Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A lenda do Banco Central independente, por André Araújo

Por André Araújo

A MIRAGEM DO BANCO CENTRAL INDEPENDENTE – A lenda do banco central independente volta à cena no debate político. 

Ideia acadêmica de manuais de escola de economia, o banco central independente é visto como uma barreira à inflação. Foi nestes termos que ontem, no Jornal das Dez da Globonews o incomparável Carlos Sardenberg se referiu às maravilhas dessa ideia que, segundo ele, será uma das bandeiras de uma gestão Meirelles na economia.

Trata-se de lenda no mundo real porque o Poder Político jamais vai dar a um grupo de burocratas não eleitos, portanto sem legitimidade soberana, o poder sobre a moeda e a prosperidade de um País. Sardenberg deu como exemplo de banco central independente o Federal Reserve americano. Exemplo ruim, porque dois Chairman do Fed foram demitidos sem nenhuma dificuldade pelo Presidente dos EUA quando entraram em choque com o Presidente. Entre o poder máximo da Presidência da República e um burocrata não eleito como ficamos? Sai do cargo o Presidente do País, eleito, e fica o burocrata? Impossível, no mundo real do poder um presidente de banco central não tem base de poder real como o Presidente.

É o embate entre um elefante e uma tartaruga, fica o elefante, muito maior em estatura e força.

Eugene Meyer, milionário que presidia o Fed, nomeado por Herbert Hoover em 16 de setembro de 1930, operava uma política monetária ortodoxa que só aprofundava a recessão que virou Depressão. Roosevelt, eleito em janeiro de 1933, precisava de uma política expansionista do meio circulante, Meyer não aceitava, Roosevelt pediu para ele sair, Meyer renunciou em 10 de março de 1933, cadê a independência heim Sardenberg? Meyer (avô de minha amiga Lally Weynouth, primeira jornalista americana a entrevistar Lula eleito em 2002) tinha mais de 4 anos de mandato “independente”, mas o chefão o demitiu sem cerimônia. Banco Central independente, que lorota, conta outra, é independente só no papel.

Se Roosevelt era voluntarioso, seu último vice, Harry Truman, também era, teve coragem de demitir o lendário General Douglas MacArthur cara a cara durante a Guerra da Coreia por divergências profundas de estratégia militar na China, portanto Truman demitir o Chairman do Fed Thomas McCabe, milionário da Scott Paper, o “rei do papel higiênico”, não seria difícil e Truman o fez, pedindo o cargo, em 31 de março de 1951. McCabe também tinha ainda 4 anos de mandato para completar, mas saiu de fininho sem bater a porta, o motivo era um conflito entre McCabe e o Secretário do Tesouro, John Snyder.

A lógica dos economistas e jornalistas de mercado para o banco central independente é que a independência é essencial para o combate à inflação. Também aí o exemplo do Fed não serve. Os estatutos do Fed exigem do banco duas coisas: ESTABILIDADE MONETÁRIA E PLENO EMPREGO, coisa que aqui o nosso Banco Central jamais cogitou.

“Te dou independência, mas voce tem que assegurar ESTABILIDADE MONETÁRIA E PLENO EMPREGO”. Esse é o preço de uma independência teórica, os daqui querem independência só para trazer a inflação para a meta, é muito pouco, mau negócio para o Brasil. Se Meirelles tentar isso vai enterrar o Governo Temer em cova rasa, mas é so papo furado, isso não passou nem no Congresso do regime militar e não vai passar agora, porque os Sardenbergs insistem tanto nessa fantasia? São ideias que vão e voltam, viajam em círculos, estão sempre à mão para os bem pensantes empinarem.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

20 Comentários

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  1. Poderes paralelos

    Mais um poder paralelo emergindo. O país é mandado por meritocráticos em diversos poderes paralelos e, agora, é a vez do Banco Central. O Presidente será uma figura simbólica, um burocrata que ficará quatro anos cuidando de redes de esgoto, escolas e postos de saúde, enquanto os verdadeiros poderes tomarão conta efetiva do país. Vai ser uma caricatura de Democracia, onde o povo vai escolher quase que um síndico, pois o projeto real de nação já está esquematizado pelos poderes paralelos. É por isso que nos EUA, há mais de 200 anos, brincam entre Democratas e Republicanos, pois é uma gincana ou concurso de máster-chef para saber quem veste a fantasia de boi (Caprichoso e Garantido) nesse jogo que chamam de democracia.

