O falso dilema da “comunicação” de Haddad

Alguém acha que Haddad vai resolver seu problema de comunicação com mais comunicação?

Postado em 29 jul 2014
 
 
 
 
Sob cacetadas da mídia

Sob cacetadas da mídia

Vão se acumulando as críticas à capacidade de “comunicação” do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, desde que ele começou a implantar seu programa de governo aprovado nas urnas.

O plano diretor da cidade traz coisas como maior oferta de habitação popular, aproximação de emprego e moradia, estímulo ao uso de bicicletas e transportes coletivos, apoio aos catadores e aumento da reciclagem de lixo sólido, por exemplo.

A última que li foi no Brasil Post, uma associação do Huffington Post americano com a Editora Abril.

A solução mais frequente apontada para os problemas de comunicação dos governos é sempre mais comunicação. Até parece ação orquestrada por… alguma empresa de comunicação.

Tem muita gente que acredita nisso, incluídos muitos petistas. Essa teria sido, essencialmente, a maior causa do escândalo do mensalão, outro grande problema, ou melhor, produto de comunicação.

Acredita em qualquer coisa quem acredita que investimentos e estratégias de comunicação e marketing podem arrefecer o bombardeio de frequência palestina e intensidade israelense promovido pela imprensa brasileira contra os governos petistas.

Há uma guerra da comunicação no Brasil e no mundo atualmente, mas até na guerra existem leis. É proibido usar armas químicas e matar civis, por exemplo. No Brasil, a guerra da comunicação não tem lei.

Mario Covas também acreditava que os jornais não falavam tão bem de seu governo quanto deviam. É natural: político que é político tem que ser narcisista. Senão, não funciona. Como é que o cara vai dizer que é máximo, se nem ele acredita?

A oposição da imprensa não é novidade, nem privilégio ou exclusividade do PT. Perguntem a Fernando Collor de Mello – recentemente absolvido das acusações da imprensa que o levaram à destituição do cargo – se ele não concorda.

Você sabia que, para resolver o problema, Covas mandou a Imprensa Oficial – a gráfica e editora que produzem o Diário Oficial do Estado – fazer uma brochura chamada … Você Sabia?

Pois é, ele mandou a empresa de comunicação do estado que dirigia enfrentar as tropas inimigas e contratou a Abril – dona de um sofisticado esquema de distribuição de revistas e detentora de um cadastro gigante de assinantes – para entregar a revistinha na porta
da casa de todo mundo.

Deu pra perceber? Não? Eu explico melhor.

Para informar aos cidadãos que o elegeram as realizações que ele achava que a imprensa não reconhecia nem divulgava, o governador tucano mais popular que São Paulo já teve precisou pagar pelo socorro da imprensa que o perseguia.

Para se defender dos ataques, o governo precisa “investir em comunicação”. E adivinha no bolso de quem vai parar esse “investimento” e quem paga por ele.

Isso mesmo: você.

Para desmentir ou neutralizar uma imprensa que age em grupo – você já reparou que os jornais tem todos a mesma opinião e publicam até manchetes idênticas – os governos são obrigados a manter um exército de funcionários e toda uma estrutura dedicada exclusivamente a produzir “o outro lado” que ela não publica.

Ou, então, se quiser que ela o apoie incondicionalmente, encher suas páginas de anúncios pagos a preços acima do cobrado dos demais anunciantes, comprar assinaturas para colocar nas escolas e bibliotecas públicas onde faltam livros ou oferecer-lhes financiamentos em condições de pais pra filho.

Seja como for, é sempre o governo quem paga a conta. E paga duas vezes: para produzir a sua própria informação e para garantir sua publicação com anúncios.

Os filmes sobre Elliot Ness tornaram famosa a “taxa de proteção” que a máfia de Nova York cobrava para não roubar e matar os comerciantes.

Alguém acha que Haddad pode se defender dela com … mais “comunicação”?

 
Sobre o Autor

Jura Passos é jornalista. Formou-se na Escola de Comunicações e Artes da USP e fez especialização em comunicação e políticas públicas no Hubert H. Humphrey Institute of Public Affairs da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. É um eterno aprendiz de capoeira, samba e maracatu e adora viajar de bicicleta por ai, menos em São Paulo.

 

Redação

2 Comentários

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  1. Desde do primeiro dia que o

    Desde do primeiro dia que o meu conselho para Haddad foi criar uma classe especial de salário para sua secretaria de comunicação, compatível como os mais altos do PIG,  para que pudesse contratar gente que faz jornalismo a favor do petismo com gana mesmo. Além disso, um +Jornalista para que toda subprefeitura tivesses uns 10 para fazer comunicação na comuniadade e em Cuba há os mais compentes, bastando que se veja o estrago em nível mundial que apenas uma dessa, Yoani e  Sánches, faz com o regime cubano, e por aqui só não fez mais por ter sido paradA  na base do tapa, presa em porões e até ter cabelos arracados

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