A derrocada de Aloysio Nunes, por Washington Luiz de Araújo

Do Bem Blogado

Senador Aloysio, quem te viu, que te vê!

Por Washington Luiz de Araújo

“Quem não a conhece, não pode mais ver pra crer. Quem jamais a esquece, não pode reconhecer”. As duas frases da música  “Quem te viu, quem te vê”, de Chico Buarque, nos remete a muita gente que hoje em dia está do outro lado do balcão; gente  que saiu do lado da esquerda, do povo, e pulou para o lado do capitalismo extremado, da defesa do empresariado, do “entreguismo”, da aversão  aos projetos sociais. Um desses nomes é o do hoje senador Aloysio Nunes Ferreira.

Um dia após o vexaminoso domingo de 17 de abril, quando a Câmara Federal colocou em prática o seu intento de ruptura democrática e usurpação, o senador viajou para Washington e lá defendeu o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Esse mesmo Aloysio um dia participou ativamente na ALN – Ação Libertadora Nacional, ao lado do inimigo número um da ditadura militar, Carlos Marighella. Hoje, sobre o papel que desempenhou na luta contra o golpe militar de 1964, Aloysio mantém em sua biografia oficial somente 10 palavras.  Somente 10 envergonhadas palavras.

Em contraponto a um traidor da causa, que hoje apresenta no Senado um projeto de lei proibindo servidor público de fazer greves, existem muitos nomes. Um deles é o de Raphael Martinelli, 92 anos, presidente do Fórum Permanente de Ex-presos e Perseguidos Políticos. No último domingo, 1º de maio, Raphael estava lá no Anhangabaú, São Paulo , comemorando mais de 70 anos de presença  em atos do Dia dos Trabalhadores.

Esse ativista que sempre foi de esquerda, que nunca trocou de lado, esteve com Aloysio Nunes Ferreira no longínquo ano de 1968, quando participaram de uma  expropriação, o assalto ao trem pagador da linha Santos-Jundiaí.  Em entrevista à Revista  “Carta Capital”, Martinelli recorda:  “Tinha o grupo que fazia o serviço e o grupo que aguardava a descarga. Ele tinha que esperar onde o trem parasse, ali em Pirituba, para recepcionar os companheiros que iam descer com a carga. O Aloysio, além de fazer a segurança, estava para receber a carga do trem, o dinheiro. Todo mundo estava armado. Num ato desse, a gente  não ia com intenção de matar ninguém, mas tínhamos que estar preparados”.

Aloysio considera sua atuação contra a ditadura militar um erro. Aos 71 anos, ainda tem tempo, no entanto, de rever essa posição e considerar um erro apoiar um golpe parlamentar, sujando até as 10 palavras que sobraram sobre sua participação contra o golpe militar em  sua biografia oficial.

Os cinco anos de luta armada contra a ditadura militar pela ALN ele assim resumiu: “Por conta de ações contra a ditadura militar, precisou sair do Brasil”. Será que um dia reconhecerá como um erro ser um dos próceres da entrega do pré-sal  aos Estados Unidos e  do  atentado aos direitos dos trabalhadores, algumas das ações que estão no bojo do golpe do qual ele, Aloysio,  é hoje um dos líderes? Em 2015, o senador tucano se dizia contra o impeachment (golpe), pois queria ver Dilma “sangrar” até 2018. Expressões esdrúxulas para quem lutou contra a ditadura e viu companheiros como Marighella serem torturados e depois metralhados. Sobre essa manifestação, o jornalista Juca Kfouri afirmou: “Um senador da República dizer que quer ver uma presidente sangrar… Epa! Para  tudo. Um ex-exilado político, da luta armada, dizer isso… Não é a atitude de um senador e sim de um pitbull  e não dá para fazer política com um pitbull”.

