A Associação Preserva São Paulo e o Plano Diretor

Por Jorge Eduardo Ruble
 
comentário no post “A quem interessa a suspensão da discussão sobre o Plano Diretor”
 
Meu nome é Jorge Eduardo Rubies e sou presidente da Associação Preserva São Paulo. Juntamente com um punhado de paulistanos apaixonados por São Paulo, lutamos desde 2007 – todos de forma voluntária – por uma cidade com maior qualidade de vida, respeito ao meio ambiente e ao nosso patrimônio arquitetônico, sendo quase sempre frustrados em nossos objetivos pela especulação imobliária predatória e seus serviçais na política municipal. Confesso que meu sangue ferveu ao ler seu comentário procurando desqualificar com ataques pessoais o trabalho que nós, do Preserva São Paulo, fazemos há 7 anos (sem nunca ter recebido um centavo de dinheiro público ou de empresas, diga-se de passagem). Mas não vou incorrer no erro de responder ao seu ataque provocativo, e sabe-se lá com quais intenções, no mesmo nível. Gostaria apenas de apresentar alguns fatos, coisa que você aliás não se deu ao trabalho de fazer:
 
– Nosso objetivo, com a ação civil pública não foi impedir a participação popular, mas o contrário: garantir que as audiências públicas fossem feitas com um mínimo de transparência e lisura. Do jeito que estava, as audiências não passavam de uma farsa uma formalidade, com o texto do projeto de lei mudando a toda hora (sempre para beneficiar o setor imobiliário), com as pessoas indo às audiências sem sequer saber o que seria discutido, com uma verdadeira maratona de audiências sendo feita de forma atropelada – audiências no domingo, 2 no mesmo dia em lugares opostos da cidade, audiência marcada para domingo, impedindo de todas as formas possíveis a participação popular. Não queríamos que ocorresse uma repetição do que ocorreu após as audiências do ano passado, que não serviram para absolutamente nada, pois a minuta do Plano Diretor elaborada pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano era praticamente o contrário de tudo o que havia sido discutido e pleiteado pela sociedade civil nessas audiências.
 
– O atual projeto do Plano Diretor está sendo elaborado de comum acordo tanto pelo governo como pela oposição: o motivo é simples, porque todos estão buscando agradar essencialmente às construtoras e empreiteiras, que são as principais financiadoras das campanhas de quase todos os partidos. Basta uma pesquisa no site do TSE para verificar esse fato, aliás amplamente divulgado pela imprensa. Ao contrário do que pretende insinuar, não estou contra partido A ou B, porque quase todos estão unidos para impor à cidade um Plano Diretor que nada mais será (mais uma vez) do que um banquete para a especulação imobiliária.
 
– Este é meu ponto de vista e de minha Associação, e me disponho a debater com qualquer pessoa a qualquer momento para defendê-los, respeitadas as opiniões em contrário, utilizando-se de fatos e não de agressões rasteiras como você fez.  Nós do Preserva SP temos um trabalho – voluntário – em prol dessa cidade desenvolvido há vários anos. E você? O que você já fez (de preferência  de forma não remunerada) em defesa da cidade? Agradeço se responder a essa questão, de preferência com argumentos civilizados e não com agressões e baixarias. 
Luis Nassif

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. discussao s/ audiencia publica

    o jorge, me desculpe, li novamente o texto da controvérsia e não vi nenhuma afensa lá.

    será que li o texto errado?

    1. Idem

      Também reli e não vi ofensa alguma. Em todo caso, para quem pensa, como eu, que divergir não é ofender. Raquel Rolnik apenas argumenta, muito educadamente, aliás: “A alegação de que o setor imobiliário estaria mudando artigos do projeto de lei “a cada dia” não parece ter fundamento.” “Não me parece fazer sentido algum interromper as audiências públicas nesse momento.”

      Fora isso, relata o que aconteceu. E ainda encerra o post elogiosamente, mesmo se reafirmando sua divergência, a que ela tem todo o direito:

      “Certamente, a Associação Preserva São Paulo está preocupada com as pressões por verticalização que ameaçam a manutenção da qualidade de vida de alguns bairros, bem como a proteção do patrimônio histórico. Porém, não é com a interrupção da discussão do Plano que esse objetivo – legítimo e importante – será atingido.”

      Cadê a ofensa?

       

    2. O texto a que ele respondeu foi um comentário, não foi o post

      O autor do post, que se identifica como presidente da Associação Preserva São Paulo, respondeu a um comentário de um participante do blog que se identificou como Oscar Müller.

      Ele escreveu, sob o título de “Olhar de urbanista”, o seguinte:

      “Precisa desenhar?

      Acontece que este plano diretor avança. Menos do que eu desejaria (queria a cidade na vanguarda, e não na guarda vã), mas avança, e no processo esta administração abriu muitas frentes de consulta à população.

      Mas a associação preserva São Paulo não gosta disto, quer preservar a São Paulo dos últimos vinte anos, que só interessa ao reacionarismo corrupto que trouxe a cidade ao estado calamitoso em que hoje vivem os paulistanos. Esta tropa então, para variar, usa a receitinha que vem dando certo, e acusa a administração petista de fazer o que eles teriam feito: uma discussão para inglês ver, e um plano diretor para a casa grande se fartar.

      Oscar Müller”

      O post acima é uma resposta a esse comentário.

  2. Acusações graves

    “O atual projeto do Plano Diretor está sendo elaborado de comum acordo tanto pelo governo como pela oposição: o motivo é simples, porque todos estão buscando agradar essencialmente às construtoras e empreiteiras, que são as principais financiadoras das campanhas de quase todos os partidos.”

    Jorge Eduardo,

    Cheguei um pouco tarde nesta discussão mas penso que você nos deve um arrazoado que comprove esta afirmativa. O financiamento de campanha não é o adequado mas, até que saia a mudança da lei, é o que vigora. É uma ilação, não uma prova, que todos aqueles que receberam recursos de campanha estejam comprometidos com uma dívida, que tenham prometido uma contrapartida.

    Fui buscar no site do Preserva São Paulo as explicações que gostaria de ter: Não encontrei. Penso que a arquiteta Raquel Rolnik possui um currículo e um passado respeitável, não ocupa que eu saiba um cargo público e nunca foi candidata a nenhum cargo. Ela merece, acredito, uma resposta,  “respeitadas as opiniões em contrário”. Não considero que ela tenha sido desrespeitosa com a sua Associação ou usado de argumentos rasteiros.

    Não pretendo ensinar a você sobre assuntos que acompanho, mas não sou expert. Me parece no entanto que a Associação Preserva São Paulo estimula a participação de todos os cidadãos preocupados com a nossa cidade. Assim sendo, para apoia-lo, necessito mais do que encontrei até aqui. Uma síntese do projeto ao qual vocês se opõe, quais requisitos não foram cumpridos, que manipulação houve por parte do poder público. Seria interessante ter também uma cópia da petição feita para barrar o processo. 

     

     

       

     

  3. Pressa de menos e pressa demais

    Repito aqui o que disse antes com o seguinte acréscimo:

    A gestão Kassab não teve nenhuma pressa em aprovar a revisão do plano diretor. A gestão Haddad está com pressa demais. Nos dois casos a pressa foi, sim, a pressão do capital imobiliário. A propósito: de onde vem tanta grana? O emprego gerado pela ind´sutria imobiliária é de péssima qualidade e paga os piores salários. No caso da imensa massa de corretores autônomos, nem salário paga. Esse é um assunto para o ministério público do trabalho.

    Na Itália a máfia está por detrás de todos os grandes projetos imobiliários. Berlusconi enriqueceu e dominou o país assim. A Expo de Milão no ano que vem foi dominada pela ‘Ndrangheta. Aqui não tem tempo ruim para a indústria imobiliária, eles dominam todas as bancadas em todos os níveis de governo, fazem o que querem, onde querem, e são os grandes responsáveis pelo caos que vivem as cidades brasileiras, que eles teriam o dever moral e profissional de proteger, já que se formaram e  vivem disso. Rachel Rolnik, que sempre defendeu a habitação popular, sabe muito bem disso.

    Além de não termos nenhuma segurança sobre a origem do capital investido no mercado imobiliário brasileiro – incluindo os projetos mirabolantes que pipocam no nordeste – não temos sequer informação suficiente sobre a capacidade do território suportar essa ou qualquer outra proposta de plano diretor. Quanta água ele irá beber? De onde ela virá? Qual a previsão do crescimento – ou decrescimento – populacional? Onde essa gente vai morar, conforme a renda? O plano prevê aproximar emprego e moradia? Será possível pagar essa moradia mais próxima do trabalho? Todo mundo? Quais os efeitos da verticalização na saúde pública? Quais doenças ela promove? Quantos novos hospitais, postos de saúde e escolas públicos serão necessários e onde eles estarão?

    As perguntas são milhares. Os perguntadores são milhões. Por mais que haja debates, dado o tamanho e a gravidade dos problemas, eles ainda são insuficientes. Isso abre caminho para o oportunismo e a esperteza a que estamos acostumados.

    Estou com Stédile e não abro:

    Ninguém pediu suspensão do debate

     

    “Os instrumentos de discussão adotados até o momento – aliás, como todas as audiências públicas – têm suas limitações e certamente faz-se necessária uma reflexão mais profunda sobre as formas e escalas de discussão de planos e projetos. Entretanto, nada disso ocorrerá se simplesmente suspendermos o debate.”

