A juventude que não pode largar tudo para viajar o mundo ou vender brigadeiro, por Yasmin Gomes

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A juventude que não pode largar tudo para viajar o mundo ou vender brigadeiro

por Yasmin Gomes

Eu acho lindas as histórias da “geração que encontrou o sucesso no pedido de demissão”, mas elas podem gerar um sentimento de depressão muito maior do que de inspiração. Recentemente, um texto da Ruth Manus bombou nas redes sociais. Montes de likes e compartilhamentos para soltar um grito de desespero de quem está infeliz com o que vou chamar aqui de carreira convencional.

Logo no início do texto, a autora já se defende dos que dirão que é muito fácil pedir demissão e mudar totalmente de carreira & estilo de vida quando se tem dinheiro, seja de economia pessoal ou o famoso “paitrocínio”. Ela logo parte para exemplos que não seguem essa linha, diz conhecer pessoas que “venderam o carro, dividem apartamento com mais 3 amigos, abriram mão dos luxos, não ligam de viver com dinheiro contadinho. O que eles não podiam mais aguentar era a infelicidade.”

Ao ler esse trecho em voz alta para meus colegas de trabalho, quase tive cólicas de tanto rir. Só pode ser piada, né!? A média salarial em São Paulo é de R$2.300,00. No Brasil, até o final do ano passado, era pouco mais de R$1.000,00 reais. Em que realidade estão essas pessoas onde “viver com dinheiro contado” e “abrir mão de luxos” são sofrimentos opcionais em detrimento dos seus anseios profissionais?

Outra parte do artigo que tivemos que encarar com muito humor dava o lead de quem encontrou o sucesso pedindo demissão. Foram citadas pessoas que abriram mão de “carrão”, do “cargo fantástico” e até de ser “executiva de grande grupo”. O auge mesmo foi a citação da amiga advogada que jogou tudo para o alto e resolveu voltar a ser estudante e andar de metrô FORA DO PAÍS.

PUTA SOFRIMENTO! Alguém avisa que quase metade dos jovens brasileiros tem que trabalhar para pagar os estudos. Avisa que estágio paga pouco e esses jovens acabam ficando em empregos fora da área de graduação, se formam e ficam pra trás na hora de conseguir entrar no seu mercado. Ah! E, por incrível que pareça, tem até novinhos e novinhas que são arrimo de família!

Não vou nem comentar a suposta bad de ter que dividir apartamento, também citada pela autora, quando a maioria das pessoas que eu conheço não tem dinheiro nem para isso (eu, por exemplo, consegui comprar uma barraca há uns dois anos e parei por aí).

A realidade do Brasil não é de quem pede as contas e vai viajar o mundo. Não é de quem “joga tudo pro alto” e vai vender brigadeiro. A gente vive num lugar em que a maioria das pessoas se permite ser explorada porque precisa ganhar nem que seja uma mixaria no fim do mês. O desespero é tanto que, se a gente não aceita condições deploráveis, alguém vai aceitar. Alguém bom e qualificado, aliás.

A melhor mensagem que o texto da Ruth Manus e tantos outros me passam é de que o sucesso não precisa necessariamente vir nos moldes de carreira executiva. Você pode ser uma pessoa realizada construindo uma bela família, plantando uma horta, fazendo voluntariado, tendo o seu próprio negócio de churros gourmet ou o que for. Existe felicidade e realização além do salto alto e da gravata, mas não tem glamour, purpurina ou post check-in pela Europa (sinta-se uma exceção, se tiver).

Para os jovens que vivem a realidade do nosso país, almoçando coxinha e botando na ponta do lápis cada centavo gasto com busão, o pedido de demissão tem que esperar. E se demorar, não tem problema. Temos a vida toda pela frente, temos uns aos outros, a gente se entende… você não é uma porcaria, um acomodado.

Fica calmo, tá tudo certo.

