A mudança de rota na política econômica com as possíveis nomeações

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A indicação dos ministros da área econômica já divide opiniões. Levy representa uma mudança de rota do governo, começando um segundo turno com cara nova e direção nova. Antes de anunciar esses nomes, Dilma se viu em uma situação já conhecida, ou seja, a imprensa foi avisada antes do pronunciamento oficial. Ela não fez o anúncio, e também não deixou claro se são esses os nomes ou não. Leia a matéria do Valor, que além do anúncio faz uma análise dos pontos que os novos indicados deverão encarar e os motivos da presidente Dilma para levantar esses nomes. Como diz a matéria, a primeira tarefa de Joaquim Levy no ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central será viabilizar a política fiscal para 2015.

Regis Filho/ValorJoaquim – Levy: indicação para comandar a principal pasta da economia está na raiz da insatisfação de parte do PT

do Valor

Missão de Levy e Barbosa será viabilizar política fiscal em 2015

Por Claudia Safatle, Andrea Jubé e Leandra Peres | De Brasília

Em uma substancial mudança de rota, a presidente Dilma Rousseff anuncia, esta semana, os ministros que vão conduzir a inflexão da política econômica em direção ao reforço do tripé macroeconômico – superávit primário das contas pública, meta de inflação de 4,5% a ser obtida até 2016 e regime de taxas de câmbio flutuantes. A primeira tarefa de Joaquim Levy no ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central será viabilizar a política fiscal para 2015.

Com um rombo nas contas do governo, os novos ministros terão que apresentar um conjunto de medidas para transformar o déficit gradualmente em superávits crescentes. O objetivo é reestabelecer a confiança do governo, apresentar um horizonte de recuperação das contas públicas para estabilizar e reduzir a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto). A tarefa mais imediata do trio será afastar o risco de perda do grau de investimento.

Guido Mantega, ministro da Fazenda, já vinha trabalhando em um pacote de cortes de gastos na área social – com regras mais restritivas de acesso ao seguro desemprego, abono salarial, pensões por morte. Abono e seguro desemprego sozinhos acumulam gastos de cerca de R$ 45 bilhões. Só nessa conta seria possível economizar 0,7% do PIB nos próximos quatro anos. Os investimentos para 2015 também devem ter redução, até porque em todo o começo de governo isso ocorre. Mantega, segundo fontes oficiais, deixará sugestões de “medidas duras”, para deixar claro que se as contas descarrilharam, não foi por iniciativa dele.

Em uma projeção preliminar, seria possível um programa incremental de superávit primário na base de 1 ponto percentual do PIB nos próximos anos. Mas a política econômica do segundo mandato precisa ser mais abrangente do que cortes de gastos para recuperar as condições de crescimento do país. Nesse sentido, precisará uma nova abordagem para a indústria que está em retração há tempos, e mais foco nas exportações.

Na sexta-feira, os nomes de Levy e Barbosa seriam oficializados pela presidente em uma solenidade que foi, inexplicavelmente, adiada. Dilma não teria gostado do vazamento de informações para os jornais, cujos serviços de tempo real publicaram, antes da confirmação oficial, a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, de Nelson Barbosa para o Planejamento e a permanência de Alexandre Tombini na presidência do Banco Central.

O adiamento para esta semana – provavelmente quinta feira – teve, porém, motivos menos triviais. A indicação de Levy para comandar a principal pasta da economia e uma das mais importantes do governo, estaria na raiz da insatisfação de uma facção do PT. Desde 2003 o cargo de ministro da Fazenda é ocupado por nomes vinculados ao Partido dos Trabalhadores – Antônio Palocci e Guido Mantega – e o escolhido para os próximos quatro anos, que foi secretário do Tesouro Nacional nos primeiros anos do governo Lula e é presidente da Bradesco Asset Managment, é um economista de sólida formação neoclássica e em nada se assemelha ao que, para dirigentes petistas, teria sido ditado pelas urnas.

Levy na Fazenda representa o enterro definitivo do que um dia se chamou de “nova matriz macroeconômica”, representada por expansão fiscal, redução dos juros e câmbio desvalorizado de forma artificial e que levou o país à estagnação.

Outra razão, alegada no fim de semana, é que os novos nomes teriam que ser anunciados já com um programa fiscal de curto e médio prazos. O governo quer, também, que a apresentação da equipe ocorra com as mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano aprovadas no Congresso, apagando a meta de superávit que não será atingida. Aos ministros do segundo mandato cabe rearrumar o orçamento de 2015, dando-lhe credibilidade e transparência.

A mera expectativa do anúncio, na sexta feira, provocou uma mudança súbita e positiva nos preços dos ativos (a bolsa de valores subiu, os juros longos despencaram e a taxa de câmbio se valorizou). Levy já foi testado e bem sucedido na gestão rigorosa das contas públicas tanto da União quanto do Estado do Rio.

Quando o aviso do adiamento chegou às redações, os assessores da presidência já haviam preparado o palco para a apresentação dos novos ministros após o fechamento dos mercados. Uma mesa, dezenas de cadeiras e três microfones estavam arrumados no Salão Leste do palácio, localizado no segundo andar.

Ali seriam anunciados também os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), senador Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria CNI) e candidato derrotado ao governo de Pernambuco; e a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) para a Agricultura.

