A receita dos movimentos sociais para contornar a crise da Petrobras, por J. Carlos de Assis

A receita dos movimentos sociais para contornar a crise da Petrobrás       

J. Carlos de Assis*

Movimentos sociais movidos pelo propósito de defender a Petrobrás de abutres internos e externos estão esquentando os motores para manifestar sua presença nas ruas, o que constitui a única alternativa eficaz para liquidar o golpe em marcha contra o Governo liderado pela mídia golpista a serviço do imperialismo. No Rio, tivemos no dia 24 um evento promovido na ABI por petroleiros com participação de Lula. No dia seguinte, 25, tivemos outro importante evento no Clube de Engenharia, este realizado pelos movimentos sociais.

No dia 4, os metalúrgicos fluminenses do setor naval ameaçados em seus empregos pelos desmandos da Lava Jato inaugurarão nas ruas centrais do Rio a fase de mobilização de massa da Aliança pelo Brasil, preparando manifestação convocada por centrais sindicais e outras entidades para o dia 13, em várias capitais. Por razões óbvias, o Rio será o centro dessa mobilização já que é no Rio que estão a sede da Petrobras e os braços operacionais das grandes empreiteiras ameaçadas de fechamento pela estupidez dos promotores de apostila.

Para o dia 15 a direita prepara sua própria mobilização. Veremos quanta gente ela reúne. Qualquer que seja o placar já sabemos com total segurança que ela não tem um projeto para o Brasil. Seu objetivo é a arruaça. O caos. A desordem. Os bandoleiros pagos que arrastaram ingênuos para bloquear  estradas. O país dos black blocs. Confrontado com isso, nós temos um propósito bem definido: tomar medidas concretas, imediatas, para recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento e, até mesmo, no rumo de uma grande conciliação.

Começamos por fórmulas concretas para a salvação da Petrobrás e da Engenharia Nacional. Deixarei esse último ponto para depois, mas adianto que temos uma proposta de distinção entre empresário e empresa. Isso supõe condenação, depois de amplo direito de defesa, de donos envolvidos com corrupção, porém com manutenção das empresas e dos empregos. Empresa é instrumento, não um fim em si mesmo. Uma faca serve para descascar abacaxi ou para matar uma pessoa. Não é criminosa. Criminoso é quem manipula a faca.

Vivemos um momento de emergência para assegurar à Petrobras condições para manter seu nível atual de atividades e para garantir seu portfólio de investimentos.  Como qualquer grande empresa, ela é um centro de articulação de atividades econômicas e sociais. Não pode parar. Não pode ser bloqueada. Não pode ser impedida de cumprir seu programa de investimentos. Qualquer dessas coisas que aconteça quebra uma cadeia de pagamentos e recebimentos com o mesmo efeito desastroso de uma quebra de um grande banco.

Nossa proposta para a preservação a curto prazo da Petrobras em sua integridade, apresentada depois de discussões com alguns dirigentes de Centrais Sindicais no Clube de Engenharia no evento do dia 25, é a seguinte:

a.       Garantia do Tesouro, através do BNDES, de assegurar os recursos necessários para as necessidades de caixa de curto prazo e para sustentar os programas de investimento em curso da Petrobras (incluindo seu entorno econômico que representa mais de 13% da economia brasileira) tendo em vista o objetivo de evitar perdas na paralisação de obras e investimentos, preservando-se a estrutura do emprego na cadeia do petróleo; onde contratos já foram adiados deve-se reverter o processo. Isso não é nenhuma novidade: foi o que o Governo americano fez com a indústria automobilística do país em 2009; como fez, de forma ainda mais acintosa, com o Citigroup e o Bank America, estatizando temporariamente quase 50% de ações de controle para que não quebrassem;

b.      Comprometimento explícito do Governo com o modelo de operadora única no regime de partilha do Pré-Sal e com a política de conteúdo nacional de equipamentos, sempre tendo em vista a geração e preservação do emprego no Brasil;

c.       Comprometimento do Governo com a defesa da Engenharia Nacional, evitando a ruptura da cadeia de pagamentos e recebimentos por simples suspeitas de irregularidades na operação Lava Jato, colocando como condição fundamental o pagamento das folhas salariais na cadeia do petróleo e do setor público;

d.      Comprometimento do Governo com as políticas de mobilização dos recursos do Pré-sal para educação e saúde públicas.

