o que acontece quando alguém não fundamenta suas afirmações.

            Cesar é mais um que joga no time do obscurantismo.

            Verdade, quando alguém não fundamenta o que afirma pode se dar muito mal (regra #2). Deixe então mostrar o fundamento que foi incapaz de extrair do meu texto…

            Ser prolixo não é escrever muito, mas escrever desnecessariamente. E saber isso é básico. Tão básico que soa estranho até afirmar que alguém (eu no caso) possa desconhecer seu significado. O que importa é que sendo básico não preciso explicar o significado de ser prolixo. Porém, o que é escrever desnecessariamente? Ou o que é excesso num texto técnico/cientifico ou texto para troca de idéias?

            Então indiquei objetivamente o que considero excessos na forma de 3 regras colocadas em ordem de prioridade. Ou seja, as regras não se explicam, elas explicam uma metodologia. Entendeu?

            Claro, cabe a você aceitá-las como válidas ou não; apesar que em são consciência ninguém pode dizer que elas não fazem nenhum sentido.

            Por fim completei a explicação aplicando as regras no texto do Renato para demonstrar como se consegue tirar os excessos sem perder o conteúdo (e não estava querendo ofendê-lo com isso, afinal ele mesmo reconhece ser prolixo).

            Ou seja, o seu “sequer foi explicado porque os trechos que deveriam ser cortados implicavam prolixidade” é simplesmente “patético”.

            Agora Argolo cabe a você apontar cada trecho que cortei, um por um, e fundamentar porque não foi correto cortar. Fico aguardando, sentado.

        3. Aguardamos sua réplica

          César, issso aqui não é uma banca de mestrado, que tal escrever uma réplica ao invés de ficar preocupado com a forma do texto que, por não ter sido acadêmico mas de fácil compreensão, o texto inicial foi compartilhado mais de 33 mil vezes

          1. IV Avatar, as minhas dicas ao Renato buscavam melhorar a troca de informação e não um suposto enquadramento acadêmico.

            Note, não estou interessado em replicar apenas. Estou interessado em debater para se chegar a um consenso. E já tinha colocado criticas objetivas ao primeiro texto dele, criticas que por sinal o Renato não se deu trabalho de replicar.

    2. Cesar, alguém resolveu

      Cesar, alguém resolveu comprar um barulho grande e, como fica bem claro no post, cortando, inclusive, a própria carne. Tenha um pouco mais de boa vontade para ler sobre o que todos os “sem mérito” já sabiam e nenhum dos “com mérito”, ousou enfrentar. Vc não acha que quase 400 comenários, brotaram do nada, né? Tô nesse blog há tempo suficiente para perceber o valor de uma postagem que gere tantos comentários. Esse é o Blog do Luis Nassif e não o da Aninha das Estrelas… 400 comenários, aqui significam bem mais do que parece. O autor do post aqui, está falando com a sociedade, DIRETAMENTE, sem CAPES ou CNPQ, para  “comprar” /determinar a modelagem de seu entendimento. Portanto, se “quer dar vazão a uma ideia sua”, esse é o lugar pq nossa Academia, ainda não oferece essa oportunidade. O nome disso é independência intelectual e o preço disso é o desprezo de uma academia dominada por EEUU/ Europa. Preferimos a independência do autor; a subserviência acadêmica não nos interessa. Na verdade, só atendeu a interesses próprios ao longo de décadas, na medida em em que a magnatada, embora dando o maior apoio, nunca precisou desse embromation para nada mas apoiava para dar uma ilusão de “pertencimento’ intelectual a um grupo que sempre quis distinguir-se da patuleia. E, para a pauleia, esse papo, nunca colou pq, o mundo real é evidente demais para ser adaptado à teses elaboradas por quem jamais viveu nele.

      1. Cristiana

         

        Cesar, alguém resolveu comprar um barulho grande e, como fica bem claro no post, cortando, inclusive, a própria carne.

        Onde corta a própria carne?

         

        Tenha um pouco mais de boa vontade para ler sobre o que todos os “sem mérito” já sabiam e nenhum dos “com mérito”, ousou enfrentar.

        Na verdade a crítica a meritocracia não é nova.

         

        Vc não acha que quase 400 comenários, brotaram do nada, né?… 400 comenários, aqui significam bem mais do que parece.

        Fora os que não comentaram… Sem dúvida é um assunto de apelo.

         

        O autor do post aqui, está falando com a sociedade, DIRETAMENTE, sem CAPES ou CNPQ, para  “comprar” /determinar a modelagem de seu entendimento.

        Onde estou determinando uma modelagem ao meu entendimento? Que ele seja menos prolixo?

         

        Portanto, se “quer dar vazão a uma ideia sua”, esse é o lugar pq nossa Academia, ainda não oferece essa oportunidade.

        Sua crítica a academia tem seu fundo, mas sempre é complicado fazer afirmações categóricas.

         

        O nome disso é independência intelectual e o preço disso é o desprezo de uma academia dominada por EEUU/ Europa. Preferimos a independência do autor; a subserviência acadêmica não nos interessa.

        Há muitas vozes fora e dentro da academia propondo idéias erradas que podem vir em desacordo com o pensamento corrente. Mas classificar isso de independência intelectual, primeiro, não prova que a idéia é correta, segundo, que seja até mesmo prova de independência intelectual uma vez que ser contracultura é até moda.

         

        Na verdade, só atendeu a interesses próprios ao longo de décadas, na medida em em que a magnatada, embora dando o maior apoio, nunca precisou desse embromation para nada mas apoiava para dar uma ilusão de “pertencimento’ intelectual a um grupo que sempre quis distinguir-se da patuleia. E, para a pauleia, esse papo, nunca colou pq, o mundo real é evidente demais para ser adaptado à teses elaboradas por quem jamais viveu nele.

        Uma observação muito importante aqui Cristiana… Concordo, e muito, que acadêmicos apelam para embromação. O que talvez não perceba é que aqueles que caem nela não a vêem como embromações. Se é que me entende.

  14. Interessante ver os sofismas nos comentários…

    O texto do Renato é impecável e muito bem escrito, cuidado, observado, meticuloso para não deixar rebarbas, mas o sofisma, essa gordura que se esconde entre as palavras e que somente os anoréxos ideológicos enxergam é sempre decantada a fim de tirar proveito nas suas análises ideológicas ou pretensamente ideológicas. O sentimento de classe é algo que muitos acham não ter e se dizem desapegados dessas questões como se estivessem sempre acima do bem e do mal, outra característica dos elementos de classe média, fazem aquelas análises se afastantando do mundo como se fossem criaturas a parte das mazelas humana e por isso teriam “méritos” para julga-la. Somos todos burgueses, atolados em ideias alheias a nossa condição social e nos desesperamos quando estamos diante do espelho que nos mostra que estamos errados, a primeira reação é tentar quebrar o espelho, dizer que os reflexos enxergados não são reais, que não somos isso, que somos pessoas boas e decentes e que buscamos a justiça. Mesmo que não saibamos o que seja essa tal justiça. Nossa sociedade hoje vive a esquizofrenia da informação instantanea e mal perdemos um mínimo de tempo na análise do que lemos. Quando lemos e nos damos conta de nossos conceitos distorcidos e reacionários entramos em crise e surtamos, o ser humano é previsível, a reação, a negação, a culpa é do outro, o sistema me fez assim e por isso sou desse jeito. Não há saída fora do capitalismo meritocrático, tenho medinho de outra forma de organização social, nem quero saber de mudar meu jeito burocrático de pensar e agir. Somos sacos de batatas, como dizia o velho Marx. Mais uma coisa, o Renato nos deve outro texto: “Para além da meritocracia”.

  15. muito interessantes os dois

    muito interessantes os dois textos. quanto ao primeiro, comentei no facebook, apenas discordei um pouco da análise da sociedade estadunidense, entendo que, lá, “a meritocracia é um instrumento de propaganda ideológica, pois me parece que o ideal do sonho americano, oportunidades para todos, self-made men, um lugar ao sol se você lutar muito e desenvolver suas habilidades, o coração da constituição republicana, é bastante meritocrático. a questão lá não é esta, mas, como acontece em outros campos daquela sociedade, a hipocrisia esquizofrênica de, por um lado, propagar o “freedom and justice for” e, do outro, saber, por evidências contundentes a toda prova, que esta não é a realidade e claramente escolher ignorar não só os fatos mas também as consequências deles. vai tão fundo esta auto-negação que o discurso do mainstream nunca se rompe, é constantemente reforçado, nas castas escolares, por exemplo, inconscientemente, verdadeira auto-hipnose coletiva.”

    quanto a este texto, meditei um pouco e me pergunto se a meritocracia do Estado eficiente weberiano não teria surgido como reação à aristocracia, como alguém comentou, no sentido do poder herdado. mas a aristocracia, mesmo originalmente, também é de certo modo, meritocrática, se considerarmos o sentido de “poder ou governo dos melhores”. tanto em uma quanto em outra, a dificuldade está em definir o que é “melhor” e “mérito” de maneira objetiva, já que os critérios de avaliação serão, como são, sempre, definidos por quem tem o poder, seja de elaborar, organizar o sistema, seja de impor sua adoção e ao final, punir a desconformidade. no Brasil, a meritocracia pode ter surgido como uma reação ao “iberismo nato” identificado por Caio Prado Jr., que coloca o clientelismo como gene originário do DNA da civilização brasileira, e, a corrupção, como doença auto-imune. todavia, pode ser que a meritocracia seja, aqui, uma cortina de fumaça que busca ocultar exatamente as operações políticas de índole clientelista dos detentores do poder real, enquanto engessa os movimentos estruturais para os demais agentes e “sujeitados” do sistema. a pergunta que não quer calar é “quem controla o controlador?”

    penso ainda que a discussão sobre liberalismo ou marxismo, no Brasil – alguém comentou – do ponto de vista econômico, é um tanto estéril, já que o Brasil foi o primeiro empreendimento capitalista multinacional de monocultura primário-exportadora a ter sucesso no planeta – meios de produção importados (cana de açúcar asiática, engenho de cana veneziano, investimento holandês, mão-de-obra africana) e centro administrativo e decisório na matriz. é tão “genética” esta origem que ainda não nos livramos dela completamente, em termos estruturais. politicamente, nenhuma “ideologia” pura conseguirá “pegar” por aqui, talvez seja necessário inventar uma coisa nova para o “povo novo” de Darcy.

    entendi a análise da meritocracia e sua inadequação como sistema de geração de justiça social. de fato, é. talvez tenha seu “mérito” se vista e utilizada pelo que é, uma ferramenta, das muitas que, se aplicadas de forma objetiva aos campos em que sua aplicação é adequada, tecnicamente, por assim dizer, pode ser não só eficiente, quanto aos procedimentos, mas eficaz, quanto aos resultados. (sou analista-jurista e empregada pública, vivo diariamente o dilema de defender a eficiência e a eficácia na defesa do interesse público mas, ao mesmo tempo, sou “meritofóbica” quando a ferramenta se torna um fim em si mesma) 

    1. DeaSobre os EUA serem uma

      Dea

      Sobre os EUA serem uma meritocracia ou não, vou responder como já havia respondido a um post abaixo. Eu afirmei naquele texto é que a classe média americana vive uma ambiguidade de valores, do país que é ao mesmo tempo das oportunidades e das incertezas, e que ela talvez não tenha tantas razões para ser meritocrática como a nossa classe média. Mas eu reconheço que o “sonho americano” é movido por um apreço à liberdade de iniciativa e recompensa pelo mérito, algo que, talvez, inclusive tenha um fundo religioso. 

      Mas o elemento chave é que lá o motor do sonho americano é a empresa privada, e todo o valor da meritocracia é voltado para o mundo dos negócios. O Estado americano é menos meritocrático que o nosso (veja o filme Lincoln, a abolição da escravatura foi comprada com negociatas políticas, um prelúdio de algo que acontece ainda hoje por lá – onde o lobie político é uma atividade legal – e que nos espantamos quando acontece no Brasil mais de cem anos depois), e a meritocracia não é a base nem da estrutura do Estado nem das políticas públicas.  

      Compare, por exemplo, alguns elementos. No Brasil um promotor de justiça é concursado, com todos os requintes procedimentais da mais fina burocracia, e um jovem recém saído da universidade mas com um bom desempenho nas provas, pode se tornar um operador da justiça. Lá ele é eleito ou é cargo de confiança do prefeito. Portanto, quem “promove” a justiça nos EUA é condicionado politicamente. Nas universidades, a mesma coisa, um sistema de ingresso muito menos objetivo que os nossos, boletins escolares (não importando a variabilidade da qualidade das escolas), entrevistas e até mesmo habilidades para o esporte valem no pleito por uma vaga. As cotas para negros existem desde os tempos do Nixon. O controle sobre a atividade e a produtividade dos corpos docentes não chega aos pés dos sistemas de avaliação de mérito que temos no Brasil, e os reitores e diretores dispõem de grande autonomia para fazerem juízos de mérito sobre os seus comandados. Haveria outros exemplos.

      Então, há uma separação muito grande entre a coisa pública e a privada. Nas empresas reina o mérito individual, já o Estado é o lugar da ação política, e neste os sistemas meritocráticos são muito pouco objetivos ou burocráticos. Aqui muitos querem fazer da meritocracia a “cura” para a política, ou pior, impor as falsas crenças do ethos meritocrático como juízo sobre as políticas públicas. 

      1. Combate desimportante, então

        Se o governo americano tomou ações públicas segundo você não meritocráticas mesmo com uma sociedade ideologicamente meritocrática, então o combate ao ethos meritocrático da classe média brasileira é desimportante, dado que outros países conseguiram políticas públicas efetivas de promoção de igualdade mesmo sem esse combate à meritocracia.

        Parece muito difícil você defender que seja meritocrática uma sociedade em que o nível medido de mobilidade intergeracional seja baixo, como o brasileiro. Mais difícil ainda defender que uma sociedade de mais baixo nível de mobilidade social como a brasileira seja mais meritocrática que uma sociedade onde esse nível de mobilidade seja mediano, como a americana. Isso parece indefensável, a não ser que se ache que características genéticas como cor de pele tenham correlação com talento. Para defender uma coisa assim, você terá de distorcer a sua definição de meritocracia até o ponto da caricatura, mas aí não há dificuldade nenhuma em criticá-la.

  16. [  Neste texto, pretendo

    [  Neste texto, pretendo argumentar que certas promessas da meritocracia, estas mesmas que produzem comportamentos políticos reacionários, são crenças vãs, e que a meritocracia produz uma ilusão de eficiência, de progresso e de justiça que não correspondem à realidade ] Se existe uma coisa que toda universidade pública sabe é como se consegue as coisas sem méritos. Colando, concursos com cartas marcadas, etc. Não é por acaso que no Brasil não tenha corrupio de peso que seja evolução de batedor de carteira em coletivo. Tem que passar por nível superior, o antro da produção nacional. De fato , não foi por acaso que Cahuí fez o seu discurso numa, por que essa é a maior produtora dessas degenerência sociais.

  17. Meritocracia vs políticas governamentais

    aqueles que alcançaram posições de sucesso por mérito próprio,

    Os textos foram escritos numa linguagem de fácil compreensão, parabéns. Lembro-me que no dia da votação da eleição 2010 havia um eleitor que descia a lenha em Lula enquanto relatava que o que havia alcançado seria por mérito próprio e não por causa de políticas governamentais. Tratava-se de um comerciante que surfou na onda do consumismo causado pela inclusão de 40 milhões de pessoas no mercado consumidor. Baseado nessa premissa segundo a qual as políticas governamentais não contam, mas tão somente o próprio esforço, é que muitos morrem de ódio de Lula ao mesmo tempo em que estão ali sentadinhos numa confortável poltrona e até balançando a chave da sua Ferrari e brilhando nas Veja da vida. Não é por coincidência que essa farsa da meritocracia é a cara do Aécio Never, tô fora. 

    1. Manipulação da mídia

      Se o eleitorado pensa dessa forma não consegue manter suas conquistas e avançar conquistar mais e mais.  E não avança pq pensa que, como tudo o que conseguiu se deve tão somente ao próprio esforço, vota em qualquer candidato. Isso decorre por abusoluta falta de noção ou por pensar  como a grande midia que prega a todo momento que todos os polticos são iguais e que baseado nisso é melhor anular o voto ou, claro, votar no candidato indicado pela midia.

  18. A propósito, o primeiro  eu

    A propósito, o primeiro  eu não sei, mas um dos antigos que implementaram um sistema meritocrático foi o primeiro imperador da dinastia Qin, Ying Zheng, que unificou a China em 221 a. C. Talvez porque ele não fosse um filho legítimo, como conta Sima Qian e ilustrado no ótimo filme “o imperador e o assassino”, ele propôs que os cargos na burocracia imperial chinesa fossem ocupados por uma escolha de méritos e não por afinidades com a nobreza.

    1. Outra coisa, lendo nos

      Outra coisa, lendo nos comentários anteriores, percebi um equívoco, não é da lógica de Confúcio a meritocracia e sim dos Legalistas (o “positivismo jurídico” da época – e que o ocidente só veio a trazer à pauta muitos séculos depois). O imperador Ying Zheng adotou as pregações dos Legalistas e não dos Confucionistas. Apesar disso, logo após a rápida dinastia Qin (16 anos), as próximas dinastias adotaram o Confucionismo, mas mesclaram ideias Legalistas e então a China veio a ter o sistema legal de maior continuidade que o mundo viu, que só viria a começar a ruir com a pretensão da invasão comercial britânica, que culminou na Guerra do Ópio e deixou a China em frangalhos, o que a forçou no último século a entrar no jogo capitalista.

