A Brasil Ecodiesel e o papel do mercado

Coluna Econômica – 13/05/2010

Quando colocado a serviço da atividade produtiva, não existe ambiente mais propício ao crescimento e recuperação de empresas do que o mercado de capitais.

A história do Brasil Ecodiesel é sintomática.

A empresa foi criada para produzir biodiesel, assim que o governo lançou seu programa.. As bases do modelo eram o selo social – que oferecia isenção de impostos a quem adquirisse determinado percentual da produção da agricultura familiar – e os leilões da ANP (Agência Nacional do Petróleo).

O modelo dos leilões é similar ao da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Primeiro, define-se o mercado potencial para os próximos anos. Depois, adquire-se o produto através de leilões, assegurando a produção no longo prazo.

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O lançamento da Ecodiesel esbarrou na revelação, poucos dias antes, de que seu controlador era Daniel Birman, controvertido empresário gaúcho. A revelação provocou uma queda no preço inicial das ações, reduzindo o potencial de captação de recursos no mercado.

Mesmo assim, a empresa se lançou na empreitada, mas cometendo erros estratégicos graves. O primeiro, foi o de entrar em todos os leilões jogando os preços para baixo. O segundo, foi apostar na produção familiar antes de estruturar um modelo adequado de parceria.

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Os problemas surgiram logo depois. A maior parte da produção fundava-se na soja. Com o boom das commodities no mercado internacional, o preço da soja tornou-se proibitivo para os contratos fechados com a ANP. Na agricultura familiar, a tentativa de produzir biodiesel com base na mamona também não deu certo. Esbarrou-se em problemas com o justiça do trabalho – que passou a autuar a empresa pelo fato das famílias colocarem menores de idade no trabalho. E também não se fidelizou os fornecedores.

A empresa abriu unidades em várias partes do país sem ter solucionado os problemas básicos. O resultado foi a quebra.

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No momento seguinte, os credores se reuniram e o Banco Fator conseguiu dos controladores um mandato para reestruturar a empresa, transformando parte das dívidas em participação acionária.

Em junho do ano passado teve início o processo de reestruturação, com venda de algumas unidades, uso de outras para esmagar produção de terceiros. A empresa ainda enfrenta problemas, como o fato de ter perdido o selo social – que lhe assegurava benefícios fiscais. Mas o quadro financeiro reverteu totalmente.

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A estratégia da companhia focou em acertar parcerias de médio prazo, para garantir a estabilidade no fornecimento de matéria prima.

No primeiro trimestre de 2009 a empresa registrou prejuízo de R$ 18,7 milhões. No primeiro trimestre de 2010 mostrou um lucro líquido de R$ 18,4 milhões. Parte desse lucro se deveu a créditos acumulados do ICMS. Mas o lucro ajustado foi de R$ 7,5 milhões.

A receita líquida foi de R$ 149,4 milhões, 225% maior que a receita líquida do mesmo período do ano passado. O endividamento, que chegou a R$ 290,6 milhões, caiu para R$ 65,8 milhões.

Luis Nassif

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