A indicação da presidente de Kátia Abreu para assumir o Ministério da Agricultura ainda enfrenta oposição dos movimentos sociais – setor da sociedade civil que foi decisivo na reeleição de Dilma no segundo turno -, mas tem o aval da cúpula do PT. Em sua página oficial na internet, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não se posiciona formalmente, mas afirma, textualmente, que “diversos setores da sociedade se dizem abismados” com a possibilidade de um “governo do PT abrigá-la num ministério”.

Em contrapartida, a direção petista tem convicção de que a senadora dará sequência à política conduzida por Dilma no primeiro mandato, que implica a modernização do agronegócio, mas, simultaneamente, o fortalecimento da agricultura familiar. “A senadora vai dar continuidade à política agrícola do governo Dilma”, disse ao Valor o presidente do PT, Rui Falcão.

Uma fonte graduada do governo ressaltou que, apesar da oposição dos movimentos sociais, Kátia aproximou-se do governo ao trocar o PSD pelo PMDB em 2013, já com vistas à aliança com o PT no pleito deste ano. Esta fonte afirma que Kátia não se elegeria sem o apoio dos petistas no Tocantins. De fato, foi uma eleição apertada, em que ela venceu o deputado Eduardo Gomes (SD) na disputa ao Senado com menos de 1% de vantagem, equivalente a 6 mil votos. Observa que políticas sociais sensíveis, como reforma agrária e demarcação de terras indígenas não estarão sob a tutela de Kátia, porque atrelam-se a outras pastas: Desenvolvimento Agrário e Justiça, respectivamente. Outro trunfo para o governo é que com a nomeação de Kátia, o PT aumenta a bancada no Senado, com a chegada do primeiro suplente de Kátia, Donizeti Nogueira, filiado ao partido. O Planalto está preocupado com a bancada oposicionista no Senado, que chega com lideranças de peso da oposição, como José Serra (SP) e Tasso Jereissati (CE), ambos do PSDB, reforçando o time de Aécio Neves (PSDB-MG).

A combinação de Nelson Barbosa no Planejamento e Levy na Fazenda – um estruturalista pós keynesiano e o outro oriundo da escola de Chicago – pode ser prenúncio de encrenca no governo, mas ambos podem ser vistos, também, como profissionais complementares. Mantidas as diferenças de personalidade, de formação e de época, seria uma reedição da dupla Mário Henrique Simonsen e João Paulo dos Reis Velloso, no governo Geisel, o primeiro encarregado da estabilidade econômica e o segundo, dos ambiciosos PNDs (Plano Nacional de Desenvolvimento). Levy seria o responsável por uma política fiscal conservadora e austera e a Barbosa caberia alguma dose de ousadia.

Tombini, que surpreendeu ao elevar (no âmbito do Copom) a taxa de juros três dias após o segundo turno – até agora a única medida voltada ao controle da inflação do novo governo – chegou a ser cogitado para assumir a Fazenda. No entanto, disse à presidente Dilma que preferia permanecer na presidência do BC.

Os nomes de Levy, Tombini e Barbosa representam uma importante mudança de rumos da política econômica conduzida até aqui pelo trio Guido Mantega, Arno Augustin e Márcio Holland (secretários do Tesouro e de Política Econômica, respectivamente). Trata-se de uma equipe técnica de alto nível que, com o apoio da presidente, tem condições de montar um programa fiscal responsável para endireitar as contas públicas e preparar o terreno para uma futura redução sustentável da taxa de juros, permitindo que a economia brasileira volte a crescer.

Levy, segundo fontes, pode levar para a secretaria do Tesouro Nacional Tarcísio Godoy, que foi secretário-Adjunto do Tesouro Nacional na gestão de Levy e atualmente é diretor da Bradesco Seguros e Previdência.

Dilma deve escolher nesta semana os nomes para as presidências do Banco do Brasil e do BNDES que vão substituir Aldemir Bendini e Luciano Coutinho. Assessores da presidente informaram ao Valor que ambos não serão reconduzidos aos respectivos cargos no segundo mandato. Paulo Caffarelli, secretário-Executivo do Ministério da Fazenda, e Alexandre Abreu, vice presidente do BB, são cotados para a presidência dos bancos federais. (Colaborou Ribamar Oliveira)

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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  1. o importate é essa travessia

    o importate é essa travessia para a retomada do crescimento…

    mas a preocupação petista é normal dentro das opções que defende.

    mas essa quase imposição dos ministros pela grande mídia e

    pelos derrotados parece um pocuo fora do tempo…

    ou não?

     

  2. Paris é uma festa.

    Só para lembrar,

    o ex-secretário da Fazenda do governador do Rio de Janeiro  Sérgio Cabral, Joaquim Levy fazia parte do alegre bando, conhecidos como “A Turma do Guardanapo”, que pintou em bordou no Ritz Hotel e nos mehores endereços de Paris, sempre acompanhados por Fernando “Delta” Cavendish, em plena CPI do Cachoeira. 

