A frustração e a violência dos derrotados, por Monique Prada

Enviado por Fiódor Andrade

Caralho! É só futebol! – Das agressões sofridas a caminho de casa

Por Monique Prada

Do Blog da Cortesã

Domingo lindo e chuvoso, aproveitei a tarde pro descanso; ainda brinquei com os amigos no Face: vocês são de fé, vão pro jogo enquanto eu volto pra cama.

Fim de tarde; fiquei de buscar um amigo querido na saída do jogo pra trocarmos uma ideia antes de meu compromisso das 21h. Meio que nos perdemos um do outro, nos achamos em seguida, pegamos a Azenha. Clima tenso, decidimos desviar. Dobra à direita, Germano Hasslocher, pouco mais pegamos a Érico Veríssimo e logo paramos.

Ledo engano. Rua “errada”. Tomada pela torcida agressiva, arrogante e descontrolada do time hoje perdedor. Lembrei de um filme antigo onde amigos saem a curtir a noite em um trailler se perdem e acabam mortos. Agredidos, mortos. Sem motivo aparente. Apenas por terem entrado na rua errada.

Dar a ré seria demonstrar medo. Sem motivo. Particularmente, odeio futebol. Amigo não usava camiseta de time. Nada que nos pudesse identificar como inimigos da turba. Talvez o respeito que tive, mantendo velocidade moderada – dentre aquelas pessoas, haviam crianças – tenha ajudado, já que assim conseguiram chegar mais perto do carro. Cinco ou seis anos, vai saber. Pequenas. Tive receio de machucá-las. E começaram os pontapés. Os gritos. Até que estouraram o vidro, jorra o sangue, nada entendo. O desejo de revidar foi contido – lembrava das crianças. O sangue jorrando. A rua, a polícia, os cavalos. A insanidade contida dentro de cada uma daquelas ‘pessoas de bem’ sendo despejada em quem nem curte futebol. A minha noite acabada, e eu ironicamente sendo aconselhada por meu amigo a agradecer por ter sobrevivido. O sangue jorrando. O carro (essencial para meu trabalho) destruído.

Chegando em casa, pude observar: não fui atingida por uma pedra, mas sim por uma garrafa de cerveja. Isso reacende em mim uma opinião que contraria a de muitos amigos: a necessidade de seguir mantendo bebidas alcoólicas proibidas em estádios. E talvez mesmo no entorno, como em muitas cidades.

0 fato: esta cultura bélica sobre futebol precisa de algum modo ser extinta. Amigos colorados, amigos gremistas: até quando? Eu fui uma das vítimas de hoje. Mas sinceramente, isso não pode mais ser tolerado como “algo que faz parte”. Eu moro nessa cidade e não posso ser proibida de nela circular apenas por que neste ou aquele dia temos um jogo de futebol. Não posso e não vou. Não podemos.

Repensem seus comportamentos. E repensem o que estão ensinando para suas crianças.

Meu desejo de seguir me mantendo afastada de qualquer coisa ligada a futebol a partir de hoje quintuplicou. Mas a cidade é também minha e não me esconderei em dias de jogo.

* Agradeço a solidariedade das amigas e amigos, aviso que estou bem, apesar de tudo. O prejuízo foi grande. Amanhã aciono o seguro, vejo se vale a pena. Mas exorto a todos os que se solidarizaram, se preocuparam, me apoiaram a começarmos seriamente uma campanha contra a violência envolvendo futebol. E sinceramente: penso que ela começa dentro de cada um de nós quando, mesmo por brincadeira, achincalhamos o torcedor do time adversário. Vamos parar. É só futebol.

Vida é outra coisa.

Vale taça – e vale cadeira quebrada, torcedor ferido, Monique ensanguentada

Redação

6 Comentários

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  1. Houve uma instrumentalização política de parte da torcida do…

    Como o Deputado Paulo Odone do PPS, que era presidente do grêmio há algum tempo queria aumentar o seu cacife eleitoral, ele simplesmente assoprou o braseiro que é a rivalidade Inter-Grêmio. Para poder manipular melhor a torcida ele incentivou a criação de uma das torcidas organizadas mais ferozes e inconsequentes de toda a torcida Gre-Nal, os outros torcedores do Grêmio se viram até afastados do campo devido a brutalidade desta torcida (estou falando de uma delas, não de todas).

    Odone foi devidamente defenestrado da direção pelo eficiente Fábio Koff, que primeiro se elegeu derrubando Odone e sua tropa e fez o seu sucessor. Infelizmente esta torcida ainda não foi totalmente neutralizada, apesar dos esforços das direções de Inter e Grêmio de estabelecerem um novo tipo de comportamento dentro do campo (torcidas mistas, que está sendo um sucesso).

