A questão do câmbio e o problema da política fiscal

Por Rafael Bianchini

Comentário ao post “Parem o avião, que Tombini sumiu

Nassif,

Em geral, o mandato dos Bancos Centrais envolve dois objetivos centrais: estabilidade de preços e estabilidade financeira. Em países emergentes, há duas formas de se atingir o objetivo relativo a preços: âncora cambial (sudeste asiático emergente) ou regime de metas de inflação (Países desenvolvidos, leste europeu, América Latina e alguns países da África). A adoção de âncora cambial depende de equilíbrio orçamentário e equilíbrio ou superávit em transações correntes. Em países cronicamente deficitários, como o Brasil, a âncora cambial é impossível de se manter. Resta-nos adotar o regime de metas ou nada. O problema é que os países que não adotam nem câmbio administrado, nem metas de inflação (p. ex. Argentina, Venezuela e Índia) possuem taxas de inflação de dois dígitos. Então, do ponto de vista pragmático entendo que não existe alternativa para o Brasil: 1. Por sermos um país de orçamento cronicamente deficitário, não é possível fixar o câmbio; 2. Politicamente é inviável convivermos com inflação de dois dígitos. Logo, não há como o país fugir do regime de metas.

Obviamente que, dentro do regime de metas, há nuances. Do ponto de vista da inflação, há os países de inflação baixa (leste europeu, Coreia do Sul, Peru, Colômbia e Chile) e países de inflação mais elevada (Brasil, África do Sul, Turquia, Indonésia, Costa Rica, Uruguai e Rússia). Entendo que a diferença entre os países não está nos bancos centrais, mas nas políticas fiscais e nos arranjos institucionais que dão suporte à indexação. O regime de metas explica porque a inflação brasileira não é de dois dígitos, mas, irmos dos 6,5%-7% para 3-4%, o país tem duas alternativas: choque dos juros, com recessão, desemprego e apreciação excessiva do câmbio, ou equilíbrio orçamentário e reformas legislativas que eliminem a indexação. Como o Banco Central não se dispôs a adotar a primeira alternativa a Fazenda não encampou a segunda, estamos nesta situação de inflação alta, mas controlada e juros reais altos, mas historicamente baixos para o nosso padrão.

Dentro do atual quadro institucional, há trabalho recente de Diretor do Banco Central propondo que, além da inflação, o regime de metas inclua objetivos de estabilidade financeira para refletir melhor o duplo mandato da Autoridade Monetária.

http://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps324.pdf

É importante lembrar que a meta de inflação brasileira não é definida exclusivamente pelo BCB. Ela é determinada pelo Conselho Monetário Nacional, que conta com Ministros da Fazenda e Planejamento. Além das críticas usuais quanto à meta escolhida, há o problema de que o objetivo da meta é a inflação acumulada em 12 meses no mês de Dezembro. Isso faz com que o Banco Central tenha que usar de seus instrumentos para que a inflação feche o ano em no máximo 6,5%. Outros regimes de metas possuem um intervalo de convergência como dois anos à frente. 

Por que se critica muito a Fazenda e bem menos o Banco Central? Se no início do governo Dilma elegeu a Selic real em 2% como prioridade, pois juros altos distorcem câmbio, dívida pública e todo o mercado de crédito, um requisito era o equilíbrio fiscal. Tanto que antes de iniciar a queda dos juros, houve restrição fiscal somada à regulamentação do FUNPRESP. Em uma economia de alta inflação e déficits público e externo crônicos, baixar juros dependeria de política fiscal restritiva.

No início, a estratégia funcionou: partindo de um déficit público de 2,5% do PIB e inflação em torno de 4%, a Selic caiu para pouco mais de 7%. Os agentes econômicos, acostumados com três décadas de juros altos, perderam o norte e era esperado que a economia se paralisasse, pois ninguém sabia se os juros baixos seriam duradouros. Basicamente, é por isso que a economia estagnou em meados de 2012. Era hora de simultaneamente o governo federal insistir na política fiscal restritiva e abrir as concessões. Fundos de pensão, que tinham perdido o almoço grátis da Selic alta, teriam de investir em infraestrutura para sobreviver, um padrão que existe no mundo todo. A taxa Selic mais baixa associada à contenção fiscal levaria a carga de juros baixar de 5% do PIB para 3% do PIB, zerando o déficit público nominal em um horizonte de três a cinco anos. Também era esperado que a inflação subisse e possivelmente estourasse a meta momentaneamente com a queda dos juros. Neste momento, o CMN poderia ajustar a meta para um estouro momentâneo, estabelecendo um horizonte crível de convergência.