     

  3. “iniciativa é vista como

    “iniciativa é vista como extorsão de confissões, disse o advogado que defende a UTC Construtora, Alberto Zacharias Toron, na última quarta-feira (19) à Conjur. “Quem colaborou foi solto. Quem não colaborou teve a prisão preventiva decretada” (…) a falta de explicação por parte das empreiteiras sobre os pagamentos no valor total de R$ 53 milhões para as empresas de Youssef “é um dos principais motivos que levaram o juiz federal Sergio Moro a decretar e, em alguns casos, estender as prisões dos executivos””:

    Oh, agora eu entendi.  Pimp-whore law enforcement!  Ja conheco dos EUA. So tem um problema com ele:  nao da pra saber se esta ou se nao esta acontecendo quando esta acontecendo.  Eh com os resultados da investigacao eh que se ve isso claramente.

    Se for o caso, eles nao tardam:  petistas caem, tucanos voam.

    Mais alarmante ainda:  um juiz nao esta fazendo nem essa investigacao nem qualquer outra, juiz olha pra prova somente.  Mas delegados de merda estao.

  4.  Não entendo nada de

     Não entendo nada de macroeconomia. Mas não era esse o tripé sustentado pelo candidato que perdeu a eleição presideencial?. Se o “mercado” gostou, tenho razão para desconfiar. Terei sido vítima de estelionato eleitoral? E não será por falta de titulação acadêmica! Que m, quero dizer, porcaria. E nada de medidas que restrinjam os vazamentos seletivos da operação lava-jato (melhor seria chama-la de “joga-lama no governo”). Então o juiz Moro pode tudo? Os delegados da PF que conduzem as investigação também? Minha sensação é que se trata de uma espécie de negócio – agradar o mercado de um lado, contemporizar com a “grande mídia” de outro e, os que batalharam pela eleição de Dilma Roussef, que fiquem no “ora, veja”. Os mais pobres, que esperem o “bolo crescer” como décadas atrás prometia o então ministro Delfim Neto! E ponto final. Nem um aceno para os eleitores que acompanham diariamente as tentativas de desestabilização da Presidente eleita. Será que merecemos esse descaso? Tudo bem, não sou tão idiota que não compreenda a gravidade da situação. Mas, por isso mesmo a Presidente (ou seu porta-voz – ela tem um?) deveria vir a público. Já se passou quase um mês desde que foi eleita e nem um pronunciamento diante das mentiras e barbaridades que a opsição vem divulgando. E indicando ministros que, pelo menos a mim, deixam estarrecida.</p>

  5. Estarrecida!

    Não entendo nada de macroeconomia. Mas não era esse o tripé sustentado pelo candidato que perdeu a eleição presideencial?. Se o “mercado” gostou, tenho razão para desconfiar. Terei sido vítima de estelionato eleitoral? E não será por falta de titulação acadêmica! Que m, quero dizer, porcaria. E nada de medidas que restrinjam os vazamentos seletivos da operação lava-jato (melhor seria chama-la de “joga-lama no governo”). Então o juiz Moro pode tudo? Os delegados da PF que conduzem as investigação também? Minha sensação é que se trata de uma espécie de negócio – agradar o mercado de um lado, contemporizar com a “grande mídia” de outro e, os que batalharam pela eleição de Dilma Roussef, que fiquem no “ora, veja”. Os mais pobres, que esperem o “bolo crescer” como décadas atrás prometia o então ministro Delfim Neto! E ponto final. Nem um aceno para os eleitores que acompanham diariamente as tentativas de desestabilização da Presidente eleita. Será que merecemos esse descaso? Tudo bem, não sou tão idiota que não compreenda a gravidade da situação. Mas, por isso mesmo a Presidente (ou seu porta-voz – ela tem um?) deveria vir a público. Já se passou quase um mês desde que foi eleita e nem um pronunciamento diante das mentiras e barbaridades que a opsição vem divulgando. E indicando ministros que, pelo menos a mim, deixam estarrecida.

  6. Equipe que o Aécio bancaria sem medo nenhum

    As nomeações da área econômica são excelentes (na minha opinião), mas são totalmente contrárias a tudo que foi prometido na campanha. E dai? Os petistas do blog que reclamem, para mim está ótimo…

  7. Em cada tópico sobre o Levy Nassif dá uma opiniao diferente…

    Qual é afinal a opiniao dele? Ele nao assina este tópico, mas é do GGN. E entao? 

        1. Anarquista

          não tá dando para entender muita coisa nesse pós eleição..Dilma vacilante, Governo sem Porta Voz, nomes veiculados para cargos completamente deconectados com as ideias vencedoras na eleição, mais distanciamento das bases organizadas, militancia desanimada com os rumos que aparecem, impressão de anomia no Governo etc etc etc..acho que estaamos todos como biruta de aeroporto..

          1. Sou pouco exigente

            Para mim, o mais essencial dessas eleiçoes era nao deixar o pré-sal, que é nossa chance de tirar o pé da lama e de ter recursos para melhorar educaçao e saúde, cair nas maos das multinacionais, e de nao serem assinados os acordos bilateriais leoninos com os EUA e Europa desejados por Marina e Aécio, que têm cláusulas extras às da OMC, nocivas aos interesses nacionais. Isso tendo sido conseguido — ESPERO… — para mim o resto dá para engulir. Se possível uma melhora na comunicaçao do governo e algum combate à mídia seria excelente. Agora acho que nao vai dar para evitar algum nível de ajuste fiscal e de concessoes à direita, o governo está fraco frente a esse congresso que foi eleito e ao judiciário golpista, nao dá para ficar exigindo muito.

