A música chora, lá se vai Miltinho

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Miltinho, ou Milton Santos de Almeida, faleceu ontem, aos 86 anos, no Rio de Janeiro. Segundo sua filha, Sandra Vergara,  uma parada cardíaca o levou. Miltinho estava internado havia dois meses, em tratamento de problema pulmonar, no Hospital do Amparo, em Rio Comprido, Zona Norte do Rio.

A interpretação que o tornou muito conhecido foi “Mulher de 30”.  Miltinho também fez duetos memoráveis, com Chico Buarque, Elza Soares e Zeca Pagodinho.

O velório será na Capela 3 do Memorial do Carmo, Zona Portuária do Rio, nesta segunda-feira, dia 8. Ele deixa três filhos e cinco netos.

“Mulher de 30” trouxe reconhecimento público para Miltinho. Com ela, recebeu vários prêmios e teve participações nos principais programas de televisão da época.

O sambista Miltinho animou vários carnavais, com marchinhas que fizeram história, como “Nós os carecas”.

Em 1998, ao comemorar seu aniversário de 70 anos, lançou o CD “Miltinho convida”, com participações de vários de seus aprendizes confessos, como João Nogueira, João Bosco, Luiz Melodia, Chico Buarque, e tantos mais.

“Mulata assanhada”, “Palhaçada”, “O conde”, “Laranja madura”, “Volta” e “Menino moça” são outros de seus sucessos, que lhe renderam o apelido de “Rei do Ritmo”. “A vida, a meu ver, como ritmista, é um ritmo. Você tem ritmo para andar, para pega. Se bobear, tropeça e cai”, disse o cantor em entrevista para um documentário “No tempo do Miltinho” (2008), de André Weller. “Eu não sou astro de coisa nenhuma. Sou apenas um mero cantor de samba. O que me honra muito”, definiu-se.

Segundo a filha, Miltinho havia parado de fazer shows há quatro anos, desde que foi diagnosticado com princípio do Mal de Alzheimer.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. Elza Miltinho e Samba 1967 Completo

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=4L8u5mO3ogk%5D

    Elza Soares e Miltinho – Elza, Miltinho e Samba 1967 Full Album HD Biblioteca Da Musica

    1- 0:00 Pot-pourri
    Com que Roupa (Noel Rosa)
    Se Você Jurar (Francisco Alves / Ismael Silva / Nilton Bastos)
    2- 4:31 Pot-pourri
    Beijo na Boca (Augusto Garcez / Cyro de Souza)
    Requebre que Eu Dou um Doce (Dorival Caymmi)
    Tem que Ter Mulata (Túlio Piva)
    3- 7:43 Pot-pourri
    Boogie Woogie na Favela (Denis Brean)
    Bonitão (Marino Pinto / Mário Rossi)
    Eu Quero um Samba (Haroldo Barboso / Janet de Almeida)
    Pourquoi (Essa Nega sem Sandália) (Caco Velho / Jadir de Castro)
    4- 10:59 Se Você Visse (Del Loro / Dino 7 Cordas)
    5- 14:16 Todo Dia é Dia (Benedito Reis / Zuzuca)
    6- 16:17 Pot-pourri
    Enlouqueci (João Sale / Luiz Soberano / Waldomiro Pereira)
    Fica Doido Varrido (Benedicto Lacerda / Frazão)
    Obsessão (Milton de Oliveira / Mirabeau)
    Só Eu Sei (Henrique Almeida / Milton de Oliveira / Nelson Trigueiro)
    É Bom Parar (Rubens Soares)
    Calado Venci (Ataulpho Alves / Herivelto Martins)
    Vai, que Depois Eu Vou (Adolfo Macedo/Ayrton Borges/Zé da Zildo)
    Já Vai? (Duba / Rubens Campos)
    7- 25:56 Mal de Amor (Benil Santos / Raul Sampaio)
    8- 28:12 Antonico (Ismael Silva)
    9- 30:20 Louco de Saudade (Denis Brean)

