‪#‎QueroUmDiaSemEstupro, por Beatriz Nassif

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Beatriz Nassif, pelo Facebook
 
Depois da repercussão do estupro coletivo de uma menina de 17 anos na periferia do Rio, assim como da divulgação de vídeos e fotos a expondo e difamando, me pergunto se os homens ainda pensam “pra quê feminismo?”. Venho, então, com sábias palavras da minha mãe: “Derrubar o patriarcado é uma questão de vida ou morte para mulheres. Não é escolha.”
Se com o feminismo tem estupro coletivo, homicídios, assédios constantes (não me lembro de uma vez que sai na rua sem sofrer assédioverbal) e violência à mulher, não posso nem imaginar como seria sem.
 
Eu preciso do feminismo porque nunca vi 30 mulheres estuprarem um homem desacordado, gravarem e colocarem no Twitter.
 
Preciso porque tenho medo de sair na rua na sozinha.
 
Preciso porque consigo contar nos dedos o número de amigas que tenho que nunca foram assediadas sexualmente.
 
Preciso porque essa jovem provavelmente nunca vai se recuperar. Terá danos psicológicos, sua reputação destruída (já que colocam a culpa nela).
 
Do jeito que tá não dá. Preciso do feminismo porque, pra mim e pra todas as mulheres, é caso de vida ou morte.
 
‪#‎QueroUmDiaSemEstupro‬ (mas será isso sonhar alto demais?)

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. A ONDA BOLSONARO E COMPANIA É NEONAZISTA E NÃO NEOCONSERVADORA

    O estupro desta menina não pode ser compreendido fora do contexto da onda machista, de ódio e naturalização da violência estimulada por Bolsonaro e companhia. Por isso, temos de parar de chamar a onda Bolsonaro, Sheherazade, Revoltados On Line, Malafaia, Feliciano e companhia de “onda neoconservadora”. Trata-se, mais propriamente, de uma onda neonazista. O pensamento conservador defende que o processo de integração social e distribuição de riqueza deva se dar por meio do mercado mais do que do Estado. Alguns autores, inclusive, defendem que o Estado deva atuar em áreas sociais e econômicas estratégicas, afim de garantir o equilíbrio econômico e social que o mercado, por suas próprias leis, não consegue promover. Conservadores são portadores de um projeto civilizatório dentro do qual o Estado possui um papel importante, seja como mantenedor da ordem, como vigilante da justiça, como estimulador das virtudes e potencialidades humanas e históricas da sua sociedade, ou, ainda, como guardião das liberdades humanas subjetivas e objetivas. Bolsonaro e companhia não possui projeto civilizatório, mas de extermínio. Para essa gente, o equilíbrio social deve ser garantido, exclusivamente, através da violência, do uso da força do Estado para exterminar opositores políticos, ideológicos e toda sorte de desintegrados da ordem social. Seus mártis não são grandes estadistas, pensadores ou artistas, mas torturadores, estupradores e assassinos como os Ustras da vida. Aliás, tais ídolos denunciam muito bem o verdadeiro propósito e o verdadeiro tipo de gente que se esconde por trás desta capa de “conservadorismo”: são, efetivamente ou potencialmente, assassinos, estupradores e torturadores que desejam realizar sua psicopatia e sair ilesos com a desculpa de terem cometido crimes contra quem merecia, em nome do Estado, da sociedade, de Deus, da família e coisas do gênero. Do mesmo modo, não há qualquer indício de humanismo nas supostas ideias desta gente, nada que lembre ciência e filosofia de ponta, nada que proponha uma solução para os problemas históricos pelo uso da razão, pelo uso de instrumentos democráticos e civilizatórios amadurecidos por debates, pesquisas e conhecimentos racionais. Estão submersos num obscurantismo religioso metamorfoseado a uma visão econômica religiosa, de sacralização do capitalismo. A partir deste ambiente, alimentam e destilam todo tipo de ódio contra tudo o que é diferente em termos de estilos sociais, econômicos e ideológicos. Também a partir deste ambiente, negam direitos reivindicados por minorias sociais que aprenderam a odiar, negam direitos às mulheres que aprendem a ver como objeto, atacam direitos sociais e civis que, concretamente, representam a extensão e o enraizamento das liberdades formais e subjetivas para a esfera objetiva, material da vida social. Esta negação é parte da política de extermínio que advogam e tentam legitimar por meio do poder jurídico do Estado. A onda Bolsonaro e companhia no Brasil, definitivamente, não é conservadora: é neonazista, é uma onda política e ideológica fundamentada no ódio, no obscurantismo, na negação de direitos, de cidadania, de liberdade, de humanidade e no desejo doentio de exterminar, matar, estuprar e torturar opositores políticos, ideológicos e os excluídos da ordem social.

