O suave passeio de Jonas

Jonas Donizette (PSB) reelegeu-se prefeito de Campinas com larga margem. Seu vice é filho de José Roberto Magalhães Teixeira (1937-96), co-fundador do PSDB, que dá nome a anel viário, rodovia, escolas, avenidas e praças na cidade.

Veterano radialista, habilíssimo em comunicação, o prefeito recebe apoio antigo, sistemático e escancarado, creio até ilegal, de toda a imprensa corporativa campineira. Toda. Mídia esportiva, religiosa, informativa, musical, radiofônica, impressa, televisiva.

Apenas esse respaldo justifica a votação de Jonas, depois do escândalo da prisão de um assessor direto, em dezembro passado. Ele foi recolhido a camburão, no paço municipal, por suspeita de pertencer ao PCC. Exatamente, o Primeiro Comando da Capital.

O caso ficou restrito ao noticiário do momento. Ninguém quis averiguar as ligações do sujeito com o crime organizado, a origem da nomeação, seus contatos na Câmara, o que fazia num gabinete vizinho ao do alcaide.

Não é algo isolado. A famosa suspeita de que Jonas tem ligações com grandes interesses imobiliários jamais foi verificada. Sequer depois de loteamentos milionários brotarem na cidade após sua eleição, com auxílio de obras viárias da monarquia Alckmin.

E poderíamos lembrar os descalabros administrativos, especialmente no transporte, os projetos copiados de Fernando Haddad e até o “sem medo de ser feliz” do jingle da reeleição. Jonas não sabe o que é receber tratamento verdadeiramente investigativo, crítico ou mesmo irônico da mídia local. Nem, aliás, do Judiciário.

Campinas tem população equivalente às de Montreal, Barcelona e Munique. É inimaginável um governante dessas metrópoles receber tamanha condescendência dos respectivos veículos de informação. Aqui tampouco, fosse Jonas do PT.

Eis um exemplo para análises sobre a vitória da direita no país e o papel da imprensa na construção do fenômeno. Não se trata de ignorar questões amplas, envolvendo a política nacional, mas de verificar como elas se reproduzem nas especificidades locais.

Inclusive nas pressões profissionais e pessoais que silenciam os indignados.


http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/2016/10/o-suave-passeio-de-jonas.html

Redação

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