      (vide John Head. Great Legal Traditions: Civil Law, Common Law and Chinese Law in Historical and Operacional Perspective. 2011)

  19. Muito bom!

     Boa tarde, Renato.

     Achei excelente seu texto, “Desvendando a espuma”. Isto motivou-me a ler a continuação deste. E a procurar, se encontrar, outros textos de sua autoria.

     Um texto reflexivo, com muitas ideias interessantes e inteligentes. Com certeza, nenhum texto é perfeito, mas, acredito, o excesso de críticas a ele deve-se ao fato de que muitas pessoas não saibam como lidar com um bom soco no estômago, quando o recebem.

     De qualquer forma, obrigada pelo excelente artigo. Agradou-me bastante.

     

    1. “…muitas pessoas não saibam

      “…muitas pessoas não saibam como lidar com um bom soco no estômago, quando o recebem.”

      Pefeito, Tamara.

      A maioria de nós não sabe.

  20. Nassif, excelente que você

    Nassif, excelente que você tenha trazido ao blog artigos acadêmicos de questionamento à vários “mainstream” , exatamente em um período em que o mundo demonstra o esgarçamento do modelo – sistema. Os artigos de Renato Santos de Souza, e outros, serão históricos, precursores das mudanças que ocorrerão no modelo, Sugiro que estes artigos sejam separados em uma janela específica para que não fiquem perdidos no interior do blog.

  21. “Muitos dos que defendem a

    “Muitos dos que defendem a meritocracia usam como referência, inclusive, suas histórias pessoais, que geralmente contam da ascensão social obtida com esforço e superação pessoal,(…)”

    Eu, sou produto disso. Como eu, conheço centenas. Ocorre que esse esforço e essa superação só foram possíveis, porque existiram estradas feitas pelo Governo; escolas feitas pelo Governo; vacinas e remédios dados pelo Governo; e empresas estatais valorizando o trabalho qualificado… feitas pelo Governo.

    Bolsa Família, Prouni e outros programas por aí são apenas pontas de um grande iceberg, que, apesar da intensa campanha contra o Brasil, feita pela sua elite, na qual a velha classe média está incluída, o país anda.

  22. Baby Bloc – esta babaquice dos médios é ótima

     

    Dilma “Bolada” enquadra a mãe de Justin Bieber, o “baby bloc”

    7 de novembro de 2013 | 13:45

    Na hora em que tem gente que acha que blog político não deve dar conversa para coisas feito a propaganda que a Veja fez de um energúmeno como o tal “Rei dos Camarotes”, eu fico com vontade de dizer que política é justamente isso, um olhar amplo e crítico sobre tudo o que está acontecendo e mexendo com a vida social.

    E se puder ser com bom-humor, melhor ainda.

    Faz dias, eu estava para escrever contra essa coisa tipo “menudo” deste rapazola, Justin Bieber, que levou dezenas de mães a ficarem, sob sol e chuva, guardando lugar para os filhos e filhas assistirem de perto. E sobre o guri ter chegado aqui sem nenhum respeito por ninguém, achando que o Brasil é a casa da sogra e as pessoas que o admiram – não lhes discuto o gosto – estão ali para serem escrachadas.

    Porque teve de tudo: garrafada, orgia, pichação, cenas íntimas, xingamentos, o diabo.

    Mas é isso o que dá quando a nossa elite diz que, com dinheiro e fama, vale tudo. Ou é outra coisa o que os grandes meios de comunicação fazem com a cabeça da galera mais jovem? Ou não são eles que promovem o que o o Willian Vieira chamou, em ótimo artigo na CartaCapital, de “subcelebridades”?

    Mas, felizmente, não vou ter de escrever.

    A Dilma Bolada, personagem fake de Jeferson Monteiro. que bomba com a garotada no facebook, faz isso muito melhor do que eu faria, num texto hilariante, que não resisto a transcrever, com o título que achei adequado colocar:

    Dilma Bolada e a mãe do “baby-bloc”

    Cheguei em casa e resolvi ligar pra Patricia Mallette, mãe do Justin Bieber. Depois de muito chamar, ela atendeu*:
    “Pois não?”
    Euzinha:
    “Nossa minha filha, mais que demora pra atender um telefone. Nunca vi nada vida, hein…”
    Ela encabulada:
    “Quem é?”
    Eu sem rodeios:
    “Dilma. Dilma Rousseff! A Presidenta do Brasil, Diva do Povo, Rainha das Américas, Grande Soberana do Hemisfério Sul…”
    Ela:
    “Nossa! A que devo a honra de uma das mulheres mais importantes do mundo me telefonar. O Justin estava aí, não é? Como foram as coisas?”
    Eu sincera:
    “Ah minha querida, se eu fosse você não ficaria tão honrada assim não. As coisas foram péssimas!”
    Ela com ar de preocupação:
    “Meu Deus, aconteceu alguma coisa???”
    Eu em tom de deboche:
    “Alguma? Aconteceram várias coisas…”
    Ela:
    “Como assim? Cadê meu filho? Ele tá bem?? O que houve com ele???”
    Eu:
    “Infelizmente está bem sim. Com aquele traste não aconteceu nada, já não posso dizer o mesmo por onde ele passou…”
    Ela me interrompeu:
    “Traste? Veja lá co…”
    Euzinha irritada:
    “Veja lá você. Cala a tua boca aí porque eu estou falando; sossega essa pixoca aí e depois tu fala. Esse moleque aprontou poucas e boas aqui no meu país, você tinha que ter vergonha. Não deu educação não é? Depois vocês querem vir falar do Brasil…”
    Ela indignada:
    “Quem você pensa que é pra falar assim do meu bebê. Que absurdo!”
    Euzinha boladíssima:
    “BE-BÊ? Aquele burro velho? Se enxerga minha querida. Dá um tempo, dá. Deve ser por isso que ele tem aquele gênio ruim, é falta de ter tido uma voz firme na infância pra impor limites. Aposto que o pai é um banana também….”
    Ela:
    “COMO OUSA???”
    Eu ignorei e continuei:
    “Eu ainda não acabei. Aquele pivete do teu filho vem pra cá e simplesmente acha que pode fazer o que bem entender? Tá pensando que é casa da Mãe Joana? Não senhora… aqui temos leis e regras, tudo bem que às vezes não funcionam muito, mas tem e devem ser respeitadas. Como que esse garoto chega e fica ofendendo os fãs que estavam lá esperando ele? Eu acho até bem feito sabe, mas isso não se faz não. Depois vem reclamar de garrafada no palco; sorte a dele, poderia ser pior: poderia ser um tijolo do Minha Casa Minha Vida, mas não foi, graças a Deus! Sem contar a extrema indelicadeza com que tratou a imprensa e os jornalistas, fazendo gestos obscenos, querendo dar festinha particular em hotel, que vergonha… e ainda veio pichar muro, ahhh se eu fosse Governadora do Rio de Janeiro: faria ele limpar com a língua pra aprender… Ainda bem que ele já foi embora, não via a hora disso acontecer, um PÉSSIMO exemplo para os jovens brasileiros, péssimo! Coisa ruim a gente não perde, a gente se livra. Se for pra atazanar, espero que não volte nunca mais. E aqui vai um conselho de amiga, uma mulher que além de ser Presidenta é mãe e avó: vê se toma vergonha na cara e cuida da educação dos que ainda não cresceram pra poder não tomar o mesmo rumo do mais velho! Era só isso que eu tinha pra falar. Passar bem!”
    Desliguei o telefone na cara dela e comecei a sambar.

    ÊTA PRESIDENTA SENSATA!!!

    Brasil, país rico é país sem criança mimada. 

    Por: Fernando Brito

  23. Contestando sempre

    Renato,

    Só pra não perder o meu costume de contestar tudo sempre (se quiser que eu discorde desse post que estou escrevendo agora, basta concordar com ele) vão aí mais algumas implicâncias:

    1. O seu primeiro texto tinha uma estrutura mais ou menos assim:

    a. A Marilena Chauí disse que a classe média brasileira é reacionária, mas não disse o que a leva a ser reacionária nem disse porque só classe média brasileira é assim.

    b. Eu sou muito racional e não vou aceitar essa conversa dela sem procurar os motivos. Só sossego quanto souber o motivo do reacionarismo e o motivo de só no Brasil a classe média ser assim.

    c. Fiz a descoberta de que a classe média brasileira tem uma ideologia meritocrática.

    d. As classes médias americanas e europeias não têm uma ideologia meritocrática.

    e. Analisei a meritocracia e vi que ela realmente leva ao reacionarismo.

    f. Vamos então combater a meritocracia,  já que combater classe-medianismo não adianta nada.

    O ponto d não se sustenta. A ideologia meritocrática é muito forte nos EUA. Postei um texto de pesquisadores americanos muito interessante, O Mito da Meritocracia, aqui no blog. O Nassif publicou ontem. Acho que você vai gostar dele, se é que já não o leu. Mas lá fica claro que o “ethos” meritocrático é importante nos EUA também. Você pode concluir disso que a classe média americana é reacionária também, mas o fato é que a sociedade deles têm cotas, o vestibular não é tão importante assim, a ciência e tecnologia produzida lá deu resultados práticos que não estão só na cabeça de quem os avalia.

    Nesse texto aqui você não defendeu essa estrutura do texto anterior, mas deu mais ênfase à crítica da prática da meritocracia, mas ainda assim sem conseguir fazer uma ligação efetiva entre esses problemas, que são reais, e o tal reacionarismo. A não ser que você defenda que a classe média americana é reacionária também.

    2. Você exagera muita coisa, e isso é aceitável para se explicitar um ponto, mas desde que se saiba que se está exagerando para deixar mais claro. É o caso de exagerar a falta de correlação entre as medidas e o mérito. Não é verdade que haja uma falta de correlação tão grande entre estudar para provas e estudar para saber, por exemplo. Acha mesmo que seus alunos não aprendem nada além do que treinar para as suas provas? Claramente a metodologia de avaliação é um dos pontos problemáticos, mas acho muito difícil correlacionar esse problema com o reacionarismo. Não é daí que o reacionarismo vem.

    3. Você parece pensar que a tomada de medidas efetivas para garantir a possibilidade de uma grande mobilidade social não é parte integrante de um esquema meritocrático. Excluindo essas medidas efetivas do esquema, fica muito mais fácil defender que uma ideologia meritocrática leve ao reacionarismo. Mas é difícil ver como uma sociedade obcecada com manter uma alta mobilidade social, como uma sociedade escandinava, possa degringolar para reacionarismo. Mobilidade social é a métrica que traduz meritocracia em uma linguagem científica e mensurável. Existem trabalhos sobre isso, até mesmo específicos para o Brasil. É difícil de defender que uma sociedade escandinava não seja meritocrática, dado o alto nível de mobilidade social atingido lá. E é difícil ver como uma sociedade assim possa degringolar para o reacionarismo, mesmo sofrendo de todos esses problemas delineados em seu texto.

    4. Aprendi que essas discussões sobre filigranas de interpretações e significados de conceitos são pouco mais que um entretenimento intelectual. Mesmo discordando do princípio, do meio e do fim, há uma coisa importante é que concordamos que o Brasil precisa urgentemente de medidas práticas, positivas, efetivas para assegurar a integração de milhões de pessoas de nosso povo à dignidade, educação, cultura. Cotas, bolsa-família, aumento de impostos, progressão de impostos, o que for. Mas acho que a fonte da oposição da classe média a isso não é o ethos meritocrático, pelo menos não apenas.

    Acho que você vai gostar d'”O Mito da Meritocracia” que compartilhei ontem. Leia lá.

    Abraço

     

    1. Mais uma coisa

      Se você responder que sim, a classe média americana é reacionária também, mas o governo deles não é, então a réplica óbvia é: você está combatendo o combate errado, já que é possível construir políticas públicas segundo você não meritocráticas mesmo com uma classe média meritocrática e reacionária. E olhe que a classe média deles é bem maior que a nossa.

  24. Eu faria uma ressalva

    Existe um ponto no texto que me parece precisar ser ressalvado, sem precisar entrar de forma mais aprofundada no que levaria, no limite, a abolição do sistema meritocrático criticado com um certo fôlego no post.

    Existe um ponto crucial na crítica que merece ser aprofundado pelo Sr. Santos de Souza. É a parte em que ele afirma que a meritocracia não avaliaria o mérito em si, mas apenas espelharia, por meio da aplicação de regras e procedimentos, convenções sociais, políticas, dos criadores das regras e procedimentos.

    O problema é que, neste ponto, não me parece ser verdadeira a afirmação de que inexistiria espaço para valores, como afirma enfaticamente o autor do post. Ele afirma que o mérito não é um valor em si. Essa afirmação é complicada, pois entra-se numa teia de conceitos linguísticos e filosóficos muito complexa.

    Ora, o valor antecederia a criação das regras e dos procedimentos, na linha da teoria tridimensional do direito, do eminente jusfilósofo brasileiro Miguel Reale.

    Ou seja, na criação de todo sistema normativo, existiria uma dimensão axiológica que prepara a criação das normas que disciplinarão um determinado conjunto de relações sociais.

    Se é verdade, como defende Reale, que a criação de uma norma não está divorciada da valoração de um determinado fato (daí a tridimensionalidade da teoria: fato-valor-norma), não é verdadeira a afirmação de que as regras e os procedimentos teriam o efeito de excluir valores. Isso parece ser verdadeiro mesmo quando não usamos o background da teoria tridimensional do direito. Algum valor sempre há de existir na criação de uma norma, é o que eu quero dizer.

    É certo que a teoria tridimensional do direito é muito criticada, pois nem toda norma seria resultado de uma valoração factual exatamente, porque existiriam normas que seriam apenas uma consequência lógica que ampararia instrumentalmente a própria dinâmica de um dado sistema normativo, isto é, chega-se a um ponto que o funcionamento do sistema normativo gera a necessidade de criação de normas que decorrem naturalmente das normas que foram criadas anteriormente pelo mecanismo de valoração dos fatos existentes na realidade.Entrar-se-ia aí num campo de valoração do fato normativo, não do fato propriamente dito.

    Eu li com mais atenção o texto e a discussão proposta pelo Sr. Santos de Souza não é exatamente nova. Tais dilemas e/ou questões estão no cerne da positivação jurídica, por exemplo.

    O que não pode ser perdido de vista é que sistemas normativos, como as regras e procedimentos que dão contornos a meritocracia, veementemente criticada pelo Sr. Santos de Souza, existem como formas de integrar a sociedade.

    A individualidade, e o discurso do Sr. Santos de Souza por vezes resvala num certo individualismo exacerbado, de acordo com uma interpretação extensiva de suas ideias, é certamente aversa à captura proporcionada pelos sistemas normativos.

    Mas isso é conhecido desde que os filósofos modernos se debruçaram sobre as origens do Estado (Locke, Rousseau, Hobbes e etc).

    O texto é instigante porque o assunto é instigante. Mas isso vem sendo estudado há séculos. Os romanos já tinham essa noção indissociável entre vida em socidade e sistema normativo, como o direito, por exemplo, quando afirmavam que ubi societas, ibi jus. Essa é uma ideia intrinsecamente vinculada ao papel racionalizante das normas que regulam as relações sociais, que está presente em toda a história da civilização. A ausência de normas, construídas dentro de parâmetros consensuais criados pela sociedade, age geralmente em favor da opressão, contra a liberdade.

     

  25. Renaro, vendo seus

    Renaro, vendo seus comentários abaixo sobre a suposta meritocracia da sociedade americana, mas falta de princípios meritocráticos do Estado americano, concluo que você parece pensar que qualquer ação pública que gere resultados positivos é por definição não meritocrática. Assim fica difícil contestar que meritocracia leve ao reacionarismo.

    É claro que numa corrida de 100 metros rasos é importante ver se todos partiram da mesma linha de partida ao mesmo tempo, e praticar exames anti-dopping. Não tem sentido achar que uma corrida que não incorpore esses princípios seja ainda uma corrida razoável. No Brasil a classe média parece achar normal que cada um parta de um lugar e alguns partam antes que os outros. Você parece apontar todos os problemas de medição de tempo envolvidos na cronometragem de uma corrida assim, apontar que o melhor corredor pode ter passado mal a noite anterior toda e não estar bem, e, portanto, não ser possível afirmar que o vencedor da corrida é realmente o melhor corredor, mas não aponta o fundamental: não há corrida sem que todos partam do mesmo lugar ao mesmo tempo. Isso é parte integrante do conceito de corridas. Sem isso, não é corrida. Sem isso, o “ethos” corredorista é empulhação.

    Fatores como a obsessão por garantir a possibilidade de mobilidade social e garantir que todos tenham oportunidades educacionais o mais igualitárias possível são parte integrante do conceito de meritocracia e de qualquer ethos meritocrático. Qualquer pessoa que supostamente tenha um ethos meritocrático que não inclua isso é meritocrática de “pé quebrado”, e há alguma outra coisa não confessável em seus conceitos que a impedem de incluir esses fatores em sua bagagem ideológica.