    Bonus Track
    10- 32:16 Sofri (Ivan Nascimento)
    11- 34:39 Pot-pourri
    Bonde de São Januário (Ataulfo Alves / Wilson Batista)
    Zé Marmita (Brasinha / Luiz Antônio)
    O Trem Atrasou (Arthur Villarinho / Estanislau Silva / Paquito)
    Sapato de Pobre (Jota Júnior / Luiz Antônio)
    12- 37:42 Pam, Pam, Pam (Paulo da Portela)
    13- 40:12 Pode o Mundo se Acabar (Hermínio Bello de Carvalho / Maurício Tapajós)

  2. Miltinho – Um Novo Astro, com o Sexteto Sideral (1960) Completo

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=L5JgCIcOlrQ%5D

    01 – – Ri – 00:00
    02 – – Ideias Erradas – 02:43
    03 – – Teimoso – 06:08
    04 – – Menina Moca – 08:46
    05 – – Ultimatum – 11:33
    06 – – Triste Fim – 14:03
    07 – – Mulher de Trinta – 16:40
    08 – – Fechei a Porta – 19:27
    09 – – Voce so Voce – 21:55
    10 – – Fica Comigo – 23:30
    11 – – Volta – 26:07
    12 – – Eu e o Rio – 28:55

     

  3. Miltinho – Bossa e Balanco (1963) – Full Album

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=NIxlVATDndk%5D

    01 – Só Vou de Balanço – 00:00
    02 – Morro Mas Um Samba Eu Faço – 02:02
    03 – Ninguém – 04:18
    04 – Faça Como Eu – 07:30
    05 – Isso Acontece – 09:52
    06 – Não Falem de Bebop – 12:45
    07 – Depois de Ti – 14:59
    08 – Samba Com Molho – 18:01
    09 – O Amor Chegou – 20:48
    10 – Não Quero Mais Você – 23:37
    11 – Cara de Pau – 26:29
    12 – Samba de Branco – 28:39

  4. Existencialismo e Humanismo

    “A vida é um sopro”… Para alguns um sopro longo, suave, intenso, bonito. Fiquemos com a voz e o ritimo deliciosos de Miltinho. 

  5. Boleros con Miltiño

    Miltinho gravou dez discos de canções brasileiras en español, lançados em toda América Latina, fez sucesso em muitos países e ficou conhecido entre seus fãs latinoamericanos como El Rey del Fraseo; seu nome é grafado Miltiño ou Miltino por esses fãs na rede, use esses nomes para pesquisar.

    Recuerdos (registro num programa de TV latinoamericana)

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=gct99p057-4%5D

    Abrazame

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=x14utWttluI%5D

    Miltiño..Que Quieres Tu de Mi.

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=-KSaTNHa4mw%5D

    Dedo de guante

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=hQ4Y7YVqgM4%5D

    Adios Cinco Letras que Lloran

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=ZEqC7VkHt_g%5D

    En un rincon del alma

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=Ek0AVwXkMNk%5D

    Quien yo quiero, no me quiere

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=0Emvee3-iM4%5D

    Rocio

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=0IofkM_UqSA%5D

    La Banda

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=PrqWD2OtmtE%5D

    1. Obrigado, Edoar!

       

      Muito bom ver e ouvir nosso Miltinho em forma e com toda a sua bossa, apesar da idade…

      Ao final, Miltinho diz: “Só existe um professor nessa vida, que se chama Deus”

      Abraço do luciano

       

       

  6. meu nome é ninguém

     

    MEU NOME É MILTINHO

    This is Djalma Ferreira e Seus Milionarios do Ritmo – Drink (1958)

    Djalma Ferreira (organ, solovox), Ed Lincoln (organ), Araken Peixoto (piston), Miltinho (crooner), Waltel Branco(?) (bass)

    Foi assim
    A lâmpada apagou
    A vista escureceu
    Um beijo então se deu
    E veio a ânsia louca
    Incontida do amor
    E depois
    Daquele beijo então
    Foi tanto querer bem
    Alguém dizendo a alguém
    Meu bem, só meu, meu bem

    Nosso céu onde estrelas cantavam
    De repente ficou mudo
    Foi-se o encanto de tudo
    Quem sou eu, quem é você

    [video:http://youtu.be/S3rNc7UMrU0 width:600 height:450]

    Foi assim
    E só Deus sabe quem
    Deixou de querer bem
    Não somos mais alguém
    O meu nome é ninguém
    E o teu nome também, ninguém

    Miltinho canta na TV Excelsior, Canal 2 do Rio de Janeiro-GB

    Galera da RGE em 1962 e Miltinho, o seu maior cartaz, que vendia centenas de milhares de discos – a pessoa que colocou os nome não tinha muita noção, porque Elza Laranjeira, na verdade, não está nessa foto.