            E tem mais, acho infantilidade a gente ficar dizendo “pombas, ajudei nas eleiçoes, nao ajudo mais”. Já fiz isso uma vez (depois da reforma da previdência, quando jurei que nunca mais votaria no PT). Claro que votei, nao há outra alternativa, e valeu a pena. Importante é nao perder as conquistas havidas, e, se possível, ter alguma melhoria na saúde e nos transportes. Isso já me contentará. 

          2. Anarquista – Saul Leblon na Carta Maior

             concordo integralmente com o artigo dele..o PT ainda é o caudatário das demandas progressistas,mas a cada eleição ele se distancia mais das fontes dessas demandas..meu voto continuará a ser critico.

             

            Perguntas ao futuro do governo Dilma

            É possível ser governo e colocar a história em banho-maria? E nesse fogo brando, entregar aos centuriões do mercado o comando de setores chaves da economia?

            por: Saul Leblon 

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            É possível ser governo e colocar a história em banho-maria?

            E nesse fogo brando, entregar aos centuriões do mercado o comando de setores chaves da economia, sem perder o poder da iniciativa política na sociedade?

            É possível  trazer os conflitos  de classes para dentro da equipe de governo, entregando ao dinheiro organizado  a cogestão do mandato, e ainda assim avançar para construir uma hegemonia que dê ao campo progressista a  capacidade de, no passo seguinte, inverter a sensação atual?

            A de que vencemos, mas  não levamos.

            É possível contemplar os protagonistas do terceiro turno em curso, outorgando-lhes fatias do Estado que não conquistaram nas urnas, sem perder o apoio mobilizado daqueles que há 12 anos sustentaram a aposta no projeto oposto, renovada por mais quatro em outubro de 2014?

            É possível fazer tudo isso sem transformar o segundo mandato de Dilma em um frango desossado da Sadia, destrinchado e servido em pedaços inversamente proporcionais à métrica das urnas?

            Elucubrações fervilhavam nos círculos progressistas neste fim de semana marcado pela sinalização –ainda não oficial—dos nomes que integrarão o núcleo duro do governo Dilma na área da economia.

            A ver para crer, o pelotão será encabeçado pelo centurião do arrocho fiscal, Joaquim-Mãos-de-Tesoura-Levy. O cetro lhe foi   merecidamente atribuído no 1º governo Lula, cujo início ortodoxo agora se aconselha a Dilma em resposta ao cerco conservador, semelhante, em certos aspectos, ao terceiro turno armado em 2003.

            Coube então ao mesmo Levy, no comando da Secretaria do Tesouro, ao lado de Antônio Palocci, na Fazenda, adotar o receituário de arrocho fiscal e juros altos para combater a inflação, quebrar o descontrole da dívida pública e resgatar a confiança dos investidores.

            A travessia funcionou naquele caso.

            E não se pode esquecer que as condições herdadas do ciclo tucano eram acentuadamente piores que as atuais:  a inflação lambia os 13%; a dívida pública transitava acima de 60% do PIB; uma perversa associação entre déficit externo alto e reservas indigentes convidava à fuga de capitais. O dólar bailava nas alturas.
            Levy/Palocci/Meirelles (este importado diretamente do Banco de Boston para o BC de Lula) mostraram logo a que vinham.

            A Selic foi esticada a 26% ao ano (hoje é de 11,5% e já paralisa o país); o superávit primário foi fixado em 4,25% do PIB ( este ano, descontados os investimentos do PAC e desonerações, será próximo a zero).

            A tesoura nos gastos foi inclemente, com um  porém.

            A área social  foi poupada: o investimento neste caso aumentou  o equivalente a  0,58% do PIB entre 2003 a 2006.

            O Bolsa Família deu um piso à pobreza extrema.

            Mas  foi sobretudo o aumento do salário mínimo, de 40% no período,  que funcionou como contrapeso ao arrocho, beneficiando milhões de famílias e aposentados.

            A inércia do desastre tucano e o aperto econômico provocaram uma redução de 12,6% do rendimento médio real do trabalhador no primeiro ano do primeiro governo Lula.

            A taxa média de desemprego nas cinco regiões metropolitanas subiu de 11,7% para 12,3%.

            Em 2004, o PIB  retomou um ritmo forte de crescimento (4,9%), e a taxa de desemprego caiu  para 11,5%. Não o suficiente, ainda, para reverter a ladeira do rendimento real dos assalariados, que recuou mais 0,7%.

            Só em 2005 ele cresceria, de fato, 2%; sem beneficiar, todavia, os trabalhadores com carteira assinada (que tiveram queda de 0,8% na renda real no ano).

            Essa receita politicamente delicada pode ser digerida sem um ônus maior porque uma válvula de escape econômica estava incrustrada em sua moldura estratégica. 
            Essa válvula de escape encontra-se indisponível hoje.

            No primeiro governo Lula, o arrocho interno foi compensado por uma expansão do mercado mundial da ordem de 4,5% ao ano.

            Puxava-o a locomotiva asiática.

            Com crescimento médio de 11% no período, a China sozinha respondia por 40%  do estirão global.

            A forte demanda chinesa por matérias-primas e alimentos resultou na decolagem das cotações mundiais das commodities agrícolas e minerais.

            O Brasil foi beneficiado nas duas pontas.

            Entre 2002 e 2011, as exportações brasileiras quadruplicaram;  a alta dos preços correspondeu a cerca de 65% deste resultado.