Se Dilma não estava disposta a arcar com maior restrição fiscal e inflação fora da meta por um tempo, melhor seria nem atacar a questão dos juros altos, pois houve incompatibilidade de meios e fins. Neste meio tempo, a Fazenda preparou desonerações fiscais temporárias e aleatórias para socorrer setores em crise. O problema é que ninguém investe em algo que leva 5-10 anos para se amortizar com base em algo que é temporário – só recentemente elas se tronaram permanentes, mas ainda assim sem um mínimo de planejamento sobre compensações de arrecadação. Adicionalmente, os preços de combustíveis fósseis e energia elétrica têm sido represados para manter a inflação abaixo de 6,5%, o que tem gerado sucessivos aportes nas elétricas e lucros menores da Petrobrás. Mais que isso, as reformas que vinham ocorrendo em ritmo adequado, pararam. Seguro desemprego já custa quase 1% do PIB em tempos de desemprego baixo e pensões por morte seguem crescendo rapidamente. Bastaria um decreto presidencial (seguro desemprego) e uma medida provisória para estancar esses drenos de recursos. Em vez de estancar as fontes de sangria de recursos (estaríamos com déficit nominal de 2% do PIB, não 3,63% se não houvesse subsídios à energia e se as regras do seguro desemprego e pensão por morte fossem ajustadas), o governo Federal passou a fazer manobras contábeis que só serviram para que o mercado deixasse de lado o indicador dívida líquida do setor público/PIB. Mais que isso, a política fiscal em vários meses tem incorrido em déficits primários, deixado o Banco Central encurralado.

http://www.valor.com.br/brasil/3633804/contas-publicas-tem-pior-resultad…

Até meados de 2013 o Banco Central insistia que a política fiscal estava levemente contracionista. Mas em um dado momento ninguém mais acreditava nisso. A política fiscal foi a grande responsável por inviabilizar a meta de juros baixos, o que foi ressaltado até por um insuspeito defensor do governo Dilma

http://www.valor.com.br/cultura/3595304/questao-ainda-e-fiscal

Sobre as mudanças recentes no compulsório, muita gente esquece, mas o BCB tem duplo mandato, de inflação e estabilidade financeira. O fato de a Selic ter aumentado para impedir que o IPCA seja feche 2014 em mais de 6,5% não impede que medidas sejam tomadas para garantir a estabilidade financeira. O foco foi permitir com que os bancos menores, que não têm estrutura de captação, possam se adequar a Basileia III. Reflexo disso é que na Nota para Imprensa, 2 dos 3 eixos de ação da Circular 3.712 fazem referência a Basileia III

http://www.bcb.gov.br/pt-br/Paginas/bc-faz-ajuste-nas-regras-dos-recolhi…

Como a tabela de compulsórios é progressiva, na prática cerca de 20 bancos depositam compulsórios. Os pequenos não estão sujeitos aos recolhimentos compulsórios, mas sobrevivem fazendo cessão de crédito para os grandes. Grosso modo, quem deposita compulsório é quem compra carteira de crédito. Os grandes podem usar o compulsório para crédito ou para comprar carteiras de crédito dos pequenos. Este é o objetivo da medida. Se isso não fosse feito, provavelmente iria resultar em mais concentração bancária (e mais riscos, pois o sistema já é muito concentrado) em um sistema que não chega a 150 bancos. O efeito sobre a expansão do crédito é secundário.

Em suma, entendo que, apesar de demandar ajustes, o regime de metas é uma realidade que veio para ficar. É falsa a ideia de que temos uma alternativa a ele. E que o grande problema do governo Dilma está na política fiscal, que além de ter aberto rombos com subsídios energéticos e desonerações mal planejadas, tornou a dívida pública pouco transparente, de modo que ninguém sabe ao certo quais riscos o setor público brasileiro está assumindo.

Nota: A dívida indexada à Selic é apenas 15,1% da DMF. A Selic é o piso de remuneração, mas expectativas quanto a inflação e juros futuros é que explicam a diferença entre o rendimento das LFTs (Selicados) x LTNs (pré) e NTNs (indexados a algum índice, em geral de inflação). O custo da dívida pública aumentou quando as expectativas inflacionárias se deterioraram e, como a maior parte da DMF é pré fixada ou indexada a índices de inflação, o custo do Tesouro já tinha aumentado. Ao contrário do início da década de 2000, quando a maioria da dívida pública federal era indexada à Selic, agora não existe esse automatismo alta da Selic / alta do custo da dívida pública. Se as expectativas de inflação estiverem muito deterioradas e dispersas, é possível que uma alta moderada da Selic, ao modular e direcionar essas expectativas, diminua o custo de captação do Tesouro.

Redação

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  1. Hoje em dia tem muito mais

    Hoje em dia tem muito mais economista olhando para apenas um índice da economia e esquecendo todo o resto.