    Award ceremony was held at Teatro Record on 16 February 1963.

    The big night at Teatro Record: Moreira da Silva; Miltinho; Gilda Lopes; Carlos Nobre; Mario Augusto, Moacyr Franco, Helio Ansaldo and Creusa Cunha.

    Imagens da Web

    1. E o meu nome também!

      Meu irmão JNS!

      A morte do Miltinho me deixou muito triste. É como se se quebrasse uma parte da minha infância e adolescência. Sensação estranha…

      Abraço do discípulo, parça e mano,

      luciano

  7. MILTINHO

     

    Voz poderosa, mas esquecida

    “Cara de palhaço/ pinta de palhaço/ roupa de palhaço:/ foi esse o meu amargo fim.” Apesar dos versos autodepreciativos, quem estava cantando, no longínquo ano de 1961, era um dos maiores intérpretes masculinos de nossa história. Falamos de um Brasil que saíra do governo de Juscelino Kubitschek e vivia o exato instante de ascensão-e-queda do presidente aloprado Jânio Quadros, rumo a João Goulart, rumo a uma ditadura civil-militar de pelo menos duas décadas.

    Revista Fórum | Pedro Alexandre Sanches | 14/08/2013 

    Voz poderosa, mas esquecida

    Milton Santos de Almeida fez muito sucesso nos anos 1960, cantou em parceria com Elza Soares e Doris Monteiro e foi artífice de uma música brasileira quente, corpulenta, híbrida de samba e jazz com suingue negro.

    “Estavas roxa por um trouxa pra fazer cartaz/ na tua lista de golpista tem um bobo a mais”, dizia a letra de “Palhaçada”, escrita pelo compositor carioca Luís Antônio (1921-1996), também coronel do Exército e também autor dos clássicos carnavalescos “Sassaricando” (1952, “sassassaricando/ todo mundo leva a vida no arame”), “Lata d’água” (1952, “lata d’água na cabeça/ lá vai Maria) e “Eu bebo sim” (1973, “eu bebo, sim/ estou vivendo/ tem gente que não bebe e está morrendo”).

    Você e eu não nos lembramos muito bem do intérprete de “Palhaçada”, Milton Santos de Almeida, mais conhecido como simplesmente Miltinho, assim mesmo, nesse esquisito diminutivo talvez depreciativo. Nascido no Rio de Janeiro em 1928, ele segue vivo ainda hoje, embora quase nem pareça. O selo conterrâneo Discobertas se encarrega de nos refrescar a memória sobre Miltinho, nas duas caixas de CDs Miltinho – Anos 60, com 12 álbuns originalmente gravados entre 1960 e 1965 (ou seja, dois por ano, no mínimo). “Ele não tem saído mais de casa e a saúde está bem debilitada. Me pediram que não marcasse nada”, responde o dono do Discobertas, Marcelo Fróes, a um pedido de entrevista.

    Por que Miltinho se tornou um segredo, mesmo ainda vivo, mesmo depois de todo o sucesso que teve, mesmo após as explosivas séries de discos em dupla com Elza Soares (três álbuns entre 1967 e 1969) e Doris Monteiro (quatro LPs entre 1970 e 1973)? Elza é elo perdido que atravessa décadas entre inúmeros altos e baixos. Doris, como Miltinho, também segue viva e transformada em pequenino mistério. Os três foram (são) artífices de uma música brasileira quente, corpulenta, híbrida desconcertante de samba com jazz com balanço com suingue negro.

    Particularmente, o vozeirão suave cheio de “sambalanço” de Miltinho imperou nas paradas dos anos 1960 com sucessos alegretristes como “Palhaçada”, “Ri” (1960), “Mulher de 30” (1960), “Poema do adeus” (1961), “Poema das mãos” (1962), “Só vou de mulher” (1962), “Canção da manhã feliz” (1962) e outros sambas quase sempre suingados. “Luminosa manhã/ por que tanta luz?/ dá-me um pouco de céu/ mas não tanto azul”, pedia a “Canção da manhã feliz” (de uma dupla de compositores constante em seu repertório, Haroldo Barbosa e Luiz Reis), indecisa e choramingosa entre o muito e o pouco.