            O peso das commodities nos embarques   saltou de 45% para 60%. Mas os produtos manufaturados também ganharam espaço triplicando as vendas para uma América Latina  favorecida  pela mudança nos termos das trocas internacionais.

            O saldo comercial médio do país  entre 2003 e 2007  foi de US$ 38 bilhões (10 vezes maior que o de 2013).

            O conjunto deu ao Brasil a inédita vantagem de superávits  em transações correntes –de 1% a 2% do PIB– contra déficit atual da ordem de 3,5%.

            Portanto, se hoje os nomes se repetem na sinalização de uma estratégia parecida o pano de fundo global é adversamente distinto.

            A estagnação decorrente da implosão da ordem neoliberal, com comércio declinante e a locomotiva chinesa a meio vapor,  subtrai  ao país o espaço acomodatício que a implementação da receita original requisitaria.

            Um atenuante de peso não pode ser minimizado.

            O desarranjo interno atual, repita-se, é incomparavelmente mais brando do que o desmantelo legado pelo ciclo tucano. Isso faz diferença.

             Hoje, a relação dívida pública/PIB encontra-se estabilizada na faixa dos 37% contra 60% em 2002; as reservas passam de US$ 370 bi, dez vezes maiores que o saldo deixado pelos governos do PSDB; a inflação declinante, de 6,4%, está abaixo do teto da meta, sendo a metade dos 12,3% produzidos pelo neoliberalismo tucano.

            Se a equação mais favorável dá a Dilma maior poder de controle sobre os paladinos do arrocho, persiste, todavia, o vácuo estratégico.

            A ausência de dinamismo produtivo –antes favorecido pela expansão mundial–  pode algemar a economia a uma bola de neve de retração de investimento, desemprego  e esgarçamento social.

            Que peça do tabuleiro seria capaz de desarmar essa emboscada fatal?

            Desde logo, fica claro que é preciso ir além do amparo aos mais pobres, de 2003.

            Essa conquista está precificada nos impasses atuais.

            E, deixemos de miragens: os mercados não deflagrarão um novo ciclo expansivo por obra e graça dos acenos de Levy e Tombini.

            A hipótese de que se possa injetar racionalidade ao capitalismo brasileiro com a paradoxal adoção, mesmo parcimoniosa, de sua irracionalidade na gestão econômica, soa otimista.

            O buraco é mais fundo.

            ‘O Brasil não tem mais um empresariado com projeto de desenvolvimento’, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, ainda a mascar o cardápio ministerial que recusa a enviar ao seu sistema digestivo.

            ‘Na Inglaterra, nos anos 20, também foi assim’, diz o economista ecumenicamente reconhecido como referência intelectual no debate do desafio brasileiro. 

            Sem renunciar à serenidade característica, ele estica um fio histórico que vai muito além da fulanização das escolhas ministeriais:

            ‘Nesse vácuo de projeto, o comando da sociedade fica submetido aos impulsos rentistas. É preciso entende-los para não subestimar o seu impacto e o seu alcance’, delineia para cravar o alvo de sua preocupação: o risco de uma deriva brasileira.

            ‘O rentismo age compulsivamente na tentativa de preservar sua riqueza das incertezas intrínsecas ao sistema. A isso corresponde uma forma social. Essa que vivemos. Com as suas consequências políticas, econômicas e humanas. A Inglaterra dos anos 20 viveu um quadro equivalente e entrou em decadência’, adverte o economista.

            E descortina em seguida: ‘ A decadência inglesa foi a grande referência de Keynes; boa parte de sua obra é a busca de uma resposta a isso. O Brasil corre o risco de ingressar em um processo de decadência precoce, assim como precocemente assiste à desindustrialização’, resume.

            A incapacidade de o país estruturar uma alternativa política a essa espiral explica que um mês depois da vitória eleitoral progressista, aguarde-se o anúncio de Joaquim-Mãos-de-Tesoura-Levy para comandar a Fazenda do segundo governo Dilma.

            Não é uma jabuticaba brasileira.

            ‘Assiste-se em todo o mundo a uma regressão da macroeconomia’, arremata Belluzzo citando a insuspeita  avaliação de um dirigente mundial do CityGroup.

            Por regressão macroeconômica entenda-se o fato de que a supremacia financeira, contra a qual Keynes lutou incansavelmente, deixou de figurar como o ‘germe de uma decadência’ curável com antígenos produtivos do próprio sistema.
            O rentismo não é uma patologia do capitalismo no século XXI.

            É um desdobramento inerente à dinâmica de um sistema deixado à própria lógica.
            Sem os contrapesos de forças em sentido contrário, o capitalismo quanto mais dá certo, mais dá errado. Nos seus  próprio termos.

            O rentismo é o seu auge para os detentores do capital. E o abismo para a sociedade. 

            Nesse percurso avesso às convergências racionais as crises regurgitam uma desordem constitutiva.

            E assumem invariavelmente a forma de superprodução – “de capital e não de mercadorias”, diria Belluzzo.

            É justamente  a reprodução em metástase do capital fictício, decorrente do desmonte do aparato regulatório do pós-guerra, que levou à captura dos mercados, das elites, da mentalidade de uma parte da classe média e do horizonte empresarial  –bem como de todo o sistema político–  pela lógica rentista.

            A mesma que agora engessa o desenvolvimento brasileiro.