    Se as pessoas pelo menos estivessem olhando para algum índice interessante, mas não, todo mundo está de olho na inflação, o que na verdade deveria ser apenas (na verdade é, mas as pessoas não enxergam desta maneira) um fato econômico decorrente do sistema econômico como um todo, que eu coloco em xeque se nós deveríamos estar mesmo controlando este índice, ou se deveríamos simplesmente aceitar este índice como a economia nos mostre que ele deve ser.

    Ora bolas, existem uma enormidade de coisas mais importantes na economia do que a inflação: o desenvolvimento econômico, primeiramente, o crescimento econômico, que decorre do primeiro, a qualidade dos bens e serviços, a distribuição da renda, a qualidade de vida das pessoas, etc.

    Antigamente os países controlavam, planejavam, almejavam estes grandes objetivos econômicos e aceitavam a inflação obtida como o resultado da busca destes objetivos maiores da economia.

    Atualmente, controlamos a inflação e o resto que vá para o espaço.

    É somente neste contexto que pode aparecer um artigo deste aqui no blog:não existe alternativa para o Brasil, devemos escolher entre o sistema de metas de inflação ou a âncora cambial ou teremos que conviver com inflação de dois dígitos. Aliás, nem escolha temos, visto que é um dado que o Brasil é um país cronicamente deficitário em transações correntes, só nos resta o regime de metas de inflação.

    Primeiramente eu não enxergo que este fato do Brasil ser cronicamente deficitário em transações correntes ser um fato dado da economia. Isto pode ser mudado.

    A segunda coisa é que o Brasil não é nem Argentina, nem Venezuela, nem Índia. A realidade de cada país é diferente, não precisamos nos comparar com os outros e aceitar esta realidade de modo fatalista.

    A terceira é: qual o problema de ter inflação de dois dígitos? Durante todo o século XX nós tivemos inflação de dois dígitos e crescemos como nenhum outro país no mundo ocidental (não estou falando hiperinflação do final do século, estou falando da inflação que tivemos ao longo do século XX como um todo, até a década de 80).

    E quem foi que falou que com âncora cambial ou com metas de inflação são as únicas duas maneiras de não ter inflação de dois dígitos?

    Nós já tivemos, mesmos dentro do regime de metas, inflação de dois dígitos.

    E corre no Brasil a falsa percepção por parte da população que a hiperinflação é um fenômeno que ocorre quando a inflação vai ganhando força, que se o governo não controlar permanentemente a inflação em níveis baixos, mais hora, menos hora, a hiperinflação pode voltar.

    E isto é totalmente falso, independentemente da linha ideológica da escola de economia que a pessoa pertença.

    E não ocorre simplesmente por desleixo do governo em controlar a inflação.

    Aliás, o paradoxo é que um governo que se fixar apenas em controlar a inflação, em um momento de crise econômica, deixando de lado o crescimento da economia, quanto mais ele tente controlá-la, mais a inflação subirá.

    Precisamos virar a página. Do modo como discutimos economia hoje no Brasil, não vamos a lugar algum.

     

     

    1. O déficit em transações

      O déficit em transações correntes é crônico porque temos câmbio sobrevalorizado. O câmbio é sobrevalorizado porque a taxa básica de juros é uma jabuticaba. A taxa básica de juros é uma jabuticaba porque a economia excessivamente indexada cria um piso pra inflação – algo como 3% ao ano. Qualquer choque faz como que a inflação corra o risco de sair do teto da meta. O ideal é que a contenção da inflação combine política fiscal e monetária, pois ambas têm eficácia marginal decrescente. Como a política fiscal é cronicamente deficitária, dependemos de juros mais altos.

       

      E uma inflação de 2 dígitos é incompatível com o nosso arranjo democrático. Só lembrar do final melancólico do governo FHC. É só refletir que o aumento da inflação foi o primeiro fator a minar a popularidade de Dilma. É só pensar que os recordes históricos do índice Gini ocorrem quando a inflação sai do controle. E praticamente todos os países com inflação muito elevada possuem economias disfuncionais. Quando o BCB iniciou o aumento da Selic, houve consentimento tácito da presidenta porque ela sabe que o país não tolera qualquer índice de inflação. 

       

      Há outros indicadores na economia: dívida pública bruta de 58,5% do PIB, déficit em transações correntes em quase 4% do PIB, déficit público em 3,63% do PIB com evidências de que a Fazenda perdeu o controle da situação fiscal, inflação que só não estourou o teto da meta por conta do represamento dos combustíveis e eletricidade, a um custo fiscal alto, crescimento da renda per capita da ordem de 1% ao ano…

      1. Caro Rafael,Tudo o que vc

        Caro Rafael,

        Tudo o que vc disse é verdade, ou pelo menos verossímil.

        No entanto, o que eu estou contestando é que é justamente isto que devemos mudar.

