A fim de mandato na PGR, Janot lança esforços para boa imagem

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
Jornal GGN – “A hora é de mudança”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no dia seguinte à decisão de não se recandidatar ao terceiro mandato de comando do Ministério Público Federal. Ainda que decisão tomada, o início das campanhas oficiais à sucessão de Janot mostra não estar restrito aos candidatos. É o segundo artigo do procurador na mesma semana, no ápice das investigações da Lava Jato contra Michel Temer e do fim de seu mandato.
 
“Se fosse possível, jamais celebraríamos acordos de colaboração com nenhum criminoso”, disse Janot, admitindo que “decisões graves” foram tomadas na Operação e que não foi seguido “o caminho tradicional para aplicação da lei penal”, que, segundo ele, mostrou-se “ineficaz e instrumento de impunidade”.
 
Usou o artigo para se justificar diante das críticas de que os irmãos Batista, Wesley e Joesley, tiveram suas punições penais anistiadas, usando termos como em nome do “senso de responsabilidade para com o país”, supostamente quis se afastar da “utopia, do personalismo e do aplauso fácil para arrostar a decisão de celebrar o acordo com os donos do grupo empresarial J&F”.
 
Em seguida, o procurador-geral que tem seus meses contados à frente da PGR aproveitou para criticar os políticos: “Quando acreditávamos que nada mais poderia ser desnudado em termos de corrupção, esse acordo demonstrou que três anos de intenso trabalho não foram suficientes para intimidar um sistema político ultrapassado e rapineiro. Autoridades em altos cargos continuavam a corromper, e ainda se deixavam ser corrompidos, sem receios ou pudor.”
 
Se em mais de três anos de investigações da Operação Lava Jato, Rodrigo Janot não se sentiu incomodado com as críticas de que estava sendo parcial, por mirar a investigação predominantemente em membros do Partido dos Trabalhadores, agora se mostrou atingido: “fui tachado de irresponsável”, escreveu, inconformado.
 
“Pois bem. Os irmãos Batista, em troca dos benefícios, relataram o pagamento de propina a quase 2.000 autoridades do país, apresentaram provas muito consistentes, contas no exterior, gravações de crimes e auxiliaram na realização de ação controlada pela polícia. Tudo isso só foi possível nos termos acordados”, disse, na suposta necessidade de se explicar.
 
A partir da tese disseminada na imprensa de que Janot ou a equipe de procuradores da Lava Jato a nível do Supremo Tribunal Federal (STF) teriam levantado acusações contra Michel Temer sem, supostamente, provas concretas e com áudios manipulados – teoria endossada pelo mandatário, com apoio de setores da mídia -, o PGR foi claro: “há muitas outras provas que sustentam o acordo”.
 
“Só posso, assim, imputar à ignorância -pelo benefício da dúvida-certas críticas arrogantes lançadas sobre a atuação do Ministério Público Federal nesse caso. Parece-me leviandade julgar a escolha realizada sem examinar as provas e seu alcance, desconsiderando as circunstâncias concretas e a moldura de um sistema criminal leniente”, respondeu, em duro tom.
 
Na segunda metade do artigo, Rodrigo Janot destaca ainda mais a linha de campanha, ainda que não se sabe se eleitoral, por um país contra a corrupção. “Não foi a nossa instituição que corrompeu a política nacional, a vontade dos eleitores e o próprio sentido de democracia. Ao contrário, a luta do Ministério Público tem sido perene e constante contra as mazelas da corrupção que conspurcam o Estado de Direito, abastardam a sociedade e roubam o futuro do país.”
 
Entenda: Janot dá tom de campanha: seis anos na PGR ou Executivo?
 
Uma auto-publicidade sugere que, se Janot não optou pela recandidatura que somaria 6 anos totais de seu comando frente ao Ministério Público Federal, poderá estar interessado em alguma disputa em outro Poder, que não o Judiciário.
 
Destacando-se a si mesmo, disse que “o fruto do esforço institucional está aí para os que têm olhos de ver: três anos de um trabalho árduo que, contra todas as probabilidades de nosso sistema criminal permissivo, encarcerou dezenas de poderosos políticos e empresários e restituiu para os cofres públicos, até o momento, o montante de quase R$ 1 bilhão”.
 
Em uma mescla de tom aparentemente eleitoral com o futuro da Operação Lava Jato, que ditará a imagem como Janot sairá da Procuradoria-Geral da República, concluiu: “Não há caminho mágico para sair da crise criada pela incúria e desonestidade de parte da classe dirigente do país. Tirar o Brasil do círculo vicioso da corrupção terá um custo, que poderá ser pago agora ou postergado para um futuro distante. A sociedade tomará essa decisão”.
 
Finalizando o artigo: “O país cansou do engodo, da hipocrisia, dos voos de galinha de economia sustentada no favorecimento, de seguir para logo retroceder. A hora é de mudança”.
 
Leia mais: Com fim de mandato, Janot admite custos da Lava Jato e entrega Aécio como isca
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. Recuso-me a acreditar que ele

    Recuso-me a acreditar que ele esteja sonhando com a possibilidade ser o presidente eleito pelo congresso…

    1. Não só isso, Marcos…

      Ele quer ser candidato na eleição em 2018 mesmo. Segundo o Tio Rei da Veja, ele está querendo o Planalto ou o governo de Minas…

  2. Se pagar dez anos de cadeia ainda estará nos devendo.

    Quem acredita nisso?

     (…)
     “…a luta do Ministério Público tem sido perene e constante contra as mazelas da corrupção que conspurcam o Estado de Direito, abastardam a sociedade e roubam o futuro do país.”    Quebraram a estabilidade política, quebraram a estabilidade econômica e as empresas que a sustentavam e geravam milhões de empregos para ganhar as eleições para o SEU PARTIDO e por no Planalto um Governo montado à sua imagem e semelhança. E quando diz que o MPF…(…)”…. restituiu para os cofres públicos, até o momento, o montante de quase R$ 1 bilhão”.”(…) só faz sentido se complementar informando quanto gastaram para produção das centenas de espetáculos midiáticos que promoveram e promovem e somar nessa conta os BILHÕES já derrubados na produção nacional e o quanto ainda será derrubado no curto e médio prazo em decorrencia da crise decorrente da atuação político partidária rasteira, desavergonhada, fisiológica e irresponsável do MPF e seus comparsas. Se não for morar nos países ao qual esse Duroc serve e serviu, aqui, enquanto ficar, não há de haver paz para essa criatura desprezível enquanto não pagar pelos seus crimes. A primeira fase do início da sua expiação deverá ser retratar-se e pedir desculpas de joelhos para o Genoíno.    

     

  3. três anos de lava-jato, à beira de deixar o cargo

    E ele vem dizer que a hora da mudança é agora?

    Fico imporessionado com tanta cara de pau!

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