    Definir meritocracia excluindo a obsessão em garantir mobilidade social é facilitar o trabalho de contestá-la. Aí fica difícil de discordar que uma coisa assim seja profundamente reacionária. Partir de escravidão e deixar tudo correr sem interferência, acreditando que a mão invisível vai consertar as coisas e chamar isso de um profundo “ethos” meritocrático não pode ser outra coisa que não disfarce.

    Há uma idéia sociológica de que a medida científica mais aceitável para meritocracia é a medida de mobilidade social. Por esse critério, o Brasil é profundamente anti-meritocrático, os EUA são medianamente meritocráticos, e os países escandinavos são altamente meritocráticos. Com essa definição operacional de meritocracia, é difícil ver como isso levaria a reacionarismo.

  26. Apego excessivo ao formalismo

    Renato,

    Você está tomando o formalismo como se fosse o conceito por trás dele. A meritocracia não é o sistema de medidas de mérito.

    Considere o conjunto de conceitos:

    1. Acredito que a distribuição de talentos não tem correlação com cor de pele, sexo, orientação sexual.

    2. Acredito que as recompensas devem ter correlação boa com talentos individiais postos em prática. (meritocracia).

    A partir desses princípios, monta-se todo um esquema burocrático para medição de méritos e atribuição de recompensas. Deixa-se esse esquema funcionar por algum tempo e depois observa-se coisas como:

    a. Altíssima correlação entre cor de pele e renda.

    b. Renda masculina sistematicamente maior que a renda feminina.

    c. Mobilidade social baixíssima. 

    d. Algumas pessoas não vêem problema algum em manter o esquema burocrático montado que garantiria o ponto 2.

    Qual atitude teria uma pessoa que acreditasse em 1 e 2? Deixar o esquema burocrático funcionando? O esquema burocrático não é a essência, apenas a prática.

    Parece racional acreditar que pessoas que acreditam em 1 e 2, vendo a, b e c ocorrerem, passariam a mexer no que fosse necessário para ver algo coerente com 1 e 2 acontecendo, certo? Seja o que for, cotas, bolsa-família, impostos altos sobre herança, orçamento mais alto para educação. Há um critério claríssimo de ver se o objetivo está sendo atingido: medir renda de pessoas de cor de pele diferentes e de sexos diferentes e ver se a correlação está caindo. Quando não houver muita correlação entre cor de pele, sexo e renda, o objetivo parece estar sendo atingido, certo?

    Vendo uma sociedade que acredita em 2 mas que apresenta as características a, b e c, você conclui que é necessário atacar 2? Para mim é claro que não. O problema pode ser que não esteja bem claro para a maioria das pessoas que a, b e c acontecem. O problema pode ser que a pessoa pode nunca ter parado para pensar que a, b e c refutam 1. O problema pode ser que a pessoa não acredite em 1. Então há várias coisas a se disseminar, como a, b e c. E há vários argumentos para mostrar que a, b e c refutam 1. Isso pode ser suficiente para a pessoa, mesmo continuando a acreditar em 2, passe a apoiar políticas públicas que façam com que a, b e c desapareçam, que é o único modo de ter certeza que 1 e 2 estão sendo respeitadas pelo sistema.

    Vestibular, currículo Lattes, isso tudo é periférico.

    Mas o problema pode ser que a pessoa não acredite em 1. E aí você achou a verdadeira fonte do reacionarismo.

    1. Muito bom comentário.

      Muito bom comentário. Sistematizou de forma clara a situação.

      Só faria algumas observações:

      X. O problema é a existência de mobilidade social baixíssima ou a desigualdade social que dificultaria tal mobilidade? Acredito que numa sociedade menos desigual a mobilidade seria mais fácil. E que numa socieade ideal não teríamos classes.

      Y. A distribuição ou desenvolvimento de talentos tem relação com o ambiente onde esse talento “brota”. Então o 1 pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo, criando um paradoxo que explicaria, em parte, os reacionários, devido a dificuldade de perceber quem nasceu primeiro, o ovo e a galinha.

      Não seria correto afirmar que o negro é menos capaz (e já ouvi algo nessa linha quando alguém critica as cotas), mas ao mesmo tempo, ele era e ainda é “excluído” pelo sistema, até porque podemos considerar que ele apenas foi libertado, mas não “incluído” na sociedade livre; e que tal inclusão poderia levar gerações para ocorrer naturalmente, isso supondo que possa ocorrer naturalmente. Até porque, num sistema livre de controles e pautado pela acumulação, creio que o mais provável seria a continuidade da “exclusão”. Mas tal compreensão, aparentemente simples, envolve um conhecimento da história do país, que normalmente é considerada “chata” quando comparada com a história do mundo (que por sinal não é ampla, pois pouco sabemos do Oriente) vista na escola.

      Z. Para tornar a coisa mais paradoxal, se adota um critério (raça) que não pode ser mensurado com precisão e que ao mesmo tempo se quer “eliminar” (aspectos negativos) da realidade. Não esquecendo que, pela visão legal, é um critério que cabe ao usuário definir, possibilitando abusos, ou quem sabe, nenhum abuso, pois no momento que não é mensurável, apontar o abuso seria tão ou mais questionável quanto o desvio que alguém hipoteticamente poderia apontar. Por isso que, nem toda crítica para a cota racial é uma crítica ao sistema de cotas em si (ou reacionária), pois parte dos críticos apontam que o critério adotado deveria ser apenas o socioeconômico.

  27. sobre o mérito

    Renato , sou professor de Escola pública de são paulo , li o seu texto anterior  e agora  a sua continuidade . Defendo o que  afirma  a engajada  profa. Marilena Chauí , e mais ainda , sua oportuna argumentação dessa falácia do mérito , ainda mais num país cuja mentalidade colonizada da maior parte da elite brasileira arvora-se em defender tal meritocracia quando ela mesmo sempre conspurcou essa tal qualidade , haja visto o oceano de apadrinhamento , clientelismo e fisiologismo na prática do domínio histórico alcançado por esse elite perniciosa , que recusa qualquer mínimo de distribuição de renda  e democratização de acesso  à todas as classes e camadas  sociais nas instituições de Estado . Esse tipo “ideal” weberiano , da defesa meritocrática na prática sempre foi um argumento discricionário contra os mais pobres , frutos da maledicência “democrática”delas ( elite econômica , social , intelectual , religiosa , militar , política , científica,etc.). Parabéns por vc  colocar mais luz nessa insensatez do dito mérito .

    1. meritocracia

      Pois é, talvez falar-se em meritocracia na escandinávia funcionasse melhor. Meritocracia num país que só hoje tá tentando chegar ao processo civilizatório. Não me parece justo.

  28. Meritocracia

    Excelente reflexão, o primeiro artigo e o segundo artigos. Creio que a meritocracia é parte da equação, pois é um valor ideológico, uma visão de mundo, enviezada para o lado dos que tiveram sucesso e que querem atribuí-lo a si mesmos.

    Porém o que move esta massa de forma coesa em torno da meritocracia é o medo de descobrir que aquilo com que se identificam, e que constitui uma alma, inexiste totalmente. Ou seja: os programas de renda mínima, bolsas, e os demais outros, Prouni, Ciências sem fronteiras, etc e agora o Mais Médicoa estão fazendo ruir uma identidade meritocrática fazendo com que estes “seres superiores” sejam obrigados a constatar que nada têm de especial e que até o filho da empregada está na faculdade fazendo engenharia.

    São aguerridos porque temem com a quebra da ilusão da meritocracia conservadora mergulharem no NADA.

    A variável que eu quero acrescentar, como figura e fundo, é que por trás da meritocracia existe o vazio, quebrar esta lógica é como roubar a alma. Imagine um boçal destes ter que descobrir que não é melhor que ninguém, ao contrário, nem amarra as chuteiras do recém chegado ao mundo diplomado da classe média… O sistema de referências entra em colapso. É o medo do vazio interior pela quebra da ilusão meritocrática que gera a violência.

    Mas a violência e coesão apenas mostraram o rosto publicamente, mas já são uma realidade experimentada pelos mais pobres no contato com esta gente tão especial ou pelos não diplomados nas mãos desta classe média onde os títulos universitários se tornaram o fetiche supremo a separar quem vale a pena de quem não vale. Um diploma de doutorado transforma um sapo num príncipe e um imbecil num gênio, é o passaporte para que o medíocre se converta num boçal. A violência se tornou explícita porque o formigueiro descobriu que está pendurado num abismo, lá em baixo, o NADA. Cá emcima a companhia daqueles que a meritocracia assimilava a nulidades, os mais pobres e sua herança racial “subalterna”,imaginem que até o filho da empregada que está fazendo engenharia. Noutro dia soube que uma aptroa encontrou uma empregada na Europa, no mesmo hotel. Tinha comprado um pacote. A vida é dura.

  29. Fico imaginando como é que o

    Fico imaginando como é que o Lula escolheu o Haddad para prefeito e não a Marta Suplicy. Não seria por mérito? Seria Lula um reaça?

  30. “Submetidos a sistemas

    “Submetidos a sistemas meritocráticos, todos se orientam por metas e estímulos avaliativos externos, sobre os quais não tem controle.”

    “ou são apenas adaptações de teses e dissertações, ou então coletâneas de artigos; surgimento de toda a sorte de fraude e engodo que produza artigos (compartilhamento de publicações entre pessoas que não participaram da produção,” 

    “pesquisadores que buscam legitimação profissional podem com muita facilidade ser pressionados a aprender mais e mais sobre problemas cada vez mais desinteressantes e irrelevantes, ou a investigar mais e mais soluções que não funcionam”.

    “se o desempenho de mercado não pode prover a justiça social; se o desempenho, em geral, e os critérios que o medem são moldados pelos poderes políticos e econômicos; e se o mérito é apenas uma convenção social e não uma substância dos seres que são avaliados, não há como a justiça ser um valor intrínseco à meritocracia, ou a meritocracia, por si só, produzir uma ordem social justa.”

    Então porque discutir meritocracia ou sistema se não ha como a justiça ser um valor intrinseco a meritocracia?

    Como eu já disse aqui, em outras palavras, “o valor é uma substância dos seres que são avaliados”. Mas a avaliação seria feita entre pessoas que participam da produção, em que o sistema do Estado pode reproduzir uma ordem social justa de valores, como uma substância dos seres, e não o mercado prover a justiça social dos nossos valores em si mesmo.

     

  31. Desvendando Espuma

    Nassif

     

    Parabéns pelo artigo e aproveita e encaminhe o para o pessoal da “CESPE UNB”, Universidade Nacional de Brasília, que no último concurso para o BACEN perguntouo seguinte, na parte de Legislação Penal, se ligitima defesa é legal perante o código Penal. Os caras estão de brincadeira, que futuro funcionário do BACEN vai utilizar deste conhecimento em prol do Brasil. Os caras estão de brincadeira e segundo o mercado de concursos público a “CESPE UNB” são muito bons. Fica a pergunta, são bons no que e para quem e no interesse de quem.

     

  32. Desculpe, mas acho que tudo

    Desculpe, mas acho que tudo isso parte de um pensamento errado, sabe-se lá com qual  fim. É um pensamento tentando destruir a classe média, a que pensa. A que sustenta. Ela pensa pq tem tempo para isso. E condições para isso. Ela sustenta pq paga muito imposto. A classe baixa se arrebenta de trabalhar, nao tem tempo para pensar ou estudar, infelizmente não teve condições para isso pq o poder público ou é corrupto ou investe mal. E paga pouco imposto ( o IR, por ex, nem paga). A alta ( e entenda-se por alta a classe milionária) não pensa pq não precisa, paga imposto qdo quer, como quer, pq o governo permite isso. Sim, o poder público permite a sonegação, seja qual for o partido no poder. A legislação permite escapes. Alguém pensa em corrigir a legislação? A reforma política , tributária, trabalhista, aconteceu? Vai acontecer? Enxugamento e eficiência da máquina governamental, vai ocorrer??? Não, não é a classe média. Mas não mesmo. É a classe política. As críticas tem que ser feitas sobre ela. A sociedade precisa ter mais meios de controlar quem a governa. Os tributos foram suficientemente recolhidos, e continuam sendo. Cade a tão sonhada e merecida contrapartida que há tempos nunca aconteceu? E é bem capaz que se houvesse meritocracia no poder público, as classes baixas não estariam assim desfavorecidas. Que idéia é essa de desconstruir a classe média?? De onde vem isso? Qual a finalidade disso???

    1. Não!

      A Classe pobre do Brasil é a que paga maior imposto disparado.

      Isto já foi comentado e replicado aqui no blog várias vezes.

      Não confunda classe média com servidor público que tem o IR debitado na fonte. E por falar de IR, ele serve apenas para tributar servidores públicos, o resto não paga ou burla o mesmo.

      1. A classe baixa paga o imposto

        A classe baixa paga o imposto embutido nos preços dos produtos que consome. Mas não recolhe guias. A classe média paga sim recolhe guias e mais guias. Quem não paga é o milionário, entre eles os políticos. Em momento algum eu associei classe média com servidor público, não sei de onde vc tirou isso.  E vc mesmo , assumindo que a classe pobre no Brasil é a que paga mais imposto, está dando razão para mim. Pq ela ainda estaria pagando mais imposto, como vc diz? Se isso é verdade, pq essa situação continua? Pq não se faz a reforma tributária? Pq crucificar e desconstruir a classe média, como essa tal de  marilena chauí  quer fazer? Pq? 

          1. Pode falar em português?

            Pode falar em português? Tipos como eu o que? Qual a real designação do termo em inglês que vc usou?  Tipos como eu que querem melhoria de vida para todos, desburocratização do país, proteção à natureza,  é que atrapalham a reforma tributária, política e trabalhista? Onde está a lógica disso? Que culpa eu tenho, por ex, se mais de 500 milhoes de reais foram desviados de apenas uma prefeitura do país, a de sp,  em apenas uma secretaria? Imagine por todos os municípios do Brasil afora? Não moro em sp, mas imagine quanta melhoria se faria com esse dinheiro já recolhido pela receita. Qual  a responsabilidade de tipos como eu nesses casos? Pq tipos como eu são responsáveis pela péssima aplicação do dinheiro público arrecadado pelos impostos? Vc pode argumentar melhor? Pode escrever mais de uma linha? Vc consegue entender que não sou contra a classe pobre, nem a média, nem a milionária? Se tenho uma reclamação a fazer é apenas que todas elas reclamassem mais a contrapartida dos poderes públicos. Reclamassem veementemente, articuladamente.  Mas nenhuma delas tem mais ônus que outras. Todas estão enclasuradas por um Brasil sem formação educacional, sem visão, com administrações públicas medrosas e corruptas.

        1. IR

          Porque vc citou que pobre não paga IR.

          A  classe média também não paga o IR de forma correta. Burlam o holerite, compram consultas médicas, médicos (classe média) vendem consultas.

          1. A classe pobre não paga pq

            A classe pobre não paga pq fica fora do limite mínimo de ganhos. E de acordo com seu raciocício, garanto que tem muita classe pobre que tb não dá recibo do bico extra que faz, para não entrar na renda mínima.  A classe média paga imposto sim, todo ano guias e guias pagas. Todo ano. E todo ano o ralo do poder público suga a receita. Não adianta arrecadar mais: 5 meses por ano de trabalho ainda não são suficientes???? E mesmo os impostos que nao o IR, pagos por todas as classes, são abusivos, e há muito tempo, sem contrapartida correspondente aos valores.

    2. talvez…

      Caro, talvez vc encontre a resposta dessas perguntas no primeiro texto, no início.

      A própria Chauí, dando um google básico sobre o tema, parece falar informalmente bastante sobre isso, e ela tem os argumentos dela com a base teórica dela.

      Além disso, vc precisa notar que a “classe política”, por estarmos em um sistema democrático representativo, é composta por membros de outras classes, teoricamente.

      Acontece que permeia por aí um individualismo e um materialismo exacerbados, em todas as camadas da sociedade brasileira. Não apenas os indivíduos enxergam apenas o seu grupo, ou sua corporação, mas – antes disso – a si mesmos. Uma demonstração de materialismo é a idéia de que, no Brasil, a noção de bem-estar é dada pelo consumo e não pela qualidade de vida.

      A própria ênfase que vc dá à questão tributária pode ser outro exemplo disso. Acho ainda que essas questões, o fato de vc fazê-las, confirmam a tese do autor.

      Na minha opinião, esses pontos estão ligados fortemente a essa questão da meritocracia.

      A idéia não é desconstruir a classe média, na minha opinião, é fazê-la mudar de visão, justamente porque, segundo vc mesmo, ela é a única que pode pensar. É o que diz o autor nos últimos parágrafos do primeiro texto. Ninguém quer desconstruir a classe média, seria impossível. Mas o que se condena, ainda mais frente às questões históricas, políticas e sociais quase insolúveis do Brasil, é que a classe média tenha essa postura, em geral, “machista, violenta e ignorante”. O que se condena é que ela não olhe mais ao redor dela.