        Primeiro: não vejo problema nenhum do nosso piso da inflação ser de 3% a.a.: nos países desenvolvidos, onde não há tal piso, a inflação veio a zero, há até deflação em alguns países, mesmo com a taxa de juros nominal deles a 0%. É a famosa armadilha da liquidez que preconizou Keynes e que não havia sido observada ainda desde 1929. Ou seja, a lição que ficou é que é desejável um pouco de inflação para dar margem de manobra aos BCs em tempos de crise. Atualmente, nos EUA, o BC teve que apelar para os QEs, pois não tem como baixar mais os juros.

        Agora quanto a política fiscal, déficit público, déficit em transações correntes, tarifas represadas, vai me desculpar mas é tudo efeito da política de metas de inflação.

        O governo represa as tarifas e aumenta o déficit público é para manter a inflação dentro da tal meta. O déficit em transações correntes é porque o governo quer manter a inflação dentro da meta  também e usa a âncora cambial.

        Se deixasse a inflação estourar a meta, ou se simplesmente não houvesse tal meta para a inflação, mas meta de crescimento, plano de desenvolvimento, não haveria represamento de tarifas, por conseguinte não haveria déficit público (por este motivo), não haveria real valorizado, por conseguinte não haveria déficit em transações correntes.

        Ah, mas aí a inflação aumentaria e o índice de Gini iria estourar, você diria, o que é incompatível com o arranjo democrático atual.

        No entanto, é claro que a relação entre causa e efeito não é esta. Não é porque aumenta a inflação que o índice de Gini aumenta.

        O fato é que os momentos históricos de inflação elevada no Brasil depois do plano real foram momentos de grave crise, em que o PIB desabou e a inflação aumentou.

        E o que o governo de então fez? Seguiu todo o receituário descrito acima e elevou a taxa de juros a 45%.

        Com a economia em crise e com juros de 45% é óbvio que não há índice de Gini que resista.

        Não há como dizer que foi a inflação que fez com que o índice de Gini batesse recordes.

        Pelo contrário, isto é apenas mais um capítulo do terrorismo midiático pra manter juros altos, mesmo com a economia patinando, quando na verdade são os próprios juros altos e a economia patinando, estes sim, que pioram a aumentam a pobreza e a desigualdade.

        1. Ah, só pra finalizar: quanto

          Ah, só pra finalizar: quanto ao seu comentário de que todos os países com inflação elevada tem economias disfuncionais, como explicar que em todo o século XX até a década de 80 o Brasil conviveu com inflação alta e crescemos mais do que todos os países ocidentais?

          E hoje temos inflação baixa e não crescemos nada.

          Qual a vantagem?

           

          1. No século XX havia Bretton Woods

            Hoje o mundo é outro. Globalização é fato consumado. Quer participar dela? Tem que seguir as reras do jogo. Então, parece-me irrelevante discutir o arranjo do século XX. Não tem Bretton Woods, não tem mais o que urbanizar e tem democracia de massas. E como não podemos ter câmbio fixo, temos de ter alguma âncora nominal para nossa moeda.

            Armadilha de liquidez também não é um debate relevante para o Brasil, pois aqui o nosso problema é inflação crônica. Também não vejo porque discutir a época que a Selic estava em 45%. Isso é passado. A discussão hoje é se devemos ter uma Selic real de 2% ou 6%, para usar os dois extremos do debate econômico, e qual o índice de inflação que a sociedade aceita conviver. Não tenho problemas em dizer que nesse arranjo da globalização todos os países com inflação muito elevada têm economias disfuncionais. Não estamos mais no século XX. 

          2. Ok Rafael, como você quer,

            Ok Rafael, como você quer, vamos aceitar então o que está dado e encerrar a discussão. Afinal, agora estamos no século XXI.

            Vamos definir quanto queremos de SELIC, quanto queremos de inflação e aceitar as regras do jogo.

            Se vamos crescer ou não, isto é detalhe. Aliás, pode ser até disfuncional.

          3. Não temos esse poder de fogo

            Se a China que é a maior economia mundial não tem como contestar a hegemonia norteamerciana e o arranjo da globalização, não é o Brasil, sétima economia mundial e seis vezes menor que a China, que teria esse poder. Podemos contestar alguns aspectos da globalização no FMI, Banco Mundial, OMC, ONU e até criarmos o Banco dos Brics. Mas em um horizonte de uma geração, a globalização está aí. Nesse meio tempo, resta-nos tirar o melhor proveito do que existe.

            Enquanto a gente perde tempo problematizando o capitalismo patrimonialista da globalização, tem emergente fazendo catching-up e crescendo a 4% ao ano.

          4. Como assim a China não tem

            Como assim a China não tem como contestar a hegemonia norte-americana?

