A roleta retórica de Ultra direita, por Frederico Firmo

Na análise da Ultra Direita a luta é também contra a intelectualidade, afinal eles não gostam daqueles brutos que não os aceitam.

Este artigo foi  motivado pelo Xadrez da Ultradireita do Nassif,  versando sobre os ideólogos da Ultradireita,  fontes todos os jargões utilizados pelos twitters e políticos deste espectro.

Estamos de fato num momento histórico onde a retórica e a virtualidade tomaram conta.  Discursos sem nenhum respaldo na realidade se travestem de reflexão através de afirmações e citações. Um análise mais detida de certos textos mostra uma enorme quantidade de argumentações contraditórias, sem base fática, e vários deslizes lógicos. A verborragia travestida de textos acadêmicos, também gera  livros de  auto ajuda ou de receitas,( Como escrever a sua tese em dez dias) e se unem ao oceano de informações da internet onde muitos se afogam. Textos como os de Avellar Coutinho e Olavo são logo absorvido pelos twitters e comentários com poucas palavras e nenhum argumento   se tornam a fonte de novas citações. Seu papel é dar um verniz de aparente reflexão. Eles chegam a dar saudades de Merchior.

O  mundo intelectual e acadêmico se defronta com a  surpresa de ver tantas figuras medíocres com tanta voz e tanto espaço de divulgação e que se travestem de intelectuais e  acadêmicos. Mas a surpresa não deveria ser tão grande pois nos últimos tempos desfilaram muitas sumidades de igual teor, que ganharam seus títulos em academias. Eles sabem citar, têm referências e usam da retórica assim como de  metodologias   consagradas. Nada disto faz seus textos se assentarem na realidade, pois dela pegam apenas excertos que torturam para servirem de argumentação. Eles alimentam também  o ódio à cultura e à reflexão.

Por exemplo, vem da academia os defensores de uma figura mítica chamada Mercado. O Mercado é de fato o grande Cassino de Wall Street, que sintomaticamente pode ser traduzida por,  a rua do Muro. O tal mercado é apenas uma reunião de grupos monopolistas que controlam o que chamam de economia livre. E assim, enquanto as oscilações do preço do petróleo são definidas por meia dúzia de petroleiras, os ideólogos, falam em obedecer as leis do mercado, que dizem ser livre e competitivo. Definitivamente estamos no mundo da retórica ideológica. Aliás ideologia é atualmente um termo retórico e não um conceito.
Discursos como de Avellar,Coutinho, ou Friedman e nem vou citar Olavo são os nossos sofistas modernos:

“Para Aristoteles, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.” (por ironia citação retirada do mundo da Educação na internet)

A pós modernidade  tão difundida na academia foi fortalecendo  o relativismo e a era do discurso, sem saber que estava gestando com isto o monstro da anti intelectualidade e o vale tudo intelectual.  Cada vez mais o discurso foi se descolando  da realidade e ficando no campo das interpretações. Sob as escusas de uma luta contra o cientificismo se alimentou  o relativismo onde qualquer retórica é valida e o mundo é aquilo que eu digo que ele é.   Hoje temos um universo de bolhas sociais, cada uma falando de uma realidade toda sua. Dentro das bolhas se  retro alimentam reafirmando  que estão com a verdade.  E isto piora num   país onde a mídia se dedica a esconder a realidade através da  desinformação cuidadosamente planejada em nossos noticiários diários.

Por ironia Avellar Coutinho  gerado por este relativismo interpretativo combate o relativismo cultural e social. Porém enquanto a diversidade  dá realidade  relativismo social e cultural,  relativismo interpretativo é  apenas  negação da realidade.

Para além da retóricas,  os sofistas de hoje  tem objetivos claros de poder e lucro. Da academia retiraram palavras e métodos e também uma sofisticada rede de nichos e ou bolhas que se auto alimentam. Formaram seu conjunto de pares que  estabelecem os padrões  que são posteriormente chamados de mérito.Vejamos por exemplo nosso nobre ministro da Economia. Tem todos os galardões, e em toda entrevista fala disto. Todos os dias demonstra sua ignorância, pois em todo o seu mandato nada falou sobre a realidade social e econômica do pais. Não apresentou nenhuma proposta sobre a economia , sobre o desemprego, sobre a retomada do crescimento industrial.O país está em em frangalhos, com um desemprego estratosférico, e com uma economia cada vez mais abalada, mas o ministro  se fixa no seu objetivo único que é a Capitalização da Previdência.  Guedes, discursa  sua retórica  liberal  e se preocupa  com os acionistas de Wall Street. Jamais se refere ao papel do mercado interno.  Aliás se preocupa em  manter a Petrobrás em conflito permanente com  o seu mercado real, que são  os consumidores, caminhoneiros ou não. Guedes nas suas contas não faz menção à concretude da matéria prima, à tecnologia da Petrobrás nem ao   custo para extrair e refinar. Estes dados da realidade não fazem parte do seu discurso, aliás numa súbita mudança de realidade, os preços estão descolados dos custos e agora  são definidos no tal Mercado.  A sua retórica tem objetivos claros  e sórdidos, afinal transformaram a Petrobrás em Petrobrás da Bolsa e não do país. Eles de fato pensam no dia em que o brasileiro começar a achar que  a Petrobrás já  não lhe pertence. Isto a   tornará  presa mais fácil para sua privatização.

Dando suporte a  Guedes, um conjunto enorme de economistas com muitos galardões e muitos anos de serviço ao tal Deus Mercado  repetem o mantra liberal que tentam legitimar com seus títulos acadêmicos. A imprensa virtualiza a realidade reduzindo o país  ao mundo cão, de mortes, balas perdidas, catástrofes  que,  segundo eles,  só vão parar de existir depois que a Reforma passar no Congresso. Provavelmente se a Reforma passar, os nossos noticiários só terão notícias boas sobre a economia etc..  No país da Reforma da Previdência e do  sucateamento da   Educação e Saúde  o intelectualizado Avellar é uma grande arma de destruição. Afinal um sucateamento através de cortes de verbas uma  Reforma anti Gramsciniana  obviamente favorecerá a privatização e a estupidez.

Se a análise  Gramsciniana de Avellar Coutinho é para muitos acadêmicos risível, a análise de Guedes ganha aplausos acadêmicos e com certeza  gerará lucros enormes para aquela meia duzia que comanda o cassino, também chamado de Livre Mercado . Seguido  é claro por aqueles que acham o máximo   argumentos, como : os homens não são iguais, e a terra é plana.

Mas na análise da Ultra Direita a luta é também contra a intelectualidade, afinal eles não gostam daqueles brutos que não os aceitam. Transpira nos textos o forte teor anti-intelectualismo e anti-cultura.Tudo isto ocorre de  forma paradoxal  pois até sua retórica anti-intelectualidade   é escrito  com um discurso pseudo intelectualizado. Pregam o fim da academia mas querendo se afirmar como acadêmicos. Algo assim como os místicos quânticos que falam contra a ciência e buscam legitimidade na mesma.

Redação

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