A ausência de nomes políticos nos acordos da Lava Jato, por Janio de Freitas

Da Folha

Delação lavada
 
Janio de Freitas
 
Ausência de nomes políticos nos acordos da Lava Jato não quer dizer, necessariamente, falta de ‘cuidado elementar’
 
O acordo de delação premiada de Renato Duque é esperado para qualquer momento. E, com isso, não só a reiteração de nomes e versões já bastante noticiados, mas também o envolvimento de mais políticos. Com provável surpresa. Renato Duque e Paulo Roberto Costa formaram a dupla dos mais contatados dirigentes da Petrobras por políticos e representantes de empreiteiras.
 
O momento de apreensão vivido na Lava Jato não se deve, porém, a Renato Duque. A reprimenda do ministro Teori Zavascki na Lava Jato aumenta a expectativa sobre sua próxima decisão de retirar ou lá manter, como desejam o juiz Sergio Moro e os procuradores, o inquérito sobre o almirante Othon Silva e a estatal Eletronuclear.

 
O ministro não gostou de constatar a ausência de políticos na delação premiada de Dalton Avancini, dirigente da empreiteira Camargo Corrêa, no inquérito da Eletronuclear. Vira-os, em especial a do ex-ministro Edson Lobão, em referência ao mesmo tema, na delação de Ricardo Pessoa, da UTC. O ministro foi duro em sua observação, transcrita em parte por Márcio Falcão na Folha (3.out): “É de se estranhar que (…) as autoridades responsáveis pela diligência não tenham tido o elementar cuidado de questionar o colaborador [o delator]” para identificar os políticos subornados.
 
A repreensão precisa de um adendo. Caso incluído o nome de um parlamentar, como o senador Lobão, o inquérito sairia do juiz Sergio Moro e dos procuradores de Curitiba para o Supremo Tribunal Federal, jurisdição adequada para congressistas. Além disso, a ausência de nomes de políticos que deveriam constar da delação transcrita não significa, necessariamente, a falta de “cuidado elementar” dos interrogadores. As perguntas poderiam ser feitas e as respostas, não gravadas –ou gravadas ambas e não transcritas. Nem seria a estreia de truques do gênero.
 
SIM E NÃO
 
Subestimar Eduardo Cunha não é atitude prudente. É geral a convicção de que Paulo Maluf é dono das centenas de milhões que investigadores e autoridades europeias encontraram em seu nome e de familiares seus. Há anos Maluf limita-se a dizer que nada tem no exterior e que o dinheiro indicado não é seu. E ninguém até hoje deu prova cabal do contrário. Significa que o dinheiro não é ou não era dele? Não.
 
Contas em que não há vestígio algum existem, a alto custo, para aqueles a quem não basta ser esperto: são espertos prevenidos. Mesmo que o banco, fundo, ou lá o que seja, tenha feito alguma identificação, o problema da prova continua.
 
Não digo que seja o caso dos dois. Nem diria que não é.
 
GUERRAS
 
Minutos antes de ter notícia do bombardeio ao hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, estive relendo Ana Novac, autora do livro “Eu tinha 14 anos em Auschwitz” (sem edição brasileira). Diz ela sobre o próprio livro: “O que sabemos dos campos vem da memória dos deportados, que é reelaborada pelo imaginário pós-nazista. Eu tive a oportunidade de escrever lá mesmo”. Seu original foi levado para fora do campo por um cabo alemão. Um trecho para este momento:
 
“Os aliados também nos fizeram morrer. Seus aviões faziam voos baixos e atiravam em nós, que não tínhamos acesso aos abrigos nas fábricas onde trabalhávamos. Foi um verdadeiro massacre. Do lado de fora, estávamos sob as bombas dos libertadores que esperávamos havia meses, e que nos viam. Aí (campo de Plassow), conheci verdadeiramente o desespero. (…) Jamais se fala disso. Por que os aliados atiraram em nós, em vez de bombardear as câmaras de gás e as vias férreas que levavam a elas? Alguém tem uma resposta a dar a esta pergunta?”
 
