QUANTO CUSTA?

      É verdade que campanhas eleitorais têm um custo alto. É assim no Brasil, e é assim no restante do mundo. Mas é falso que as coisas devam ser assim. Comícios, por exemplo. Que impacto direto pode ter um comício que reúne algumas milhares de pessoas (em sua grande maioria com voto já decidido), diante de um universo de dezenas de milhões de eleitores? Quantos votos ganha um carro de som? Nas eleições proporcionais, santinhos e cartazes emporcalhando as ruas podem até desempenhar um papel relevante, mas nas majoritárias significam muito pouco. As pessoas já saem de casa com seu voto para prefeito, governador ou presidente previamente decidido. É só a televisão que tem o poder de determinar o resultado de uma eleição. As mensagens produzidas pela emissora, em seu noticiário, e pelos partidos, no horário gratuito, estas, sim, têm muita força. E é na produção das inserções televisivas que os partidos têm que gastar dinheiro a rodo, pagando por muitas delas e contratando equipes milionárias capitaneadas por marqueteiros para conseguir, no fim, um produto que possua o formato familiar do entretenimento e da propaganda. É aí que a eleição se decide e é aí que o a maior parte do dinheiro é gasta.

      Quando você aceita a premissa de que campanhas têm que ter esse formato, o restante vem por via de conseqûencia, de um modo ou de outro. Você será empurrado à defesa do financiamento público de campanhas, por exemplo – sem dúvida, um mal menor, se comparado ao financiamento privado, mas que irá jogá-lo num labirinto dos detalhes capazes de fazer entrar pela porta dos fundos o mal que você acredita ter saído pela porta da frente. O financiamento será exclusivamente público? Qual é o montante a ser dado aos partidos? Como será dividido? Como reunir maioria em torno de uma proposta unificada sem esmagar direitos de partidos minoritários? Como evitar que a distribuição do bolo consagre os caciques locais com força para reunir votos no Congresso? Acima de tudo, como convencer a população de que vale a pena doar centenas de milhões de reais (é disso que estamos falando) aos partidos políticos ao invés de empregar o dinheiro para pagar saúde e educação para os mais pobres? Quem defende o financiamento privado tem diante de si a facílima tarefa de gerar divisões em torno desse cipoal de questiúnculas. Mais cedo ou mais tarde, ressalvas serão feitas, excessões serão abertas e a lógica do financiamento privado conseguirá se reinstituir.

      Meu ponto é simples. Não precisamos aceitar a premissa de que as coisas têm que ser assim. A obviedade que as pessoas estão com dificuldade de enxergar é a seguinte: campanhas podem ter custo zero. Tire de cena os comícios, que tiveram uma função importante, talvez, até a metade do século passado, mas que já não significam coisa nenhuma há muito tempo. Tire de cena os santinhos e cartazes, que não apenas sujam as ruas como também esvaziam o debate político. Tire de cenas carros de som berrando nomes e números pelas ruas. Deixe de fora, acima de tudo, a turminha do Duda Mendonça, com suas contas milionárias, seus efeitos especiais, suas tomadas externas, seus atores contratados, suas pesquisas de mercado — tudo isso que consome o grosso da grana imensa que os partidos são obrigados a recolher junto à iniciativa privada em troca de licitações fraudulentas, concorrências fajutas, informações privilegiadas, contratos milionários, e por aí vai. Tire tudo isso. Sobra o quê?

      Sobram políticos de um lado e eleitores do outro. Só isso. Líderes políticos ocupando o horário nobre, sentados em poltronas, no mesmo estúdio que o adversários, usando seu carisma para convencer milhões de eleitores do outro lado da câmera. Nenhuma restrição a conteúdos. Palavra absolutamente livre, por um tempo proporcional à representação de cada partido, mas dentro de um formato fixo e único para todos. Toda a ênfase posta no programa, na proposta, no partido, no candidato, na idéia.

      Políticos de um lado, eleitores do outro, no horário nobre da televisão, falando livremente para todo o Brasil. Não demanda financiamento público nem privado, e coloca o debate político num outro patamar.

      Já que é para lutar, por que não escolher uma causa que realmente valha a pena?

      NÃO CUSTA NADA.

Redação

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