            Na China tem controle de capitais, tem câmbio administrado, tem planejamento econômico.

            A  China usa o capital financeiro mundial, mas nos critérios deles (chineses).

            Não é esta farra que é o Brasil não.

             

          5. POupança

            Um dos motivos para o Brasil ter pouca “poupança” interna é o câmbio valorizado em praticamente todo período do real e juros absurdos. Isso tira mais competitividade do que carga tributária.

             

          6. Inviabilidade de câmbio fixo

            Além do déficit de poupança interna, entendo que a indexação generalizada e muitas vezes imposta por lei são impedimentos absolutos para a adoção do regime de câmbio fixo no Brasil. É neste sentido que digo que ele não é uma alternativa. Citar Estados Unidos também não vale. Brasil está muito longe de chegar perto do poderio norte-americano. Então resta-nos tirar o melhor proveito da globalização.

    2. Além do fato da obsessão

      Além do fato da obsessão pelos índices que parece dominar a todos, uma  administração eficaz e séria da inflação deveria se preocupar com os seguintes aspectos para começo de conversa: i)  Informações claras de quais instrumentos o Bacen detém para controle da inflação; ii) informações claras de que tipo de inflação (oferta, demanda, mixta) estamos vivenciando no momento da atuação do Bacen; iii) Informações claras de que o instrumento escolhido é o melhor para se debelar o tipo de inflação vivenciado; iv) informações claras de quanto tempo é necessário para que uma medida escolhida surta os efeitos debeladores (1 mês ? , 6 meses ?); v) informações claras  que os valores envolvidos nas metas escolhidas não se originam em  motivos políticos ou ideológicos por parte do CMN,  mas sim, são fruto de estudos embasados na realidade econômica que o país vive e que necessita no momento (como se chegou aos valores de hoje?); vi) Informações claras que o cálculo da inflação pelo IBGE possui critérios técnicos irrefutáveis (será que bebidas alcoólicas, cigarro, mensalidade escolar, hortifrutis, derivados de petróleo deveriam ser levados em consideração como é hoje?) . Em suma, sem informações claras ficamos ao sabor dos “achismos” e da maninpulação dos vários setores envolvidos no pensar e no administrar a questão.

       

      1. 1. BC: Selic e, na margem,

        1. BC: Selic e, na margem, medidas macroprudenciais. O efeito da política monetária sobre o crédito depende da orientação que o governo federal dá para os bancos públicos, já que metade do estoque de crédito é de BNDES, BB e CEF. Outros dois canais relevantes são câmbio e expectativas.

        2. A partir de um dado momento, não importa a origem da inflação. Se ela passar de um determinado patamar, vai se perpetuar, pois nossa economia é indexada demais e 6% não é algo confortável. Por isso em determinadas conjunturas o aumento dos juros pode ser justificável, mesmo com demanda desaquecida.

        3, Acredito que o BC é razoavelmente transparente por causa do regime de metas de inflação, mas a política fiscal não. Qual o risco de crédito implicitamente assumido pela União quando os bancos públicos ampliam a oferta de crédito lastreados em capitalizações do Tesouro? Qual o impacto, duração e custos do represamento de tarifas de combustíveis e energia elétrica? Será que realmente representam gasto fiscal menor do que alta dos juros?

        4. As expectativas dos agentes são influenciadas pesadamente pela conjuntura presente. O efeito da política monetária é máximo com 9 meses de defasagens. Não há estimativa dos efeitos inflacionários da política fiscal.

        5. A atual meta de inflação é fruto de inércia. O último embate foi quando o Meirelles quis baixá-la, mas os dois outros ministros (Fazenda e Planejamento) exerceram o poder de veto e mantiveram a meta de 4,5% +/- 2%. A definição da meta de inflação não é uma decisão técnica. É e deve ser política, pois é a sociedade que deve decidir qual o nível de inflação que suporta enfrentar. Entendo sim que há um déficit de representatividade no CMN, que também deveria contar com representantes de trabalhadores, indústrias, serviços, agricultura e bancos. Mas para isso, ele deveria ter competências reduzidas para o que realmente é estratégico.

        6. Os fatores de ponderação do IPCA são definidos com base na Pesquisa de Orçamentos familiares (POF) do próprio IBGE, a melhor estimativa neste sentido. 

        1. Pára.
          Se for pra seguir

          Pára.

          Se for pra seguir realmente o regime de metas de inflação deveríamos, pelo menos, aprender a usa-lo corretamente.

          Primeira coisa é que não deveríamos usar a inflação cheia.

          O que deveria ser utilizado para balizar o regime de metas é o núcleo da inflação, ou seja, inflação menos energia e alimentos.

          Esta história de independente da origem da inflação aumentar a SELIC, ou aumentá-la até quando a demanda não está aquecida é simplesmente errado tecnicamente, mesmo pelos padrões norte-americanos.

          Então, afinal, qual é? Estamos adptando a teoria pra aumentar os juros independente de cenários?

          Isto simplesmente não é pra ser levado a sério.

        2.   

          BC: Selic e, na margem,

            

          BC: Selic e, na margem, medidas macroprudenciais. O efeito da política monetária sobre o crédito depende da orientação que o governo federal dá para os bancos públicos, já que metade do estoque de crédito é de BNDES, BB e CEF. Outros dois canais relevantes são câmbio e expectativas.

          Se existem instrumentos diversos é por que devem existir realidades distintas a serem confrontadas. Quando usar um instrumento e não  outro? Isso precisa ser melhor entendido por todos para melhor corroborarmos ou não as decisões implementadas.

           

          A partir de um dado momento, não importa a origem da inflação. Se ela passar de um determinado patamar, vai se perpetuar, pois nossa economia é indexada demais e 6% não é algo confortável. Por isso em determinadas conjunturas o aumento dos juros pode ser justificável, mesmo com demanda desaquecida.

           

          Discordo. Ser “algo confortável” é vago demais. A questão é:  o que seria “confortável” nesse contexto ? 3% de inflação e 12 % de desemprego também seria confortável para alguém ?.

          Aumentar juros é algo muito custoso para o país; exige ações suportadas por algo mais sólido do que “percepções” de conjuntura.

           

          3, Acredito que o BC é razoavelmente transparente por causa do regime de metas de inflação, mas a política fiscal não. Qual o risco de crédito implicitamente assumido pela União quando os bancos públicos ampliam a oferta de crédito lastreados em capitalizações do Tesouro? Qual o impacto, duração e custos do represamento de tarifas de combustíveis e energia elétrica? Será que realmente representam gasto fiscal menor do que alta dos juros?

          Estamos colocando aqui em discussão a política monetária. Relacioná-la com as fragilidades da política fiscal pode ser até interessante mas não exime de análise possíveis falhas de condução da política monetária.

                    

          As expectativas dos agentes são influenciadas pesadamente pela conjuntura presente. O efeito da política monetária é máximo com 9 meses de defasagens. Não há estimativa dos efeitos inflacionários da política fiscal.

           

          Eram 6 meses quando fizemos aquele curso em Brasília em dez/2007. Lembra? Mudou? Mesmo assim, num horizonte de tempo desses é  impossível administrar e prescrever qualquer coisa.

           

           

          A atual meta de inflação é fruto de inércia. O último embate foi quando o Meirelles quis baixá-la, mas os dois outros ministros (Fazenda e Planejamento) exerceram o poder de veto e mantiveram a meta de 4,5% +/- 2%. A definição da meta de inflação não é uma decisão técnica. É e deve ser política, pois é a sociedade que deve decidir qual o nível de inflação que suporta enfrentar. Entendo sim que há um déficit de representatividade no CMN, que também deveria contar com representantes de trabalhadores, indústrias, serviços, agricultura e bancos. Mas para isso, ele deveria ter competências reduzidas para o que realmente é estratégico.

           

          Discordo. Mesmo decisões em política econômica deveriam partir de um leque de opções discutidas tecnicamente, não vejo empecilho nisso.

           

          Os fatores de ponderação do IPCA são definidos com base na Pesquisa de Orçamentos familiares (POF) do próprio IBGE, a melhor estimativa neste sentido.

           

               O fato de se basear na POF não indica que a pesquisa e a consequente estimativa sejam as “melhores”. Há necessidade de mais informação, e se for o caso, mais discussão.

          1. 1. Medidas macroprudenciais

            1. Medidas macroprudenciais visam principalmente à estabilidade financeira e só atuam sobre inflação na margem. Não se pode usá-las demais sob o risco de sacrificar a estabilidade financeira em detrimento da política de inflação. Elas servem apenas para sintonia fina da política inflacionária. O objetivo de estabilidade financeira é intrinsecamente discricionário, sob risco de criar risco moral.

            2. O “confortável” é pela seguinte razão: inflação de 2 dígitos gera indexação. Indexação torna a eficácia marginal da política monetária muito baixa e, a cada choque, a inflação pula de patamar. Por essa razão, um nível de inflação muito alta é perigoso. O trade-off entre inflação e desemprego só existe no curto-prazo. Uma inflação muito alta não reduz desemprego. Não estamos falando aqui de inflação de 3% e desemprego de 12%, isso é para outra conjuntura. No Brasil, como o desemprego é baixo, o trade-off é: impedir que a inflação adquira um determinado patamar, nem que para isso o desaquecimento econômico limite os dissídios salariais.

