A marca de Maria Silvia, nova presidente do BNDES, por Alberto Caeiro

 
A marca de Maria Silvia
 
por Alberto Caeiro

A nova presidenta do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, fez uma apresentação aos empregados na última segunda-feira.

Maria Silvia é craque no que se propôs a fazer. Na apresentação inicial teve a desenvoltura de uma Fátima Bernardes, recebendo os novos diretores. É verdade que abusou dos chavões, como “crise é oportunidade”, “não sou política, sou técnica”, “gosto de trabalhar sob pressão”, entre outros. Antes de ser um defeito, o uso de chavões é um estilo. Sua simpatia soa forçada para parte do público, porém faz sucesso em ambientes corporativos, do qual o BNDES não escapa de ser, embora com uma composição provavelmente mais plural do que outros lugares por onde sua nova presidenta passou.

É inegável que a iniciativa foi admirável. Especialmente porque ao final foi aberta uma sessão de cerca de dez perguntas – vindas da plateia ou enviadas com antecedência por correio eletrônico -, em que claramente não houve controle prévio. É óbvio que ninguém vai de peito aberto para um evento desse tipo senão tiver a habilidade de responder sem se preocupar tanto com o que foi perguntado, de usar recursos retóricos para escapar de temas espinhosos.

A primeira pergunta da plateia, por exemplo, destacou que um dos focos mais propalados da nova administração é o das privatizações, que foram sistematicamente derrotadas nas últimas quatro eleições presidenciais e se mostrou um fardo para os candidatos que as apoiaram. Diante disso, o BNDES não estaria arriscando sua imagem? Maria Silvia não teve dúvida em evocar Margaret Thatcher ou em fazer uma pergunta retórica com a atualidade de “é bom que o Estado seja produtor de aço”? 

Desde seu discurso de posse, há no banco um sentimento de que o Brasil nada fez depois de 2002. Maria Silvia já elogiou o plano Real, as privatizações, o governo Collor e até o PROER! Deve-se reconhecer que a franqueza do evento teve uma correspondência na firmeza de suas crenças.

A diferença para a posse é que nesta semana também os empregados do BNDES participaram e estavam preparados. Com perguntas técnicas, conseguiram, por exemplo, fazer com que Maria Silvia reconhecesse que a antecipação de R$ 100 bilhões nos pagamentos aos empréstimos do Tesouro é uma iniciativa que visa tão somente reduzir a dívida pública bruta, que estaria numa “trajetória explosiva”. Mas a presidenta também admitiu que o BNDES não é o principal responsável por isso (são as reservas cambiais), que pode haver problemas com a Lei de Responsabilidade Fiscal e que a iniciativa pode ser revertida ao menos parcialmente se a demanda por investimentos crescer. Embora objetivas, as perguntas foram habilidosamente insistentes. Ao ouvir pela quarta ou quinta vez sobre as iniciativas do “governo interino”, Maria Silvia disse de bate-pronto que não é interina. Em seguida, se emendou dizendo que é sempre interina, que não tem “apego a cargos”, e, novamente, “sou técnica”, mas insistindo: “tenho um mandato”. Evidentemente, o palco era dela e não cabiam réplicas. Isso não é uma crítica, pois a iniciativa foi realmente louvável. Contudo, para muitos, ficou aquele gosto amargo: mandato vindo de onde, com que legitimidade? 

Não é que seus intuitos sejam necessariamente ruins. O problema é que quando não se tem que validar suas ideias e suas convicções nas urnas é mais fácil imaginar que estamos certos, que não há como dar errado. É uma pena que Maria Silvia tenha aceitado um convite em um momento tão inapropriado. O aprendizado de parte a parte (direção política e corpo permanente de técnicos) seria bem mais rico em circunstâncias democráticas.
Redação

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Não sou política, sou

    “Não sou política, sou técnica”. O que significa isso?

    Nada. Típico aforismo de tecnocrata neoliberal,  uma espécie em extinção. Pelo menos naquela parte do Mundo onde buscam todas as suas referências. 