Eram aviões norte-americanos.
Redação

9 Comentários

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  1. Se alguém pesquisar a fundo…

    verá que nas entrelinhas da história, muitas barbaridades foram orquestradas  ou mesmo permitidas  pelos proprios aliados, como Churchil  que não deixou evacuar uma cidade inglesa que seria bombardeada pela Lutwafe  para que os alemães não soubessem que seus códigos tinham sido finalmente descriptografados !!!

    Deixou milhares de pessoas  morrerem  sob o intenso bombardeio nazista !!! 

    Para estas pessoas, Churchill foi tão “filho-da-puta”  quanto os  nazistas !!!   E ponto final |!!

  2. Historiografia… o nome do jogo!

    Com exceção da “Revolução Constitucionalista” de 1932 – cuja “história” vem sendo contada pelos perdedores que inclusive a comemoram com um feriadão em São Paulo – a historiografia (que jamais pode ser confundida com História) é sempre contada pelos vencedores… e aí já viu, né? 

  3. Ele fica todo fogoso só se delator incriminar Politico Petista!

    Como  o objetivo claro é derrubar Goveno Petista, incriminar o PT e suas grandes lideranças, tudo que não caminhar pra isso não interessa .

    Nomes de Políticos de outros Partidos só seriam investigados se envolver  o Governo,

    a Presidenta , o Lula ou grandes políticos do PT ,no resto se faz “cara de paisagem” ou delator leva “reprimenda” na cara.

  4. É a mesma coisa que estão

    É a mesma coisa que estão fazendo na Síria, tanto os americanos como os russos contra o povo sírio. E é a mesma coisa que faz a oposição, tanto faz se o Brasil quebrar, o que eles querem é o poder. A resposta talvez seria: “Há muita miséria para resolvermos depois, é melhor elminá-los”. Mas a história conta que eles são os super-heróis que os salvaram. 

  5. Agripino seria um “ponto fora da curva” curitibana?
    Lendo Jânio de Freitas de hoje fico a me indagar se a citação de Agripino Maia como recebedor de propina desviada da obra da Arena das Dunas, ao que pude notar pouco noticiada na grande mídia nesta manhã, já não seria uma reação inicial de Moro & Cia como que a dizer “nunca deixamos de incluir parlamentares nos nossos secretissimos relatórios” ao STF.

  6. sem falar do bombardeiro de cidades alemâs

    Não devemos esquecer do bombardeiro desnessario de cidades alemãs, pelos  os aliados,sem valor militar ou estrategico.

    Existe farta documentação sobre o assunto. Enquanto isso ficamos com a versão de hollywood.

    Curiosmanete ninguem fala mais da guerra do vietman, cambodia, laos. A geração mais nova é totalmente ignorante sombre o assunto e a culpa não é deles. Porque esse assunto não é comentado?

  7. Janio perdeu a

    Janio perdeu a compostura.

    Agora, faz ilações sem qualquer base factual, de que nomes estariam sido citados e omitidos.

    Isso extrapola o direito de opinião,  o Jornalista comete um crime ao acusar policiais, procuradores e juizes de um crime.

    Isso, definitivamente foge ao direito de opinião.

  8. Mas pode isso?

    A grande dúvida que ficou, que não houve menção, é se essa atitude é passível de constestação, ou se fica por isso mesmo. Alguém sabe dizer?

  9. Sugestão para o Ministro

    “É de se estranhar que (…) as autoridades responsáveis pela diligência não tenham tido o elementar cuidado de questionar o colaborador [o delator]” para identificar os políticos subornados.”

     

    Esse excerto da reprimenda do Ministro Teori deveria ser impresso, emoldurado e mandado de presente a todos os integrantes do Ministério Público de São Paulo. Quem sabe um dia deixará de haver corrupção de uma só via (a dos empresários) no estado “governado” pelos tucanos?

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