Yasmin Gomes é Coordenadora de Pesquisa e Conteúdo na Análise Editorial

 
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Acho pertinente sua análise,

    Acho pertinente sua análise, porém o texto não é dirigido ao jovem comum brasileiro. Ele é escrito por uma pessoa de classe média alta para pessoas de classe média alta. E sinceramente, acho interessante que a classe média alta brasileira apresente esse comportamento menos cumulativo e de negação do status social via emprego/salário. Óbvio que isso é uma influência européia, norte americana.. mas não é uma má influência. Nem tudo de fora é ruim. Antropofagia social pode servir para alguma coisa.

  2. Isso parece aquelas estóriass

    Isso parece aquelas estóriass de contadores

     

    que aparecem na tv dizendo: “se vc economizar tanto por 20 anos vc compra a sua casa à vista, ou terá um milhão na conta….”, o dificil é economizar sem ter que gastar para sobreviver. E como osm pastores da tv só mostram a cura, quem morreu da doença fica esquecido…….

  3. “Vocês que fazem parte dessa massa”…

    Olá debatedores, bom dia.

    Não senhor. O “pedido de demissão não tem que esperar nada”.

    Aliás, a rigor, ninguém “pede demissão”. Você ” se demite”.

    Ou melhor, você faz um distrato. 

    Ou melhor ainda, uma Resilição contratual, ou  resolução, ou  rescisão , ou resolução contratual.

    Note bem: a relação de emprego se fundamenta num CONTRATO que não é realizado entre “partes iguais”.

    Um contrato com cláusulas  do tipo “caracu” mas “amenizadas” pelas “instituições sólidas como prego no angu quente do capitalismo enganador brasileiro.

    Jovens infelizes?

    Realidade do país?

    Carrão?

    Faltou iphone? Com ou sem pokemon? (porco é bom)

    Existe felicidade e realização além do salto alto e da gravata…?

     

    Francamente, que  análise rasteira. Texto medíocre.  Só pode ter sido feita por pessoas devidamente cooptadas pelo “padrão social”, da “nação brasileira de mentecaptos”.

    Prefere o fato social a la Emile Durkheim? Comte?

    Por que não Saint Simom?

    E por que não Karl marx? 

    A propósito, vale trazer a baila a “lei áurea”… Só para dar início ao debate sobre o  “trabalho que se diz  livre” nesse território cujas as “zelites” (ou  zelotes?) insistem, planejam, projetam, implementam , com êxito, a manutenção do “pensamento colonial”.

    Já não há mais “espaço”,  para os Furtados, os Darcys, os Rio branco de outrora…

    Mas, pensando bem, parece-me que os risonhos foram  cooptados pela “ética protestante do espírito de capitalista”? ( a la weber) 

    O espírito animal, pois, de porco, já se tornou “realidade” para tudo e para todos, inclusive, para definir o que “é” felicidade…

    Francamente….

     

    ——————

    Deve-se indagar por que os  jovens estão recebendo essa mixaria das “empresas” instaladas num  país  que se diz a 8ª ou 9ª, ou, vai lá, a 10ª “economia do mundo civilizado”.

    Mixaria em relação a que? Por que?

    Eu por exemplo gostaria ou poderia receber menos. Óbvio. Desde que o “custo de vida” forjado ( em todos os sentidos) pela “economia do senhor mercado”* ,  fizesse com o os preços fossem menores. Ex.: se com uma unidade monetária consigo comprar um “carrão”, pagar a escola, a moradia, a alimentação, a segurança, o lazer etc, para que mais? Ah sim, para compar “representantes do povo” , bem como “economistas e/ou “juristas”  em busca da “criação” de “instituições sólidas” da “nação brasileira de otários”….

    (*) Mercado: monstro sagrado que vive em algum lugar “civilizado”  do planeta terra cujo endereço só é conhecido pelos economistas de escol e de meia tigela.(*)

    (*) Meia tigela= os escravos faziam o serviço ao agrado do dono, recebiam uma tigela cheia de comida e, aqueles que não faziam, recebiam a tigela pela metade, significando que o trabalho estava mal feito.

    Aliás, por falar em “salário” ( sal) e trabalho ( tripalium) e “pedido de demissão” ( rescisão) indaga-se:

    Onde estão os “trabalhadores do mundo, uni-vos”?

    Onde foram parar os “sindicatos”?

    Ah!  Heureca! ” Tudo que é ( ou era) sólido se desmancha(ou) no ar”….