            A ascensão de ‘Joaquim-Mãos-de –Tesoura-Levy’ é a expressão atual desse círculo de ferro.

            Não se espere de Dilma Rousseff  a rendição incondicional a esse arranjo que seus sucos gástricos tiveram enorme dificuldade de processar.

            É um arranjo.

            É visto como provisório.

            Pelos dois lados.

            E a buliçosa busca de um atalho para o impeachment, que desfila solta na praça,  sinaliza  o quão tênue é o endosso do conservadorismo a essa trégua.

            Ilude-se, portanto, quem imagina que um país pode ser colocado no modo de espera sem que seus conflitos estruturais se aprofundem, emparedados pelo estreitamento do horizonte econômico local e global.

            A dificuldade extrema  de injetar racionalidade aos capitais que se comportam, todos, como capital estrangeiro diante da sociedade no século XXI, é o calcanhar de Aquiles do keynesianismo nos dias que correm.

            Leia-se, da esquerda desafiada a gerir o sistema sem dispor, ainda, de meios para transformá-lo.

            Mas é, também, a fonte da vertiginosa transparência política que assumem os impasses do desenvolvimento em nosso tempo.

            Vale dizer, o manto da racionalidade técnica deixa um ‘Joaquim Mãos de Tesoura Levy’ tão exposto quanto o rei nu aos olhos de uma criança.

            A irracionalidade financeira reina  em todo o mudo capitalista.

            No Brasil ela requisita 5,5% do PIB por ano ao pagamento de juros aos rentistas.

            É quase a metade de um orçamento público já insuficiente para expandir a logística social e urbana.

             As portas de saídas ‘técnicas’, portanto, não parecem conduzir a lugar algum exceto ao miolo do labirinto.

            Nele  está sepultada a margem de manobra para harmonizar  a supremacia financeira  e o desenvolvimento com equidade social.

            Fuga para frente a bordo de uma expansão acelerada, que acomode o que é incompatível?

            Tampouco aqui se oferece uma alternativa à estagnação neoliberal.

            Ademais da hegemonia rentista, a receita do pós-guerra enfrenta hoje os limites da equação ambiental.

            Ao contrário do que pontifica o econeoliberalismo de Marina e assemelhados, o que se recomenda é justamente um alargamento da indução política sobre o investimento e a distribuição para reconciliar a qualidade de vida com o imperativo da sobrevivência ecológica.

            Na arrastada definição do ministério de Dilma pulsam, assim, a crueza dos conflitos e a crueza das opções em jogo.
            Antes de personificarem a solução os nomes debulhados ilustram o tamanho e a profundidade dos  impasses.

            Quando a  abundância de capitais se transforma em um poder antagônico à abundância de investimentos requeridos pela sociedade, não há ‘ajuste técnico’ que conduza ao desenvolvimento.

             Não é possível ser governo e colocar a história em banho-maria.

            Mas é possível ser governo e assumir que, para honrar as tarefas que lhe competem, será preciso cogerir o país em coesa sintonia com a sociedade, munida dos meios necessários a esse fim.

            Leia nesta pág. a reportagem sobre a agenda da conferências  nacionais da cidadania programadas para 2015.

            Pode estar aí um pedaço do fio da meada, desde que seja concebido assim e assim respeitado  para valer.

             

             

          3. Nao entendo de Economia o suficiente para ter opiniao sobre isso

            Mas mantenho o que disse antes: se nao perdermos as jóias da coroa e se as conquistas já ganhas forem mantidas, nao peço mais. 

  8. e a direita falando em estelionato eleitroal

    essa bandeira deveria estar com a esquerda que apanhou mais que mala veia para tirar poeira durante a campanha..a se confirmar essas indicações Dilma II se descola de vez dos movimentos sociais e a despolitização do PT se acentua..eu ainda acredito em um possível aceno á esquerda do Governo Dilma..aguardemos.

  9. Como você sou leigo e também não consigo entender os entendidos

     

    Anarquista Lúcida,

    Faço o comentário para você pela sua luta renhida pela informação consequente e consistente que cada vez mais se rareia, uma vez o que espraia são opiniões que aproximam da infantilidade. Acabei de completar 60 anos e a impressão que tenho é que os comentarista são adolescentes chegando na puberdade. Repetem frases feitas e desgastadas e quando se aventuram em deslindar o futuro e até procedendo com base em análises fundamentadas, escolhem conclusões que não guardam nexo com o fato apresentado.

    Relembro a seguir resumidamente os seus comentários que em meu entendimento devem ser elogiados.

    No seu primeiro comentário, enviado segunda-feira, 24/11/2014 às 15:58, você constata a incoerência de Luis Nassif  na forma de tratamento de Joaquim Levy, ora assumindo como boa opção ora como ruim.

    No seu comentário de segunda-feira, 24/11/2014 às 16:12, em resposta ao comentário de Celso Orrico enviado segunda-feira, 24/11/2014 às 16:08, para confirmar o que você dissera sobre a incoerência de Luis Nassif, você utiliza o próprio argumento de Celso Orrico. É posts como “As boas e más notícias sobre os novos Ministros” e “Se Levy tocar, Dilma dança” são incoerentes.