    O ‘bim bom’ e o ‘pim pom’

    Mas por que mesmo o que era sólido pode se desmanchar no ar com tamanha facilidade no seio dessa nossa música popular brasileira? Este texto tem caráter analítico, e não de reportagem, portanto não dará conta de respostas, a não ser as de especulação. Uma resposta possível entre muitas se encontra em outra canção interpretada por Miltinho, mas jamais transformada em sucesso popular.

    O pequenino segredo chama-se “Samba sem pim pom” e foi escrito por Jair Amorim e Evaldo Gouveia, autores de “Alguém como tu” (1952), “Conceição” (1956), “Alguém me disse” (1960), “Brigas” (1961), “Sentimental demais” (1964) e outros temas românticos, de fossa, imortalizados nas vozes de Angela Maria, Cauby Peixoto, Maysa, Altemar Dutra, Jair Rodrigues, Wilson Simonal etc.

    Diz assim o matreiro, mas tristonho “Samba sem pim pom”, gravado por Miltinho em 1963: “Dizem que o samba já mudou/ e em bossa nova se virou/ bobagens ditas por alguém/ pois o samba sendo bom/ todo samba bossa tem./ Chapéu de palha ele já foi/ e agora traje de rigor/ quiseram pôr o ovo em pé/ de sandália ou de gravata/ samba é samba quando é./ Meu sambinha é bom/ sem precisar pim pom”.

    É óbvia a referência a “Bim bom” (1959), uma das pouquíssimas composições de punho próprio de outro dos maiores intérpretes masculinos da história brasileira, João Gilberto. “Bim bom, bim bim bom, bim bom, bim bim bom bim bim:/ é só isso meu baião/ e não tem mais nada, não/ o meu coração pediu assim/ só bim bom, bim bim bom…”, cantava o pai da invenção bossa-novista em seu primeiro LP, Chega de saudade. Miltinho, percebe-se, tentava ser contrarevolucionário ao contrapor “bim bom” com “pim pom”. Você e eu sabemos quem venceu a guerra.

    Deve haver antecedentes mais antigos nas divergências entre os dois cantores. Miltinho foi, a partir de 1946, um dos vocalistas do conjunto Namorados da Lua, ao lado de um dos mais importantes precursores da bossa nova, Lúcio Alves (1927-1993). Em 1948, Miltinho passou a integrar os Anjos do Inferno, com os quais chegaria a atuar ao lado de Carmen Miranda (1909-1955) em Los Angeles. João, por sua vez, se tornaria solista do conjunto vocal Garotos da Lua em 1949.

    Ao longo da década de 1950, Miltinho se tornou crooner da Orquestra Tabajara de Severino Araújo e dos Milionários do Ritmo de Djalma Ferreira, enquanto João gestava subterraneamente, por descaminhos, a voz e a batida de violão que explodiria como bossa nova a partir de 1958.

    O período de Miltinho no grupo dançante de Djalma Ferreira (1913-2004) também acaba de ser documentado pelo selo Discobertas, na caixa de sete CDs Drink no Rio de Janeiro etc. – Anos 50. Ali, o sambalanço virtuoso do futuro intérprete-solo surge episodicamente, em interpretações suaves e seguras de standards norte-americanos como “Love is a Many Splendored Thing” e “Lady Be Good” e brasileiros como “Mulata assanhada”, de Ataulfo Alves, e o apaixonante “Lamento”, de Djalma e Luís Antônio.

    O que estava acontecendo na música nacional daqueles instáveis anos 1950? O canto de peito aberto de ícones como Francisco Alves, Dalva de Oliveira e Nelson Gonçalves cedia lugar, pouco a pouco, à calma e à discrição vocal de Lúcio Alves, Dick Farney, Dolores Duran e outros. A evolução das tecnologias de gravação permitia que os intérpretes não precisassem mais cantar a plenos pulmões, o que João Gilberto, nascido três anos depois de Miltinho, viria a radicalizar com seu sopro de voz.

    O intérprete de “Palhaçada” também se deu conta da guinada do vozeirão para o vozeirinho, mas jamais deixou de ser um híbrido, um cantor sutil que não gostava de abrir mão dos recursos do vozeirão que possuía. Coisa mais ou menos equivalente aconteceria a partir de meados dos anos 1960 com a gaúcha Elis Regina (1945-1982), que viveria e morreria tomada por uma relação de ódio e amor com a herança samba-chic da bossa nova.

    As (não)relações entrecruzadas entre Miltinho e João são inúmeras. Antes de contar com Miltinho entre seus integrantes, os Anjos do Inferno registraram o samba “Brasil pandeiro” (1941), que Carmen Miranda (já estabelecida para sempre nos Estados Unidos) não quisera gravar e que João Gilberto sugeriria aos jovens hippies Novos Baianos resgatarem em 1970: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”, “o tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada”…

    Além de cantar, Miltinho tocou pandeiro nos conjuntos Namorados da Lua e Quatro Ases e Um Coringa (que integrou brevemente em 1952). João foi fazer percussão no violão e desferiu golpes mortais de gênio no samba suburbano e de morro, no romantismo de vozeirão, nos conjuntos vocais.

    O samba ‘elitizado’

    “Samba sem pim pom” se queixa, entre outras coisas, da elitização do samba operada pela bossa nova. Do mesmo álbum (Eu… Miltinho, 1963) consta outra canção significativa, o “Samba do crioulo”, este de autoria de Miguel Gustavo, que cairia em desgraça em 1970 ao compor o tema futebolístico-ufanista “Pra frente, Brasil”. “Crioulo/ roubaram teu samba, disseram que iam te dar parceirada/ te deram foi nada/ e ficou por isso mesmo, ai, ai/ não deu jeito nem de reclamar/ quem que ia acreditar/ moleque da tua cor/ analfabeto de souza/ ia ser compositor?”, cantou Miltinho, defendendo os inventores negros do samba de morro. A bossa nova joãogilbertiana branqueava o samba, não sem o protesto do mulato Miltinho.

    A tensão nacional-internacional era outra encruzilhada onde os cantores se (des)encontravam. Em texto na contracapa do primeiro LP de Miltinho, Um novo astro, um escriba denominado Aor Ribeiro afirmava que o “novo astro” cantava “sem as afetações extranacionais tão comuns aos cantores de sua geração”, mas com “bossa – a velha bossa”. Ficava (sub)entendida a birra com a bossa que se declarava nova.

    Transferido para RCA Victor no ano seguinte, Miltinho desfrutaria de reparo por um outro escriba (não identificado) de contracapas de discos: nosso herói era “cantor dotado de uma voz até certo ponto discreta”, ideal para “ouvintes não só do país, mas também do estrangeiro”.

    A cisma entre a bossa velha nacionalista e a bossa nova internacionalista, entre o samba e o pós-samba, se espalharia pela década de 1960 em discussões daquelas que são acertadas e equivocadas ao mesmo tempo. A bossa norte-americanizava, sim, a música brasileira, mas isso a música não raro jazzificada de Miltinho também fazia, por outras vias. “Não falem de bebop” (1964), de Lúcio Alves, que ele cantaria num disco chamado Bossa & balanço, brincava de ser e de criticar bebop. “Samba de branco tem conta no banco/ tem Cadillac, mordomo e chofer”, protestava a última faixa de Bossa & balanço, “Samba de branco” (de João Roberto Kelly, autor da marchinha carnavalesca “Cabeleira do Zezé”), tentando mais uma vez criticar nosso racismo “cordial”.

    A bossa branca machucou, sim, o samba ao roubá-lo do morro e jogá-lo no colo das elites que se perfumavam de Frank Sinatra. Artistas mestiços como Miltinho seguiram adiante abraçando o samba suburbano, periférico, volta e meia utilizando modos interpretativos que faziam lembrar de Nat King Cole ou de… Frank Sinatra.

    O baiano interiorano João Gilberto sempre pareceu arrependido de ter se tornado o guru de dez entre dez mauricinhos cariocas. Dos anos 1970 em diante, passou a retomar muitos sambas brejeiros do repertório dos conjuntos vocais dos anos 1940 e 1950 – sambas tipo “Adeus, América” (1986), dos Namorados da Lua, que diz: “Não posso mais, que saudade do Brasil, ai, que vontade que eu tenho de voltar/ adeus, América, essa terra é muito boa, mas não posso ficar porque/ o samba mandou me chamar.”

