A história do MPB-4 contada por Magro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Enviado por Fernando J.

O Magro conta a a história do MPB-4, um belo capítulo da história da música brasileira

Do Jornal do Commercio

 

O arranjo vocal de Lamento (Pixinguinha/Vinicius de Moraes), com o MPB-4, mal comparando, é o equivalente na MPB ao que o grupo inglês Queen fez em Bohemian rapshody. Um marabalismo engenhoso de quatro vozes que valorizam ainda mais o belíssimo choro.  O arranjo teve participação de Hermínio Bello de Carvalho, e o nome da música, na verdade, é Lamentos. Detalhes contados pelo Magro, integrante e arranjador do MPB-4, entre as muitas histórias que conta dos álbuns lançados pelo mais famoso grupo vocal da música popular brasileira.

O Magro estava num leito de hospital quando gravou os comentários para sua mulher, Mônica Thiele Waghabi.  Ele morreu em agosto de 2012, e os depoimentos formaram o conteúdo do projeto digital, o blog Vozes do Magro,  mais um perfil homônimo no Facebook. Vozes do Magro chega agora ao livro, creditado a Magro Waghabi, e subintitulado Seleção de arranjos e discografia comentada dos 15 primeiros LPs do MPB- 4. (Prefeitura do Rio/Bateia Cultura).  Os depoimentos do Magro são complementados por pessoas que, de uma forma ou de outra, tiveram uma ligação com o quarteto.

Com a saúde bastante debilitada quando as gravações foram feitas, ele não teve condições de comentar todos os discos. Porém o que foi registrado supre uma lacuna na história da música popular brasileira, iniciada há 50 anos, por estudantes universitários em Niterói (RJ), ligados ao Centro de Cultura Popular, o CPC  da UNE, que começou a gravar na lendária Elenco, de Eloysio de Oliveira.  Mais tarde o MPB-4 seria para Chico Buarque, mais ou menos o que foi The Band para Bob Dylan. O quarteto lançou várias canções inéditas de Chico, e o Magro conta como elas chegaram ao grupo.

Conta também de nomes hoje injustamente esquecidos, como Sidney Miller, bastidores dos festivais, ou sobre composições feito Pesadelo, um hino contra a ditadura, que só passou na censura, porque Paulo César Pinheiro, autor da música com Maurício Tapajós, conseguiu inserir a letra na pasta de músicas de Aguinaldo Timóteo, que iam ser conferidas pelos censores: “Descobri que o repertório de alguns cantores era examinado minuciosamente. Dos bregas, dos românticos e do pop, nem se davam ao trabalho de ler. Carimbavam imediatamente e despachavam. Foi nessa observação que peguei minhas fichas. Peguei o Pesadelo e enfiei na pasta de letras do LP de Aguinaldo Timóteo com a conivência cabreira desse serviço, meu companheiro de sinuca. A pasta chegou com  liberação na outra manhã”, lembra Paulo Cesar Pinheiro.

O Magro tem outra versão, um pouco parecida. A letra de Pesadelo teria sido inserida em meio à marchinhas carnavalescas, que chegavam aos montes à censura, e os policiais tinham preguiça de encarar todas. Muitas assim acabavam sendo liberadas.

Bem editado, e visualmente atraente, o livro traz ainda entrevistas, posfácios de testemunhas oculares da história da MPB e do MPB-4 e por fim, mas não menos importante, partituras de algumas das principais músicas gravadas pelo Magro, Miltinho, Ruy e Aquile, o MPB-4.
 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Sinto muitissimo.  Eu nao

    Sinto muitissimo.  Eu nao sabia que ele tinha morrido ate hoje, so achei que o MPB4 tinha separado.  Minha irma os encontrou depois de um show em um bar em Bonito nos anos 90, trebados, e eles a trataram tao bem!

    Sempre os admirei muito.  Tinha um conjunto americano que tentou imitar o MPB, toda vez que eu escutava a musica eu pensava em gritar “PLAGIO!” mas nao sei quem eram.

    Outra coisa que sempre admirei:  os caras eram um conjunto tecnico ao extremo sem “jamais perder a ternura”, eles sempre tiveram o low-tech/high-touch de Naisbitt, o que eh surpreendente pra mim:  eles eram uma claque fechada, da qual nada jamais vazou de escandalo, intriga, nada do negativo. E a personalidade do Aquiles permanece, nesse sntido, “grupal” ate hoje, isso eh visivel em tudo que ele escreve.

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