      1. Caro, o seu argumento reforça

        Caro, o seu argumento reforça o meu. Não concordo com isso de classe média machista, violenta e ignorante. Esse é o ponto, a crucificação de uma classe social, sendo colocada como uma mazela social. E acho que ela olha sim ao redor dela. E percebe claramente que todo o dinheiro arrecadado não está proporcionando melhorias reais e pragmáticas para todos. Isso envolve noções básicas de matemática, estatística, lógica, administração, discernimento.  E ela fica incomodada demais com isso, pq financia e muito essa roda com a tributação. Agora, fazer mudar de opinião é sim desconstruir. É absolutamente desconstruir, ainda mais com a forma violenta que essa Marilena Chauí demonstrou no vídeo. Quase nenhum dos meus questionamentos aqui foram respondidos com objetividade e pragmatismo.

        1. Quando eu digo que essa CM

          Quando eu digo que essa CM (genérica) não respira fora de sua própria bolha, é levando em conta que ela tem esse raciocínio mais básico e lógico. Mas esse raciocínio só faz sentido de um ponto de vista individual, como se a análise no final das contas fosse “quais as vantagens que eu estou levando?”. E os textos do prof. Renato tratam um pouco disso.

          O problema é que esse é o único raciocínio que ela tem. A CM, no geral, lê as notícias e não procura discutir criticamente e profundamente, por exemplo, o porquê de se estar pagando mais impostos. Na verdade, até se questiona, mas as respostas costumam ser os bordões de sempre, superficiais, sem saber o significado deles. A CM não tem a consciência de que ela faz parte de um todo muito mais amplo e muito mais complexo. E é aí que eu assino embaixo do que a Chauí diz.
          Outro exemplo que vem à mente é quando a CM lê nos jornais que aumentam os índices de violência e afirma que a solução é aumentar a repressão, sem ver que existem fatores mais fortes para as causas da violência.

          então Fabio, se o ponto é esse, definitivamente não entramos de acordo porque a minha visão sobre a classe média é a mesma que a da Chauí – veja que eu não estudei nada sobre isso; eu enxergo só pela experiência mesmo, pode até ser arrogante (até porque eu faço parte da CM), mas enfim, só justificando que eu não consigo ser mais objetivo do que isso. Posso até responder que “os impostos aumentaram porque o atual governo tem a intenção de distribuir essa renda” ou ainda “porque a gestão é ineficaz e corrupta”, mas não vai passar de opinião ou suposição.

          1.      Realmente não

                 Realmente não concordamos em ponto algum, Luís, pq acho justamente o contrário do que a Chauí diz: a classe média tem sim muita consciência do todo em que vive, e busca as soluções mais justas e coerentes. Ela não se conforma com soluções paliativas e desperdícios de dinheiro. A classe pobre tb tem consciência, mas ela infelizmente não tem os argumentos para reclamar, e é facilmente seduzida. A classe milionária  claro que tb tem consciência, mas a ela não interessa ficar reclamando. Não entendo esse postura odiosa da Chauí pela classe média ( sim, me pareceu ódio, raiva, escárnio). Para mim tem coisa aí. Desestabilizar, bagunçar e desconstruir são técnicas bem conhecidas. 

                 E sinceramente já existe dinheiro mais que suficiente para se repartir e investir na sociedade. Não é necessário aumentar tributos para isso. Inclusive defendo a diminuição, para todos. Todos, inclusive e principalmente para os mais pobres, sejam nos impostos diretos e indiretos, embutidos nos preços, em sucessivas cadeias produtivas. Um Brasil mais ágil, mais leve, mais eficiente, mais produtivo. Melhores condições de vida para todos.

               Devemos cobrar veementemente o fim da desordem pública, em toda a gama de aspectos . Em menos de 3 tempos o país melhoraria para todos. É o meu pensamento.  Não concordo sob hipótese alguma com o aumento de tributos para cobrir gestões ineficazes e corruptas. 

              

  33. “Burocracias produzem
    “Burocracias produzem comportamentos ritualistas e formalistas, levam à excessiva impessoalidade, criam resistência às mudanças” Este (excelente) artigo do prof. Renato Souza é tão rico que ele explica até o comportamento de alguns comentaristas que vem aqui ditar regrinhas de como o texto deveria ser escrito.

  34. A cenoura e os burros…

    É sedutora a imagem da tal “meritocracia” como a de um burro que puxa uma carroça, onde seu condutor o faz movimentar-se pela expectativa de morder um naco de uma suculenta cenoura colocada a sua frente na ponat de uma vara.

    Mas o fato é que o texto se propõe a dizer, o os defensores deste sistema de “méritos” ficaram em cólicas por isto, é que se fosse apenas isto (burro-cenoura-carroça-movimento), ainda haveria alguma possiblidade de compartilharmos a noção de que o burro (nós) somos capazes de mover o sistema-carroça (capitalista democrático ocidental) mais ou menos rápido de acordo com a nossa fome (vontade de “vencer”).

    Impossível.

    O peso da carroça não é igual, os burros não são iguais(em sua capacidade de tração, resposta a estímulos, etc), a vara nem sempre é do mesmo tamanho, e quase sempre não há cenouras para todos…

    “Meritocracia” é colocada assim entre aspas, porque no raso entender de titia, é impossível uma regra (sistema) geral que avalie “méritos” – sempre individuais – condicionados a um zilhão de variáveis ambientais que não estão, nem sob total controle de quem se submete a avaliação, e nem de quem avalia).

    O que o autor, na opinião pueril de titia, coloca com precisão é a impossibilidade de celebrar em um sistema de pontuação e recompensa/punição que avalie com regras gerais (universais, democráticas) dada a natureza do capitalismo, que justamente implica em estimular a competição entre desiguais, em um ambiente cada vez mais desigual na proporção que a competição entre indivíduos aumenta.

    E como cada indivíduo quer manter sua posição no status e/ou aumentar sua zona de influência (e conforto) dentro deste status, bem como galgar o próximo, sabedor (ou não, ao menos, não da mesma forma) de que a inércia lhe será fatal (pelo que dizem os “manuais de sobrevivência”), há a construção de um aracbouço de valores que compreendem, de um lado na justificação das desigualdades como mola propulsora do “sucesso”, e de outro na crença de que o sistema funciona como um todo porque funcionou em parte (para ele).

    A “meritocracia” é um sistema de exceção, não porque crie regras excepcionais ao indivíduo, mas porque pretende funcionar como um filtro (ou vários filtros) onde os indvíduos são desiguais como causa e efeito da desiguldade a que estão submetidos, gerando o “sucesso” esporádico como regra, mas vendendo-o como ilusão possível a todos.

    Então, o menino pobre e negro, que deu duro e “agarrou” a chance, e que chegou a juiz do supremo nunca poderia ser um exemplo de que as coisas funcionam, simplesmente porque há milhões de outros meninos negros e pobres, que dão e deram muito mais duro, mas que não obtiveram a mesma chance (no sentido amplo), e que hoje varrem as ruas, contstroem prédios e casas nas quais nunca vão morar.

    O estímulo trazido pelo autor é fascinante, e nos alerta para a reflexão urgente: é possivel construirmos uma classe média realmente nova, no sentido de que seja ideologicamente menos odiável, ou apenas macaquearemos os trejeitos das classes médias mundiais, reproduzindo os preconceitos e chavões de sempre? 

    A imagem do presidente Lula é um risco neste sentido, se ele for tributário da noção(e titia acha que não é) de que é o esforço pessoal, a honestidade, a resiliência, a perseverança, enfim, uma série de valores e dados PESSOAIS, que pouco ou nada têm a ver com o contexto político que o levou aonde chegou, embora suas características pessoais, aqui ou ali possam fazer a diferença para o CASO DELE. 

    Mas o fato é que todos os migrantes nordestinos que compartilham os mesmos valores não obterão resultado semelhante, em nenhum sentido, a não ser manterem-se como uma massa de excluídos bem comportados, dando substância ao sistema de desigualdades que vez ou outra os celebra como heróis anônimos, ou seja: os “vencedores morais” da nação…

    Engraçado é ler so comentários ressaltando estas condições…e contradições…

    De uma distância segura, com algum conforto e condição (winner) é fácil julgar os “loosers”…

    1. A “meritocracia” é um sistema

      A “meritocracia” é um sistema de exceção…

      Justamente. Um sistema de exceção, imposto de cima pra baixo.  Vivemos um game e quem dá as cartas são os que habitam o topo da pirâmide….adoram jogar a falácia: todos temos as mesmas oportunidades.  Uma criança que nasce nas ruas, sem alimentação, sem educação, sem condições nenhuma de higiene e saúde…..como poderá ter as mesmas condições que uma criança que nasce num habitat totalmente favorável ao seu desenvolvimento? Ahh!!  Mas há os que vencem na vida!  Sim, realmente…mas alguém sabe a porcentagem?  E, com certeza, deu “alguma sorte”…pois sim…temos que considerar o fator sorte, em tudo. 

      1. Este é o ponto…”a sorte”….

        Dê, na verdade, o  que você chama de “sorte” são interações aleatórias (que tanto podem ser dipostas em probalidades estatíscas e matemáticas: ganhar na mega-sena, ou de cunho social individual – estar no lugar certo na hora certa) que são tomadas como possibilidades genéricas e generalizantes para dar conta de processos de “vitórias individuais” que nada têm a ver apenas com o esforço pessoal, mas com o fato de que existe um sistema que afunila as oportunidades (e as chama de mérito, porque transfere a culpa da exclusão para quem perde) “premia” uma minoria e segrega o resto…

        A “meritocracia” é isto, um enorme funil de boca larga e fundo estreito, onde a culpa pelo fracasso é sempre do perdedor!

        Esta é a base filosófica (e como resultado jurídico-normativa) que vai estruturar toda a sociedade, que por sua vez construirá seu sistema de valores (incluindo aí a noção de Justiça, para além da aplicação de direito positivo e das lei)e vice-versa…

        Um abraço de titia…

         

        1. Vou aproveitar para perguntar

          Vou aproveitar para perguntar uma coisa. Sempre achei estranho que alunos fossem reprovados nas escolas por não terem conseguido comprovar a aquisisção de conhecimentos esperados para determinada fase. Ora, qual o sentido em manter uma criança presa a uma série com o objetivo de adquirir um determinado conhecimento? Minha impressão é que é uma maneira de “segurar” um grupo para manter menos pessoas na disputa mais a frente…. Minha pergunta é: Qual o fundamento para a reprovação de crianças já bem alfabetizadas?

          1. Você já sabe a resposta…

            E titita também, ou seja: não tem sentido…Por isto criou-se o conceito de avaliação continuada, o que os gestores(?) públicos, e os “especialistas de seminários e palestras” (pagas com milhões de verbas do Fundeb, distorceram para a panaceia da aprovação automática, que é apenas um improviso grotesco…

            A avaliação é sempre punitiva, porque seu lógica (ao fim do período letivo) é sempre binária e fatal: aprovado ou reprovado, ou seja, temos um aluno com 51 e outro com 49 de aproveitamento, ao fim do período letivo,  de forma arbitrária e cabalística dizemos:

            51% é bom, 49% joga no lixo e começa tudo de novo…

            Quer dizer, por onde quer que se olhe, não faz sentido algum, mesmo que olhemos pelo prisma pragmático e econômico da coisa…

  35. Meritocracia e política

    FHC, Sorbonne, senador, governador, “o mais preparado”….

    Lula, retirante, metalurgico, “sem experiência”…

    Dilma….o “poste”….

    1. Assis, arrasou… Talvez, a

      Assis, arrasou… Talvez, a capacidade do retirante e do poste não tivessem ficado tão evidenciadas se não tivessem sido contrapostas ao limite máximo do saber… Na luta entre a patuleia e os iluminados, a patuleia deu de 100. 

      A mesma coisa ocorreu no STF. Sim, Fux, foi o primeiro colocado em tudo e a gente, hoje, sabe o que é o Fux. Pode-se, até alegar que o julgamento é político e, portanto, os conhecimentos técnicos não estão em jogo mas o fato é que, vários comentaristas, aqui mesmo no Blog, defenderam a tese do MPF, de maneira muito mais convincente que os próprios PGR’s e ministros alinhados. 

      Com o jornalismo, tb aconteceu a mesma coisa; os veículos tradicionais estão tomando uma surra das redes sociais.

      Agora mesmo, nessa discussão acerca da meritocracia, esou estranhando a ausênia daqueles comentários enormes em que se costuram frases feitas para dizer nada.

      O maior legado dos governos populares, a meu ver, foi ter deixado muito rei pelado. Dez anos de representação legítima e verbo solto, desconstruindo 500 anos de fraudes. E, isso pq a galera pesada mesmo, ainda não está nas redes sociais.

  36. Meritocracia e justiça

    Ministros do STF, primeiros lugares nos concursos que fizeram para juízes, ministério público….

    Doutorados na Alemanha, nos EUA….

    e as suas decisões no chamado mensalão.

    1. Assis,
      Os ministros do STF

      Assis,

      Os ministros do STF são “escolhidos a dedo”, é um processo político. O que menos tem no processo de escolha é meritocracia, se bobear.

      Em nenhum momento, por exemplo, é testado de fato o “notável saber jurídico” dos que vão assumir a posição. E creio que a parte de reputação ilibada também não é verificada, considerando as confissões de um ministro que “deitou e rolou” para chegar ao posto.

      Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

      Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

      1. Então, analisando a meritocracia de cada um deles

        Luís Fux é o que tem melhores índices de meritocracia. Foi aprovado em primeiro lugar para promotor de justiça no concurso do ministério público, e posteriormente, também em primeiro lugar, para o concurso de juiz de direito.

        Gilmar Mendes, doutor pela conceituada Universidade de Münster, na Alemanha. Aprovado no concorrido concurso para no cargo de Procurador da República do Ministério Público Federal.

        1. Eles não são melhores ou

          Eles não são melhores ou piores pelo mérito. A presença do “mérito” não serve para abonar e nem para condenar.

          E o fato é que, nenhum dos 2 chegou no STF pelo “mérito” que você cita, e sim pelo “QI” político, que por sinal, nem acho que deva ser abolido das indicações do STF.

          O problema é quem escolheu o segundo soube escolher de acordo com aquilo que queria e esperava. Já o caso do primeiro, foi tratado de forma exaustiva aqui no blog tempos atrás…e dispensa comentários.

  37. Ocidente, Oriente, meritocracia e o novo mundo

    Ocidente, Oriente, meritocracia e o novo mundo (https://jornalggn.com.br/blog/oswaldo-conti-bosso/ocidente-oriente-e-o-novo-mundo)

    Prezados geonautas,

    Comentário aos posts de Renato Santos de Souza: Desvendando a espuma (I e II): de volta ao enigma da classe média.

    Eu gostaria de agradecer ao Professor Renato Santos de Souza, pelos dois artigos e reflexões. Sobre o texto não teria nada a criticar, pelo contrário, estou na vivessênciaprendiz, que bom que existe vida nas universidades, eu tenho dúvidas se é maioria, mas essa lufada de colocar os pingos nos is, foi muito bem vinda, qualitativa e quantitativa, eficiente e significativa. Mas gostaria de acrecentar uma provocação, como o Renato lembra-nos “o verso, cada um de nós é um universo  (Raul sixas)- a pérola da concepção subjetiva e complexa do ser humano”, tanto o texto do Renato, como os comentários, o universo, as bases do nosso universo se limita ao mundo ocidente, a única matriz considerada pelas elites. Eu gostaria de trazer outros dois universos, o universo ameríndio, por meio de Darcy Ribeiro e o universo Oriental.

    Darcy fazendo a crítica ácida a nossa formação secular das elites brasileiras, e um vídeo recente indicado por Martin Jacques, legendas em português, o chinês eric X. Li, fala da cultura milenar oriental e ao mesmo tempo, espoe as víceras do desmoronamento da catedral do modelo ocidental dos últimos séculos, que é a crise de valores morais e éticos pelo que passa o mundo ocidental, e não crise econômica, da qual Martin Jacques tornou-se um especialista, uma referência, desde 2010 (Quando a China Dominar o mundo), visão que também teve nosso filósofo social no fim do século XX, artigo meu do mês outubro de 2013: Celso Furtado e o Ocidente em ‘State of Denial’).

     Darcy Ribeiro, no documentário, “O Guerreiro Sonhador”, de Fernando Barbosa Lima, diz a certa altura sobre Anisío Teixeira, vejam bem, a crítica é nada mais nada menos, para Anísio Teixeira:

    (…) “a cabeça do Anísio […] era uma pessoa pelo qual não passou nenhuma informação sobre índio, nunca, era um agentizinho europeu aqui,…”

    Isso é para mostrar nossas víceras sim, minhas dúvidas e de muitos sobre nossos elites, universidades,…, têm raízes de longa data, em muitos sentidos ainda somos colonizados, ou como disse Darcy, estamos cheios de “um agentezinho europeu aqui”. (fiz abaixo toda a transcrição da fala de Darcy no vídeo sobre esse contexto).

    O vídeo de Eric X. Li coloca entre outras questões, o sistema de meritócracia e de valores morais e éticos, da civilização milenar chinesa. Por sinal é o curso que está bombando em Harvard desde 2011, não é sobre moral e éticas no ocidente, mas sim “Moral e Ética na Filosofia Chinesa”.