    Há bem mais do que isto na relação Grêmio-Arena-Odone, mas deixo para os gremistas explicarem melhor!

    1. A Geral é a desgraça dos segundinos

      A Geral dos segundinos bi-rebaixados foi criada em 2001, na segunda gestão de José Alberto Guerreiro.

       

      Coincidência ou não, o fato é que depois da criação dessa organizada os segundinos não ganharam mais absolutamente nada e inclusive voltaram a cair para a Série B, modalidade futebolística na qual são especialistas. 

       

      O que se viu no match de ontem foi o Grezembe fazendo uma verdadeira Copa do Mundo contra o Sport Club Internacional. Passaram a semana inteira, junto com a imprensa azul (RBS), insuflando a alma dos sofredores tricolinos. 

       

      Quando viram que iam perder novamente, e ainda teriam de engolir o Pentacampeonato do Colorado Campeão de Tudo, a frustração transbordou, acima do que é habitual, para a violência. Que começou no próprio Gigante da Beira-Rio. 

       

      Os grezembinos precisam acabar com o apoio que dão para essa amadora e contraproducente Geral.

       

      E aí, diga-se de passagem, foi sim o ex presidente Paulo Odone quem mais incentivou o crescimento dessa organizada segundina, violenta e fracassada. 

      1. Diogo, para não parecer

        Diogo, para não parecer simplesmente deboche contra os nossos irmãos gremistas, nem falei sobre o Guerreiro, pois como tenho informações privilegiadas de dentro do conselho do Grêmio, tive um relato das mais patéticas decisões  que um conselho de um time tomou em relação a este senhor após este ser condenado em segunda instância por desvios contra o seu próprio time (http://www.correiodopovo.com.br/Esportes/?Noticia=333727).
        .
        Talvez por decisões como esta que o Grêmio não consiga nem controlar as suas próprias torcidas organizadas!

  2. O comportamento dentro de

    O comportamento dentro de campo e dos estádios espelha o que se é – o que somos – fora dele. Em Curitiba, vimos um governador, responsável pela segurança da população paranaense, exultando com as bombas atiradas por policiais em cima de professores indefesos. Para justificar a covardia a mídia amiga e cupinchas tergiversam para um suposto embate entre PSDB e PT (inexpressivo no Paraná) quando os professores e servidores reivindicam preservar o fundo previdenciário que o governador quer “lançar” mão para cobrir rombos de má gestão e desvios. Infelizmente até pastores e presbíteros estão incentivando a falta de compreensão e concórdia.

     

  3. O problema é falta de

    O problema é falta de polícia. Polícia não prende “pequenos” vândalos porque…da trabalho.

     

    Torcida é cortina de fumaça!

  4. Futebol brasileiro, prefiro ter complexo de vira-lata

    Sem o menor comnstrangimento, em se tratando de futebol brasileiro, prefiro ter um absoluto complexo de vira-lata. 

    Com todo o investimento feito em estádios (arenas, como se diz hoje), esperava-se que assistir a um jogo, ao vivo no estadio, se tornasse uma diversão salutar e segura a todos. Ledo engano. As imagens de Porto Alegre e de Fortaleza demonstram que estamos muuito longe ainda do ideal.

    1) Quem mora ou morou em cidades grandes nos Estados Unidos sabe muito bem que assistir a uma partida das grandes ligas de beisebol ou a um play-off de NBA em um ginásio poliesportivo é, NO GERAL, extremamente seguro e prazeiro.  Torcedores dos NY Yankees e dos NY Mets SENTAM UM DO LADO DO OUTRO, não há segregação e raros (raríssimos) são os casos de brigas entre torcedores (Quando ocorre, o próprio contrangimento social faz o cara nunca mais voltar aos estádios). E olha a bebida alcoólica rola a doidado. Em NY, em domingo a noite, quando a partida acaba por volta de 00:00 é a absoluta tranquilidade. Todos os torcedores, juntos pegam o mesmo vagão de metrö, sem o menor problema.

    2) Não acredito em mudança de postura de certos torcedores selvagens de estádio. Talvez uma dia possa se consolidar uma conscientização gradual de civilidade de convívio desses e respeito mútuo ao colega de outro time, tISSO NÃO IMPORTA CLASSE SOCIAL E ECONÔMICA. Seja pro cara da geral, seja pros da “Ala VIP”.

    A propósito: Baita provincianismo chulo esse negócio de  Ala VIP, Espaço Gourmet com direito a Canapés e quick-massage nas arenas de futebol. Isso uma demonstração clara de nossa imbecilidade hierárquico-patriarcal (esse negócio de “sou uma pessoa diferenciada, logo sou VIP”). Como foi tosco ver torcedores de ala VIP do estádio dos Santos gritando a vitória com um barreira de vidro na cara separando-a do ar livre do estádio.

     

     

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