    1. A DIFERENÇA

      A diferença é de que lá os meritocratas têm alguma formação cultural, moral, ética e cívica, ao passo que aqui nossos meritocratas usam underwear comprada nas viagens a Miami durante as férias prêmio.

      Aqui meritocracia é sinônimo de decoreba, e mesmo dentre os meritosos aquele que ousar pensar sozinho é ostilisado.

  2. competência

    Trata-se de lenda no mundo real porque o Poder Político jamais vai dar a um grupo de burocratas não eleitos, portanto sem legitimidade soberana, o poder sobre a moeda e a prosperidade de um País.

    Viu o que fizeram com o MP?

    Não duvide André. O discurso competente está vencendo. Não tarda haverá concurso público para presidente da república.

  3. “Entre o poder máximo da

    “Entre o poder máximo da Presidência da República e um burocrata não eleito como ficamos?”

    Que poder máximo, caro André? Agora, que o cargo de presidente do Executivo foi totalmente zoado pelo golpe?! Não se trata de mito mas de respeito… A mídia nunca mais vai conseguir reverter a banalização das intituições, jamais vai conseguir vender que Temer, Aécio ou qualquer um outro mereça algum tipo de consideração.

    Não podia ter havido o rompimento das instituições… isso tem e terá cada vez mais efeitos deletérios tanto contra os golpeados quanto contra os golpistas. O que se quebrou irreversivelmente, mais do que o respeito à Dilma – legalmente eleita – foram as instituições democráticas. E Simone Tebet, vestindo a carapuça, reclama quando os que defendem o mandato de Dilma chamam de golpistas os que estão detonando essas instituições… Quem sabe um dia Tebet caia na real? Mas aí será tarde demais. Já é tarde demais…

    Pena…

    1. Falo EM TESE , o Presidente

      Falo EM TESE , o Presidente da Republica nos EUA ou no Brasil tem um poder imperial MAS é preciso saber exerce0lo.

      Roosevelt e Truman sabiam, no Brasil Juscelino Kubstchek sabia usar., porisso conseguiu fazer Brasilia durante seu mandato.

      1. Um escritor de verdade

        Um escritor de verdade escreverá um texto decente usando uma caneta bic simples; um escritor medíocre não escreverá nada de bom mesmo que tenha um computador de última geração.  

        Como o passado se repete = após o governo JK, em que o Brasil vislumbrou a possibilidade de ser um grande país, veio o bebum do Jânio e o inepto do Jango pra levar o país a um caos que facilitou a tomada dos poderes pelos Militares. Após um governo Lula, tivemos Dilma, que desconstruiu tudo de bom do governo Lula. 

  4. Monstro do Lago Ness, Globo, Tomate e Fora Dilma!

    Caros debatedores, bom dia.

    Bom dia meu caro André.

     

    Bom, desta vez estou quase que concordando integralmente com vossa excelência, meu caro André.

    De início, concordo que não dá para levar em consideração as teses defendidas pelo precitado jornalista da globo.

    Isso porque as teses que ele defende não são dele.  Ora, ele é empregado, portanto, subordina-se, obritatoriamente, ao poder disciplinar/hieráquico  do patrão.  E o patrão visa lucro. Esse é o foco do patrão em qualquer lugar do planeta terra onde há a relação entre patrão e empregado. Veja que esse é também foco naquele documento: Vá para a PONTE que caiu!

    O  jornalista, no entanto,  está certo, vez que precisa agradar o patrão ( pode derivar para “ao patrão” dependendo se for homem ou mulher com assédio corriqueiro ilegal) e  defender  o seu ganha-pão.

    Apenas uma digressão: só acho “estranho” ( estou sendo irônico) que a concessão pública  do “patrão” ( que não é dele, mas sim, nossa mas  usada por ele)  seja eterna para todo o sempre, inclusive, para além da morte, pois, na vida eterna, amém. 

    Por que acho “estranho”?

    Ora, a comunicação social é CAPÍTULO da ORDEM SOCIAL em nosso PACTO rousseauniano. 

    E a nossa ORDEM SOCIAL  “tem como base o primado do TRABALHO, e como OBJETIVO, o BEM-ESTAR e a JUSTIÇA SOCIAIS.

    Indaga-se:

    Por que um empregado  que atua  diretamente  NA ORDEM SOCIAL ( COMUNICAÇÃO, no caso) que por sua vez, tem como OBJETIVO o BEM-ESTAR e a JUSTIÇA SOCIAIS, pode DEFENDER um  pensamento que   não vem da  macro economia? 

    Noutras palavras, pode existir BEM-ESTAR SOCIAL baseando-se em “teses” que não vieram do WELFARE STATE?

    Minha tese é a de que não é possível a existência de  Banco central independente dentro de nossa ORDEM SOCIAL que visa O BEM ESTAR SOCIAL. Mercado não é solidário. Mercado é individual. Mercado odeia a solidariedade, exceto, a “natural”, aquela que deriva da filantropia barata(pilantropia)  para enganar o miseráveis e que no fundo, serve para  abater no imposto de renda gerando mais dinheiro nos paraísos fiscais!)

    Portanto, há uma flagrante contradição na  tese defendida pelo  empregado jornalista! 

    Banco centrais “independentes e bem-estar social são antagônicos. Mão boba e invisível  do monstro mercado não pode ser mão visível e pesada do Estado. ( Estado, em nosso caso, está mais para estado de necessidade)

    _________________

    Por outro lado, ao contrário do que eu disse(  não é loucura de minha parte), acho que o banco central JÁ É INDEPENDENTE, mesmo dentro do nosso BEM-ESTAR SOCIAL  de meia tigela e golpista!

    Explico.

    A autarquia tem lá sua “independência” administrativa. Não é soberana, mas já é muita coisa.

    Mas,  as “leis” da ditadura  do monstro mercado(*) impõem a independência pragmática dela.  Logo, o BACEN já é, no fundo, independente. 

    Suspeito que nem o conselho monetário, em tese superior, seja, de fato, superior àquela autarquia dominada pelo monstro sagrado.

     

    (*)Mercado: aquele ser que mora em algum lugar,  autoritário,  misterioso cujas mãos são bobas e invisíveis, e que são  usadas por economistas de escol  para explicarem  qualquer coisa  física ou metafísica,  tais como:  sexo, droga, rock roll, meritocracia, religião, espaço sideral, vida além da morte, moeda, inflação fraudulenta, celibato, mistérios do fundo do mar, 7×1,  água em marte, Temer, inteligência alienígena, trensalão,  enigmas das piramides, lavajato, refugiados da síria,   desmatamento,  bomba atômica, inflação do tomate,  triângulo das bermudas, toyotismo, coca-cola, mitocondrias,  bolivarianismo, urso polar, buracos negros, Machado de Assis, I > s, crime conjunto da obra de responsabilidade   fora dilma! vem pra rua! etc). 

    A propósito, alguns economistas defendem a tese de que o “mercado” é o monstro do lago ness. Supeita-se  que o monstro traz consigo a explicação do big bang)

     

    Conclusão:  Em virtude da contradição das premissas não se pode chegar a uma conclusão. 

     

    Brincadeiras a parte, estou concordando com o autor Dr. André.

     

    Saudações 

  5. Banco Central

    A grande questão é que os governos que contraem dívidas enormes são os mesmos que controlam a emissão de moeda e a taxa de juros. É muito poder nas mãos de políticos. Taxas de juros deveriam ser definidas por oferta e procura de moeda, entre poupadores e investidores. Não é, é manipulada por governos que criam bolhas. São os mesmos governos que gastam mais  do que arrecadam. Tem certeza que isto é Capitalismo?????

  6. Caro Mota Araujo, vc comete

    Caro Mota Araujo, vc comete um erro fundamental, ao relacionar moeda com prosperidade. Moeda (estável) é uma condição necessária, mas não suficiente, entenda. Parabéns pela historiografia trazida, mas vc poderia citar exemplos de interferência do executivo dos EUA no FED nos últimos 20 ou 30 anos?

    1. Moeda estavel NÃO é uma

      Moeda estavel NÃO é uma condição necessaria para a prosperidade, é desejavel mas não é necessaria. O Brasil teve na decada de 70 as maiores taxas de crescimento do planeta, em 1973 foi de 11,3% e nesse periodo não tinha moeda estavel.

      O Governo JK produziu grande prosperidade e crescimento e não tinha koeda estavel, aliás o Brasil não teve moeda estavel de 1946 até o Plano Real e nesse meio seculo teve o maior crescimento de PIB do mundo.

      1. É mesmo? Entenda caro Mota

        É mesmo? Entenda caro Mota Araujo, que crescimento é esse que levou o país à bancarrota ao fim desses períodos citados? Analise com um pouco mais de atenção a história econômico desses períodos e como eles terminaram (dou uma dica: descontrole inflacionário, desigualdade social, crescimento negativo do PIB nos anos subsequentes). Espero ter ajudado.

      2. Mas não durou

        Na época de JK e no “milagre” dos militares, o país crescia a taxas altíssimas, mas eram “voos de galinha”: logo depois vinha a crise. O trabalhador festejava enquanto a inflação não comia os seus ganhos. Na era petista, os índices foram bem menos espetaculares (crescimento em torno de 4%) mas diferente dos períodos anteriores, desta vez a melhora no padrão de vida dos trabalhadores foi puxada primariamente pela estabilidade da economia, que permitiu uma grande expansão do crédito e consequente aumento do consumo. É por isso que a atual crise ainda não reverteu os ganhos da era petista: fez cessar as avanços, mas quem subiu ainda consegue manter. Mas se a inflação voltar, aí danou-se, a carruagem volta a ser abóbora e os milhões que passaram à classe C voltam à classe D.

        Essa miragem de que a inflação é necessária a desenvolvimento vem desde o primeiro governo da república, que promoveu o encilhamento, cujos efeitos nefastos ainda se faziam sentir no alvorecer do século 20. Cem anos depois, ainda tem gente acreditando nisso. É a velha máxima: as experiências erradas devem ser repetidas até que deem certo…

  7. Bacen submetido ao poder político, só o da Matriz/EUA

    Em tese, o AA tem toda a razão. Mas isso só vale para a Matriz, os EUA, onde o poder político não abre mão do gerenciamento da economia e da moeda. Aqui, nas Colônias, o BACEN já está praticamente independente do poder político, pois praticamente com total dependencia do poder financeiro (FEBRABAN/BANCOS), a quem em geral é entregue o gerenciamento da moeda/cambio, etc… Agora, o Temer só vai oficializar de direito o que já existe de fato, já que retornamos ao status colonial. Simples….

  8. Banco Central

    Quais são as competências do FED e do BC brasileiro? São instituições iguais ou pelo menos com atribuições semelhantes? Confesso minha ignorância na matéria, mas sei que há vários bancos centrais  regionais nos USA, e que são, na realidade, centrais de bancos, instituições privadas. Numa democracia, todo poder tem que emanar do povo.  Logo, todos os cargos de nomeação devem ser subordinados a um representante eleito. A maior parte da crise em que estamos imersos vem do esquecimento desse dogma: a quem respondem os procuradores da república, os delegados da PF, os membros do Judiciário? Menos grave que a independência do BC seria a independência das penitenciárias, onde vive gente que não pensa em favorecer banqueiros.

    1. O Sistema da Reserva Federal

      O Sistema da Reserva Federal é o equivalente a um Banco Central, tem estrutura um pouco diferente porque existem bancos regionais mas o SISTEMA é uno, integrado e comandado pelo Board do Federal reserve que fica em Washington. Sua atribuições legais são de procurar a estabilidade monetaria e o pleno emprego, algo que nosso BC jamais sonhou fazer.

  9. concordo coma análise do

    concordo coma análise do andré, mas a questão aí me parece clara…

    os eua defendem seus interesses, ,mas influenciam estados como

    os europeus, cuja maioria já entrou nessa de entregar o poder político à banca…

    com o estado de exceção, isto é, com o golpe, tudo é possível agora para

    os golpistas, se não houver reação pelo menos razoável dos democratas…

  10. Se eu tivesse o poder de

    Se eu tivesse o poder de teletransportar pessoas, assim que visse o sandemberg falando essas bobagens eu teletransportaria o saderbeng pra onde você estivesse, André, para que você falasse esses fatos com Roosevelt e Truman e aí ficaria esperando sadenberg, com aquela dicção de voz terrível, ficar catando milho pra te replicar. Acho que ele pediria pra sair [rs] 

  11. No tempo do Sardemberg

    No tempo do Sardemberg comunista-trotskista ele era tão ruim quanto agora.

    Mistura de ignorancia e pretensão sempre foi sua característica.

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