    Como vislumbrou Celso Furtado, disse em seu discurso de posse na ABL,

    (…) “Com efeito, as projeções mais recentes a respeito da distribuição espacial dos frutos do desenvolvimento, tanto econômico como científico, indicam que nos próximos dois a três decênios o mundo Oriental terá alcançado, ou mesmo superado, o Ocidente.”

    A elite brasileira, e o Brasil, estamos na mesmas condições que Friedric List na alemanha de 1841.

    Links:

    1- Fernando Barbosa Lima – Darcy Ribeiro: O Guerreiro Sonhador (pt.2)

    https://www.youtube.com/watch?v=Z_4bc_asB8c

    Transcrição da fala de 5:43 min. à 8:30 min.:

    “Eu tinha antipatia pelo Anísio, achava o Anísio um udenista (UDN) muito pequenininho, ranzinza, eu tinha essa antipatia por ele e ele tinha por mim. Há uma frase do Anísio sobre mim, a primeira frase do Anísio muito engraçada, ele dizia, “só pode ser um imbecil, dizem que é inteligente, e se dedica por 0,02% da população brasileira, se fosse inteligente, se dedicaria pelos outros 99,98% da população brasileira, é ideiota, é idiota”, ele também se negava a falar comigo,…, “ele também é um homem rude, um soldado do Rondon, esse negócio, ele quer ser bandeirante”.

    Alguns amigos queriam nos aproximar e ele tinha má vontade, um dia eu fui fazer uma conferência para ele, para um grupo em que ele estava, ele nunca tinha assistido uma conferência minha, ele viu a conferência, eu fiz uma comparação entre dois povos G, um COCAMECRA e os CRAOS e fiz um contraste, de repente o infeliz se interessou muito, o Anísio e disse, “é igual Atenas e Esparta, é igual”, ou seja, de Atenas e Esparta que era o interesse dele, ele é de formação européia, uma cabeça feito na igreja, a cabeça do Anísio se liberou na filosofia norte americana, era uma pessoa pelo qual não passou nenhuma informação sobre índio, nunca, era um agentizinho europeu aqui, ele precisava, atraves da Grécia, do contraste bonito entre Atenas e Esparta, ele pode ver que os índios poderiam ser interessantes, risos,…, isso nos aproximou mais ou menos. Ele criou nessa época uma série de centros de estudos sociais, de Antropologia, Sociologia, tendo em vista, conhecer melhor a cultura brasileira, para fazer uma escola mais adaptada para o Brasil, e eu fui trabalhar nisso aí, isso me aproximou dele cada vez mais, houve uma espécie de paixão, depois paixão por uma vida inteira, a minha pelo Anísio e dele para mim, uma identificação tão grande que nós passamos a trabalhar com colaboradores muito próximos.”

    Em 1957, Anísio Teixeira convida Darcy para trabalhar no Centro de Pesquisas Educacionais, do Ministério da Educação e Cultura.

    2- TED vídeo: Eric X. Li: Um conto de dois sistemas políticos (FILMED OCT 2010 • POSTED JAN 2011 • TEDSalon London 2010)

    http://www.ted.com/talks/martin_jacques_understanding_the_rise_of_china.html

    VÍDEOS

     

     

  38. desvendando a espuma

    mais uma vez, irretocável. O ethos de que fala o autor existe e independe de sermos ou não de fato um país meritocrático e sua faceta mais cruel talvez seja  o narcisimo , onde toda idéia do bem e do belo é gerada diante do espelho. Esse ethos meritocrático na minha opinião não se limita à classe média, é também o substrato onde florecem as igrejas neo pentecostais . A diferença aqui é que nas camadas mais baixas o mérito é condicionado pela eficácia da  fé e da submissão. Em ambos os casos a salvação se dá  pelo esforço individual, e a recompensa esperada e merecida é antes de tudo MATERIAL -a ascensão economica. Não me parece coincidencia que mais e mais pessoas da classe média tenham se convertido às neo pentecostais  nos ultimos anos .

  39. A meritocracia está para a

    A meritocracia está para a sociedade assim como a teoria da evolução está para os seres vivos!

    Aliais, a teoria da evolução é substancialmente meritocrática.

    A burocracia está para a meritocracia assim como os sistemas celulares especializados esta para a vida complexa.

    O problema da meritocracia não é fundamentalmente a burocracia, pois essa é fundamental para a existência de uma sociedade plural e complexa. 

    A degeneração burocrática é sim um problema como é um problema a degeneração de um sistema celular. 

    Na sociedade gera um estropia e corrupção, um câncer social; nos organismos vivos um tumor cancerígeno. Ambos podem ser mortais se não tratados em tempo com seriedade.

    Assim como o câncer biológico tem suas origens no DNA e é potencializado pelos maus hábitos de vida, o câncer social está fundamentado nas origens da sociedade, arraigado em seu DNA e alimentado por maus hábitos sociais.

    Assim, não acho a meritocracia ou alguma burocracia dela advinda perniciosa. Pernicioso é ignorarmos o DNA ancestral e alimentarmo-nos de comportamentos, teses e ideologias que potencializam as chances de desenvolvimento de câncer. 

    1. bela metáfora

      Particularmente, ainda penso que este texto do Renato , que pretende submeter ainda mais  a já combalida meritocracia, um verdadeiro ovo da serpente.

    2. ahn… e o que exatamente

      ahn… e o que exatamente você acha que é meritocracia na teoria da evolução??

      é esse o ponto. meritocracia é uma construção.

      o primatólogo Frans de Waal, em seu livro “A era da empatia”, mostra que a evolução depende muito da cooperação que vem da empatia. As espécies evoluem à medida em que se desenvolve a empatia, ou seja, a capacidade de me reconhecer no outro, que vai guiar minhas ações em relação a esse outro. Recomendo a leitura.

      1. a mídia por exemplo

        Tome nossa mídia ,por exemplo. Há toda uma cadeia de excelentes profissionais, todos voltados a criar uma realidade satisfatória a seus patrões.

        A culpa é da meritocracia ?

        Não. Assim como na evolução, a meritocracia simplesmente se adapta ao meio ambiente.

  40. Tinha lido o outro e

    Tinha lido o outro e concordado 101%! Este apara algumas arestas. E se ficou longo demais, não deixou brechas. Pode-se discordar, mas não há falhas conceituais na argumentação.

    Está tudo muito claro e cristalino. E dá até para sintetizar. O que voce diz é basicamente isso: Não existe o “mérito” puro. Isso é um mito. Voce desmonta essa falácia, e mostra como ele é contaminado por fatores dos quais ele estaria “protegido”, pois paira acima deles.

    Aí está a origem não só do preconceito contra a política, mas de toda a limitação intelectual do senso comum “classe média’. Que no limite pode ser chamado de burrice mesmo.

  41. O êxito é facil de obter.

    O dificil é merecê-lo. Albert Camus.

    Ha tempos particapava de um blog com amigos, no qual discutiamos a vida tal qual ela nem sempre é. Certa feita, entrei na questão da meritocracia, justamente pela avalanche de criticas na época ao programa Bolsa-Familia. Pena que não encontrei esse texto, mas nele, falava sobre a classe média da cidade onde morava, que é uma das mais (se que é possivel) meritocraticas de que conheço (e por isso, excessivamente conserverdora ). Enfim, como o BF, levei também uma avalanche de criticas sobre a questão de propor a ideia de que a meritocracia não seja tão justa assim, como pode parecer. 

    Enfim, achei excelente os dois textos do Renato. Acho que esse é um assunto bem oportuno neste momento e que deveriamos diivulga-lo. Ah, sim, que venham mais artigos que nos façam “pular da cadeira”.

    Saudações!

    ps: acho que seu alunos têm sorte!

  42. desvendando a espuma II

    “para liberar as políticas públicas para que possam atuar sob outras bases de legitimação, para buscarem desenvolvimento e justiça por fora dos limites da meritocracia.”

     

     

    Mais uma vez um excelente texto do autor. O melhor desdobramento.

     

    Que tal deslocarmos para as outras bases de legitimação das políticas públicas?

     

    Por um imperativo político não estariam elas submetidas necessáriamente ao “retorno possível das urnas” ?

  43. Desvendando a espuma II

    “O funcionalismo é, como já vimos, o asilo dos descendentes das antigas famílias ricas e fidalgas, que desbarataram as fortunas realizadas pela escravidão, fortunas a respeito das quais pode dizer-se, em regra, como se diz das fortunas feitas no jogo, que não medram, nem dão felicidade. “

    (O Abolicionismo_Joaquim nabuco)

    Como falar sobre meritocracia ou, falar da formação de classes no Brasil sem passar por essa realidade dura exposta nesse fragmento de texto que expus acima ?

  44. Desvendando a espuma 2

    Uma boa medida dos problemas da Meritocracia se tem quando analisadas as questões de Gênero. Acredito que outra boa resposta para o fracasso da meritocracia em ambientes competitivos já foi denunciado pela aplicação nas Ciências Sociais da nova interpretação dada a Teoria dos Jogos pelo Matemático John Nash. Em síntese diz que qualquer desequilíbrio entre os oponentes gera vantagem que só aprofundará a diferença de condições o que conduzirá a aniquilação do lado em desvantagem. Em experimentos práticos com seres humanos, a Teoria só não se confirmou na totalidade dos casos porque em algumas situações, o medo da aniquilação conduziu os jogadores para uma condição de tentar manter o equilíbrio como estratégia de auto-preservação, numa espécie de cooperação para a sobrevivência. Enfim a Matemática prova que a racionalidade humana pode vencer a irracionalidade que nos é atribuída quanto algum comportamento fratricida é induzido por um sistema em que a cabeça dos outros parece estar posta para servir de degrau.

  45. Um pitaco

    Gostei muito dos dois textos, o assunto é espinhoso para muitos que não separam com clareza o que são escolhas políticas.

    Não quero me alongar no comentário, mas me parece que falta uma abordagem sobre a dificuldade de se produzir um juízo de valor sobre algo ou alguém levando em consideração nossa característica humana, que opera em três dimensões e impacta oito direções concomitantemente.

    Ou seja, uma análise de qualquer coisa que despreze estas oito direções nunca estará de acordo com nossa própria natureza, o que dificulta ainda mais o estabelecimento de normas e padrões justos e a validação do processo meritocrático.

    Fico com minhas análises e julgamentos baseadas na Astrologia, Tarot e Geometria, imbatíveis, pelo menos para mim, até agora.

  46. demeritocracia

    Ao Renato, dou parabéns pelo texto, não porque eu concorde com ele, mas pela sua coragem de expô-lo (o texto). Faltou dizer, Renato, que nas esferas públicas e privadas, as promoções, poderes e dinheiro delas advindo se dão por falso mérito. Dão-se pela bajulação e identificação ideológica. Vejam os militares em generalato em 1984, quando a Ditadura dava seus últimos suspiros. Eram todos fascistas e de uma maneira ou outra todos aprovaram as torturas e assassinatos políticos, única forma de governarem o Brasil e ficarem por tanto tempo. Os assassinatos e torturas não se davam pela tara de um ou outro servidor, mas pela necessidade de proteger e defender o regime. Nas esferas burocráticas ganha promoção quem concorda com o chefe. Quem discorda, leva ferro. Vejam ministros beócios, secretários doidivanas, chefes de repartição de um cretinismo exemplar, relações públicas de grandes empresas que mais parecem cães rotweller. Diretores de RH que poderiam fazer parte da chefia de um campo de concentração nazista. Numa verdadeira escala de mérito, e não por afinidade ideológica, um Rodas desses não chegaria nem a parafuso. Mas num  sistema reacionário, pode virar reitor da maior universidade do Brasil. Isso sem falar de concursos fraudados. Um juiz que passou entre 20 mil candidatos dizer tanta bobagem que nem um vestibulando de terceira classe diria. E por falar em vestibulando, nos vestibulares da FUVEST (primeira fase), o mérito maior é saber fazer rascunhos em um espaço minúsculos, apagá-los e usar o espaço novamente, porque não há espaço destinado ao rascunho de cálculos de Física, Matemática e Química. Isso seleciona os melhores cérebros para nossas universidades?

    1. “Ao Renato, dou parabéns pelo

      “Ao Renato, dou parabéns pelo texto, não porque eu concorde com ele, mas pela sua coragem de expô-lo (o texto). Faltou dizer, Renato, que nas esferas públicas e privadas, as promoções, poderes e dinheiro delas advindo se dão por falso mérito”. Mas Alvaro, quem disse que ele deixou de falar isso? O que o Renato disse é isso, pois ele considera que os intrumentos para avalaiar o desempenho para se avaliar o mérito são frutos de disitintas correntes ideológicas, ou seka, o “ethos mritocrático” vai depender basicamente do avaliador, de suas crenças, ideologias etc, as quais podem fazer com o mérito se vista de apadrinhamento.

    1. O mundo nunca foi justo e todo mundo pode ser vítima de injustiças… Mas note, culpar o funcionário não salva o chefe do problema da “pedra” estar no chão. Se ele persistir nesse modo operante que traz prejuízos para “empresa” a cabeça dele também rola (aliás, a charge me lembra o FHC). Ou seja, é a competição efetiva dentro da lógica meritocrática que impede que a injustiça prevaleça.

      1. Na verdade você demonstra

        Na verdade você demonstra pouco dominio da lingua portuguesa e baixa capacidade de interpretação de texto, o autor utiliza uma linha de raciocinio especifica para combater essa lógica, veja a meritocracia não é um valor e um bem em si só, uma vez que primeiro não necessariamente o chefe seria substituido, segundo não necessariamente o chefe “merece” estar lá, basta ver a quantidade de exemplos de maus gestores, ou chefes que acabam com os departamentos…o mérito é resultado de uma construção e portanto depende da escolha que individuos fizeram sobre o que deveria ser avaliado, veja que por sua vez essa escolha entre os critérios “A” ou “B” é baseada naquilo que o individuo acredita, em seus valores e sua posição politica, e portanto o metódo de escolha não é justo ou preciso…

        Veja que você menciona modelos de correção, mas se o chefe mereceu ser chefe por que seria demitido posteriormente?? Mesmo sem entender e achando que está contrapondo o autor, na verdade você está afirmando tudo aquilo que ele expõe no texto…o mérito não é necessariamente eficiente, e portanto precisa ser constantemente avaliado e politicas de correção e portanto que fujam a caracteristica meritocrática precisam ser implementadas para que o sistema social todo seja eficiente…

         

        1. Na verdade você demonstra pouco dominio da lingua portuguesa e baixa capacidade de interpretação de texto, o autor utiliza uma linha de raciocinio especifica para combater essa lógica,

           

          Comentarei ao final…

           

          Veja que você menciona modelos de correção, mas se o chefe mereceu ser chefe por que seria demitido posteriormente??

           

          Pergunta estranha mas reveladora. Porque só pode ser feita por quem vive num mundo onde chefes incompetentes nunca são demitidos ou levados a falência. Por outro lado revela a confusão que se pode fazer entre princípio meritocrático com título de mérito…

          Já comentei que no Brasil a meritocracia foi subvertida por uma cultura cartorialista. Isto é, mérito passou a ser um título vitalício de competência obtido por um mecanismo de avaliação meritocrático, mas pontual (obter um crm ou passar num concurso público, por exemplo). Ou seja, confundem a subversão do conceito com o conceito em si e pau na inteligência alheia.

           

          Mesmo sem entender e achando que está contrapodo o autor, na verdade você está afirmando tudo aquilo que ele expõe no texto… o mérito não é necessariamente eficiente, e portanto precisa ser constantemente avaliado e politicas de correção e portanto que fujam a caracteristica meritocrática precisam ser implementadas para que o sistema social todo seja eficiente…

           

          Pra mim está um pouco confuso, a parte “o mérito não é necessariamente eficiente, e portanto precisa ser constantemente avaliado” é inteligível. Mas a parte “e politicas de correção e portanto que fujam a caracteristica meritocrática precisam ser implementadas para que o sistema social todo seja eficiente…” está difícil.

          Quero dizer, não é difícil traduzir tudo para “podendo ser ineficiente, deve ser constantemente avaliado e corrigido visando aperfeiçoá-lo e torná-lo socialmente mais eficiente”. Mas é difícil encaixar a parte “que fujam a característica meritocrática”. Isto é, se é avaliado e corrigido buscando um mérito (eficiência) onde isso escapa a idéia meritocrática?! Percebe o assassinato a lógica antes do assassinato a língua?

           

          Agora voltando a primeira parte de seu comentário que fala sobre “baixa capacidade de interpretação de texto” e “raciocínio especifico”… Não sei qual “raciocínio” identificou no autor, mas para mim está claro que ele, você e outros seguem a mesma linha de raciocínio partindo das mesmas premissas, que sintetizo abaixo:

          1) “O mérito” é uma propriedade intrínseca do individuo.

          2) Sua medição é possível.

          3) Justiça e perfeição existem.

          Infelizmente tenho pouca esperança de que aceite essa síntese, apesar de que num primeiro momento fará todo sentido para você. Isto é, ela é exatamente o que está defendendo, mas quando você a lê, assim, sem toda a embromação contida nos seus “e portanto” ou das argumentações em loop do Renato, perceberá que tem alguma coisa errada nela. A reação esperada é não aceitar que haja erro no seu “raciocínio especifico”, mas haja erro na síntese. Difícil será mostrar onde está esse erro sem cair em incoerência.