    Outro dessa linhagem é “Eu quero um samba”, que João regravou no mítico álbum branco de 1973: “Eu quero um samba feito só pra mim/ me acabar, me virar, me espalhar/ eu quero a melodia feita assim/ quero sambar, quero sambar, quero sambar porque/ no samba eu sei que vou me acabar, me virar, me espalhar/ a noite inteira até o sol raiar.”

    Composto em 1945 por Haroldo Barbosa com Janet de Almeida, “Eu quero um samba” também foi gravado pelos Namorados da Lua. Miltinho o regravaria solo 12 anos antes de João, em 1961. “Ah, quando o samba acaba/ e eu fico triste então/ vai, melancolia, eu quero alegria/ dentro do meu coração”, cantam, cada um a seu jeito, Miltinho e João, dando de bandeira o que é que importa mesmo lá no fundo dos corações.

    A tristalegria era o tema central de Miltinho quando ele estreou solo com “Ri” (1960), um tema melancólico-circense estirpe de “Palhaçada”, também escrito pelo compositor-coronel Luís Antônio: “Ri/ ai, quanta gente infeliz/ a sorrir, ninguém diz/ leva a vida cantando/ a própria dor negando/ o seu amor calando./ No picadeiro ao léu/ palhaços sem papel/ somos todos nós/ falseando a voz/ e a plateia chora rindo.”

    Nos acomodamentos automáticos que nossos cérebros costumam procurar, Miltinho ficou na gaveta dos antiquados, apesar ou inclusive por causa do vozeirão bem colocado. Enquanto isso, moderna nos pareceu toda uma legião de herdeiros vocais de João: Chico, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Jorge Ben, Erasmo Carlos, Marcos Valle, Raul Seixas, praticamente todo mundo. Os conjuntos vocais caíram em desuso, com a possível exceção do MPB 4, que, na órbita de Chico Buarque, ajudou a popularizar a sigla pela qual nossa música seria abreviada décadas afora.

    Paralelamente a esse pinote histórico, ergueu-se o senso comum de que no Brasil não existiam (não existem) grande intérpretes homens, só mulheres. Dizem isso sobre nós que já tivemos Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Wilson Simonal, Tim Maia e ainda temos João Gilberto e… Miltinho. 

    Esta matéria faz parte da edição 125 da revista Fórum

      

    http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/10/ok-voz-poderosa-mas-esquecida/

  8. Vi, ainda pela manhã (agora

    Vi, ainda pela manhã (agora já não há mais a referência) na Folha ou no Globo, não estou bem certo, que Miltinho teria sido parceiro do Chico na música “Angélica”, feita em hime[video:https://www.youtube.com/watch?v=2njisDw3HmA%5Dagem à Zuzu Angel. Sempre pensei, a creio que estou certo, que o Miltinho dessa parceria é o do MPB-4. Alguém poderia me confirmar se estou correto?

    1. Miltinho do MPB4

       

      A canção “Angélica” foi composta em 1977, por Chico Buarque e Miltinho do MPB4, e faz referência às mulheres que perderam seus filhos durante o período da ditadura. Eles partem do caso da estilista Zuzu Angel, que perdeu seu filho Stuart (militante de esquerda contra o regime militar) de um modo muito cruel: arrastado por quilômetros com a boca amarrada no escapamento de um carro. O corpo do jovem, assim como o de muitos outros jovens, foi lançado ao mar, e Chico não deixou passar em branco a dor das mães que sabiam da morte de seus filhos, mas não podiam enterrá-los, ver a morte de perto e entendê-la, apenas a sentiam:

      – Quem é essa mulher
      Que canta sempre esse estribilho?
      Só queria embalar meu filho
      Que mora na escuridão do mar –

      Zuzu passou a investigar a morte de seu filho e denunciar o que estava acontecendo. Como o pai de Stuart era estadunidense, ela consegue alguns contatos com senadores do país norte-americano e mantinha Chico informado de todas as suas descobertas. Na manhã do dia 14 de Abril de 1976, a estilista vai até a casa dele e deixa com ele documentos e três camisetas com anjinhos para cada filha dele. Nesse mesmo dia, ela morre em um atentado que os militares fizeram parecer um acidente de carro.