Em 2009, por ocasião dos 40 anos do assassinato de Carlos Marighella, foi elaborado  um  manifesto com mais de 200 assinaturas. Entre os signatários, antigos companheiros de luta contra a ditadura, políticos, intelectuais e artistas. Não há a assinatura de Aloysio Nunes Ferreira, por quem Marighella nutria admiração, como lembrou para a “Carta Capital” a militante Iara Xavier Pereira, que militou ao lado do comandante da ALN e que teve o irmão, Iuri Xavier, assassinado pela ditadura em 1972: “Ele [Marighella] tinha uma confiança muito grande no Aloysio. Era muito benquisto por ele”.

A bem da verdade, Aloysio esteve presente a uma homenagem a Marighella em 2009, mas  convenhamos, é muito pouco, ou quase nada, se refletirmos sobre o quanto o hoje senador tem feito contra os trabalhadores e  contra as causas libertárias. Marighella foi brutalmente torturado e assassinado numa emboscada, não merecia isso de uma pessoa a quem muito considerava. Ninguém merece.

Veja aqui um vídeo com o destemperado senador em 2014, sendo abordado pelo blogueiro Pilha.

https://www.youtube.com/watch?v=yuO6wPidF7I height:394]

Aqui, Aloysio em Washington, sendo desmascarado por brasileiras:

[video:https://www.youtube.com/watch?v=Ujz-3jsExD4 height:394

Imagem da capa: montada sobre a foto de  George Gianni

Redação

21 Comentários

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  1. Aloysio perdeu

    Aloysio perdeu os sonhos da juventude,

    Aloysio perdeu as antigas amizades,

    Aloysio perdeu o bonde da história,

    Aloysio perdeu a vergonha na cara!

  2. Até hoje não engulo a eleição

    Até hoje não engulo a eleição desse senhor, era terceiro numa pesquisa que saiu sabado á tarde, e em menos de 24 horas depois estava disparado na frente, até poderia achar que era um feito extraordinária, mas os próprios sabujos da midia se calaram, silencio total sobre a arrancada espetacular, eleições com o atual tse?

  3. MUITOS DIZEM QUE

    também foram socialistas na juventude. E à medida que envelheciam mudaram.

        Mas, a imagem perfeita dessas mudanças é uma charge que mostra um indivíduo dizendo que mudou, foi mudando e várias fases vão passando até virar um monte de merda (e aparece a imagem do cocô sobre o sofá). Igual o ocorrido com o Senador Aloysio Nunes Ferreira, que dizem ter sido outrora Motorista de Marighella.

    1. Esquerda jovem, velho reaça.

      Cara, vc tá certo. Entre 1962 e 1965, na antiga UMG que depois se transformou em UFMG, o movimento de esquerda era uma festa. Todo mundo era engajado. Não havia quem não soubesse cantar a “Internacional”. Ação Popular, Política Operária, PCB,  não havia quem não soube o que era e mais, quem não tomasse seu partido. De cor poderia citar hoje vários nomes das Escolas de Medicina, Engenharia, Direito Economia, Letras, Jornalismo e outras que eram líderes atuantes. Assaltos a trens pagadores, assaltos a bancos, sequestros de avião “para Cuba me voy” muitas outras atuações espetaculares. Hoje, a não ser que estejam todos mortos, não vejo nenhum deles atuando em movimentos de esquerda, salvo a Eleonora Menicucci, que foi uma grande lider na Escola de Medicina. Se ainda estão vivos e é bem provável que estejam, devem agora estar cuidado de seu jardim.

      1. Verdade,

        dizem que até o fascistoide do Lobão foi “esquerdista” na juventude!

        Hoje ele morre de saudade da ditadura (a civil-militar), pois naquela época ganhava montanhas de dinheiro com meia dúzia de musiquinhas sem graça e não precisava trabalhar de ajudante de palco num programinha de quinta, dum canal de tv de terceira.

  4. Em minha humilde opinião….

    Aloysio fez o mesmo que Genoíno:  Depois de um arrocho da ditadura, entregou a  cabeça de Mariguella pros militares…O mesmo que Genoino fez com os camaradas de Xambioá !

    Não tiveram a  mesma altivez de uma mulher !!!

    1. Como todo mundo sabe, o tal

      Como todo mundo sabe, o tal de aloysio foi torturadíssimo em Paris.