    Sem mais delongas digo aos jovens:

    Jovens não sejam idiotas! 

    Se o “sal” está salgando o seu “sofrimento” ( tripalium) junte-se em cooperativas e “criem ” o seu “preço” no “mercado” que se diz de “livre iniciativa” com “livre concorrência ( a qual evidentemente, não é “perfeita”). Mudem a “curva da oferta de “força de trabalho” e aumente o preço. 

    Trabalhar  80 horas ou 60 horas  por semana? Sem problemas desde que o resultado e a propriedade privada seja dividida de acordo com o “mérito” , sem “mais valia”, portanto.

    Em suma, trabalho será igual ao capital, dividindo-se todas as tarefas e resultados. E sem “cópia da carta del lavoro facista”!!! kkk 

    Quase todo o resto  é PAPO FURADO. 

     

     

     

     

     

  4. A Fátima é a Ruth amanhã

    Há alguma coisa de falso, alguma coisa de estranho, alguma coisa tacanha, alguma coisa de podre, algo amargo que parece doce: cena de novela. É nova? Não, muito velha. Parece a Fátima Bernardes a vender mortadela aos otários que crêem nela.

  5. Não se aplica aos pobres

    Exatamente, o artigo sobre largar o emprego se dirige a classe média alta e à elite, não ao povão.

    A verdade é a seguinte, a pessoa no Brasil só sobe na vida após ter uma janela de oportunidades, que diga-se de passagem são raríssimas para o povo. Só depois que a janela aparece, a pessoa pode mostrar deu talento, esforço e competência.

    A janela na maioria das vezes é a família de posses que a pessoa nasce;mas pode também ser um período ecoômico ótimo que o país passa, o que se dá muito raramente, já que o país sai de uma crise para entrar em outra.

    Quem tem posse, pode tudo, consegue tudo; dinheiro faz mais dinheiro. a pessoa pode demitir-se e depois dar risada, pode viajar pelomundo, pode estudar fora.

    Na verdade nem precisa de tantas posses assim, basta uma pessoa ter um imóvel no nome dela, qualquer imóvel que dê minimamente para extrair uma atividade comercial, que a poessoa já saiu da miséria e entrou para classe média baixa desde que ela saiba aproveitar a oportunidade.

    Um imóvel que dá para montar uma papelaria na garagem, uma pizzaria, um carrinho de cachorros quentes, uma lojinha de ferragens, uma pensão de aluguéis de quartos. Já é um começo, para conseguir ganhar mais dinheiro e não ter de trabalhar para os outros a troco de migalhas.

    O problema é que um imóvel principalmente se for comercial custa centenas de milhares de reais na maioria dos casos, ou seja é um valor inatingível pelos pobres mortais. O problema é o capital inicial para ultrapassar o primeiro degrau da escada da pirâmida social.

    ————

    Os ricos, herdam comércio dos pais, os pais pagam a faculdade, bancam suas viagens ao exterior, tudo mais. O que um pobre leva duas ou três gerações para conseguir, um rico já nasce conseguindo.

  6. O texto é legal, alguns
    O texto é legal, alguns comentarios também, porém vocês se enganam quando acham que isso de largar tudo e se mudar pra outro pais e coisa de classe média alta.

    Falo com propriedade, não sou exceção caso já estejam pensando isso, mas foi isso o que eu fiz.

    Vim da periferia, estudei, ralei bastante, me planejei, tinha um trabalho muito bom e confortável, porem o fato de o Brasil não ser um país hoje bom de se morar, decidi largar tudo pra morar no exterior, viajar o mundo e ser feliz.

    Não é o fato de ter tido um “paitrocinio” ou um salario alto, muito pelo contrário, o segredo está no planejamento e o quanto você realmente quer e acredita nisso, tive de ralar muito afinal tinha q me bancar sozinho, assim como muitas pessoas que conheci ao longos de 4 anos fora.

    Reconheço que talvez isso ainda assim não é pra todos, mas a grande maioria que ficam apontando e julgando a atitude das pessoas que fazem isso são aquelas que apenas não tem coragem de fazer o mesmo, ficando presas no sistema que o Brasil vive hoje, caro e atrasado.

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