    1. Compartilhei, com os

      Compartilhei, com os créditos. E vc está coberto de razão. É preciso parar de arranjar desculpas para os bolsonaros da vida, suavizando o que são. Os resultados sempre são desastrosos. 

  2. Liberdade, igualdade, fraternidade e respeito

    Até quando sofreremos com uma sociedade doente, arcaica, idiotizada? Como podem criar filhos, meninos sem noção do humano, de respeito, de igualdade ? Fico realmente pasma de ler que uma pessoa violentou uma outra. Duas, cinco, doze, nada disso faz sentido. Eh uma aberração, como é aberrante irem olhar esse tipo de barbarie em algum video por ai. Enfim, a conscientização passa pela noção de cidadania e tudo aquilo que coloquei acima. Sem pais que instruam seus meninos, não ha condições de sermos uma nação de iguais enquanto gênero.

  3. Que as palavras de sua Mãe se

    Que as palavras de sua Mãe se tornem realidade, em um mundo em que, se deixarmos, a macheza tenta comandar as massas.

  4. A sensação é de que todos nós

    A sensação é de que todos nós fomos estuprados. Tenho um filho e uma filha, sobrinhos, sobrinhas, filhos e filhas dos amigos. Construimos redes de cuidado em torno de nós com familia e amigos. Mas a sensação hoje é a de que  o Mau Impera. Esse ato foi a ponta deste iceberg, Cultura do Estupro, que tem banalizado e legitimado esta abominação em nosso cotidiano e nas tomadas de decisão em altas instâncias. Corajosa a sua menininha, Mouro. Saudades e bjs na Ruiva.

  5. Que dor sinto no peito, pela

    Que dor sinto no peito, pela pobre menina violentada e ultrajada tão covardemente! Que tipo de pessoas são essas? Quem as educou? Com quem convivem? Que escola freqüentam, ou freqüentaram? Quem criou esses monstros? 

  6. *

    Beatriiz, por mais que me solidarizo às lutas das mulheres, coloco posts em relação ao aborto, que sou intransigentemente a favor, e por muitas situações que não vem ao caso; quando vejo uma situação dessas sinto vergonha de ser homem, é desconcertante.

  7. Que vergonha!

    Numa hora dessas, Beatriz, eu sinto vergonha porque não posso fazer nada, a não ser escrever aqui, emocionadamente, que peço perdão, em nome de todos os homens, pela violência que você descreveu. Tenho três filhas e duas netas, sinto-me horrorizado ao pensar que elas viverão num mundo onde há bestas-feras que se dizem homens, mas que são vermes, piores que vermes, são lixo, excremento, pus, vômito. 

  8. Faltam palavras para condenar

    Faltam palavras para condenar esse crime como seria necessário.

    Mas, atenção: um desses estupradores já foi assassinado, e corre solta pela internet a apologia do “carro da linguiça”, isto é, do esquadrão da morte ou como se chame hoje (“Mão Branca”?)

    A extrema-direita é inteligente e não deixará de usar a nossa justa indignação com crimes dessa natureza para construir um processo de fascistização.

  9. Certa vez fiz uma crítica

    Certa vez fiz uma crítica contra algumas leis e outras iniciativas do estado que de alguma forma protejam / privilegiem / beneficiem as mulheres de forma diferenciada, tamanha a minha preocupação com a letalidade dos machos da nossa espécie com problemas acovardantes no DNA (a maioria, só que em vários graus), principalmente com as mulheres. Ou não fui compreendido ou fui mas não concordaram…

  10. Medidas anti-estupro/ONU

    Ensinamentos da ONU para dissuasão de estupros #EstuproNuncaMais                    

     ROMULUS                                      SEX, 27/05/2016 – 02:41

    Do twitter de @rommulus_

    #EstuproNuncaMais

    Anos atrás, quando viajei pela primeira vez em missão pela ONU, tive que passar por um treinamento de segurança. Nele, aprendi muitas coisas interessantes.