  47. Tudo muito lindo, mas há um
    Tudo muito lindo, mas há um grande porém: tudo isso é fruto, sendo praticamente a única árvore, das universidadee ditas publicas, pois no Brasil pouco de reconhece mérito em quem não tem diploma de nível superior e nisso privada é o que há de pior quando essa está cheia. Sabendo de tudo isso como você atua contra tudo isso; Ou você não seria sabido, mas não tolo?

  48. Gostei dos 2 artigos, Renato.

    Gostei dos 2 artigos, Renato. Vc escreve sem desrespeitar a inteligência e a ideologia do leitor.
    E é ascessível, mesmo para quem não é da área de Humanas. Outro mérito é descer da torre de marfim da Academia e vir à sociedade, cumprindo seu papel social como pesquisador e produtor de ciência.

    Um ponto que gostaria de destacar em sua discussão são os critérios meritocráticos para ascensão na carreira acadêmica. Isso remete a uma questão recorrente em gestão de negócios que é a diferença entre meios e fins. Um exemplo é aquela pessoa que passa mais tempo montando uma planilha (meios) que buscando entender o que os resultados das fórmulas significam ou que impacto produzirão (fins).

    No meio acadêmico, percebo que a preocupação excessiva em gerar indicadores (meios), como artigos em periódicos, desvia a energia do pesquisador de sua atribuição mais nobre: gerar conhecimento, cultura e inovação para a sociedade (fins).

    Lembro da polêmica, aqui no blog, sobre as implicações sociológicas da Lei do Impedimento no futebol. E da arrogância do pesquisador criticado, que enviou como resposta somente o link do seu currículo no Lattes. Ele foi questionado sobre os fins de sua pesquisa e respondeu com uma lista de títulos. O mínimo que se espera de um servidor público especializado como ele, que usa dinheiro público para produzir ciência, é que “traduza” em linguagem inteligível a não especialistas a relevância de sua pesquisa para quem o financia, que somos todos nós.

    Nesse sentido, percebo, com preocupação, que os grandes avanços sociais do país nos últimos anos, fruto de políticas públicas focalizadas e voltadas para redução de desigualdades, não nasceram na universidade, que, em geral, limita-se a estudar o fenômeno depois que ele acontece.

    O risco da inversão entre meios e fins, em Ciência, é a irrelevância do conhecimento produzido. Por isso, parabéns de novo pelo seu esforço de “divulgação científica” a respeito do tema.

  49. Os artigos do professor Renato

    São precisos. Concordo em tudo com ele. Só queria pedir que ao português desse atenção.

     “usa-se-a” não pode. As crases também merecem atenção. No mais, são perfeitos e imprescindíveis. O professor é um grande mestre. 

  50. Tive que tomar um Engove para

    Tive que tomar um Engove para ler até o fim. Só um fracassado para criticar a meritrocracia.

    Todas as grandes invenções da histórica da humanidade não são decorrentes do ócio nem da “justiça social” , e sim da competição e socialismo.

    Ou será que o professor não valoriza a meritrocracia na sala de aula?

     

     

    1. Se algum postou  não

      Se algum postou  não achei, e o  que  deveria ter em tais horas era ex-alunos comentando do quanto o docente aplica tais coisas em sala de aula e na sua vida acadêmica, começando mostrando que não compactua com bandalheieras como é ascensão funcional dentro dessa, tem que lamber bunda da turma se não quiser ficar sem. Isto é, o  normal é termos professores magníficos sem que tenha aluno.

  51. meritocracia

    Tem uma parte dos brasileiros absolutamente felizes pelo fato de nos últimos 10 anos o BR ter conseguido tirar 50 milhões de seres da miséria extrema (o cara nunca tinha certeza quando ia comer ) e ainda assim acha-se espaço para falar-se de meritocracia.

    Acabei de ver uma foto no TWITTER com um monte  de negros (montão mesmo, 50,100) todos empuleirados num caminhão atravessando um deserto qualquer num país qualquer da África. O que será que aquela gente pensa sobre meritocracia ?

  52. Subversão do fim pelo meio

    Primeiro uma crítica ao texto. Acho que o professor deveria reorganizar suas idéias de forma a separar as críticas ao conceito de meritocracia (tipo meritocracia não gera automaticamente justiça, pois o próprio conceito de justiça é um conceito político) e as críticas as aplicações práticas da meritocracia (tipo não existe sistema eficiente de avaliação da meritocracia, logo ficamos com indicadores ruins, tipo riqueza material).

    Agora uma complementação.

    Outras pessoas aqui já tocaram no assunto de forma marginal, mas para mim  a valorização do ethos meritocratico é exemplo uma subversão do fim pelo meio.

    Todos conhecemos os avisos dos nossos pais sobre o fato que os fins não justificam os meios. Não podemos sacrificar um inocente para salvar a vida de dois. Cabe a ele saber se deseja se sacrificar.

    No caso da meritocracia ocorre ao contrário: a subversão do fim pelo meio.

    Imagine a seguinte situação hipotética: Temos uma sociedade de total igualdade de oportunidades aos 24 anos. Ou seja, o filho do mais pobre e o filho do mais rico vivem do nascimento até os 24 anos tendo o mesmo acesso as oportunidades. E digamos que a sociedade é puramente meritocrática aonde cada tem um acesso à renda correspondente a sua contribuição social e que a pobreza seja função puramente da preguiça e da indolência e a riqueza função puramente da inteligência e da coragem.

    Podemos imaginar que mesmo em uma sociedade assim algumas pessoas poderão passar fome ou se tornarem extremamente ricas além do sonho do trabalhador mediano.

    A pergunta é: pelo fato deles terem feito por onde isso é justo?

    Algumas pessoas dirão que sim. Afinal se alguém chegou a este nível de pobreza tão absoluta em uma sociedade “ideal” assim é porque fez por merecer. Se forma similar podemos avaliar a situação do ultra rico.

    Porem outras pessoas dirão que não. Elas dirão que uma sociedade onde as pessoas passam fome e podem morrer de fome é imoral. Que a indolência ou a preguiça não pode ser punida com penas tão pesadas. Que a acumulação de riqueza tem uma função social, ou seja, estimular as pessoas a trabalhar e a buscar mais e que uma acumulação “excessiva” perde esse sentido. Essas pessoas dirão que parte da renda em “excesso” poderia ser taxada e transferida para as pessoas que passam fome e, talvez até universalizar alguns outros direitos como a saúde pública, gratuita e de qualidade para todos.

    Porque as pessoas que consideram a meritocracia acima dos demais valores concordam com uma situação social de desigualdade? Por que elas estão focadas no meio: “fazer por merecer”.

    Enquanto outras estão focadas no fim: “justiça social”.

    O engraçado é que em relação a outros pontos as mesmas pessoas que consideram o meio – meritocracia – mais importante que o fim – justiça social – consideram que o meio não justifica o fim. Por exemplo o caso da ditadura da maioria. Minorias como os LGBT conhecem bem esse problema. Direitos fundamentais de indivíduos LGBT foram historicamente negados em democracias modernas, pois a maioria achava que eles não deveriam tê-los. Hoje muitos de nós reconhecemos que mesmo sendo justo o meio pelo qual esses direitos foram negados  (democracia), negá-los é imoral, pois são direitos fundamentais nascidos de suas condições como seres humanos.

    Por isso não acho que o X da questão do conservadorismo seja a meritocracia como conceito. Considero até mesmo um valor adequado para a sociedade, porém com a ressalva de que é impossível aplicá-lo na prática.

    Acho que o problema é o conceito de JUSTIÇA SOCIAL. Ou seja, o que é justo socialmente falando.

    1. A meritocracia na prefeitura de Dourados-MS

      Como ajustar o conflito desiguais x meritocracia. Há pessoas que produzem menos pq sua capacidade mental ou física é por algum motivo prejudicada. Seria justo excluir esta pessoa pagando-lhe menos que a uma fisicametne saudável. E onde fica a igualdade dos desiguais.

      E se ao invés de cargos  comissionados os governos, em especial os prefeitos e governadores, adotassem o concurso para a ocupação dos cargos de chefia por funcionários de carreira. 

       

      A tecnocracia, meritocracia e o clientelismo no Serviço Público

      Cristina Mussury*

      A população de Dourados-MS aguarda ansiosamente a posse dos novos dirigentes dos poderes legislativo e executivo da cidade, especialmente da Prefeitura onde se concentra os maiores desafios administrativos. É sabido que o grande gargalo é a forma de gestão e nas mais diversas pastas.

      A tecnocracia tem sido o discurso do momento, acompanhando a mídia vemos que a sete chaves são guardados os nomes dos secretariados. Tão ansiosa quanto à população estão os servidores públicos do município. O art. 37, inciso II da Constituição Federal fixa as condições para a investidura nos cargos públicos, ou seja, mediante concurso público, ressalvando as indicações para cargos em comissão de livre nomeação e exoneração. Para estes cargos não há estabilidade, nem segurança da permanência no emprego. Cabe lembrar que a finalidade histórica e prática do referido dispositivo constitucional, reconhecida pelo poder constituinte, é a necessidade dos chefes dos poderes possuírem pessoas de sua extrema confiança para ocuparem cargos de direção, chefia e assessoramento a eles subordinados. O objetivo da existência desses cargos de confiança é a manutenção da estabilidade política administrativa e não deixar a administração à mercê de parte do funcionalismo que, embora estáveis e concursados, posam estar comprometidos com outros interesses políticos partidários, sem nenhum compromisso com o bem comum. No entanto, a visão que predomina é de que a confiança em questão é um compromisso individual, de fidelidade do funcionário ao dirigente, e não a confiabilidade e os princípios éticos no trato de assuntos do interesse público.

      A expressão confiança para a criação de um cargo público não é nada razoável, uma vez que todo servidor público deveria ser considerado confiável para tratar de assuntos lícitos para o bem da coletividade. Umas das armas da administração pública para encontrar tais pessoas é o concurso público que busca avaliar além da proficiência, o mérito e a confiança, através do estágio probatório, perseguindo um ideal de servidor para atuar no dever de auxiliar o representante popular em sua determinação precípua de atingir o interesse público.

      Lamentavelmente, acontece a criação de cargos em comissão, simplesmente para atender situações de conveniências. A prática é inerente a este ou aquele partido ou a este ou aquele político. Todos a praticam. Uns mais, outros menos. O que pode ter um agente público de tão grave para confidenciar a um servidor público de confiança, uma vez que o servidor tem um verdadeiro código de conduta em sua legislação própria.

      Necessário comentar sobre a existência na administração pública de funcionários comissionados, criados em todas as esferas (federal, estadual e municipal) é uma das práticas mais prejudiciais ao exercício da política, principalmente no sentido ético. Não em razão da qualidade do trabalho realizado, pois muitos são profissionais exemplares, merecedores até da estabilidade funcional pelos anos dedicados ao serviço público, mas essa condição foge do princípio da legalidade. É a existência dos cargos comissionados que serve como meio de manobra para fixação de acordos feitos como contrapartida aos apoios políticos partidários, muitas vezes sem nenhum critério de competência.

      A história da política pública trás em seu cerne o ranço do Brasil Colônia e revela que sempre existiu e sempre existirão pessoas apadrinhadas que não estão comprometidas com os legítimos interesses da sociedade para as quais se dispuseram a trabalhar, pois apresentam comportamentos de desapreço ao cumprimento das normas e a certeza da estabilidade de seus cargos nas instituições às quais pertencem, e isto faz com que não desempenhem com credibilidade suas funções.

      O servidor público tem papel importante no desenvolvimento econômico e social de uma cidade, tem uma relação de suma importância coma administração e com o contribuinte. Refiro-me àqueles que têm consciência da missão de servir ao interesse coletivo, seja ele concursado ou comissionado, nas ruas da cidade, nas escolas, nos postos de saúde ou na administração central da Prefeitura. São os que a cada quatro anos vivenciam uma reviravolta no processo administrativo e sofre com o despreparo dos que assumem a gestão, o que não dizer dos últimos dois anos, onde três prefeitos assumiram o cargo, os que acompanham a administração foi possível notar que as nomeações e exonerações disputaram espaço no Diário Oficial.

      Com isso, o maior preço que se paga é que, cada vez que se troca um dirigente, grande parte dos gestores e equipe é mudada, e essa alta rotatividade atrapalha a execução de políticas de médio ou longo prazo. O resultado é a ineficiência e inevitavelmente todos sofrem. Como comparação, quando se troca um governo num regime parlamentarista europeu, não se mudam mais do que 50 cargos, normalmente.

      A prática vem apresentando à sociedade uma visão distorcida do servidor público, generalizando-o como ineficiente sendo o único culpado pelas deficiências o dirigente. Este fato existe, não em todas as camadas, mas, para fazer essa distinção é preciso conhecer as causas, e o que está por detrás delas.

      Acredita-se que, se o funcionário público é ineficiente é porque o dirigente também o é. Quando se exige um servidor eficiente é preciso antes dar a ele as condições necessárias como: oportunidade de modernização, atualização e reciclagem, além de um salário compatível com sua função. E isso, é atribuição do dirigente. Se por um lado o servidor público tem essa conotação imposta pela sociedade, também tem o lado das dificuldades surgidas na administração, e isto é o que leva a comunidade a ver o servidor como alguém que não pertence àquele setor e tampouco à sua função, por isso faz com descaso seu trabalho.

      Também não se pode desconsiderar as dificuldades existentes, como por exemplo: normas burocratizadas; redução no orçamento; achatamento dos salários; falta de concursos e com isso um quadro de pessoal cada vez menor, obrigando os dirigentes a serem criativas, buscando alternativas para sua sobrevivência. Tudo isso colabora para um resultado negativo. Não se tem assim, um modelo padrão de administração pública e, portanto, nem de servidor. O que existe são pessoas e formas de trabalhar com variável modelo ético, e com desempenhos adotados de maneira diferenciada em cada área.

      Diante do contexto, entende-se que empreender uma gestão pública moderna, eficiente e, principalmente, honesta é uma necessidade urgente no momento, tornando as informações e os indicadores subsídios da maior importância para um planejamento pró-ativo e efetivo, pré-requisito básico para a tomada de decisão. A administração pública deve estar sempre preservada de todos os tipos de irregularidades que possam manchar a gestão na moral e com dinheiro público.

      Os gestores devem ter o perfil baseado em tem três esferas de competências: a gestão estratégica, a gestão operacional, e ainda a gestão do entorno político. O desafio a ser enfrentado por parte do dirigente não é apenas a de evitar um grau de interferência indevida dos agentes políticos na escolha dos gestores e sua equipe. Implica em fazer avançar a concepção sobre as competências desejáveis destes profissionais, a notória capacitação e conhecimento prático, os resultados deles esperados, autonomia para compor a equipe dentro de suas pastas. Implica ainda em dar publicidade aos resultados obtidos por estes gestores, criando com isto um sistema de incentivos baseados na valorização da auto estima e reputação como seu principal capital.

      A população de Dourados aguarda um novo modelo de administração, que contemple os princípios da responsabilidade como: funcionamento do sistema administrativo; prestação de contas dos atos e decisões, cumprimento de prazos e procedimentos, desempenho profissional, comportamentos neutros e impessoais e que conquiste a confiança do cidadão no sistema, na difusão da ética profissional e na realização eficaz dos programas públicos de forma a legitimar o funcionamento transparente da administração pública. A adesão dos indivíduos ao processo de modernização e de racionalização da administração é, além de um ato que diz respeito ao próprio interesse é um ato de confiança na forma como a ética é respeitada pelas autoridades.

      A autora é servidora pública municipal, professora, bacharel em comunicação social habilitada em relações públicas e pós graduada em gestão de recursos humanos.

        

       

  53. A ideia mestra do enigma

    A ideia mestra da classe média a ser desvendada não é meritocracia, que transforma o seu subjetivo, mas o que define o que existe fora do seu pensamento, em sua representação: A sua alienação. Ou seja: o “valor” exterior e superior a ela (o fruto da sua criação); aquilo que arrancam do trabalho do homem e, em separado privado de corpo, caracterizam em operações virtuais de inversão da cópia original.

    1. Mas que alienação? – de

      Mas que alienação? – de valor.

      Como é evidente o valor é multiplo de objetos, como inumeráveis são as operações bancárias que representarm o valor exterior da sociedade. 

      Porque sem a qualidade do representante neutro (o mérito da gestão), o Estado não constitui a base da quantidade de objetos com a justiça social do valor do trabalho.

      Então, a nação fica alienada {passa a dever títulos públicos} se uma fonte equivocada de valor existe para fazer o lastro público do valor; e assim os bancos se identificaram com a capacidade representar (a meritocracia) do espaço exterior da riqueza; com um fundamento (valor) do que não temos e não somos.

  54. Meritocracia

    Olá, boa noite. Desculpe, mas o senhor se atrapalhou no conceito de meritocracia e usou muitas vezes premissas falsas, logo, suas conclusões, logicamente, são inválidas. Dê seu texto a um especialista em lógica e ele poderá lbe explicar melhor.  Abraços.

    1. Adriana, não perca seu tempo nem o meu.

      Explique de onde vem o conceito de valor da meritocracia. Pedir desculpas não a faz uma boa conselheira.

