A correção gradual da taxa de câmbio, por Roberto São-Paulo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Roberto São-Paulo

Correção gradual da taxa de câmbio

Ref. ao post: Os desafios macroeconômicos do próximo governo

No Governo da Presidenta Dilma a taxa de câmbio teve uma correção significativa, além disso ocorreu também a redução da tarifa de energia elétrica, a desoneração da folha de pagamento, e a redução da cide, somando todos esses fatores, já ocorrendo uma melhora das condições de competitividade das empresas instaladas no Brasil.

O melhor caminho seria adotar uma correção gradual da taxa da taxa de câmbio, com uma média de 4% nominais ao ano acima da inflação, em 5 anos teríamos uma correção de mais 20% na taxa de câmbio, ou seja o dólar cotado a R$ 2,80.

Para isso será necessário reduzir os juros da Selic, e utilizar de forma intensa as Reservas Cambiais, tanto na venda em caso de volatilidade da taxa de câmbio, como na compra em caso de entrada significativa de dólares.

Lembrando que as Reservas Cambiais, nunca deve se utilizada para tentar segurar uma determinada taxa de câmbio, e sim para trazer a taxa de câmbio para um patamar pouco acima do período anterior ao “estouro da boiada”. já que nesse período os ativos em reais estarão desvalorizados, o que diminui o poder dos especuladores.

Em 2003 além da dolarização da dívida interna, a dívida pública externa representava cerca de 20% do PIB.

Neste contexto o Governo do Presidente Lula utilizou a apreciação do câmbio, primeiro para desdolarizar a dívida interna, segundo para quitar parte significativa da dívida externa, e terceiro para comprar dólares e formar uma Reserva Cambial que desse condições para enfrentar as crises cíclicas de liquidez no mercado financeiro internacional.

Sem a queda do dólar diante do real dificilmente se teria conseguido desdolarizar a dívida interna, muito menos seria possível quitar antecipadamente a dívida junto ao FMI, nem recomprado antecipadamente parte importante dos títulos da dívida pública externa.

O tamanho das Reservas Cambiais de mais de US$ 200 bilhões em 2008 foi fundamental para ter conseguido resistido a grave crise de liquidez ocorrida após a quebra do Lehman Brothers.

As Reservas cambias de quase US$ 400 bilhões também foi fundamental para ter resistido a crise de liquidez internacional no inicio de 2013.

Na crise de 2008. o Governo do Presidente Lula, deve ter permitido a taxa de câmbio voltar a se apreciar, muito provavelmente em função do elevado número de empresas que estavam devendo em dólar sem o devido hedge.

Agora com o ajuste das contas externas já realizado, com a dívida externa pública representando menos de 5% do PIB, e com todos agentes econômicos mais do que avisados, é possível aproveitar o atual momento de ajuste na política monetária nos EUA para corrigir a taxa de câmbio dentro de patamares compatíveis com a meta de inflação estipulada pelo CMN.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Como sempre, ótimo.
    Seus

    Como sempre, ótimo.

    Seus posts são sempre equilibrados e consistentes.

    Penso que o próximo Ministro da Fazenda deveria se aconselhar com você.

  2. Compare este ajuste com a proposta do economista da Marina

    Por favor, comparece este ajuste – muito bem colocado neste texto,excelente solução proposta e que está em sendo administrada pelo governo atual, com a propositura de choque fiscal e cambial de eventual governo Marina, que acha que o câmbio deve ser “solto”, de repente, sem nenhum ajuste progressivo, gradual.

    Basta lembrar que o setor privado deve mais de 200 bilhões de dólares – dívida externa, renita-se, em dólares e ganha em reais. E não se esqueçam, ainda, que filiais de multinacionais devem às suas matrizes no exterior mais 100 bilhões de dólares.

    É claro que uma abertura do câmbio, sem freios, conduziria a uma forte desvalorização do real e um aumento devastador da dívida das empresas privadas. O setor público tem dólares em reservas ( 370 bilhões) e confortavelmente poderá pagar os 100 bilhões de dólares que deve. Porém, isto não acontecerá com o setor privado.

    Ah, como então irá, de repente, a nossa economia adequar-se a esta nova situação?

    Simples: choque fiscal – derrubada total dos subsídios, diminuição do crédito para combater a inflação, e ….tcham, tcham, tcham……..juros de mais de 20% ao ano, se não for mais.

    Resultado: desastre total: falências e desempregos.

    Eu vi o que fizeram ao tempo de Colllor.

    Lembro que, para ele, o povo que se exploda.

    E explodiu mesmo.

    Meu saudoso pai teve um infarto, pois suas economias estavam na poupança e com elas pagaria suas contas. Ficou seriamente inadimplente pela primeira vez na vida. Foi fatal para ele.

    Vamos pensar, refletir ou deixar que o barco Brasil fique à deriva, guiado pelos interesses econômicos mundiais?

    A final, o Brasil é do povo brasileiro e não de meia dúzia de famílas e dos bons amigos do Tio Sam.

    1. No plano Collor, meu tio, já

      No plano Collor, meu tio, já aposentado, teve muita sorte. Tinha acabado de vender um ótimo apartamento no Leme (Rio) e, se não tivesse recebido em dólares, teria que ir morar debaixo da ponte.

      Me lembro que alguns, na mesma situação e tendo o dinheiro no banco, chegaram ao extremo de cometer o suicídio.

       

      Boa , porém triste, lembrança sua.

  3. Brasil no contrafluxo da dívida pública

    Enquanto USA, China e Europa estão aumentando a sua relação dívida -PIB o Brasil tem agido de forma diferente, mais prudente, mas deixando de incentivar o desenvolvimento do país.

    Vai valer alguma coisa esta manobra?

    Depende da moleza ou dureza do acordo para equilibrar o resto do planeta. Mas se for como sempre, vão tentar mandar a conta deles para cá.

    Como se proteger e inverter este movimento é o mistério, mas um governo mais unitário, harmônico e equilibrado sempre é melhor numa negociação do que um bagunçado, a beira do caos e só tomando medidas de emergência.

    Dilma, põe a casa em ordem, reforma os ministérios, não iremos longe sem ajustes.

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