            3. A política monetária é indissociável da fiscal e essa é a essência de qualquer modelo macroeconômico. Por esta razão quem defende baixar os juros (Nakano, Bresser, Delfim) defende ajuste fiscal prévio. Se o objetivo colocado politicamente ex-ante era baixar os juros, o máximo que a política monetária poderia fazer é baixar os juros sem com isso comprometer a estabilidade do sistema financeiro (o comando tácito é que a inflação perseguida seria a do teto, não do centro, pois o foco saiu de inflação para queda da Selic; ou seja, a inflação se tornou uma restrição do objetivo de baixar juros). Queda de juros depende de uma política fiscal restritiva e foi nesse contexto que ela começou. Quando todas as evidências foram no sentido de que a política fiscal está sem controle, a política monetária deve ser restritiva, a não ser que, por uma decisão política, o CMN aumente o teto da meta, o que não ocorreu. Meu ponto é bem simples: se Dilma não era capaz de fazer política fiscal restritiva, melhor seria não atacar os juros altos, pois ocorreria o que temos agora: economia parada, política monetária sem nenhuma flexibilidade, pois a inflação está no teto da meta, e Fazenda dando sinais de que perdeu o controle da política fiscal.

            4. Ao longo dos anos 2000s a defasagem da política monetária aumentou. No final de 2007 o efeito ótimo era em 6 meses. Desde 2009, é 9 meses. Isso está nos relatórios de inflação. Dizer que “impossível administrar e prescrever qualquer coisa” é como dizer que não adianta fazer gestão de política macroeconômica, pois todas as variáveis têm efeito defasado, sendo que a política monetária é a mais rápida. Sinceramente, considero sua afirmação niilista. Defasagens devem ser previstas e monitoradas. Sim, elas dificultam as políticas macroeconômicas, mas esta é a vida. Se as defasagens impossibilitassem fazer qualquer coisa, nem adiantaria discutir política monetária ou ter banco central. Melhor seria deixar o mercado definir as taxas de juros conforme oferta e demanda por títulos. Simplesmente sem sentido esta afirmação.

            5. A decisão quanto ao nível de inflação deve ser uma decisão política. Quando vc afirma “o que seria “confortável” nesse contexto ? 3% de inflação e 12 % de desemprego também seria confortável para alguém ?” Eu te respondo: não sei, é a sociedade que tem que decidir o que é mais gave, não burocratas. Por isso questões como nível de inflação, margem de tolerância, horizonte de convergência etc deveriam ser decididas por instâncias democráticas. A população diz querer inflação mais baixa, mas provavelmente não a qualquer custo. Em uma democracia, o BC pode estimar os custos de diferentes alternativas, mas quem tem que decidir o que fazer são instâncias democráticas.

            6. Outros índices são calculados e chegam a algo semelhante. A POF é feita há decadas e tem bastante credibilidade, não é contestada seriamente por ninguém. Pra mim, sua alternativa teria custo enorme, levaria tempo, geraria desconfianças e chegaria no mesmo resultado, trocando 6 por meia dúzia. Não vejo sentido algum. O que poderia ser discutido é se não seria melhor trocar o IPCA pelo INPC, pois este último capta a inflação dos mais pobres, se é melhor usar índice cheio ou núcleo, se poderíamos trocar o ano calendário por algo mais flexível etc. De qualquer forma, na conjuntura atual considero um equívoco enorme querer mudar as regras do regime de metas. Isso deve ser feito quando a inflação estiver na meta. Se for feito agora, gera a impressão de casuísmo e dispersa expectativas.

  2. Debaixo da tecnicidade, muita teologia:

    “1. Por sermos um país de orçamento cronicamente deficitário, não é possível fixar o câmbio; “

    Pergunta minha: de qual déficit o Dr está falando?

    Fora que esta afirmação básica e definitiva precisa de comprovação bem embasada, senão o texto todo tem pé de areia.

    1. Déficit público e em transações correntes

      Quando falo em déficits orçamentários, trato isso como sinônimo de déficit público. Nem quando a economai cresceu a 6% o país conseguiu produzir equilíbrio orçamentário. Não se trata de novidade. Este ponto tem sido muito batido pelo Delfim Netto. Superávit primário não é equilíbrio orçamentário. Falo em déficit nominal mesmo, que é o conceito relevante.

       

      Os déficits externos também são estruturais. Períodos de superávit em transações correntes dependem de condições atípicas. Tivemos isso no final dos anos 90 e início dos anos 90, a custa de estagnação econômica com inflação de mais de 1000% ao ano, e durante metade dos 2000s, por conta de um boom internacional de commodities e um câmbio competitivo após a maxi desvalorização cambial de 2002. Pouco tempo depois de o câmbio se apreciar, voltamos ao nosso padrão, deficitário em transações correntes. O déficit em transações correntes é de quase 4% do PIB, algo insustentável no longo prazo.