    Uma delas é esse conjunto de medidas que as vítimas devem tomar, tentando manter a maior calma possível.

    A chave é compreender que o estupro tem menos a ver com o erótico e mais com poder, dominação, submissão e humilhação. Por isso, dizia o material de treinamento que em situações de conflito são comuns estupros de meninas de 9 a senhoras de 90 anos, homens, meninos…

    Dessa forma, ninguém está imune por considerar não ter apelo sexual para os agressores.

    Não tem a ver com isso.

    Vejam a mensagem que mandei para os meus contatos no whatsapp, em vista da campanha #EstuproNuncaMais:

  11. #‎QueroUmDiaSemEstupro, por Beatriz Nassif

    Sra. Beatriz, acho seu comentário mais do que louvável, (se assim posso falar deste assunto) mas se este estupro aconteceu na Comunidade do Morro São João, quero indica-la que não é periferia do Rio de Janeiro, pelo contrário, esta comunidade fica sem egaraffamento há 8 e 15 minutos de tres bairos famosíssimos do Rio de Janeiro, com seus “belos” Shoppings, clubes escolas, condomínios… por favor refique,  há poucos metros da Linha Amarela que também sem engarrafamento nos leva em mais alguns minutos há Barra da Tijuca, então em nenhum momento é periferia…… oque não muda em nada o histórico, mas aqui no Rio de Janeiro,  imagino se fosse periferia, acho que não teríamos nem conhecimento de tal inqualificável abuso. 

  12. Difícil racionalizar

    Não sei explicar muito bem, mas não tive coragem de ler os relatos desses episódios que retratam o quanto de violenta é a nossa sociedade.

    Li as manchetes (soube da existência de pelo menos 2 casos, Rio e Piauí) mas não fui lê-las.

    Medo? Síndrome de avestruz?

    Sei lá. Vai explicar.

     

    1. Uma confusa impressão de que

      Uma confusa impressão de que clicar para ler as notícias, escarafunhá-las, estaria também participando do crime.

       

  13. Ao longo de séculos e séculos

    Ao longo de séculos e séculos de história, desde que saímos das cavernas, os homens fazem guerras em que se matam e estupram as mulheres. É terrivel saber que não é só na horrível situação da guerra que essa barbaridade acontece, entre nós, “civilizados”.

    PS: Esse crime hediondo do Rio ocorre na mesma semana em que, no campo político da direita usurpadora, o ministro da educação (!) recebe um estuprador confesso em seu gabinete. Claro que a Globo não atentou para isso, mas a BBC, sim…

  14. Cinismo

    Pois é Beatriz,

    Acho que não é por coincidência que brindamos essa época infame que vivemos com os episódios degradantes de estupro divulgados. Na minha visão, é como se fosse o ápice de um período de horrores…

    Uma sociedade em que “pessoas de bem” xingam uma presidente eleita de vaca, puta, mandam tomar no cu em público, faz adesivos com penetração de bomba de gasolina, incentiva crianças a xingarem uma mulher presidente e desejarem sua morte… Memes compartilhados em grupos de mulheres (mães) de watsapp repletos de mensagens com ofensas de gênero a presidente…

    A mensagem é: se podemos ofender assim uma mulher que é presidente da república, que se veste discretamente, que não tem apelo sexual evidenciado em público, que vive cercada de seguranças e teoricamente da proteção da lei, o que podemos fazer, ou admitir enquanto sociedade, com jovens atraentes em posições de muito maior vulnerabilidade??? 

    Muitas das pessoas que hoje expressam repúdio ao divulgado, contribuem com suas atitudes públicas para essa cultura do ataque a mulher.

