A guerra na Síria sob a ótica russa

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Enviado por Ruben Bauer Naveira

Crianças sírias transformadas em soldados pelos chamados “rebeldes moderados” (fotos extraídas de reportagem da Al-Masdar News)

Os Rumos da Guerra da Síria

Texto de autoria de Pyotr Skorobogatyy publicado originalmente em russo em 09 de fevereiro em expert.ru

Traduzido para o inglês por J. Hawk e publicado em 11 de fevereiro em southfront.org, sob o título “Batalha de Aleppo: Uma Análise Detalhada“

Traduzido do inglês para o português por Ruben Bauer Naveira

A operação focada levada a cabo pela coalização russo-síria alterou dramaticamente o teatro de operações e gerou toda sorte de implicações geopolíticas. Em uma única semana, o corredor estratégico ao norte de Aleppo utilizado para abastecer militantes a partir da Turquia foi fechado. Este feito foi presumivelmente a causa do fracasso da primeira rodada de negociações em Genebra, e a Turquia passou a considerar seriamente uma operação terrestre na Síria. Os expansionistas em Washington estão reunindo no tapa a sua própria coalizão. A mídia ocidental lançou mais uma barragem de propaganda acusatória quanto a dezenas de milhares de sírios estarem fugindo dos bombardeios russos. A situação continua a evoluir a cada dia, porém a Rússia ainda detém a iniciativa estratégica que evita que os poderes árabes e ocidentais surjam com uma resposta própria.

A apendicite curada [N. do T.: o “apêndice” em questão é uma metáfora do autor, para referir-se ao longo do texto ao chamado “corredor de Azaz”, agora cortado pelas tropas do governo sírio, que continha as rotas de contrabando entre a Turquia, o Estado Islâmico e os demais grupos rebeldes]

O Exército Árabe da Síria (Syrian Arab Army, SAA) ainda padece de forças insuficientes para uma ofensiva em larga escala em todos os fronts, e a aviação russa também tem as suas limitações. Assim, as tropas e milícias de Assad estão conduzindo ações de contenção em alguns setores e atacando em outros (nas províncias de Latakia e Daraa). Os intensos preparativos para a operação em Aleppo levaram muitas semanas e resultaram numa concentração de formações de infantaria e mecanizadas, incluindo pesados lançadores múltiplos de foguetes e os nossos [N. do T.: russos] tanques modelo T-90 com tripulações bem treinadas. Mas o local do ataque permanecia em segredo, o que atormentava os extremistas. Havia muitas opções disponíveis. Olhando agora em retrospecto, pode-se chegar à conclusão que o Alto Comando unificado continua a implementar o mesmo conceito de operações de sempre: a principal tarefa é fechar as fronteiras com a Turquia e a Jordânia, que são as fontes de armas e de voluntários para os jihadistas.

Damasco desfechou o ataque a noroeste de Aleppo, em direção ao bolsão xiita que continha as cidades de Nubol e Zahra que haviam estado sob cerco por quatro anos. Essa operação revelou a nova tática do SAA: as posições fortificadas são contornadas, enquanto que avanços blindados são lançados nos pontos fracos identificados, após artilharia pesada e bombardeio aéreo.  Então, a posição defendida é atacada a partir da retaguarda. Foi assim que em poucos dias dúzias de cidades foram libertadas, e o novo front conquistado pelo SAA foi reforçado para repelir contra-ataques.

A ofensiva de Assad foi apoiada pelos assim chamados curdos de Afrin [N. do T.: Afrin é a principal cidade do território controlado pelos curdos ao longo da fronteira com a Turquia, no seu lado oeste]. A julgar pelo nível de coordenação e de suporte ativo que os curdos receberam da aviação russa, essa coalizão não foi acidental, e toda a operação esteve debaixo do controle efetivo dos comandantes russos. As forças curdas assumiram o controle de diversas cidades e, a despeito de suas relações difíceis com o SAA, organizaram em conjunto patrulhas bem como postos de controle e checagem.

