Indústria é principal indutora de inovações

No mundo inteiro se discutem formas de melhorar a cooperação entre universidade e empresa. E as dificuldades de organizar cooperações nesse sentido não são sentidas apenas no Brasil.

O professor Carlos Américo Pacheco, do Instituto de Economia da Unicamp, destaca que, historicamente, o principal realizador de inovações é a indústria, e que a relação universidade-setor privado para produção de licenças e patentes é recente.

Pacheco participou do 9º Fórum de Debates Brasilianas.org – Integração com a Universidade, onde explicou que apesar de ser cada vez mais importante a interação entre universidades/centros de pesquisa, indústrias e governos para a inovação tecnológica, é preciso entender que todos têm razões distintas para estimular a cooperação.

O interesse do governo é corrigir falhas de mercado, investindo em setores onde a pesquisa e inovação (P&D) devem ser melhoradas pela competitividade do país. Empresas costumam realizar cooperações com centros de pesquisa/universidades pelo acesso a infra-estrutura de pesquisa e expertise, melhora da qualidade de pesquisa, capacitação de seus recursos humanos e redução de custos. Enquanto universidades e centros e pesquisa, têm objetivos de ampliar a experiência de estudantes e professores e legitimar os gastos públicos recebidos para pesquisa.

Um levantamento realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), sobre as principais características de cooperações ciência-indústria, revelou que o principal tipo de acordo feito entre instituições de ensino e iniciativa privada é para formação de recursos humanos. Em segundo lugar, muitas dessas relações cooperativistas são de natureza informal, sem a realização de contratos.

Dentre as conclusões desse estudo, apontadas por Pacheco, está de que não existe uma receita única utilizada no mundo de como indústrias e centros de ensino devem fazer parcerias. Por outro lado, a participação do governo se revelou importante para facilitar o ambiente de inovação, a exemplo dos centros australianos de P&D que usam o conceito da parceria tripartite – governo, indústria e universidade.

Patentes

Pacheco defende que a produção de patentes deve ser feita levando-se em conta a importância daquele conhecimento para o mercado. “A patente é uma realidade do mundo empresarial. Para se ter ideia, apenas 3% das patentes registradas nos EUA, por residentes, são originadas em universidades, porque a patente é um produto típico do ambiente de P&D empresarial, e não do ambiente acadêmico”, completa o professor, uma vez que a característica da universidade é estimular e não impedir o crescimento e a troca de conhecimentos.

Universidades devem patentear quando há interesse de licenciar suas inovações ou criações de modo a assegurar juridicamente a proposta para o ente privado que irá adquirir aquele produto.

Pacheco acredita que a formulação de um sistema de patente sólido é importante para o país do ponto de vista da inovação, como forma de recompensar e garantir retornos financeiros de esforços e investimentos realizados em P&D. Mas sem deixar de haver o acompanhamento de políticas públicas para evitar abusos em mercados sensíveis, especialmente em países em desenvolvimento, onde deve prevalecer o interesse público.

As universidades necessitam de políticas para incentivar a cultura de propriedade intelectual e com o papel de deixar claro que o ambiente acadêmico é diverso do ambiente de mercado. Ao mesmo tempo, a universidade de pesquisa é um ambiente pequeno, são poucas as instituições que se voltam necessariamente para inovação.

Em relação à formação de engenheiros capacitados para pesquisa, as principais são FEI, Poli e Mauá, nessa ordem de importância. Portanto, Pacheco diz que seria melhor para o Brasil fazer investimentos em centros tecnológicos, como em FATECs [Faculdade de Tecnologia] se o objetivo é formar em grande escala recursos humanos.

O professor reitera que a agenda de pesquisa e inovação (PI) é importante para o país e que é necessário haver mudanças no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual) em relação a capacitação e aumento do quadro de funcionários para acelerar o número de patentes concedidas no Brasil.

Existem muitas reclamações quanto à burocracia para aprovação de uma proposta, mas em países dos Estados Unidos a avaliação de criações e inovações chega a ser mais exigente. Por outro lado, o prazo médio de aquisição de patentes no USPTO (Escritório Norte-Americano de Patentes e Marcas) é de 4,5 anos, no EPO (Escritório Europeu de Patentes) é de 3,5 anos, e no Brasil, de 8 anos.

Redação

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