    Indignados, daí viram os linchadores. Os mesmos que vão para a rua pedir o linchamento de um partido, ou um ex presidente, vestindo-o de presidiário. Os mesmos que defendem a ruptura do devido processo legal e uma justiça seletiva. Vão para a procissão dos linchadores com suas fichas sujíssimas e protegidos pelos bons…

    São protegidos pela narrativa das opiniões publicadas. Aliás, o que esperar de uma sociedade que ri das cacetadas do faustão, assiste novelas que explicita violência e impunidade, sexualiza precocemente crianças, assiste programas que emitem opiniões de linchamento, lincha diariamente sem nenhum respeito uma presidente, um ex presidente, um partido. Mente, omite, manipula… O juiz não é justo, é perseguidor. Os que deveriam defender a sociedade, fazem de tudo para desestabilizá-la. A polícia é parcial e violenta.

    Sem contar com o já tão propalado gabinete golpista e seus atentados a tantas conquistas que culmina em receber um pessoa que descreve um estupro em público como conselheiro da educação. Dessa turma não há o que dizer a mais além de tudo que já foi dito.

    Acho que a conspiração internacional e nacional, formal e informal que continuamos sofrendo nos levou a isso.

    Lembro agora da música do Caetano: “a mais triste nação, na época mais torpe, compõem-se de possível grupos de linchadores”.

    Estamos numa época de “cu do mundo”.

     

     

  15. Algum dia um dos últimos

    Algum dia um dos últimos paradigmas socialmente construídos, portanto não natural, ruirá sem deixar saudades. Minha geração talvez não exista mais, mas a da articulista- provavelmente uma jovem – decerto que sim.

    Evoluímos, isso é fato. No passado foi pior, bem pior. Só que a caminhada tem sido árdua. Num passado nem tão longínquo as mulheres lutavam não pela equiparação , mas pela antecipação! Isso mesmo: eram consideradas homo sapiens de segunda categoria; uma espécie de de “lugar-tenente” dos homens. Uma situação que ainda perdura em boa parte do mundo.

    O que nos deixa perplexos, indignados e atemorizados é que mesma nessa parte do planeta, o dito mundo ocidental “civilizado” insiste-se, por causas várias, no anátema com relação as mulheres. Esse estupro coletivo de uma jovem de 16 anos, merce de receber a mais ampla repulsa pela maioria dos homens, foi “justificado” por algumas dessas mentalidades ossificadas, cauterizadas, através da apropriação da covarde e meritirosa inversão de papéis: a vítima passa a ser cúmplice, se não mesmo a única culpada, pelo crime cometido. 

    Gostei mais do sucinto, mas preciso texto, porque ousou ao colocar bem no centro da questão o problema de fundo: um sistema social anacrônico, portanto já a-histórico, que é o patriarcado. Um sistema  que se mantém e se revigora porque alimentado, portanto caudatário, de estruturas – organizadas ou não – zoonômicas e sociais. Firmá-las nesse simplório comentário seria ocioso.

  16. O Estupro Com e Não Sentido, Fora da “Tela da Globo”

    O estupro é tão vil e covarde, que basta sabe-lo para enojar-se, daí a desnecessidade de detalhes, dispensáveis, pois basta o significado, o sentido, para repudia-lo, tornando mais que desnecessária, curiosa, a curiosidade tanta por vídeo do repugnante ato. 

    Teve curiosidade? Viu? 

    O estupro começa na cidadania impedida e na humanidade abortada, brota no patriarcado conservado, viceja na oportunidade não oferecida, floresce na desigualdade herdada e explode na imbecilidade incentivada, em desvãos e entortas, pelos brucutus da hora, os fascistas de sempre e, principalmente, os omissos da boca para dentro.

    Nada mais alegórico, no pais do carnaval, que ao mesmo tempo em que trezentos e tantos consumam o estupro de tantos outros, supremos inclusive, em uma mulher de 68 anos, em pleno planalto central do Brasil, outros trinta e poucos, consumam o estupro de outros tantos em uma menina de 16 anos, no Morro da Barão, em pleno Rio de Janeiro, enquanto alexandre frota penetra o Ministério da Educação, na “inuterina” República Federativa do Brasil.

    Quem sabe, uma hora dessa, o Brasil acorda e se veja fora da “tela da Globo”, né?

  17. Séculos de processo civilizatório

    Não serão capazes de controlar no homem, esse ser extremamente visual, o encantamento e a atração que as mulheres nele despertam. Dada a componente irracional existente no desejo, somada à falta de respeito e de sensibilidade em relação à mulher, creio que, ainda que em níveis menores de ocorrência, o crime de estupro seguirá  acontecendo.

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