    No terceiro comentário enviado segunda-feira, 24/11/2014 às 18:25, como resposta à réplica de Celso Orrico enviado segunda-feira, 24/11/2014 às 17:48, você faz a avaliação em meu entendimento correta da condução da máquina pública, ao constatar que basta uma ou outra garantia dentro que seu ideário, no seu caso a garantia é o pré-sal, para que um governo lhe agrade.

    Há um grande erro das pessoas em acreditar que cada governo pode fazer uma revolução. As duas mudanças maiores que ocorreram no Brasil nos últimos 30 anos foi a ida da inflação para patamar inferior a 10% ao ano e o esforço de distribuição melhor de oportunidades. A ida da inflação para patamar inferior a 10% foi feita porque agrada a população, mas em compensação arruína o país com o crescimento astronômico da dívida e com a redução do crescimento em razão da necessidade de manter a taxa de juro real mais elevada. E a distribuição melhor de oportunidades tem também seu custo que é refrear um pouco o capitalismo com sua tendência de piora na distribuição quanto maior for o crescimento. E todas essas duas mudanças para serem efetivamente observadas levam anos de esforço continuado. A inflação até que acabou de uma vez, mas as correções de rumo para combater os problemas (Elevação da dívida público, maior composição da dívida em dívida de curto prazo que pressiona bastante a inflação) que acabar com a inflação de uma vez causa levam anos para serem consolidadas.

    Eu incluiria em uma garantia para o meu ideário na eleição da presidenta Dilma Rousseff, a impossibilidade de o PSDB, pelos próximos quatro anos, deseducar a população brasileira com o discurso que esconde o grande prejuízo para o Brasil que foi levar a inflação a patamar inferior a 10% ao ano além de propagandear também deseducando o povo os lemas falsos de campanha como o de que “o partido veio para trazer a ética na política” (O que um partido deve trazer para a política é o comprometimento no cumprimento da lei), “o partido veio para combater o fisiologismo” (O fisiologismo se praticado dentro da lei é da essência da democracia representativa. O fisiologismo não existe na democracia direta que infelizmente tem a desvantagem exatamente por não poder utilizar do fisiologismo, ou seja da negociação, da barganha, do conchavo de ser excludente das minorias), “o povo põe quem faz um bom governo e tira quem faz um mal governo” (Não existe prova científica desta afirmação e se um dia se provar o contrário as pessoas podem ficar contra a democracia que deveria ser defendida pelo realce que dá ao princípio da igualdade), “a inflação é o mais injusto dos impostos porque recai sobre os mais pobres” (O pior que recai sobre os pobres que não possuem poupança para sobreviver é o desemprego). E o pior é que os próceres do PSDB sabem bem que esses lemas são falsos.

    E em seu último comentário, enviado segunda-feira, 24/11/2014 às 20:20, você encerra a discussão apresentando como leiga mas enfatizando que basta que Dilma siga dando os rumos em alguns pontos fundamentais e mantenha as conquistas já alcançadas para você se dar por satisfeita. Como já disse concordo com você.

    Além do que você disse nos seus comentário vou dar dois exemplos do que pior está ocorrendo na fonte de informação que estamos recebendo ou nas conclusões a que estamos sendo levados. E faço a exposição como leigo igual a você em economia. O texto introdutório feito pelo Jornal GGN para esse post “A mudança de rota na política econômica com as possíveis nomeações” de segunda-feira, 24/11/2014 às 12:59, aqui no blog de Luis Nassif é um primor de irrelevância espalhadas numa tentativa de pautar a notícia do Valor Econômico em matéria de Claudia Safatle, Andrea Jubé e Leandra Peres intitulada “Missão de Levy e Barbosa será viabilizar política fiscal em 2015”. Vou então repetir o parágrafo introdutíro do Jornal GGN:

    “A indicação dos ministros da área econômica já divide opiniões. Levy representa uma mudança de rota do governo, começando um segundo turno com cara nova e direção nova. Antes de anunciar esses nomes, Dilma se viu em uma situação já conhecida, ou seja, a imprensa foi avisada antes do pronunciamento oficial. Ela não fez o anúncio, e também não deixou claro se são esses os nomes ou não. Leia a matéria do Valor, que além do anúncio faz uma análise dos pontos que os novos indicados deverão encarar e os motivos da presidente Dilma para levantar esses nomes. Como diz a matéria, a primeira tarefa de Joaquim Levy no ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central será viabilizar a política fiscal para 2015.”

    Trata-se de um parágrafo que na pretensão de fazer uma resenha da notícia do Valor Econômico, perde-se em conjecturas desconectadas e insignificantes. Reproduzo o parágrafo mais uma vez, mas agora separando cada uma notícia.

    “A indicação dos ministros da área econômica já divide opiniões”. Aqui se tem um truísmo insignificante. Que indicação de ministro não divide opiniões?

    “Levy representa uma mudança de rota do governo, começando um segundo turno com cara nova e direção nova”.

    Quer dizer que a vaga promessa de Dilma de fazer mudança vai ser comprida como se observa pela frase mas que também é uma frase que pode ser dita em quase toda situação de mudança de ministério. Vaga como foi a Dilma na campanha, vaga também é a frase da introdução do Jornal GGN. Ainda assim nos dois trechos transcritos pode-se dizer que há se não nexo causal, há pelo menos certo encadeamento.

    Na sequência há um desarrazoado de frases que eu transcrevo a seguir:

    “Antes de anunciar esses nomes, Dilma se viu em uma situação já conhecida, ou seja, a imprensa foi avisada antes do pronunciamento oficial”.