    Interinos nós somos até como seres humanos. Uma interinidade que varia para mais ou menos anos, mas que ao final desembarca na “terra dos pés juntos”, 

    1. Meu caro Costa, não sou fã de

      Meu caro Costa, não sou fã de tipo de tecnocrata neoliberal que a moça representa mas tampouco possa dar como boa a gestão Coutinho com seus campeões nacionais onde  não se provou até hoje o que o Pais ganhou e financiar  compras de

      frigorificos nos EUA o que ao fim salvou a industria americana de carne, nossa maior competidora mundial.  Na verdade recursos do Tesouro brasileiro, quer dizer dinheiro pago pelos contribuintes brasileiros,  repassados ao BNDES ajudaram a salvar a Swift, a Hormel e a Pilgrim´s Pride, industrias que o Tesouro dos EUA não deu um dolar para salvar.

      E o pior é que a empresa beneficiada com esses mega financiamentos está mudando sua sede para Irlanda, nós entramos com o custo da festa e os convidados são da União Europeia, esse é o BNDES dos campeões nacionais do prof.Coutinho.

    2. “”Não sou política, sou

      “”Não sou política, sou técnica”. O que significa isso?”:

      Que ela eh assassina empresarial e vai despedir milhares de pessoas com uma “re estruturacao” de merda, como todo neo lib fez atravez dos anos 80.  Alias, o que me trouxe isso aa tona foi o caso do linchamento do “gerente” que fez isso na China, com seu “encontro com empregados” amigavel e cheio de clichees.

      Ele foi, literalmente, linchado pelos funcionarios que pretendia desempregar.

      Podem esperar:  o BNDES esta pra ser desestruturado do principio ao fim.  Eh golpe neo liberal.  SE fosse so isso, tava otimo.  Nao eh:  quem construiu o que o BNDES eh hoje no mundo foi Lula.

      Eh um ataque direto a Lula e sua heranca aos brasileiros.

    3. Técnica é quem obedece à políticos, q obedece a quem o financia

      Todo político esperto quando fala em nomeação técnica, responde:

      “Sem problemas. Contanto que sejam OS MEUS técnicos”.

      É o caso desta senhora. Político é quem manda no técnico. Técnico pode até aconselhar, mas no final é quem obedece.

      Por exemplo, ela foi do Conselho de Administração da Petrobras no governo FHC e aprovou as trocas de ativos com a Repsol-YPF Argentina em pleno curralito, a compra da Perez Companc na Argentina fazendo as ações da Petrobras cairem 7% no dia do anúncio do negócio, e os contratos das térmicas com a Enron, El Paso, e MPX, todos negócios ruinosos para a Petrobras. 

  2. SOEM OS ALARMES NO BNDES AGORA NESSE MINUTO!

    Ja vi isso tudo antes!

    SOEM OS ALARMES NO BNDES AGORA NESSE MINUTO!

    Ela esta preparando uma despedida em massa de milhares de pessoas.

    1. Ninguém perguntou sobre essa ação civil?

      É claro que iria elogiar as privatizações, fez parte delas! E chegou para apoiar as privatizações do que ficou para trás, faz parte da exigência do PSDB. E Temer, o Corvo, teve que levar de sobrepeso o Serra kkk

  3. Que mandato ela tem? Quem
    Que mandato ela tem? Quem preside o BNDES não sabe nunca por quanto tempo ficará no cargo já que não há mandato.
    O caso dela é de dupla interinidade, a natural do seu cargo e a do homem que a nomeou. Seu equilibrio na cadeira é bem mais precario que o de seus antecessores, não resta dúvida. Quem aposta que daqui a uma semana ela ainda esteja no cargo? Do jeito que vão as coisas nem o Temer tem certeza se ainda estar á presidente semana que vem.

  4. Só falta ser convocada a

    Só falta ser convocada a Elena Landau, de triste memória ( o falecido Hélio Fernandes não a apreciava muito, deu-lhe até um apelido…)  governanta da privatização do governo dademotucanagem.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador