A corporação dos juízes reage aos críticos da Lava Jato, por J. Carlos de Assis

A corporação dos juízes reage aos críticos da Lava Jato

por J. Carlos de Assis

Os juízes federais (Ajufe) divulgaram documento em resposta ao manifesto com que mais de uma centena de advogados denunciam os desmandos do juiz Sérgio Moro na condução dos processos da Lava Jato. É uma combinação de corporativismo e má fé. No primeiro caso, assumem claramente o espírito de corpo tentando envolver toda a hierarquia decisória do Judiciário no que parece uma linha de precaução contra eventuais reformas de sentenças de Moro. No segundo, chamam o manifesto de “manifesto dos advogados da Lava Jato”, quando apenas alguns dos mais de 100 advogados atuam nesse processo.

É possível que essa Ajufe – cujos dirigentes levaram uma descompostura pública, pela televisão, por parte do então presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, justamente por conta de seu corporativismo -, se ache na obrigação de defender seu afiliado com o mesmo empenho que um sindicato de barbeiros defende o seu. Mas isso, indiscutivelmente, é uma exacerbação de propósitos. Associação de juízes não é sindicato nem pode se comportar como tal. Se o corporativismo, que já é uma praga na sociedade, se estender ao Judiciário, aí, sim, é um risco para a democracia: nos tornamos dependentes de entidades independentes.

A Ajufe acha que Ministério Público e Judiciário livres caracterizam a democracia.  É um equívoco. O que caracteriza a democracia desde o Iluminismo é a proteção do cidadão contra o Estado. É evidente que um cidadão que comete crime deve ser investigado, denunciado e condenado. Porém, dentro do devido processo legal e sob proteção de todas as suas prerrogativas. Os órgãos repressores do Estado devem buscar punir o agressor da lei. Mas enquanto o crime não for provado ele goza dos direitos civilizatórios do habeas corpus, da presunção de inocência e da proteção contra prisão sem julgamento, três coisas negadas pela Lava Jato.

Os advogados denunciaram justamente a ausência, nos processos de Moro, do devido processo legal, do uso desnecessário de algemas e da negativa do habeas corpus para suspeitos que não representam qualquer risco para a sociedade. Já o documento da Ajufe erige Moro como senhor de todos os destinos, infalível, que deve dobrar inclusive a vontade dos responsáveis pelas instâncias superiores do Judiciário. Além disso, os integrantes da corporação dos juízes, funcionários públicos mais bem remunerados do Brasil e do mundo, passam um recado subliminar aos advogados ameaçando indiretamente seus clientes por causa da audácia em criticar publicamente a Lava Jato.

Juros do Banco Central

Estou estarrecido com a reação do Globo, da Globo e de outros órgãos da grande imprensa diante da recente decisão do Banco Central em manter a taxa de juros básica em 14,25%. É um acinte, um tapa na cara da sociedade brasileira, manipulada como se fosse idiotia pela imprensa corrupta. A crítica à decisão foi unânime. E não pensem que é uma opinião “técnica”. Deixar de aumentar as taxas de juros no momento atual não tem qualquer efeito concreto sobre a inflação, como alegam. Mas tem efeito sobre bilhões de reais ganhos na especulação do DI-Futuro, um derivativo usado como instrumento de especulação diária pelo mercado financeiro.

Pensam que a Globo está preocupada com a inflação a ser provocada pela manutenção da taxa básica de juros em 14,25%? Ora, não me façam de cretino. A Globo e seus economistas consultores não são imbecis. O sistema Globo, assim como o resto da grande mídia, está mergulhado até o pescoço em especulação financeira. O processo é simples. Mesmo empresas falimentares, como o Globo, acumulam receitas diariamente e gastam, em geral, no fim do mês. Enquanto estão acumulando aplicam esse dinheiro no DI-Futuro, a uma taxa vinculada à Selic. Se preveem um aumento da taxa de juros e ela não acontece, como foi o caso, a expectativa de ganhos milionários sai pelo ralo. Daí o ódio contra a recente decisão do BC. E estejam certo que, para a próxima reunião, independentemente de onde estiver a inflação, a pressão para aumentar a taxa de juros básica vai aumentar estupidamente.

J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de “Os sete mandamentos do jornalismo investigativo”, Ed. Textonovo, SP, 2015.  

               

 

Redação

6 Comentários

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  1. Este é um dos maiores

    Este é um dos maiores absurdos que se verificam hoje no Brasil: Juízes do país, a maioria dos quais sérios e dignos, a tentarem se identificar com o fenômeno deletério de Curitiba.

  2. OS JUÍZES E O JUÍZO, COMO GANHAM BEM !

    SALARIO MÍNIMO R$ 880,00 – SEM AUXILIO MORADIA, SEM PLANO DE SAÚDE E SEM ISSO E SEM AQUILO. 

    Seletos e seletivos…oh..

  3. A Ajufe sempre cherou a bunda

    Como gambá cheira gambá, a Ajufe sempre cheirou a bunda do Moro, inclusive o elegeu para ser indicado ao STF no lugar de Barbosa, imagina só mais um tucano de carteirinha no STF, não basta o Gilmar Dantas….

  4. O Judiciário mais caro do mundo, Brasiiiilllll!!!!

    Os servidores (ou seria melhor dizer senhores) do Judiciário são os assalariados melhor remunerados do país, quiçá do mundo, mesmo se respeitadas as leis que regulam os vencimentos dessa gente. Mas, como é público e notório, para turma do Judiciário, especialmente quando se trata do interesse dela, a Lei não vem ao caso. O “caçador de corruptos”, por exemplo, ganha mais do que o dobro do limite superior máximo das remunerações dos servidores públicos federais, mas, para a AJUFE e outras organizações senhoriais, a Lei é uma quimera. Com um caçador de corruptos como este, que se apropria mensalmente e indevidamente de recursos públicos, as perspectivas de redução da corrupção são mínimas.

  5. bravo, assis.
    essa pressão da

    bravo, assis.

    essa pressão da grande mídia, principalmente da globo,

    para aumentar a taxa selic, mostra como é difcil lutar

    contra esses interesses financeiros que patrocinam o pig….

    bancos porvados etc e tal…

    por isso, temos de apoiar e lutar juntos para evitar novos aumentos…

    ou, de  ´preferencia,  que baixem as taxas…

     

  6. Valeu Assis!!!!!

    A Ajufe acha que Ministério Público e Judiciário livres caracterizam a democracia.  É um equívoco. O que caracteriza a democracia desde o Iluminismo é a proteção do cidadão contra o Estado. É evidente que um cidadão que comete crime deve ser investigado, denunciado e condenado. Porém, dentro do devido processo legal e sob proteção de todas as suas prerrogativas.

    Gore Vidal acusava que o EUA transformara-se em estado de excepção pois após o 9/11 garantias fundamentais foram suspensas em situações determinads pelo Patriot Act. Teria engolfos ao ver a situação brasileira hoje.

    http://www.publico.pt/noticias/jornal/o-sonho-e-construir-o-estadopolicia-166361

    As trevas avançam.

     

     

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