    Na verdade coloquei as frases juntas porque se separadas elas não dizem nada é melhor as apresentar juntas uma vez que juntas elas também não dizem nada e assim se elimina de uma vez a necessidade de as comentar. E para que não reste dúvida sobre o que eu disse transcrevo a seguir as duas frases, mas apresentando-as separadamente. Primeiro se diz:

    “Antes de anunciar esses nomes, Dilma se viu em uma situação já conhecida”.

    Diz é modo de dizer porque ai na frase acima não se diz nada.

    Reproduzindo agora a frase seguinte tem-se:

    “a imprensa foi avisada antes do pronunciamento oficial”

    Não se sabe se se quis dizer o seguinte: “A imprensa sempre é avisada antes do pronunciamento oficial”. Se foi isso é de se perguntar: E dai? É o popular abobrinha. Que não se esgota ai pois há mais pela frente como se pode ver na frase transcrita a seguir:

    “Ela [a Dilma] não fez o anúncio, e também não deixou claro se são esses os nomes ou não”

    A seguir a matéria do Jornal GGN passa a discorrer sobre a notícia publicada no jornal Valor Econômico.

    E outro exemplo que eu queria dar será tirado do post “O primeiro passo, por Janio de Freitas” de domingo, 23/11/2014 às 09:42, contendo a íntegra do artigo “O primeiro passo” de Janio de Freitas publicado no jornal Folha de S. Paulo. Em comentário que enviei segunda-feira, 24/11/2014 às 08:31, para junto do comentário de Nelson Brito enviado domingo, 23/11/2014 às 01:54, junto ao post “As boas e más notícias sobre os novos Ministros” de sábado, 22/11/2014 às 08:58, eu destaquei um trecho do artigo de Janio de Freitas e volto a transcrever o mesmo trecho a seguir:

    “Dilma Rousseff entra no segundo mandato devendo muito para reparar os desempenhos deploráveis do seu governo em três capítulos da desgraça nacional: o problema indígena, sem as demarcações territoriais devidas e com o genocídio em progressão; a questão fundiária em geral, com imensos territórios tomados e explorados; e, ainda e sempre, a reforma agrária, pendente de correções e de avanços. Três assuntos em que o responsável pela Agricultura tem deveres e poderes muito grandes. Três assuntos em que os interesses representados pela senadora Kátia Abreu conflitam, em todos os sentidos desta palavra, com as vítimas e com as obrigações e as dívidas administrativas e sociais do governo Dilma”.

    Aqui há um texto de um bom jornalista. É informativo, é conciso, é preciso e é consistente. Pelo texto se sabe que o PT nesses doze anos de governo fracassou “em três capítulos da desgraça nacional: o problema indígena, sem as demarcações territoriais devidas e com o genocídio em progressão; a questão fundiária em geral, com imensos territórios tomados e explorados; e, ainda e sempre, a reforma agrária, pendente de correções e de avanços”. E pelo texto também se sabe que os três capítulos em que o PT fracassou são “assuntos em que os interesses representados pela senadora Kátia Abreu conflitam, em todos os sentidos desta palavra, com as vítimas e com as obrigações e as dívidas administrativas e sociais do governo Dilma”.

    A conclusão que se pode tirar é que não há como o PT fazer pior. Não acredito que seja possível algum avanço, mas vamos só supor que em uma ou outra coisa Katia Abreu obrigada pelo governo a que se vincula e ao histórico do próprio PMDB, partido ao qual ela está hoje está inscrita, consiga trazer alguma melhora. Se for assim melhor para o Brasil, melhor para o governo da presidenta Dilma e não se pode negar que também será melhor para a Katia Abreu de quem eu não gosto e quem eu considero que representa idéias retrógadas na política brasileira, mas não vejo nenhum mal que ela em um governo do PT consiga fazer alguma melhoria que outros no mesmo lugar dela não conseguiram. Aliás torço para isso.

    O post “O primeiro passo, por Janio de Freitas” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-primeiro-passo-por-janio-de-freitas

    E o post “As boas e más notícias sobre os novos Ministros” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/as-boas-e-mas-noticias-sobre-os-novos-ministros

    “Eu sou eu e minha circunstância”, a frase do filosofo espanhol José Ortega y Gasset, por quem Luis Nassif tem admiração, deveria ser mais levada em consideração quando se analisa o que o PT poderia alcançar e o que já alcançou na política brasileira na condição de um partido minoritário que com muita estratégia conseguiu dominar a política brasileira a ponto de eleger por três eleições sucessivas o presidente em uma república presidencialista.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 25/11/2014

    1. As pessoas falam como se o governo tivesse vara de condao…

      Mas nao tem. Nem tudo o que a gente acha desejável é possível a curto prazo. Foi eleito um congresso ruim, a mídia continua azucrinando, dizem os entendidos que a economia vai mal (tenho a impressao que a coisa nao é tao feia assim, mas nao sou entendida), há tentativas de golpe no ar. E sobretudo nao temos um movimento popular organizado, majoritário na populaçao, que dê respaldo ao governo caso ele queira peitar tudo isso e tomar medidas mais “revolucionárias”. Entao, tem que se avançar aos poucos e com cuidado. Repito: se nao retroagirmos já acho bom. 

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