Vale aqui cumprimentar os militares que estiveram planejando as operações na Síria ao longo dos últimos seis meses. O trabalho deles é invisível para um observador externo, mas tem efeito decisivo no sucesso em combate e no nível de baixas [N. do T.: perda de soldados, seja mortos, feridos ou capturados]. Significa lidar com aspectos como assegurar a cooperação ao longo da diversificada coalização de Assad (libaneses, iraquianos, iranianos, milicianos curdos e, claro, o SAA), entre xiitas e sunitas, várias nacionalidades, formações com graus díspares de treinamento, equipamento e experiência – para não mencionar logística, suprimento e transporte. O elevado nível de profissionalismo demonstrado pelos consultores militares russos é evidente.

Até esta terça-feira [N. do T.: 09 de fevereiro] as formações do SAA, juntamente com milícias e as forças curdas, continuavam a expandir o “corredor dentro do corredor” para o norte e para o sul, muito embora a velocidade do avanço tenha se reduzido de modo a fortificar o território já conquistado. As forças jihadistas em Aleppo correm o risco de se verem cercadas. Ficou também evidente que as forças da coalizão continuam a avançar para o norte, rumo à fronteira turca. Lá os islamistas estão fortificando às pressas as suas posições voltadas para o sul e recebendo reforços do interior da Síria. O objetivo último do SAA é tomar o controle da fronteira. Isso seria um evento geopolítico de grande magnitude o que, naturalmente, está causando considerável nervosismo em Ancara [N. do T.: capital da Turquia] e entre os seus aliados.

O tubo de oxigênio dos militantes

O que esse corredor verde [N. do T.: na figura abaixo] significa para as forças anti-Assad? Em primeiro lugar, é o corredor para transporte de armas e de combatentes bucha-de-canhão – ambos em grandes lotes. Sim, é verdade que a província de Idlib também possui uma extensa fronteira com a Turquia, logo ainda é muito cedo para falar em isolamento dos jihadistas. Mas se trata também de conveniência de acesso, e o corredor verde possui autoestradas, passagens de fronteira, rotas de contrabando já bem estabelecidas e ainda a cidade de Aleppo propriamente dita, agora parcialmente perdida para Damasco, que é um grande centro logístico para o gerenciamento dos fluxos de pessoal e equipamento dos terroristas. Já a fronteira por Idlib é muito menos conveniente, uma vez que o terreno montanhoso complica o transporte de grandes quantidades de suprimentos. Mas, para além de tudo isso, havia ainda uma outra rota logística muito importante, que se assemelha a um apêndice:  ela viabilizava o comércio entre os jihadistas e o Estado Islâmico.

Este acordo, costurado com a participação de Ancara, especifica que o Estado Islâmico transporta combustíveis para as províncias do norte da Síria, recebendo alimentos em troca. Isso torna essa rota literalmente um tubo de oxigênio para ambos os lados, uma vez que o Estado Islâmico controla principalmente deserto com campos petrolíferos, enquanto que os grupos pró-Turquia ocupam terras com fazendas, sem depósitos de combustíveis nem refinarias. Naturalmente, a Turquia se vale desse escambo para lidar com a escassez de combustíveis e de alimentos nessas partes da Síria ocupadas por militantes. Jornalistas nas regiões controladas por jihadistas em Idlib e Aleppo estão agora reportando uma difícil situação humanitária. As fábricas de processamento de alimentos, transportes, serviços, tudo está fechando devido à falta de combustível para os geradores a diesel. Não há mais luz nem eletricidade. Claro, eles estão se esquivando de noticiar que os tanques de combustível dos veículos dos jihadistas também estão praticamente secos.

A rápida deterioração das condições sociais nas províncias rebeldes, somada à ofensiva do SAA, de fato causou algumas manifestações de crise humanitária. Há sinais de pânico, especialmente entre militantes que vêm enriquecendo há muito tempo por meio da exploração da Síria, locupletando-se do contrabando e que chegaram mesmo a constituir famílias, no objetivo último de usar o dinheiro acumulado para um dia mudar-se para algum lugar mais próspero, como a Turquia ou a Europa. Estes estão fugindo para a fronteira com a Turquia e concentrando-se em campos específicos. Ancara alega existirem cinquenta mil refugiados e pede ao mundo que preste atenção à crise supostamente causada pelos bombardeios russos. As passagens de fronteira são fechadas, as pessoas continuam a chegar, e o “apocalipse humanitário” vem recebendo crescente cobertura pela mídia ocidental. Esse trunfo provavelmente será jogado por Ancara e pelo Ocidente para pressionar a coalizão russo-síria. E ele poderá servir de pretexto para uma invasão terrestre.