      1. Deficit público e inflação

        Se deficit público fosse a força motriz da inflação, o dolar não valeria mais que um tostão furado.

        O déficit público que temos há anos é simplesmente por causa dos juros altíssimos. A dívidida pública se deve basicamente à política monetária.

      2. Deficit público e inflação

        Se deficit público fosse a força motriz da inflação, o dolar não valeria mais que um tostão furado.

        O déficit público que temos há anos é simplesmente por causa dos juros altíssimos. A dívidida pública se deve basicamente à política monetária.

        1. Não somos Estados Unidos

          Não adianta discutir que os Estados Unidos podem ter déficit público sem ter inflação. Eles são a economia mais importante do mundo e emitem a moeda reserva do sistema financeiro internacional. Aqui a questão é outra: o déficit público elevado tem que ser financiado. É só analisar a composição da Dívida Pública: só 15% dela é indexada à Selic. A Selic determina apenas o piso de remuneração. O resto depende da expectativa de inflação.Por essa razão, a Selic caiu de 11 para 7 e a carga de juros caiu apenas na margem. No final, mesmo com a Selic baixa a deterioração de expectativas inflacionárias já estava elevando o custo de captação do Tesouro. Esse automatismo Selic-Dívida Pública acabou no final dos anos 2000s

  3. gostei, s por ser leigo tenho

    gostei, s por ser leigo tenho dificuldades de entender coisas como política fiscal etc e tal e principalmente o motivo dos bancos cobrarm juros tão elevados –  150 por cento em alguns casos -, o que me leva á política.

    então dá vontade de partir pra o humor, se não fosse tragédia – melhor que ser ladrão de banco é ser dono de banco teria dito mencken.

    mas lembro de gramsci e a teoria da  hegemonia – os banqueiros e a fianceirização da economia são hegemônicos – vide casos dos estados unidos onde wall street comandou fraudes e mais fraudes – viram quele filme instant jobs ou coisa ue o valha? governo europeus passaram das mãos dos políiticos para os detentores do capital e financeirização criando désempregos aos milhões.

    é o regime capitalista, estúpido, seria uma frase muito redcionista, claro.

    por que o estados unidos mantém o dólar como moeda universal senão porque tem mísseis que podem cair hoje ou amanhã em nossas cabeças?´´e o inheiro ou míssil que nunca dorme?

    dúvidas, dúvidas.

     

    1. “o motivo dos bancos cobrarm

      “o motivo dos bancos cobrarm juros tão elevados “

      1-Não existe poupança, sem poupança não tem o que se emprestar.

      2-Não existe concorrência no setor.

      3-Não existe garantias legais de fato.

      4-alavancagem do setor financeiro brasileiro é baixo, o quie é positivo em termos de solidez mas oferece juros elevados.

       

      1. Sistema bancário não concorre em taxas de juros

        O argumento de que os juros são altos deve ser relativizado, pois metade do estoque de crédito é direcionado (imobiliário, rural e BNDES), com taxas inferiores ao custo médio de captação do Tesouro. Ou seja, os juros são altos no segmento livre, que é metade do estoque (o cálculo do spread é feito só para o segmento livre).

        Nem todas as operações de crédito do segmento livre apresentam as taxas absurdas que ouvimos falar: basta pensar nos empréstimos consignados e veículos, que apresentam taxas em torno de 1,5% ao mês, o que é alto, mas não tão mais alto que o Tesouro, que capta a mais de 1% ao mês.

        São nos segmentos com  melhores garantias (direcionado, consignado, veículos) que o crédito tem se expandido. Então, o argumento da ausência de garantias vale para rotativo de cartão, cheque especial, CDC etc, modalidades que têm perdido importância relativa por terem juros altos e não contarem com garantias (e eu acrescentaria: por serem ruins, não agregam produtividade na economia e geram comprometimento excessivo de renda). O último relatório de estabilidade financeira do BCB apresenta uma informação (p. 24) relevante: ainda que as famílias estejam com estoque de dívida crescente, o comprometimento da renda com pagamento de dívidas está estável. Por que? Na margem hpa uma troca de modalidades mais caras de crédito pelas mais baratas, com destaque para o crédito imobiliário (que, entretanto, ainda é menos de 10% do PIB)

  4. O Bianchi não vai admitir nunca um dinheiro contra a banca

    Ai era entregar a arma para o bandido.

    Este pessoal dos juros pornográficos são assim mesmo, não largam o osso no mole, mas admito, se eu estivesse nesta mamata faria a mesma coisa.

    Agora é esperar os  barras pesadas, que não tem este papo tautológico conversa mole de economista de butequim.

    Já adianto que são da pesada mesmo, já peguei alguns de frente.

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