A Lava Jato e o curioso alívio para o governo interino, por Marcos Nobre

Jornal GGN – Em sua coluna no Valor de hoje, o professor da Unicamp Marcos Nobre afirma que, ao contrário do que era relativamente esperado, o governo interino de Michel Temer não teve nenhuma trégua, principalmente da força-tarefa da Operação Lava Jato. Para ele, é perceptível que os vazamentos continuam bem controlados e focados, com o objetivo de atacar qualquer tentativa de “colocar areia na engrenagem da Operação”.

Nobre também considera que o movimento contrário ao impeachment de Dilma Rousseff mostrou-se “aguerrido e eficaz”, fazendo um contraponto ao amplo apoio da mídia ao novo governo e também amplificando a série de “recuos, hesitações e movimentos contraditórios” feitos por Michel Temer.

Entretanto, Marcos Nobre aponta que os vazamentos mirando Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha acabaram dando um alívio ao governo interino. “Faz muita diferença não estar na mira direta da metralhadora”, diz, ressaltando que as denúncias contra o ministro Henrique Eduardo Alves não o tiraram do cargo, ao contrário do que ocorreu com Jucá. Outro ponto de “curioso alívio” para o governo é justamente a confirmação de que a Lava Jato não pode ser obstruída, liberando o governo Temer  “de uma expectativa de proteção que não tinha como cumprir”. Leia mais abaixo:

Do Valor

Caiu a ficha: Lava ­Jato não vai parar
 
Marcos Nobre
 
Era mais ou menos consensual nas análises políticas que, ao assumir, o governo interino teria uma trégua de algo como três meses para dizer a que veio. Não foi o que aconteceu. Antes de qualquer outra coisa, porque o primeiro movimento da Lava­ Jato foi de voltar suas baterias contra o novo governo. Sérgio Machado vazou seus grampos de José Sarney e companhia para conseguir homologar sua delação. Mas não faria isso sem algum tipo de combinação com a turma da Lava ­Jato. Ainda que muita coisa já esteja sob jurisdição do STF, os vazamentos de material tóxico continuam bem controlados e focados: miram qualquer tentativa de estabilização do sistema político que pretenda colocar areia na engrenagem da Operação.
 
Mesmo que sem a amplitude das manifestações contra o impeachment, o movimento de resistência ao afastamento de Dilma Rousseff não apenas se manteve como se mostrou aguerrido e eficaz. Mais que isso, mostrou que conseguia fazer muito com pouco. Dez pessoas e sete pequenos cartazes no tapete vermelho do Festival de Cinema de Cannes conseguiram resumir centenas de esforços dispersos e deixar o governo interino a descoberto mundo afora. Com isso, conseguiram também fazer um contraponto relevante ao amplo apoio ao novo governo na grande mídia. E amplificaram a série de hesitações, tropeços, recuos e movimentos contraditórios realizados por Michel Temer em seu primeiro mês como interino.

Também o caráter de interinidade acabou pesando mais do que se esperava. Daí que, em um momento de dificuldade e de fragilidade, a interinidade tenha sido reforçada pelo próprio Michel Temer como estratégia de defesa para baixar a bola das expectativas que ele mesmo tinha jogado nas alturas para alcançar o afastamento de Dilma Rousseff. Isso porque não se esperava nem resistência significativa na rua nem risco para valer no Senado. 

Por uma questão de ordem lógica do processo de impeachment e mesmo de proximidade do grupo ligado a Michel Temer, a verdadeira base do governo interino é a Câmara dos Deputados. Nas negociações para a votação da admissibilidade, o grupo em torno de Temer dividiu o governo como se existisse apenas a Câmara. É claro que já era previsível que o Senado não iria aceitar uma balança assim desequilibrada. Era evidente que uma revisão da divisão de cargos e posições previamente acordada seria necessária. Como era previsível que a base na Câmara não iria aceitar a revisão do acordo sem reagir. 

Redação

3 Comentários

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  1. Comentarista terrivelmente

    Comentarista terrivelmente confuso, texto pedregoso, até dificil de ler, não se entende qual é o ponto da tese.

  2. É o texto integral ?

    O artigo parece incompleto. A introdução pelo GGN traz trechos que não constam do texto que vem em seguida.

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