A Turquia se prepara para a guerra

No dia 04 de fevereiro, o Ministério da Defesa russo denunciou que Ancara criou um precedente  de “atividade militar não-monitorada”: a Turquia recusou-se a permitir um voo de observação russo sobre o seu território em conformidade com o Tratado de Céus Abertos (Open Skies Treaty). Uma aeronave russa deveria sobrevoar as regiões turcas de fronteira e bases da OTAN. Comenta-se que este incidente, que a maior parte da mídia não reportou, abortou a operação terrestre turca. Os especialistas russos propuseram uma rota para o voo que deixava claro que o Alto Comando russo já conhecia muito bem o que está sendo preparado, e que a reação russa será extremamente dura.

Logo em seguida, o representante oficial do Ministério da Defesa, o general de divisão Igor Konashenkov disse que, bem, a Síria providenciou fotos mostrando artilharia auto-propulsada turca posicionada na fronteira: “Todos os dias surgem mais sinais de preparativos para invadir a Síria. Nós vemos as ações da Turquia como perigosas e como tentativas criminosas de ocultar as suas atividades militares criminosas na fronteira com a Síria”.

Ancara vê a criação de uma zona-tampão na sua fronteira sul como prioridade, mas a questão é se essa zona será em solo turco ou sírio. Uma vez que a esperança em derrubar Assad foi dissipada pela entrada da Rússia na guerra, Ancara teve que estabelecer destacamentos de barreira na fronteira para evitar que os militantes, que estão fugindo dos ataques aéreos russos, entrem na Turquia. A zona-tampão também tem o propósito de conter a ofensiva curda, evitando que ela consiga conectar os dois grandes enclaves curdos no noroeste [N. do T.: em torno de Afrin] e no nordeste [N. do T.: em torno de Kobani] da Síria. Por fim, essa zona hipotética é necessária para garantir que os terroristas continuem sendo abastecidos, e que o comércio com o Estado Islâmico prossiga.

O anúncio russo conteve o avanço turco, mas não resolveu o problema principal: a cada nova cidade libertada no “apêndice” ao norte de Aleppo, Ancara tem menos tempo para deslanchar uma intervenção no território da Síria. Uma coisa é assumir território ocupado pelos militantes, outra coisa é lutar contra o SAA ou contra os curdos que agora estão sendo ativamente apoiados pelos Estados Unidos. A árvore de decisão parece algo assim: estaria a Turquia pronta para agir unilateralmente com apoio tácito do Ocidente, ou, coordenará ela as suas ações com a coalizão pró-Estados Unidos.

A primeira alternativa poderia seguir o precedente libanês: Israel invadiu o sul do Líbano muitas vezes para combater o Hezbollah sem nenhuma autorização das Nações Unidas e a despeito de condenações pelos países vizinhos. Tel-Aviv operava rápida e decisivamente: fixava uma zona-tampão e de exclusão aérea, introduzia tropas, e atacava o adversário com comandos de elite em incursões focadas, além de bombardeios de artilharia. Os resultados eram sempre discutíveis, mas Israel não sofria consequências fatais. Ancara poderia se valer da crise humanitária artificialmente criada na fronteira para uma operação desse tipo, o que já está sendo justificado como necessário para assegurar a estabilidade da União Europeia. Erdogan [N. do T.: o presidente da Turquia] continua a chantagear habilmente os infantis Euro-burocratas: “Nós podemos abrir as portas que levam à Grécia e à Bulgária e despejar os refugiados de ônibus. Se vocês nos derem três bilhões de Euros, por dois anos, o assunto está encerrado. A Grécia recebeu 400 milhões durante a crise. Nós deveríamos usar esse dinheiro para estabelecer uma zona-tampão na Síria para resolver todos os problemas de refugiados”. A União Europeia poderia ainda escolher poupar a si própria de aborrecimentos extras e fechar os olhos para a operação militar da Turquia – assim como já fechou os olhos para a matança nas províncias curdas da Turquia. Angela Merkel deixou claro que está pronta para jogar o jogo: “Nós temos estado nos últimos dias não apenas atônitos mas chocados pelo sofrimento de dezenas de milhares de pessoas devido aos bombardeios, inclusive aqueles conduzidos pelos russos”. Outros países da OTAN estão igualmente “chocados” pelos ataques aéreos russos, e o Secretário Geral da OTAN Stoltenberg disse que a nossa [N. do T.: russa] operação na Síria está impedindo uma resolução pacífica para o conflito, e acirrando as tensões na região.