      Vai carpinando, vai… e  se sobrar um tempinho pega um livro e dá uma lidinha… vai, vai carpinando, vai…

  5. Aloysio Nunes, ao que se

    Aloysio Nunes, ao que se sabe, rasgou sua própria história com sua adesão ao golpe. Lutou tão bravamente contra os militares, exposndo-se ao ponto de matar ou morrer, e hoje é declaramente um golpista, sem moral, sem ética, sem pudor. Incapz de manter ao menos o que poderia ser um diálogo com um repórter em nivél superior. Odender alguém, dentro do Congresso, de forma tão desrespeiosa, só demonstra estar esse homem aquém de seu passado e do seu presente. Imerecido o cargo de senador, que tanto pagamos, e caro, para mantê-lo com essa postura vil.

  6. Quem será que mudou?

    Quem será que mudou: o Aloysio ou o Brasil?
    Será que vamos necessitar de luta armada novamente, gerando futuros arrependidos, quando estiverem encontrado sua zona de conforto, “se lixando” para o povo?
    Esta é uma pergunta de US$ 1,000,000.00.

  7. Do time do FHC


    Com histórias semelhantes , Aoysio Nunes e FHC são exemplos do que há de mais nojento que pode existir em uma pessoa ( principalmente pessoas que se dedicam a um grupo) : São traidores. Não me interessa se era certo ou errado pilhar bens para ter dinheiro para a causa, matar os inimigos para isto, etc e tal. Era uma guerra e a última coisa que um soldado, um guerrilheiro espera é que aquele que se encontra ao seu lado o entregue inesperadamente. Aloysio trocou a vida de seu amigo Marighella pela dele; não foi homem , não teve caráter , assim como o outro traíra – Fernando Henrique Cardoso – que até se fingiu de exilado em Paris ( quanro todos sabem que o governo brasileiro custeava sua permanência por lá, em troco de  alcaguetagem) para escapar da ira daqueles ou de familiares daqueles que traiu. Quando voltou, continuou traindo , até se tornar presidente da república. Hoje , é um velho babão , que só fala besteira.

  8. A mudança não é recente

    Será que Aloysio não teria iniciado  sua mudança na década de 70, quando ainda estava exilado em Paris ?

  9. ALN e não ANL.

    Há um erro na presentação acima do GGN: trata-se da Ação Libertadora Nacional – ALN. Muita gente a confunde com a antiga Aliança Nacional Libertadora – ANL, dos anos 30.

  10. A trajetoria do moço, quando

    A trajetoria do moço, quando voltou do exilio dourado, foi mesmo interessante. O artigo poderia completar. Como foi um dos ‘comunistas do Quercia”, junto com o Goldman. Como foi o vice do governador-delegado Fleury, o comandandte do Carandiru. Como foi o responsavel pelo saqueio do Banespa e da grana que os japas enviaram para o projeto Tieté. Quando Covas ganhou a eleição disse que teria trabalho para livrar o estado dos caras que o tinham saqueado (como o A. Nunes). Pois é, o moço foi se ‘modernizando’. Saiu da corrente dos ‘comunsitas do Quercia’ e virou minsitro da justiça do FHC, protagonizando aquele aparelhamento da PF que redundou na destruição da Roseane Sarney para erguer a candidatura de Serra. E seguiu na sua trilha para a direita. Cada vez mais furiosa. O proximo passo é ser vice do Bolsonaro. Pensando bem, talvez bolsonaro seja mais coerente.

  11. Me lembro bem da última campanha. . .

    Me lembro bem da última campanha desse individuo Aloysio Ferreira Nunes a senador com imagens lindas de trigais tremulando ao vento, laranjais com laranjas maduras, crianças correndo, era de chorar de lindo, e o eleitor,? ora o eleitor, pobre do eleitor. 

     

  12. O que ouvi em uma reuniao que

    O que ouvi em uma reuniao que fui ontem é que Aloysio era para ser o motorista do Marighella no dia em que este foi assassinado e, não apareceu. Alguém sabe disto? Pode confirmar?

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