      – Quem é essa mulher
      Que canta sempre esse lamento?
      Só queria lembrar o tormento
      Que fez o meu filho suspirar –

      Durante toda a canção, o eu lírico fala sobre o fantasma dos filhos desaparecidos, tanto em vida, quanto em morte. Sua música remete o ouvinte à dor de perder um filho sem saber que o perdeu; às mães que, mesmo sabendo que não verão mais seus filhos, continuam tendo uma ponta de esperança e convivem com isso até o fim.

      – Quem é essa mulher
      Que canta sempre o mesmo arranjo?
      Só queria agasalhar meu anjo
      E deixar seu corpo descansar
      Quem é essa mulher
      Que canta como dobra um sino?
      Queria cantar por meu menino
      Que ele já não pode mais cantar
      Quem é essa mulher
      Que canta sempre esse estribilho?
      Só queria embalar meu filho
      Que mora na escuridão do mar –

      Há uma combinação de letra e melodia, pois, além de denunciar algo triste, possui essa melodia desacelerada, que remete o ouvinte a uma agonia, a uma vida “arrastada”. A música “Angélica” parte do caso Zuzu e chega em todas as mulheres que tiveram essa dor de não poder velar o filho, de ter uma morte sem corpo e esse fardo que as segue, talvez, até hoje.

      FONTE: https://pt-br.facebook.com/BuarqueSe/posts/486337418111585

      [video:http://youtu.be/LO_xoq10gBs width:600 height:450]

  9. Miltinho. Suas músicas e as

    Miltinho. Suas músicas e as primeira namoradas. Hoje em Palmas, Tocantins, voltei ao passado: Ouricuri, PE, Propriá, SE.

  10. 2014 !

    É este ano não está sendo muito bom . Perdemos tanta gente boa na música, nas letras… E Miltinho, um deles. Meus sentimentos a todos os membros da família.

    1. Que maravilha, Jair!

      Muito obrigado por nos ter trazido esse trecho excelente do filme de Mazzaroppi!

      Eu não o conhecia. Conhecia sim, claro, a interpretação de Miltinho, para o Poema do Adeus!

      Abraço do luciano

  11. Um príncipe se vai.

    Tive a sorte e a honra de fazer, como técnico, dois ensaios de um evento em que o Miltinho participou.

    Uma pessoa simples,  simpática, educada e humilde como poucas vezes vi. Fez questão de me cumprimentar, agradecendo e elogiando a qualidade do som.

    Comportamento que só se vê nos realmente grandes.

     

    Muito obrigado, MIltinho, mestre do suíngue sincopado.

    1. Obrigado, amigo Gerson

      Por nos trazer esse depoimento de um artista fidalgo, simples, simpático, educado e humilde.

      No vídeo em que Miltinho canta com Zeca Pagodinho, ao ouvir de Zeca a afirmação de que ele teria sido o professor de todos, rebateu de pronto:

      ” Só existe um professor  nessa vida, que se chama Deus”!!!

      Abraço do luciano

  12. Que perda imensa! Cresci

    Que perda imensa! Cresci ouvindo, cantando e dançando embalada no balanço de Miltinho.

    Sentirei  muitíssimo a sua falta.

    Descanse em paz!

  13. A Hora do Coroa

     

    Do abençoado Jakão, com o Extraordinário Miltinho e a Arrasadora Elza

    Ziriguidun, ziriguidun
    Meu coração num teleco-teco
    Puxe e largue
    Como no futebol
    A onda vai, vai, vai
    E, balança mas não cai

    E o samba continua
    Na base do ziriguidum
    Abre a roda moçada
    Pra entra mais um
    Abre a roda moçada
    Pra entra mais um

    Comandante, se você chorar e vou chorar também – cadê o lenço? Curta, então, esse show fodástico e “apague com um sorriso, toda a tristeza que lhe invade a alma”.

    [video:http://youtu.be/y9a5XmcRbDI width:600 height:450]

    Comandante, você já imaginou a babação monstruosa, se ela, a nossa Elza, tivesse nascido na América?