O Ministério da Defesa da Rússia respondeu: “Nós gostaríamos de lembrar ao Sr. Stoltenberg que não foram os ataques aéreos russos que causaram a crise na Síria, mas as ações sem sentido da OTAN que atiraram o Oriente Médio no caos. Há mais: antes da chegada das aeronaves russas na Síria, a OTAN ficou por três anos fingindo que estava destruindo o terrorismo internacional. Durante todo esse tempo, ninguém no Ocidente, e especialmente em Bruxelas [N. do T.: sede da União Europeia], fez menção a quaisquer negociações sobre a Síria. Todos estiveram apenas fazendo previsões a respeito de quando o país iria finalmente esfacelar-se, como a Líbia, onde os países da OTAN estiveram igualmente ocupados implantando a “democracia” à moda ocidental. Se existe alguém nesse exato momento preocupado com as aeronaves russas, são os terroristas. Nós gostaríamos de perguntar ao Sr. Stoltenberg o porquê de alguns países da OTAN estarem tão preocupados com as aeronaves russas na Síria”.

Deve-se ter em mente que uma intervenção da Turquia não necessariamente significa um confronto direto entre Rússia e Turquia. Ela seria mais provavelmente limitada a mais um novo round de guerra híbrida, e é  totalmente possível que as tropas de Assad, já calejadas por quatro anos de guerra, consigam elas próprias dar conta das tropas turcas. “Qualquer intervenção militar sem a aprovação do governo sírio seria vista como uma agressão. Os invasores serão mandados de volta para casa dentro de caixões”, foi a resposta direta de Damasco.

Existe ainda uma outra possibilidade, a de que a Turquia não tente simplesmente criar uma zona-tampão, mas irrompa através do corredor em direção a Aleppo ou a Raqqa [N. do T.: cidade síria tomada pelo Estado Islâmico, e definida pelo mesmo como a sua “capital”]. Mas esta opção somente será possível se ela agir como parte de uma coalizão.

Os problemas da coalizão

A maior parte das tentativas de discutir uma hipotética guerra entre Rússia e Turquia falha em considerar de forma realista todos os atores envolvidos no conflito sírio. Ancara é retratada como um asilo de reclusos insanos que estariam a ponto de cometer algo suicida a qualquer momento. O papel dos Estados Unidos, que claramente perdeu a iniciativa na região, tende a ser menosprezado, e de modo geral as políticas de Obama são tratadas com desdém, senão com aberto desprezo. Subestimar o poder mais forte do mundo pode sair caro, mas felizmente a maioria daqueles que o vêm fazendo são pessoas comuns, não especialistas.

De fato, Washington foi surpreendida pela operação russa na Síria e perdeu as suas cabeças de ponte táticas em solo sírio. Mas ela ainda é dominante no Iraque onde aparenta pretender deslanchar uma grande operação contra o Estado Islâmico e avançar em direção a Raqqa. O início dessa operação está a princípio agendado para a primavera de 2016. A sua viabilidade é discutível. Não está claro quem combaterá: o exército iraquiano que normalmente acaba derrotado, forças americanas hipotéticas cujo engajamento teria ainda que passar pelo teste pré-eleitoral, ou mercenários sauditas que adorariam atracar-se com os iranianos no front sírio, mas que ainda estão contabilizando as suas próprias perdas no Iêmen. Então aqui as forças “frescas” e relativamente poderosas da Turquia poderiam se revelar sob medida. Claro, os Estados Unidos complicaram as suas relações com Ancara ao apoiar os curdos.