    A Associação Preserva SP – com extensa intensa participação na luta pela preservação da cidade – não pediu a suspensão do debate. Pediu garantias pra que ele não seja usado como fachada democrática para decisões tomadas previamente a porta fechadas.

    Já vimos esse filme da “participação popular” promovidas pelo saudoso Jorge Wilhem em 2002, na aprovação do plano atualmente vigente, cujas consequências sofremos até hoje. Na calada da noite, todas as propostas resultantes das – poucas – audiências realizadas e publicadas na internet na forma de planta, foram trocadas sorrateiramente pelo plano que foi aprovado.

    Acho que todos os petistas se lembram muito bem disso.

    Trata-se apenas de uma liminar da Justiça para averiguar as razões apresentadas pela PreservaSP antes que seja tarde demais, como supõem os processos liminares. Não houve pedido de suspensão do debate e, sim, do seu aperfeiçoamento.

    Esse projeto está atrasado há anos e agora sofre com duas pressões em sentido contrário: a indústria imobiliária tem pressa de construir mais, os estoques estão acabando e eles estão com muita fome. A população quer discutir com calma e segurança de que os traumas de 2002 não serão repetidos, nem, muito menos intensificados.

    O projeto é grande e complicado demais para ser debatido com tanta pressa por milhões de pessoas. As pressa das construtoras é compreensível, a da Câmara, não. Ou será que o motivo é o mesmo? Essa é a preocupação do Preserva e de amplas parcelas da população oprimida pela especulação imobiliária em São Paulo.>

    João Pedro Stédile:

    “Cidade grande é o inferno em vida para o camponês. Pois sobra para ele apenas a favela e a superexploração.

    Os territórios urbanos, as cidades e suas periferias também estão sendo vitimas desse modelo do grande capital que igualmente quer a renda extraordinária nas cidades, conquistada através da especulação sobre os preços dos prédios, dos terrenos, dos espaços urbanos. A diferença entre o valor real de uma casa, de uma praça, de um prédio, e o preço de mercado, que eles impõem, é que representa a renda da qual eles se apropriam e que toda sociedade acaba pagando.
     
    Pior, os trabalhadores acabam sendo expulsos para as periferias de uma maneira permanente, e ali os transportes públicos não chegam. Ou foram privatizados. Ou são caríssimos. Por isso, a bandeira de luta de tarifa zero para os transportes públicos em todas as grandes cidades é mais do que justo e é necessária.”

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Stedile-o-neodesenvolvi

    1. Investimento italiano no setor imobiliário do nordeste

      Os italianos andam investindo muito no setor imobiliário no nordeste. Existem vários empreendimentos financiados com capital de empresários italianos.

      Você falou acima que a máfia italiana está por trás do setor imobiliário na Itália.

      É possível que a máfia italiana esteja investindo dinheiro no setor imobiliário do nordeste?

      Existem inclusive investimentos de grupos italianos em incorporações imobiliárias relacionadas o projeto Minha Casa, Minha Vida (!).

      1. Possível e provável

        Os italianos invadiram o nordeste brasileiro com muito mais dinheiros do que eles têm na Itália. Tomaram conta de tudo, das pequenas pousadas aos grandes empreendimentos imobiliários. Lá é mais visível do que em São Paulo, onde eles se diluem em meio à imensa população de origem italiana.

        Exploram e promovem o turismo sexual e a prostituição infantil. Berlusconi é o líder e principal freguês.

        É muito provável que a máfia esteja por detrás desses investimentos. O faturamento da máfia somente na Itália ultrapassa o da Fiat. Eles dominam o tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa inteira.

  4. Não precisa ser ligado à

    Não precisa ser ligado à partido A ou B para ser considerado adverário ideológico. Esse de “não somos ligados a partido ou B” não quer dizer nada, o que vale são os valores. Se os valores não batem com os colocados no plano Diretor não há essa de A ou B. E de fato, o presidente da associação comete o mesmo erro do comentarista sobre declarações levianas ao afirmar: “O atual projeto do Plano Diretor está sendo elaborado de comum acordo tanto pelo governo como pela oposição: o motivo é simples, porque todos estão buscando agradar essencialmente às construtoras e empreiteiras, que são as principais financiadoras das campanhas de quase todos os partidos”. Nesse ponto a leviandade da resposta se aproximou da leviandade da suposta ofensa.

  5. Eles querem preservar essa

    Eles querem preservar essa cidade excludente, sem lógica, feia, travada e em muitas partes, ilegal? Sou favorável ao Plano Diretor, mas acho que em muitas iniciativas ele é tímido. São Paulo é para poucos, será que é isso que querem preservar? De boas intenções o inferno está cheio.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador