96 anos de Waldir Calmom

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Mara L. Baraúna

Waldir Calmon Gomes (Rio Novo, MG, 30 de janeiro de 1919 — Rio de Janeiro, 11 de abril de 1982)

Waldir Calmon Gomes nasceu em Rio Novo, zona da mata mineira, em 30 de janeiro de 1919. Filho mais velho de Helena e Waldemar, teve mais 3 irmãos.

Waldir teve uma infância pobre, pois Helena, que era uma menina rica, foi deserdada quando fugiu para se casar com Waldemar, um rapaz muito pobre. A partir daí, teve uma vida de privações até sua morte, com 42 anos.

Sua mãe, que sabia tocar piano, violão e violino, ensinou música a todos os filhos, mas só Waldir demonstrou real interesse pela arte. Aos catorze anos, Waldir formou um pequeno conjunto com baixo, piano, bateria, trompete e sax. O grupo apresentava-se em bailes por Rio Novo e Waldir, além de tocar piano, cantava. Pouco tempo depois, foi estudar na Academia de Comércio de Juiz de Fora, Minas Gerais, em regime de internato, e fugia à noite para tocar.

Em 1936, com 17 anos, veio para o Rio de Janeiro, trazendo uma carta de apresentação para o compositor e flautista Benedito Lacerda. Graças a essa amizade, conseguiu um pequeno trabalho como cantor e pianista na rádio Guanabara e apresentou-se em programas de grande audiência. A convite de Eva Todor, começou a tocar também nos intervalos de seu espetáculo no teatro Rival. Apresentava-se com o nome de Valdir Gomes.

Nesta fase começou a tocar o primeiro solovox, um pequeno teclado incorporado ao piano, precursor dos sintetizadores, trazido para o Brasil pelo empresário Jardel Jércolis, popularizando o instrumento.

Já com algum prestígio, foi convidado a fazer uma temporada na Argentina, mas voltou ao Brasil por ocasião da morte de sua mãe, em 1940. Abandonou a música e foi ser um péssimo bancário, como ele mesmo dizia.

Durante a Segunda Guerra, foi convocado e serviu no Batalhão de Guardas da Presidência da República, no Palácio do Catete, e um de seus companheiros foi o compositor e pianista Dick Farney.

Aos poucos, Waldir voltou à música e acumulou o trabalho com apresentações noturnas. Trabalhava no teatro Serrador, na rádio Globo e na boate do Copacabana Palace. Para conciliar tudo isso, dormia apenas poucos minutos por noite. “Eu tinha que acordar cedo por causa do exército. Colocava três despertadores em uma panela e a vizinha fazia o café para mim. Saía, agarrado ao balaústre do bonde, dormindo”, lembrava Waldir Calmon. Colocava o único terno que possuía entre o colchão e o estrado da cama para ficar sempre esticado. Foram tempos difíceis, mas sempre lembrado com o habitual bom humor.

Formou seu primeiro conjunto, o Gentleman da Melodia, marcando presença no Cassino Atlântico, em Santos, e de lá foi para São Paulo, onde se tornou atração da boate Marabá. Desfez o conjunto e regressou em 1947, para atuar na então recém-criada Night and Day, quando os cassinos já estavam fechados.

O primeiro registro do piano de Waldir em vinil, ainda com o nome artístico Waldir Gomes, é de 1941, na gravação original de Leva Meu Samba, acompanhando o autor, Ataulfo Alves, só conseguindo gravar seu primeiro disco solo em 1951 (Star).

Em 1952 começou a apresentar, na TV Tupi e depois na TV Rio, do Rio de Janeiro, o programa “Ritmos S. Simon”, ao vivo, que permaneceu durante 10 anos no ar.

Uma série de discos, lançada em 1953, a Feito para Dançar, e que em 1957 atingiria um número de mais de 100.000 cópias vendidas, deu ao pianista um disco de ouro. A série totalizou doze volumes e tinha como característica inédita que o lado A de cada disco não tinha intervalos. As músicas eram tocadas em faixas únicas, ininterruptamente como em um baile.

Em 9 de setembro de 1955 abriu sua própria casa noturna, a popular Arpège, com seu sócio Maurício Lanthos, no Leme, que funcionaria até 1967. Seu conjunto era formado por Paulo Nunes (guitarra), Milton Banana (bateria), Eddie Mandarino e Rubens Bassini (percussão), Gagliardi (contrabaixo) e o próprio Calmon, ao piano e solovox. A disputada casa ecebeu João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, além de Chico Buarque, que fez um de seus primeiros shows, em 1966, ao lado de Odete Lara e MPB-4.

Em 1956, grava o LP Samba, Alegria do Brasil (Rádio), onde se encontra Na Cadência do Samba (Que Bonito É), de Luís Bandeira, que se transformou em hino do futebol brasileiro, graças à veiculação maciça, em todos os cinemas do país, no noticiário Canal 100. Apesar disso, Waldir Calmon nunca recebeu os direitos de execução.

Waldir trabalhava com o conjunto pequeno, porém, quando solicitado, o grupo crescia e dava lugar à Orquestra Waldir Calmon. Cantores eram pouco utilizados em discos, mas estavam sempre presentes nas apresentações ao vivo.

Em 1958, gravou com Ângela Maria o disco Quando os Astros se Encontram. Neste LP, encontra-se o maior sucesso da cantora: Babalu. 

Entre 1970 e o começo de 1977, atuou com sua orquestra de baile no Canecão, antes e depois do show principal. Em 1980, gravou seu último LP, Feito para dançar, no qual retornou ao piano acústico.

Recebeu inúmeros troféus e prêmios, entre eles o troféu Euterpe e o Prêmio Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, oferecidos pelo jornal Correio da Manhã, pela Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro e pela Prefeitura do então Distrito Federal.

Em 2000, a EMI Brasil lançou um CD com 20 sucessos gravados por ele ao longo da carreira, entre os quais, Berimbau, de Baden Powell e Vinícius de Moraes e Folha morta, de Ary Barroso.

Foi citado por Gonzaguinha, na música Sempre em teu coração.

Um músico que, segundo Sérgio Porto, impressionava pela técnica, pelo virtuosismo, pela versatilidade e pela capacidade de adaptação a todos os ritmos dançantes, “tão verdadeiro num mambo, numa guaracha ou num foxtrote”.

Waldir Calmon e seu Conjunto foram a síntese de tudo o que havia de mais sofisticado nos dourados anos 50 para a música brasileira. Chegou a lançar seis LPs por ano e era comum ter vários de seus discos simultaneamente nas paradas de sucesso. Entre reedições, lançamentos e compactos extraídos de LPs são cerca de 130 títulos.

Waldir faleceu de um infarto, aos 63 anos.

Fontes:

Waldir Calmon, página oficial 

Discografia 

Waldir Calmon no Dicionário Cravo Albin

Waldir Calmon no Toque Musical 

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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