    PARCIMONIOSO GURU, o texto a seguir, de RAPHAEL VIDIGAL, foi lido por ACIR ANTÃO, no dia 20 de fevereiro de 2011; foi repetido no dia 5 de fevereiro de 2012 e, mais uma vez, foi lido no dia 3 de fevereiro de 2013 na RÁDIO ITATIAIA de BH:

    “Miltinho é a voz do poema das mãos, da lágrima, da menina moça e da mulher de trinta. A voz que conta as estrelas do céu, as fases da lua e as gotas de água do mar. Na voz de Miltinho, o mundo ganha novas medidas, deixando um cheiro de saudade a cada instante.

    Nas minhas mãos a despedida
    Nas tuas mãos a minha vida

    Miltinho divide os sambas com a destreza de quem esculpe uma pedra. Sambando com elegância por entre as notas. Juntando corações numa única batida de frases.

    http://paginadoenock.com.br/wp-content/uploads/2014/01/Miltinho.jpg

    Mulher de trinta (samba-bossa, 1960) – Luís Antônio

    Um dos primeiros sucessos da carreira de Miltinho foi o samba-bossa ‘Mulher de trinta’, que cantou em 1960 depois de passar pelos conjuntos vocais Cancioneiros do Luar, Namorados da Lua e Quatro Ases e um Coringa, como cantor e pandeirista. A música de Luís Antônio era um convite feito para uma mulher que já passou por muitas experiências, com a promessa de que ainda existem trilhas a serem percorridas, quem sabe ao lado do cantor da canção.

    Menina moça (samba-bossa, 1960) – Luís Antônio

    No mesmo ano que cantou ‘Mulher de trinta’, Miltinho lançou outro sucesso de Luís Antônio, com título que era justamente o oposto da outra música. ‘Menina moça’ é um samba-bossa que reflete a beleza ‘mais menina que mulher’ em comparações com a flor, o sol, a lua e o mar. O tempo é o grande tema da música de Luís Antônio.

    Palhaçada (samba, 1961) – Haroldo Barbosa e Luiz Reis

    Miltinho é, sem dúvida, o grande intérprete de ‘Palhaçada’, samba de Luiz Reis e Haroldo Barbosa lançado em 1961. Sua voz anasalada e metálica cai como luva para vestir os trejeitos do homem que compreende as necessidades de sua amada e se submete a vestir-se tal qual o grande artista do circo: ‘cara de palhaço, roupa de palhaço, até o fim’.

    Meu nome é ninguém (samba, 1962) – Haroldo Barbosa e Luiz Reis
    Outra grande canção da parceria Haroldo Barbosa e Luiz Reis gravada por Miltinho foi o samba ‘Meu nome é ninguém’, lançado pelo cantor em 1962. ‘Foi assim, a lâmpada apagou, a vista escureceu, um beijo então se deu’. Os sintomáticos versos iniciais da canção prenunciam o clima romântico e de conquista, mas surpreende por seu gran finale trágico, encerrando o caso sem mais delongas: ‘meu nome é ninguém, e o seu nome também…ninguém’.

    Poema do olhar (samba-canção, 1962) – Evaldo Gouveia e Jair Amorim
    Evaldo Gouveia e Jair Amorim deram a Miltinho uma das mais bonitas músicas de seu repertório. O samba-canção ‘Poema do olhar’, interpretado pelo cantor em 1962, contorna os simbolismos de uma relação baseada na entrega tão imensa que possibilita enxergar a si nos olhos da amada. Até que ela resolve fechar os olhos e não mais receber essa luz.

    Lembranças (samba-canção, 1962) – Raul Sampaio e Benil Santos
    Miltinho se envolve com as ‘Lembranças’ de um triste Raul Sampaio ao entoar a parceria do compositor capixaba com Benil Santos, lançada em 1962. ‘Lembro um olhar, lembro um lugar, teu vulto amado, lembro um sorriso e o paraíso, que tive ao teu lado’.”

    Acir Antão é um grande divulgador da Boa Música Brasileira através das ondas de rádio na capital mineira.

    http://acirantao.blogspot.com.br/

    http://www.esquinamusical.com.br/miltinho-samba/

    http://acirantao.blogspot.com.br/2011/02/hora-do-coroa_20.html

    Com imagens da Internet

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