No domingo passado [N. do T.: 07 de fevereiro] Erdogan praticamente impôs a Washington um ultimato, demandando que fizesse uma escolha de aliado. Erdogan estava afrontado pela visita a Kobani [N. do T.: cidade síria habitada pelos curdos] pelo assessor presidencial americano Brett McGurk, onde encontrou-se com as milícias curdas: “Como nós podemos confiar em vocês depois disto? Quem é o seu parceiro: eu os esses terroristas de Kobani?”. O primeiro-ministro turco Davutoglu já havia mostrado ao vice-presidente americano Biden mapas da fronteira, assinalados com as localizações onde os curdos sírios infiltram armamento para seus co-étnicos curdos na Turquia. Ancara considera qualquer cooperação de Washington com os curdos inaceitável, sendo esse o maior obstáculo. 

Não está claro como Washington irá resolver esse problema. De um lado, os curdos são militarmente mais fracos que os turcos, e não importa quantas armas os Estados Unidos lhes deem, a infantaria curda encontrará dificuldades em combater grandes batalhas terrestres. Os curdos não operarão fora das áreas habitadas por eles, especialmente se não houver garantias de criação do seu próprio país [N. do T.: o Curdistão] (coisa que a Casa Branca não está em vias de conceder). Do outro lado, os curdos proveem a Washington o seu único apoio firme em solo sírio, cuja perda significaria deixar de uma vez o teatro de operações da Síria. A pressão turca acabaria por forçar os curdos no Iraque e na Síria a apontar as suas armas para os seus inimigos históricos – os turcos – largando assim o Estado Islâmico na conta dos Estados Unidos ou da coalização russo-síria. A guerra iria ficar mais complicada, e seria totalmente possível que os Estados Unidos acabassem simplesmente expelidos dela.

A raiz do problema é que os Estados Unidos se veem forçados a colocar rédeas nas ambições turcas, contudo não possuem meios de influência suficientemente poderosos para obrigar Erdogan a fazer o que eles querem. “A crescente hostilidade da Turquia para com os curdos sírios, que são os aliados mais efetivos dos Estados Unidos contra o Estado Islâmico, está minando os esforços para que sejam lançadas operações mais efetivas contra esse grupo extremista”, disseram oficiais americanos ao Wall Street Journal. Washington também está frustrada com o colapso das conversações de paz de Genebra e culpa Ancara por isso, indicando que ela instruiu os militantes sob seu controle. Isso não significa que Washington tenha concordado com as condições de Damasco, mas o processo de paz no seu todo é outro elemento de influência que a Turquia em sua teimosia faz uso para amarrar as mãos de Washington.

A criação de uma coalizão pró-Estados Unidos com a participação de Ancara e na perspectiva de uma operação terrestre iminente poderia temporariamente acomodar as ambições de Erdogan e torná-las compatíveis com a política externa americana, ao preço de elevar os custos de ter ao seu lado um aliado tão instável. Os últimos meses mostraram que a iniciativa pertence ao lado que conta com a infantaria melhor treinada e equipada – hoje, é Damasco.

*****

Nota do tradutor

Recentemente o GGN publicou outro artigo que eu traduzi, sobre a natureza da estrutura de poder dos Estados Unidos e como ela leva ao aumento das tensões com a Rússia e com a China (publicado sob o título EUA e as estruturas de poder ocidental). Nos comentários, alguns leitores demonstraram estar familiarizados com leituras assim, lamentando não estarem disponíveis em português para o público brasileiro (é claro que a nossa mídia tradicional jamais irá reproduzi-las).