    2. Perfeito Adriana

      Qualquer raciocínio aparentemente lógico pode ser feito partindo de premissas falsas. Mas vai tentar explicar isso pra quem não sabe o que é premissa nem o que é lógica. Quero dizer, saber o que essas palavras significam eles vão alegar que sabem, mas raciocinar por elas é outra história.

  55. Tem uma galera que acha que

    Tem uma galera que acha que promover a mobilidade social de algumas dezenas de milhões de brasileiros é poca coisa. Um deles comenta no programa do Lázaro Ramos (Espelho, Canal Brasil) que a ascensão à classe C seria um fato de pouca monta, porque o bom é tirar A e B na escola (sim, o paralelo tosco de quem talvez nunca tenha passado fome e convivido com ratos é esse …). Será que ele faria melhor?

  56. Niguém entendeu o que Chauí

    Niguém entendeu o que Chauí disse. O petismo sempre teve no pobre e desvalido sua fonte primária de poder. Além disso, todo revolução de esquerda precisa defenir com precisão o que irá massacrar para consolidar o poder, pois chegar pode por vários meus, até fazendo acordo com a parte social mais corrupta. Acontece que agora essa sua fonte primária se misturou com classe média, ascendeu antes da consolidação, e precisa determinar com certeza de qual parte da classe deve partir para cima. Como essa está muito espumosa, é preciso compactá-la e separar da sua parte, os que chegaram acendendo da miséria em função da bolsa família E uma forma é identificar essa pelos critérios de mérito que professa, pois esses valores podem ser facilmente mudados para combatê-la 

  57. “As leis da oferta e da

    “As leis da oferta e da demanda se orientam pela oportunidade, não por valores morais; já vi, por exemplo, nos dias subsequentes a uma tempestade de granizo que destruiu principalmente as casas mais humildes, o preço da telha quase dobrar em função do aumento da demanda, tornando a agonia dos flagelados ainda maior. Isto é das leis de mercado, e pode até ter melhorado o desempenho das empresas de materiais de construção, mas certamente não promoveu justiça alguma.”

     

    Talvez para o autor seria melhor fazer como na ridícula Venezula, em que Maduro manda ocupar as empresas. Talvez essa fosse a solução justa na caso das empresas de telhas…

    Nada do que o autor diz é novo. Isso já é mais velho que andar para frente. Mas dizer que a meritocracia não traz eficiência só pode ser uma brincadeira. Há vários exemplos, por incrível que pareça, no Brasil!, que demonstram o contrário, como, por exemplo, a Receita Federal, a USP, o Ministério Público, o Banco Central, a STN e vários setores de excelência que só puderam existir graças à meritocracia. Ou alguém aqui acha que seria possível um Ministério Público com advogados porta de cadeia ou do PT? Vejam no que deu nomear o Toffoli para o STF. 

    Desculpe, mas os cursos sociais no Brasil deveriam ser extintos. Temos cursos sociais demais no Brasil, que são apenas centros de formação a serviço do multiculturalismo marxista. O Brasil precisa de engenheiros, matemáticos, físicos, médicos. Pelo amor de Deus, chega de tantos cursos de sociologia. Vamos ser francos, para que serve um curso de sociologia? O que a sociologia produz? O que um sociologo produz? Apenas espuma…

    1. Flavius Augustus “As leis da oferta e da seg, 11/11/2013 – 02:55

      Nada contra diminuir os cursos de sociologia até sua justificativa. 

      Nada. nada parece ter sido entendido do texto na sua resposta enfurecida.

      Todas as entidades que você citou são balisadas na POLÍTICA , essencialmente.

      Até o banco central, se não tiver um economistas que tenha uma visão política amarrada para contratar seus técnicos matemáticos, econometrístas é o mesmo que entregar um microscópio a um bebe de 2 anos.

      Nada, absolutamente nenhuma atividade humana prescinde da POLÍTICA que é a maneira como atuamos socialmente e como existimos como seres humanos.

      Seu comentário é pura política e, infelizmente em alguns momentos bastante autoritária, que é o oposto da eclosão humana de criatividade, que é o que nos fez chegar até aqui. 

      Lamento que seja tão difícil para você entender as limitações do “ethos” meritocrático como fala o autor. Mas é a vida, imprescisa confusa e cheia de furacões.

      Não, o que levou estas instituições que você fala a adotarem uma “burocracia” meritocrática veio da ação POLÌTICA que nem sempre é perfeita em definir o que é mérito, mas como organismo social, tende a ser EFICAZ quando democrática.

      1. Receita Federal, Ministério

        Receita Federal, Ministério Público….instituições políticas? O critério de admissão é estritamente meritocrático. Além disso, a RF é puramente análises, previsões, cálculos, programas, otimizações. O MP é puro conhecimento do direito em todas as esferas, capacidades dedutiva e investigativa. A única coisa de política que tem nessas instituições é qdo provavelmente fazem “acordos” não tão meritocráticos.

    2. Um comentário se faz

      Um comentário se faz importante, meu caro volte as aulas de português, você fez diversso comentários furiosos sem ter demonstrado por um instante ter entendido exatamente nada que o autor escreveu.

      o autor em momento nem um disse que formas de avaliações não devam ser utilizadas, no entanto uma vez que essas formas são construidas por pessoas e portanto com o viés politico e credos dos individuos que participam dessa construção, a meritocracia por si só não produz justiça ou eficiencia, na verdade os sistemas são de uma complexidade tão extensa que precisam de medidas de correção…

      O autor cita que até os economistas mais ortodoxos ou até mesmo os precursores da ideologia neoliberal teorizaram as formas de correção como por exemplo a defesa da concorrência feita pela intervenção estatal. Veja não fosse isso teriamos apenas uma empresa de telefonia em todo o mundo cobrando o que bem entendesse pelo serviço exemplo esse que seria replicado para todos os segmentos…

      O autor ao usar a lei da oferta e procura ilustra um exemplo de correção que claramente você por não ter dominio da lingua portuguesa não entendeu, em casos de calamidade se o governo não intervisse, os pobres iriam ficar em suas casas sem telhas para todo o sempre uma vez que a demanda mais alta faria os preços desses materiais aumentarem exponencialmente,…oportunamente para evitar esse tipo de problema nessas situações o poder governamental, não deixa o mercado atuar livremente ao enviar por exemplo materiais de construção, fazer campanhas de doação, mandar recursos extra para a prefeitura local, enviar a ajuda de especialistas, ou até mesmo a organização social ao enviar a ajuda humanitária intervém no sistema de livre mercado…

      1. Parece que quem não entende é

        Parece que quem não entende é vc.

        Confunde sociedade com governo, caridade com altruismo.

        Uma sociedade sem ética e moral, os agentes do estado vão com toda certeza desviar os recursos e vender no mercado negro, deixando os pobres na penuria.

        No Brasil não falta exemplos da malversação dos recursos publicos. 

        O “deus”  estado não é garantia de um gerenciamento honesto dos recursos escassos pelo contrário.

         

    3. “Desculpe, mas os cursos

      “Desculpe, mas os cursos sociais no Brasil deveriam ser extintos. Temos cursos sociais demais no Brasil, que são apenas centros de formação a serviço do multiculturalismo marxista. O Brasil precisa de engenheiros, matemáticos, físicos, médicos. Pelo amor de Deus, chega de tantos cursos de sociologia. Vamos ser francos, para que serve um curso de sociologia? O que a sociologia produz? O que um sociologo produz? Apenas espuma…”

       

      Está aí a origem de tanto desconhecimento… Não dá nem para levar o comentário a sério a ponto de gastar tempo formulando uma resposta para ele.

    4. O que um sociólogo produz

      Rapá, sabe que tens um pouco de razão: não existisse a sociologia, talvez não sofrêssemos o desgoverno do Gagacê!

      Se o dito tivesse sido “incentivado” a estudar engenharia, matemática ou até economia, talvez não fizesse o que fez em seus mandatos.

      Tem cada uma que parece duas… 

       

    5. Eis, aí, uma boa receita para

      Eis, aí, uma boa receita para se caminhar em direção a um totalitarismo. Temos exemplos bem convicentes disto na nossa própria história recente.

      Ao contrário de outro comentador do comentário do senhor Flavius Augustus (que, muito propriadamente, assim se cognominou, se é que é um cognome), entendo que o conteúdo do que se escreveu merece, sim, resposta e todo o empenho da parte de quem defende uma sociedade democrático-pluralista (como parece ser a nossa) em demonstrar o reacionarismo de “raciocínios” como o que foi expressado.

      Mas, bem se vê que os esforços do professor Renato Santos de Souza, por clareza e por construir um texto acessível (pela forma, pelas palavras escolhidas, pela narrativa direta e linear) a leitores de variados níveis de poder de compreensão, não foram suficientes para demover convicções arraigadas em pessoas sem disposição para o contraditório, para a negociação, para reconhecer e aceitar as diferenças… É, se ninguém prestou atenção, o senhor F. Augustus cogitou, simplesmente, acabar com o Humanismo. Assim, vamos bem…

    6. Pelo visto o Flavius ao citar

      Pelo visto o Flavius ao citar um exemplo de sistemas meritocráticos “vencedores” só citou coisa pública (USP, MPF, BACEN).

      Teve um preconceito explícito e mesquinho ao descredenciar toda uma classe e um partido político ( segundo ele, o STF seria melhor se fossem todos advogados-juízes do PSDB ou DEM).

      Pela lógica dele, os critérios de avaliação do mérito é uma corrente ideológica e partidária, que levaria o Brasil a ser uma grande nação.

      Mas não viu que está corroborando com o autor do brilhante texto ao expor seu “critério pessoal” como “ferramenta” para se medir o êxito meritocrático de alguns órgãos públicos.

  58. Meritocracia etc etc

    Apesar da avalanche de comentários, e de eu não ter lido todos o textos, falta de tempo etc. Minha idade, e relativo fracasso nesta vida, segundo conceitos do “ethos meritocrático” como você chama, por algumas experiências sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha com o discurso magnânimo (mas necessário) da meritocracia.

    Dito isto, gostaria de agradece-lo por colocar didaticamente a política dentro deste conceito tão fortemente alardeado como técnico, quase puro que é o “ethos meritocrático” que eu chamaria de uma falácia concentida. O fator “Van Gogh”. Um artista que nunca mereceu vender uma obra em vida, mesmo com o irmão fazendo o papel de “marchand” e, não são poucos os casos na história que o mito meritocrático não cola. E, mais importante foi ficar claro que meritocracia não é um fim e sim um “instrumento” possível de aperfeiçoamento de o que quer que seja, até ser um incrível Tirano.

    Pelo número de comentários dá para ver que a chapa fica quente em um país tão desigual com tanto bla bla bla Meritocrático.

  59. O simples “vencer na vida”,

    O simples “vencer na vida”, objetivo máximo da meritocracia, pode ser transitório. Em um dia, podemos dizer que alguém “venceu na vida”, unica e exclusivamente por seu esforço pessoal e, portanto, mereceu chegar a essa posição. No dia seguinte, essa mesma pessoa pode ser ludibriada por um sócio inescrupuloso, ou pode fazer investimentos que não deram certo, ou ainda pode ser acometida de alguma doença grave (ou alguém da família), o que acabe esgotando os recursos financeiros obtidos até então. Pela mesma lógica, podemos dizer que ela mereceu ter perdido tudo?

    Existem tantos fatores externos que influenciam as vidas das pessoas que não podemos simplesmente atribuir ao esforço pessoal todo o mérito de uma eventual posição social ou financeira, que, no final das contas, nem sempre é definitiva. Taí o Eike que não me deixa mentir.

    1. Bem lembrado

      Essa meritocracia tbém tem uma outra falha que os babacas fingem não perceber. Essa falha vem de não levar em consideração os fatores aleatórios. Isso é algo muito bem descrito por Leonard Mlodinov no seu antológico “O Andar do Bêbado”.

      De alguma forma “mágica” as ideologias meritocráticas fizeram sumir os fatores aleatórios do discurso. E ai repousa o maior engano da Humanidade, desprezá-los (os fatores aleatórios).

      Eles são bastante indigestos mesmo. Procuramos culpados e herois em tudo. Até no futebol!!

      Para tudo há um responsável agindo. O “heroi” que salvou (muitas vezes sem querer rs) um time, uma cidade, um país, etc e um “energúmeno” que se não previu, e deveria ter previsto o imprevisível.., e é o responsavel pelo fracasso, derrota etc.. É o império do “domínio de fato” (ou melhor dizendo, da puríssima ilusão infantil de que podemos dominar, senão todos, a maioria dos fatos..).

      A verdade nua e crua é que essa meritocracia não resiste a qualquer análise, como bem explicou o autor do texto. Sendo apenas um instrumento para dar sustentação a modelos onde grupos disputam espaços e recursos, a meritocracia precisa ser desmascarada.. Ela é o black block das ideologias liberais, sempre de máscaras e sempre aterrorizando os grupos com sua violência “racionalizada”

    2. Meritocracia

      Bem lembrado.

      Se uma pessoa conseguir ficar rica com lenocínio, contravenção e crimes de toda sorte, ela pode ser considerada uma vencedora no sistema da meritocracia?

      Uma outra pessoa, conseguir também uma grande fortuna, ganhando na loteria, ela também pode ser considerada uma vencedora na meritocracia?

      Uma terceira pessoa ganhar também uma fortuna, baseada em seu esforço pessoal de trabalho, amealhando o mesmo volume de dinheiro que as anteriores, podem ser niveladas como “vencedoras” num sistema meritocrático?

      Bem argumentado o autor da dissertação, que expõe com brilhantismo, que a meritocracia é na verdade baseada em critérios subjetivos, e de difícil consenso, que pode levar aos três casos anteriores.

      O primeiro caso, a pessoa teve seus méritos em se dar bem no caminho criminoso, o segundo, teve êxito em jogar e ganhar na loteria, e o terceiro teve mérito em ser trabalhador duro. Mas convenhamos, todos os três tem a mesma situação financeira, por caminhos totalmente diferentes, mas a sociedade meritocrática, que vê qualquer um dos três passeando em seus “carrões de luxo”, sempre despertará a admiração da maioria dos passantes (e dirão, lá vai uma pessoa que “se deu bem na vida”), que os julgarão, sem nem mesmo saberem de onde saíram os recursos para tal êxito.

  60. Ambos seus textos foram os melhores que já li.

    Caro Renato, 

    Quero parabenizá-lo pela brilhante exposição de raciocínio em ambos os seus textos. Venho atuando minha vida inteira como combatente dos sistemas empresariais, educacionais e governamentais que regem nossa sociedade, principalmente o empresarial. Dentre os elementos que combatia, pensava que um deles era a meritocracia, porém, graças à abrangência de suas colocações, percebi claramente que, na verdade, tudo que estou combatendo é a meritocracia.

    Gostaria de deixá-lo ciente que seu conteúdo será de grande utilidade para meu trabalho. Hoje ministro um programa que se encontra totalmente à margem desses 3 sistemas citados, e que visa justamente transformar as empresas em organizações não meritocráticas. Neste programa reúno empresários e confronto suas crenças visando quebrar paradigmas, de maneira que eles passem a rejeitar o sistema que a sociedade os impõe, e então passem a desenvolver suas empresas como organizações orgânicas.

    Fico feliz porque hoje, o campo está fértil para este pensamento mais sistêmico e mais humano. Já conseguimos com que dezenas de empresários e empreendedores abraçassem esta maneira não meritocrática de desenvolver suas organizações. Eles estão começando assim, a mudar o mundo a partir da mudança da própria mente, e da consequente mudança do ambiente que influenciam. 

    Novamente meus parabéns, e obrigado !

    Renan Carvalho

     

     

  61. Essa Marilena Chauí está

    Essa Marilena Chauí está conseguindo o que queria: colocar a classe média em xeque. Desconstruí-la. Nos dois textos do autor, analisar e discutir a meritocracia como causadora do tal conceito fascista e ignorante da classe média, já parte do pressuposto que essa idéia da Chauí é verdadeira. E não é. A classe média não é isso o que ela falou, o que esses sociais progressitas estão querendo que ela seja. Querem desconstruir valores, inverter prioridades, nivelar por baixo, e reagirei sempre a isso com argumentos. 

    1. Cadê os argumentos?

      Não é Marilena Chauí nem os “sociais progressistas” que estão querendo pôr a classe média em xeque. Ela já está. Sua própria afirmação de que “querem desconstruir valores, inverter prioridades, nivelar por baixo” já demonstra que a tese do autor está correta. Não se trata de “objetividade”, mas sim de critérios e procedimentos subjetivamente estabelecidos pelos que detêm poder para tanto. E, por fim, onde estão os argumentos com os quais você afirma reagir?