Essas medidas, que não violam qualquer dispositivo legal – na verdade, reforçam os já existentes -, resolvem os problemas de caixa da Petrobras e preservam sua capacidade de investimento. Há quem tenha a opinião de que, tendo em vista os preços atuais do petróleo, seria melhor mesmo adiar o programa de investimentos da empresa. É um equívoco. O preço do petróleo, estruturalmente, tende a subir. E precisamos da receita futura do petróleo que estiver acima de nossas necessidades para podermos crescer.

*J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Redação

12 Comentários

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  1. Crise da Petrobras

    A garantia do Tesouro já deveria ter sido anunciada, para acalmar os ânimos. E para inverter a situação, poderíamos pensar em AUMENTO da estatização no setor de petróleo.  Então, esses grupos que tentam roubar o patrimônio do povo brasileiro passariam a defender a manutenção do modelo atual, para não perder as tetas conseguidas no governo do PSDB.

  2. Além dessas medidas a

    Além dessas medidas a Petrobras é rica em ativos e pode muito bem se desfazer de parte deles.

    O resto, como diz o texto, é baderna insuflada pela má fé de alguns e Inocência de outros.

    Jogo político que coloca em risco a riqueza do Brasil e as instituições e eleições democráticas é idiotismo.

    1. Tem toda razão, Assis. Má fé

      Tem toda razão, Assis. Má fé que vem de longe, e sabemos de quem, e inocência causada pela manipulação da população que também sabemos de quem.

      Resta descobrir e tomar o caminho de reverter esse quadro. Se não for por meio do governo, que seja pelo próprio povo.

    2.  
      Tomando café no saguão do

       

      Tomando café no saguão do hospital e forçada a assistir globo ou globonews, sei lá, ouvi a Miriam Leitão defender essa mesma venda de ativos para tornar a Petrobrás mais enxuta e mais forte. Só registrando, não sei se é bom ou mau. Convergente, apenas.

      Por enquanto, aguardando com curiosidade a tal separação entre os donos e as empresas, fora do papel, é claro.

       

       

  3. Só agora eu percebo …

    o quanto a direita coxinha e golpista tem medo do Lula. Eles atacam Lula com uma violencia verbal sem limites. O termo mais ameno é “eliminar”. Em outras palavras, querem Lula morto. Simbolicamente estâo tentando matá-lo há mais de 20 anos. E quando  Lula reage, mais eles enloquecem. É assustador a

  4. Santo Deus!

    Corrupção, golpismo? Dos outros? Em que mundo vive esse povo com esses devaneios?

    Pego com a boca na botija, acusa quem o pega no flagrante de fazer aquilo que acabou de fazer…. Lênin puro!

    1. Pior é que a lista de

      Pior é que a lista de propostas foram as mesmas que colocaram a empresa no fundo do poço. Todas elas se mostraram equivocadas.

  5. gostei do fez-se o verbo!

    gostei do fez-se o verbo! contornar para contornar o cabo da boa esperança… que na antiga chave filosófica “voltaire tardio”  era conhecido então, sem o marketing político edulcorado destes tempos escatológicos, por cabo das tormentas.

  6. É, caro Assis, muito bom ver

    É, caro Assis, muito bom ver essa mobilização da esquerda, ou da centro-esquerda. Tanto dos trabalhadores, quanto dos intelectuais elaborando as soluções no papel. Minha dúvida é que tipo de mobilzação da direita vem por aí, nos atos anunciados por eles.

    Coxinhas seguidoras do Bonner sim, playboys seguidores do Lobão, também. Além das senhoras e sessentões saudosos da ditadura militae. Mas isso é pouco, para levar algo adiante.

    Os anarquistas, incluindo aí os black blocs que foram para rua em 2013, são de outra turma. Não sei quem mais, ou quantos cidadãos comuns eles poderão arrigementar. Por enquanto, do meu convívio só quem garantiu presença foi um dentista que se assume nazista, quando toma umas e outras. Mas não sei, não se pode submestimar a direita brasileira, nunca

    1. Juliano, não se deve
      Juliano, não se deve subestimá-los mesmo. Espero estar errada, mas minha percepção sobre o ambiente e temperatura de 13 e 15 de março é a pior possível. Prudência e canja de galinha…

  7. excelente artigo.
    mostra que

    excelente artigo.

    mostra que haverá reação da população a um golpe de estado.

    e não é uma reação porralouca qualquer,

    é de gente que produz as riquezas do país…

    portanto, as ruas para defender os reais interesses do brasil….

  8. Proposta equivocada

    Todas estas propostas foram as mesma que colocaram a empresa no buraco que está. Privatiza logo isso. O Estado deve se manter como poder concedente e recebendo royaties pela exploração e impostos decorrentes disso. 

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