Veículos para publicação existem (como o GGN), o que é escasso são pessoas que busquem esses artigos em inglês, selecionem aqueles de maior relevância e os traduzam para o português. Nesse sentido, criei o endereço [email protected] para a recepção de textos traduzidos por voluntários devotados a quebrar as barreiras ideológicas à informação sobre a geopolítica mundial.

Deixo por fim recomendações de sites minimamente confiáveis para obtenção desse tipo de informação:

Sites de notícias:

South Front

Russian Times

Sites de opinião:

The Saker

Norte-americano:

Veterans Today

Em português:

Blog do Alok

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

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  1. Os Curdos sempre traídos!
    O GGN demonstra alto nível de informação e debate ao publicar esse artigo, mas gostaria de que esse ensaio, muito interessante, abordasse três aspectos; primeiro a questão dos Curdos serem aliados Americanos, de fato isso é verdade, mas essa situação se repete há décadas e no final sempre foram traídos pelo “capital” de Washington e Wall Street.
    A segunda questão é a situação popular na Síria, pois a família Al Assad oprimiu, reprimiu tudo o que era popular e progressista desde sua ascensão política, via franceses expulsos da Síria no pós segunda guerra que os protegeram como defensores de seus interesses e assim há ódio popular pela ação anti democrática e haviam muitos movimentos democráticos e socialistas que lutavam em oposição a essa cruel família sem ter nada com os islâmicos facínoras (EI) subsidiados pelos Sauditas e outros ultra reacionários do golfo.
    Por último como ficam exatamente os Sauditas e demais apoiadores do EI no próximo passo geopolítico ? Ninguém os denunciam ou atacam enquanto o povo sírio paga rios de sangue?

    1. De todos da familia Al Asaad,
      De todos da familia Al Asaad, Bashar é o mais progressista, tenho conversado com sirios e é quase unanimidade a opinião de que Asaad não é tão do mau, ele fez da Siria quase um estado laico, levou internet, fez reformas muito boas. Aliás, me arrisco a dizer que, essa mudança de posição da Russia em aceitar eleiçoes se deve á pesquisas de campo favoraveis a Asaad. A Russia só joga seguro.
      Sobre a Arabia Saudita tenho ideias mais minhas,de que,caso os sauditas entre na Siria, a crise siria e a crise do petroleo se encontrarão. O preço do petroleo tem afetado a industria de Xisto americana, afetado BP britânica, a Noruega, varios ocidentais tem sofrido. Caso os sauditas entre em guerra com a Russia, teria uns poços destruidos com misseis de cruzeiro, e de um dia para o outro os preços do Barril estariam bate do recordes de altura.
      Irã iria adorar.

    2. já faz uns quatro anos…

      Celso, que eu me lembre, no momento em que o ocidente tentou bombardear a Síria, há alguns anos atrás, a oposição de verdade ao Assad uniu-se ao Governo Sírio. Eles disseram que preferiam apoiar “momentaneamente” o Assad e manter o país unido do que compactuar com o ocidente que bombardeou a Líbia, pois se acontecesse o mesmo na Síria não ia sobrar país nenhum para viver…

      A Rússia inclusive já tinha sinalizado que o Assad poderia sair, desde que fosse por eleições diretas no momento em que a Síria estivesse estabilizada, só que a situação piorou muito nos últimos anos com a formação do Daesh e quando os russos interviram na Síria avisaram que o momento de tirar o Assad tinha passado, agora vão apoiá-lo até a guerra acabar…

  2. Quanto aos textos, o

    Quanto aos textos, o redecastorphoto publicava essas fontes e outras mais.

    Cadê ele?

     

    Sobre as oposições sírias, essas existiram/existem do marrocos à Arábia Saudita e nem por isso foram levadas a guerras pela “democracia” com o violento e sanguinário apoio da OTAN que parece ter preferência por países árabes com elevado IDH.

     

    1. Depois que o Redecastorphoto

      Depois que o Redecastorphoto deixou de ser atualizado, é como se uma parte de mim tivesse morrido rs.