      1. Já postei vários argumentos

        Já postei vários argumentos nesse artigo. Se vc quiser procurá-los e lê-los, terei prazer em debater. E tenho mais um agora, diante de sua afirmação que se trata de “critérios e procedimentos subjetivamente estabelecidos pelos que detém poder para tanto”.  Ora, se vc realmente acredita  nisso, critique quem criou os critérios. Apóie quem propõe uma suposta igualdade social sem mérito algum para quem quer que seja. Critique quem poderia dar condições de todos terem poder, e assim vc poderia seguir o seu caminho. Critique quem está no poder decisório.  Arregace suas mangas, cobre veementemente dos poderes públicos para que todos tenham poder. Cobre, por ex, formação educacional boa para todos. Mas cobre. Cobre veementemente e articuladamente. Cobre pra valer. Use a justiça para valer seus direitos socias. Use mesmo. Se a justiça não funciona, cobre ainda mais do poder público para que a justiça funcione. Até se candidate a parlamentar ou executivo, participe de partidos, chapas, se vc achar que ninguém está à sua altura, ou se perceber que suas cobranças não dão resultado. Se acha a política atual ineficiente, candidate-se e proponha como programa a reforma política. Mas não critique uma classe social que trabalha como todas, que tenta se ajustar como todos nas condições que ela teve para trabalhar. Se vc acha justo mudar as condições, lute por isso. Mas não desclassifique e desconstrua quem obteve êxito nas condições que vc não concorda.  Marilena Chauí está errada, só não sei qual a real intenção dela. 

        1. Ainda sem argumentos

          Você avisa que irá apresentar um argumento (com o objetivo de combater a descontrução de valores, inverção de prioridades, etc). Então, no lugar do anunciado argumento, você passa a sugerir várias ações para que seu interlocutor mude a ordem social!

          Percebe que continua sem ter apresentado um argumento?

          1. Não,  nesse cometário eu

            Não,  nesse cometário eu apenas argumentei o que o anterior falou, sobre métodos criados por pessoas que estão no poder. Sobre este post meritocracia tem alguns comentários meus, procure e leia já que fez questão dos meus argumentos. E reagirei sim com argumentos, não aceito de modo algum o que Marilena Chauí afirma. Sobre metirocracia, ela sempre acontecerá, seja qual for o regime. Nesse regime atual,  sempre que vc precisar de um trabalho de alguém, um serviço, uma consulta, um agricultor orgânico, sempre procure o pior profissional. Para que meritocracia, não é? Procure o pior para vc. Vai haver um agricultor orgÂnico que produz ótimos tomates, cuida das ervas daninhas, sempre frescos, limpos. Seria ele o que a Marilena Chauí denominou perigosamente de classe média?Perigosamente pq ela se apropriou de um termo que sempre teve a conotação econômina para designar, de acordo com ela, um perfil de pensamento e postura. Seria esse zeloso agricultor rancoroso, fascista, ignorante pq não tem cognição?  Procure o outro agricultor, que acorda mais tarde, rega menos, cuida menos, e que tem um tomate pior. Pegue o tomate do pior. Procure sempre o pior para vc. Nem o médio te serve, pq o médio já tem mais méritos que o pior. Abaixo a meritocracia, não é? Aos que não gostam da meritocracia, sempre procurem os piores em tudo.  Ah, vc pode dizer,  os dois podem ter começado do zero,  mas tb há a hipótese do melhor  talvez  ter tido mais chances de aprendizado, etc etc… Se foi o caso de um começo desigual, então lute para o pior tb ter as mesmas chances. Cobre de quem recebe os tributos para que se proveja as condições para todos. Mas não diminua quem se esforçou e obteve sucesso com o suor próprio.  Agora, em um regime socialista, comunista, oficialmente sem meritocracia e distinção de classes, nem vou explicar….é óbvio. No começo em meio à uma nova ordem até pode aparentemente funcionar…Mas com pouco tempo já se sabe o que acontecerá, e nem precisa muita esperteza.

          2. Rir debochadamente é sua

            Rir debochadamente é sua forma de expressão? Talvez até ironia? É o que mais vejo qdo alguma ideia não é a ideia que os sociais progressistas tentam embutir na sociedade.  Se vc quiser argumentar, contrapor, dizer algo, debater algum ponto do pronunciamento da Marilena e sustentá-lo aqui, terei prazer em responder.  

  62. Esta estória de meritocracia

    Esta estória de meritocracia individual cai no momento que temos a figura da herança.

    Quando falo isso para os abobados que “acreditam” na meritocracia, eles gaguejam e o argumento mais “coerente” que obtive foi: mas o pai dele trabalhou!

    Aí eu respondo: então não existe meritocracia. Pelo menos a individual.

    Claro que existem exemplos de superação, mas na prática, prevalece os apoios externos, especialmente da família.

    Isto porque não entrei no mérito do racismo, da estética, da idade, da região, da família, etc.

    1. Para que não recebeu herança,

      Para que não recebeu herança, é por isso que se recolhem tributos diversos. É por isso que tb existe imposto na transmissão da herança. Os tributos são tb para que se proporcionem condições e oportunidades para quem não as teve de maneira mais confortável. Se o dinheiro dessa arrecadação é desviado ou mal gasto, a sua reclamação deveria ser outra que não a meritocracia. Se um indivíduo não recebeu herança alguma, mas tem escola de qualidade à sua disposição, bibliotecas ( tem algumas públicas ), alimentação saudável, acesso à saúde qualitativa, ele terá condições de começar um novo ciclo, e seus filhos e netos serão beneficiados.

  63. Boa análise.
    Mas meu humilde

    Boa análise.

    Mas meu humilde ponto de vista a respeito:

    Como falar em meriticracia em um planeta cujas sociedades se baseiam nas diferenças sociais?

    Tentar encaixar dois conceitos tão diametralmente opostos é como tentar explicar cores a alguém que nasceu cego.

    “Não pode haver vitória quando a luta não é justa.”

     

     

     

     

  64. Muito bom artigo

    Interessantíssimo debate, excelente e corajoso artigo.
    A fundamentação da meritocracia casa bem com o debate sobre a ideologia do desempenho, sua “tríade meritocrática” (qualificação, posição, salário) e o triunfo do sujeito moral burguês.
    Também encaixa com a noção de habitus precário que o Jesse Souza desenvolve em “A construção social da subcidadania”, livro que na minha opinião traz a melhor interpretação do Brasil desde muito tempo…

    Vale à pena olhar:

    Self pontual (ver Charles Taylor):
    O conjunto de transformações das sociedades em direção ao capitalismo e o triunfo da burguesia como classe dominante significaram o triunfo, inclusive como modelo a ser seguido pelas demais classes, do sujeito moral burguês, cuja economia emocional corresponde ao self pontual tayloriano: valorização da calculabilidade, do raciocínio prospectivo, do autocon- trole e do trabalho produtivo como fundamentos implícitos do reconhecimento social e da autoestima.

    Ideologia do desempenho:
    A ideologia do desempenho “é a tentativa de elaborar um princípio único, para além da mera propriedade econômica, a partir do qual se constitui a mais importante forma de legitimação da desigualdade no mundo contemporâneo”. Ela se baseia na “tríade meritocrática”, que envolve qualificação, posição e salário, e pode ser considerada ideologia porque não apenas estimula e premia a capacidade de desempenho objetiva, mas também porque legitima o acesso diferencial permanente a chances de vida e apropriação de bens escassos. É precisamente por este motivo que a ideologia do desempenho é central no debate: porque ela tem a capacidade de legitimar as diferenças no acesso à renda e ao trabalho e, portanto, legitimar a desigualdade social, tão somente a partir do desempenho individual, sem considerar outras di- mensões da vida social e das estruturas de dominação que impedem ou promovem o reconhecimento social.

  65. Muito bom seu enfoque. Tanto

    Muito bom seu enfoque. Tanto o primeiro, quanto este segundo texto, esclarecem uma situação cada vez mais comum e extremamente nociva à produção artística, científica e filosófica autênticas no Brasil. Está ocorrendo uma verdadeira esterilização da criatividade em todos os ramos. Lembro-me que na graduação quase tive que fazer minha monografia sem orientação, pois os professores praticamente exigiam que se pesquisasse este ou aquele detalhe que lhes interessasse, não deixando espaço para a iniciativa do estudante. E, mais recentemente, quando propus um tema para minha pós-graduação, fui elogiado pela “ótima ideia” e, em seguida, convidado a trabalhar com algo mais “modesto”, fazendo uma pesquisa de campo para aquela que seria minha orientadora. De fato, a burocratização da racionalidade está deixando todos os ramos da produção intelectual e artística, senão burros, ao menos irrefletidos e atrofiados.

    1. Mais um apelo a exemplo de caso.

      Não há garantia de que deixar a iniciativa na mão dos estudantes aumente a qualidade e diversidade de idéias uma vez que o pensamento de manada acontece nos dois grupos (orientados e orientadores). Porém, isso pouco importa. Mais importante do que o tema “genial” é obter o treinamento de lidar com problemas mais complexos. E acima de tudo, terminar logo! Porque depois, não mais como aluno, terá mais liberdade para desenvolver muitas idéias geniais úteis pra sociedade (o que interessa para meritocracia).

      Mas de fato a mediocridade nos cerca por todos os lados. Só que ser contra a meritocracia ajudará qual lado?

  66. Questionando a Falácia

    Assim como no outro texto, o raciocínio apresentado é falacioso. Toma 2 premissas razoáveis para tirar conclusões absurdas.

    De forma resumida, este é o raciocínio exposto:

    1 – Uma ordem social baseada unicamente no mérito é perversa.

    2 – Mérito não pode ser medido com exatidão.

    3 – Se Mérito não pode ser medido com exatidão, logo qualquer tentativa de medi-lo carece de relevância.

    4 – Se a medida do mérito for utilizada como fator ordenador social, será o único fator.

    5 – Portanto, a medida do mérito não deve ter papel ordenador social.

    É fácil entender que 1 faz sentido: quem acha que um incapaz deve morrer encolhido num canto ou que o mais capaz e ambicioso deve ser o Dono do Mundo levante a mão.

    O mesmo vale para 2 : quem é o melhor jogador? Messi ou Cristiano Ronaldo? Controverso.

    3 é falso. Quem acha que eu (perna-de-pau que sou) estou próximo de algum dos 2 como jogador? Apesar de não ser uma unanimidade, existe forte correlação entre a posição no ranking da Fifa e a percepção de qualquer torcedor sobre a qualidade dos jogadores ali elencados (apesar de correlação exata só existir na cabeça de quem escreveu os critérios: Títulos? Gols?). Mais ainda entre os listados no ranking e os não-listados. Este item constitui uma Falácia de Composição. Como em “se este alicate não presta para tudo o que eu quero, logo não presta para nada”.

    4 é falso, constitui um Falso Dilema ou Falsa Dicotomia, uma das Falácias de Dispersão. Como em “ou todos os cães são pretos, ou nenhum cão é preto”. É perfeitamente possível mérito ser um fator e não ser o único.

    Assim, cria uma conclusão que é baseada em 2 verdades e 2 falácias.

    O perigo disso tudo é que muitas pessoas não identificam as falácias e, em função de sua história de vida e desvios cognitivos, tomam essa argumentação por lógica.

    Assim, desembocam no desprezo pelo mérito (e por não sei qual alternativa como organizador social), levando à seguinte conclusão:

    Um regime que defenda liberdade do indivíduo e do mercado num equilíbrio em que a recompensa ao mérito (ganhos individuais) atue como estímulo para incentivar os ganhos ao todo (geração de riqueza e de conhecimento), em balanço com as perdas aos indivíduos pela falta de mérito, é perverso (pois o mérito é um fator ordenador social).

    Uma sociedade – como a da Suécia – em que os mais talentosos e esforçados ascendem mais do que os menos talentosos e esforçados, mesmo que oferecendo razoável oportunidade a todos e garantindo um nível mínimo de bem-estar a qualquer cidadão, financiados por impostos crescentes e redistribuidos em uma rede de proteção social, fomentando também atividades sem utilidade material imediata, é perversa (pois o mérito continua sendo um fator ordenador social).

    Em qualquer país desenvolvido, o mérito é o mais forte fator de organização social . Profissionais tidos por mais competentes ganham mais, têm mais poder de decisão e portanto estão em nível social mais alto do que os menos competentes. Naturalmente são critérios difusos e imperfeitos, por serem objetivação da subjetividade, ainda assim são os melhores que cada sociedade encontrou (e nenhuma alternativa melhor foi apresentada). Diferenças de Oportunidade limitam as possibilidades de cada um, portanto sua universalização deve ser buscada (apesar de a perfeição ser inatingível).

    Não é na não-meritocracia, mas sim no Humanismo, que vamos encontrar um valor intrínseco ao ser humano, que separa posição social de valor como pessoa, tentando nos fazer enxergar a nós mesmos no outro, e convencendo a sociedade a oferecer dignidade e condições a quem tem menos mérito. E até questionando o materialismo.

    E nos faltam Meritocracia E Humanismo.

    Ao invés de comemorarmos que algum grupo social no Brasil finalmente descobriu a Meritocracia e utilizá-la para incentivar o esforço e defender Educação de qualidade (aprender a entender o que leu, fazer contas e raciocinar logicamente), afinal a Meritocracia exige a busca pela igualdade de Oportunidade, parece que desejamos permanecer eternamente na mediocridade que iguala por baixo.

    De toda sorte, agradeço ao site e ao autor pelos textos, como oportunidade de reflexão sobre temas tão importantes.

    1. Não entendi o texto dessa

      Não entendi o texto dessa forma. Acho que a crítica está na crença de que a meritocracia é um meio para se alcançar a justiça sendo que, na verdade, ela é apenas um meio de organizar a sociedade. Não se deve excluir os concursos públicos nem os métodos de avaliação por notas, apenas ter consciência de que eles não determinam que aquele que tem melhores resultados seja de fato, mais competente e merecedor, é também um critério subjetivo, mas sem dúvida é o mais eficiente. Principalmente, combater a crença de que aquele que não tem sucesso profissional é incompetente, burro ou preguiçoso. É mais uma crítica a uma linha de pensamento da classe média do que ao modelo de organização. 

    2. Qual falácia?

      Acredito existir falácia na discussão, não no texto base para a discussão. Em nenhum momento foi proposta a exclusão da meritocracia, ao contrário é explicitada a sua manutenção! Ainda, o texto se propõe a discutir a meritocracia de uma maneira ampla para melhor entendimento do status quo vigente em diferentes classes sociais e é isto que o texto apresenta.

      E não deixa dúvidas que o mérito, para ser medido – por qualquer instrumental – carece de relevância e sempre será sujeito a críticas. Apesar de indubitável, ainda é – e continuará sendo – medido. O que se faz necessário é entender os prós e contras do instrumental de medição.

      Por outro lado – também é argumento do texto – não é por ser amplamente utilizado e continuará assim sendo, que dever-se-ia ter a meritocracia e seus procedimentos de medida como indiscutíveis ou não sujeitos a falhas.

  67. Classe média

    Reconhecer algum mérito no discurso de Marilena Chauí que prega o ódio entre classes é semelhante a enaltecer características boas do nazi-fascismo ou de Hitler (sim, procurando bem é possível identificá-las). A autora e suas idéias segregacionistas e odiosas são tão absurdas (tal qual o nazismo e Hitler) que impedem que se retire dali algo de bom. Para os que não conhecem suas idéias e o ódio que destila, recomendo o vídeo abaixo.
    http://www.youtube.com/watch?v=HjOXeGZT8M0

    1. É brincadeira, né?

      Espera aí, cidadão. A Marilena Chauí é uma professora de renome mundial e vasta produção acadêmica e você chega e diz que para conhecer as ideias [e o suposto ódio que ela destilaria] as pessoas devem recorrer a um raso e manipulador vídeo no Youtube, é isso? Você deveria ter vergonha!

  68. Questão é mais abrangente

    A questão abordada no artigo está relacionada com a crescente obsessão por medição de desempenho no mundo moderno, isso vai muito além do meio acadêmico, e também não se limita ao Brasil. O mundo corporativo em geral sofre muito desta doença, ele também está impregnado deste conceito de “desempenho burro”.

    Estamos na sociedade do conhecimento, cada vez fica mais sem sentido avaliar produtividade, por exemplo, com base em medições objetivas com visão míope de curto prazo. Por isso temos serviços cada vez piores, afinal, é sempre mais fácil medir quantidade (objetivo) do que qualidade (subjetivo). Este artigo é muito elucidativo sobre o problema no mundo corporativo: 

    http://knowledge.wharton.upenn.edu/article/productivity-in-the-modern-office-a-matter-of-impact/

    Concordo que a classe média brasileira é conservadora. No final das contas, as elites que criam os sistemas de avaliação de desempenho usam a meritocracia principalmente para manter sempre a “reserva de mercado” garantida aos grupos sociais aos quais elas mesmas fazem parte. 

  69. Meritocracia e economia

    A meritocracia nada mais é do que o discurso ideológico usado pelos que a alcançaram para impedirem que a alcancem os que não a alcançaram.  

    Explicando. Numa sociedade capitalista, a ocupação de um lugar de destaque, de uma vaga disputada, de um espaço de mercado lucrativo, de um posto de trabalho invejável, de uma função pública privilegiada implica no estabelecimento de um sem número de outros postos de assessoramento e apoio, mas de menor prestígio e remuneração, a serem ocupados por pessoas talvez até mais talentosas que o “merecedor” mais aos quais estará impedido o acesso àquela posição de destaque pela simples razão de não haver espaço. Nem todos podem ser médicos. Se todos os que tem mérito para tal o forem, a profissão cairia em desgraça. 

    É claro que esse mecanismo vai ocorrer em todos as sociedades, mas em nenhuma na forma como ocorre na economia capitalista em que o mais boçal é alçado à condição de destaque por ser proprietário de capital, independente de seu talento, que o dinheiro compra, se ele precisar..

    Meritocracia é engodo. 

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