      Mas percebi que de uns tempos para cá têm surgido outras boas fontes em PT-BR nesse sentido, como o Oriente Mídia, o próprio Blok do Alok, o Btpsilveira – Pensar Sem Enlouquecer…

      Basicamente esses blogs recentes utilizam a mesma rede de informações que o Redecastorphoto traduzia: Pepe Escobar, Paul Craig Roberts, The Saker, Moon of Alabama, Al Monitor, RT, Press-TV, aquele ex-diplomata indiano… Boa parte dos artigos são traduzidos pelo coletivo Vila Vudu.

      A diferença é que esses blogs mais recentes focam basicamente em geopolítica, principalmente Síria – que de fato é o assunto mais grave do momento -, enquanto que o Redecastorphoto também abordava filosofia, economia e cultura (fora as imagens e caricaturas que ilustravam os seus textos: impagáveis).

      Mas acredito que aos poucos essa nova geração de informação independente chegará lá (ao que era o Redecastorphoto). Contribuirei com as traduções no e-mail disponibilizado sempre que possível.

  3. Mandou bem, Ruben !!

    Muito legal a sua iniciativa, Ruben !! Há um saco de tempo eu acompanho vários jornalistas e alguns sites internacionais de notícias mas nunca pensei que haveria abertura e interesse para reproduzir esses caras por aqui, e tem também essa coisa de política de direitos autorais, sei lá…Não sei exatamente como funciona isso porque nunca li a política desses sites nem nunca me passou pela cabeça arriscar uma traduçao caprichada e sugerir em blog. Legal saber que há esse interesse e voce, sendo tradutor, disponibilizou um meio de receber e selecionar artigos [traduzidos/aplicar as devidas correçoes] para sugerir a publicaçao . Muito bacana ! Anotei aqui..

    Tem também muita informaçao boa circulando no youtube, como voce já deve saber. Há vídeos oficias divulgados pela imprensa isenta da Rússia que sao quentíssimos e, com estes,  dou sorte porque tenho um tio que manda bem no russo[ele estudou e morou uns 10 anos na antiga URSS] e aí dessa água eu acabo bebendo direto da fonte..rs Boa parte dessas informaçoes vem direto dos próprios militares envolvidos na operaçao que sendo realizada na Síria. 

    Voce indicou uns sites bem legais aí…e eu vou citar esses três que eu gosto muito:

    http://www.williamengdahl.com/

    http://journal-neo.org/

    http://www.patrialatina.com.br/

    Abraço !

  4. Sites de geopolítica/redecastorphoto

     

    Prezados Ruben Bauer Naveira e demais comentaristas 

    Podemos contar com outros sítios muito confiáveis que publicam traduções para português alé dos já mencionados por você:

    Em inglês temos Counterpunch, Information Clearing House, Naked Capitalism, Tom Dispatch, Moon of Alabama, The Nation e muitos outros excelentes sítios e blogs de autores como John Pilger, Norman Filkenstein, Robert Parry e também muitos outros..

    Em português não podemos esquecer das publicações traduzidas pelo Outras Palavras do Antonio Martins, do Mberublue do Roberto Silveira (com praticamente todas as traduções do pessoal da Vila Vudu), Resistir. info, e outros.

    Nosso blog redecastorphoto está desativado desde julho/2015 por razões de saúde, mas tão logo sejamos liberados clinicamente, voltaremos à liça.

    Os dois artigos que você (RBN) me enviou por e-mail foram distribuídos em nossos grupos do FB e TW. Sugiro outrossim, que a tradução do Saker deva ser completada/atualizada para melhor análise dos acontecimentos no OM sob o ponto de vista geopolítico… Mas é só sugestão

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  5. a guerra na Síria sob o ponto de vista da Rússia
    É lastimável que só tenhamos acesso as informações sobre o conflito na Síria sob a ótica da imprensa ocidental . Gostaria de ter oportunidade de me informar sob a ótica da Rússia que é outro ator importantíssimo nessa região, Outra curiosidade: como o presidente Sírio consegue manter essa guerra financeiramente.
    Como e por quais meios vai ser “paga” um dia ? Ou não haverá um amanhã?.. Essa guerra é insana como toda guerra, mas os verdadeiros donos da terra são expulsos pela ambição de poder de todos que estão envolvidos.

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