A tempestade quase perfeita, por Claudia Safatle

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Do Valor

A tempestade quase perfeita

Por Claudia Safatle

O governo que toma posse dia 1º de janeiro começou no dia 27 de outubro e já se encontra em meio a três conflitos de grande dimensão: um desentendimento com a base aliada no Congresso, o alcance inimaginável da Operação Lava-Jato que investiga atos de corrupção na Petrobras e uma economia estagnada, retração dos investimentos, inflação no teto, contas públicas sob descontrole e juros em alta. Tudo conspira para elevar as incertezas na economia, que não são pequenas, agravando mais a situação e comprometendo 2015.

Trata-se de uma tempestade que só não é perfeita porque os investidores estrangeiros continuam, alheios aos problemas domésticos do país, em busca dos juros altamente positivos que o Brasil oferece, na esperança de que, ao fim e ao cabo, tudo vai se acertar. Se não acertar, há aplicações financeiras de curto prazo que podem sair a qualquer momento.

Dilma foi reeleita sem traçar planos para os próximos quatro anos e, passados 25 dias do segundo turno, ela deu alguns poucos e ambíguos sinais.

Dilma terá apenas uma bala, sem tempo para errar

No discurso em que comemorou a reeleição, a presidente renovou o confronto com o Congresso ao propor o plebiscito já rejeitado sobre a reforma política. As investigações sobre corrupção na Petrobras durante o período em que ela foi presidente do Conselho de Administração da companhia estatal deixam Dilma vulnerável. E, na economia, o cardápio de medidas que se apresenta à presidente – que atravessou toda a campanha eleitoral sem dar uma visão de futuro – contém as mesmas ações dolorosas que ela atribuiu aos seus adversários.

Na primeira entrevista à imprensa, já reeleita, a presidente anunciou que terá que cortar gastos, mas que o fará de forma que os empregos e a renda sejam preservados.

No domingo, na Austrália, Dilma disse que cortará o gasto público que não afeta a demanda. Não explicou, porém, o que isso significa. Qualquer corte de despesa efetivo afetará a demanda e, portanto, o emprego e a renda. A não ser que ela esteja se referindo a cortes em relação à proposta orçamentária para o próximo ano. Aí é passar a tesoura em vento.

Na área fiscal, até o momento, a presidente decidiu apenas passar uma borracha no orçamento deste ano, retirando da Lei de Diretrizes Orçamentárias a meta de superávit primário e transformando déficit em superávit.

O escândalo da Petrobras assombra o Palácio do Planalto. A presidente desde março vem tentando se blindar dos respingos da corrupção. Primeiro, costurou as mudanças na diretoria da estatal “por dentro”, declarou que só aprovou a compra da refinaria de Pasadena por desconhecer cláusulas contratuais e, agora, diz que não vai proteger ninguém que tiver culpa no cartório.

Mas o fato é que há um grande receio do governo em relação à eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, exatamente porque, apesar de ser da base, não o considera fiel, confiável, um aliado a qualquer custo.

Nessa avaliação Cunha, portanto, seria capaz de dar ritmo à tramitação de algum pedido de impeachment de Dilma que eventualmente surja no parlamento por causa do “Petrolão”. O presidente da Câmara tem todas as condições de engavetar ou levar à votação um processo como esse. Aécio Neves (PSDB-MG), quando presidente da Câmara, arquivou em 2001 um pedido de impeachment de Fernando Henrique Cardoso. Inocêncio Oliveira (PR-PE) arquivou outro sobre José Sarney. Outros fizeram o mesmo no passado.

Com três crises distintas rondando o seu segundo mandato, Dilma recebeu de Lula o conselho para que acelerasse a definição de nomes para conduzir a área econômica nos próximos quatro anos. Assim, poderia criar uma agenda positiva que ocupasse o noticiário daqui para a frente, tirando das primeiras páginas dos jornais o caso Petrobras.

A presidente, segundo aliados, tem apenas “uma bala”. Se errar, não terá tempo para corrigir rumos e acertar. Não bastará fazer um ajuste fiscal para que a economia volte a crescer. É preciso um programa de governo mais completo, que aponte um futuro para o parque industrial do país, que privilegie as exportações e, para isso, não dificulte as importações, que coloque o país nas cadeias globais de produção. Enfim, que dê direção e reconquiste a confiança de empresas e consumidores. Caso contrário, um corte de gastos públicos, sozinho, será insuficiente e poderá vir a ser responsabilizado como a fonte do insucesso, por forças políticas que cultivam preconceito a qualquer coisa que considerem de cunho liberal.

As primeiras iniciativas de Dilma para a formação do ministério do segundo mandato não deram certo. Sob o incentivo de Lula, ela convidou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para ser o ministro da Fazenda em substituição a Guido Mantega. O executivo esteve na quarta feira em Brasília, com a presidente, disposto a aceitar o convite. Mas, estranhamente, recusou. Há 25 dias outros nomes como os de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda até o ano passado, estão sob intensa especulação sem que nada seja oficializado.

Ontem, após a inesperada recusa de Trabuco, novos arranjos para a área econômica começaram a surgir. Alexandre Tombini, que foi confirmado na presidência do Banco Central, seria remanejado para a Fazenda e Joaquim Levy, secretário do Tesouro no governo Lula e hoje presidente da Bradesco Asset Management, iria para o comando do BC ou vice-versa.

Levy, aliás, era um dos nomes que Trabuco cogitava para a Secretaria do Tesouro Nacional, caso aceitasse o convite.

Na história contemporânea do país não há notícia de um governo reeleito, com todo o viço comum a uma nova administração, que tenha, como esse, uma face já envelhecida, na defensiva política e o mandato sob ameaça.

Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Dilma foi reeleita sem

    “Dilma foi reeleita sem traçar planos para os próximos quatro anos e, passados 25 dias do segundo turno, ela deu alguns poucos e ambíguos sinais.”

     

    Quem participa de uma eleição, no caso reeleição, sem plano de governo, é querer que acreditemos na carochinha.

    Quem é parvo nesta história, eu ou a jornalista?

    1. Esses “jornalistas” não tem
      Esses “jornalistas” não tem jeito…
      Esse trecho também chamou minha atenção. Eles so falam a lingua do arrocho. Qualquer outra simplesmente não entra no bestiunto.

    1. Jamais ficará só. Tem a

      Jamais ficará só. Tem a metade e mais um pouquinho de todo o povo brasileiro, mais o Lula, etc, etc ao lado dela. É pouco?

  2. É mito fácil para os

    É mito fácil para os jornalistas de plantão darem seus pitacos, como se pudessem, em pouca e mal-traçadas linhas colocar os problemas e as soluções. Dilma ganhou, mas está como quem não levou, em face do arrocho sofrido com ataques de todas as frentes. É imprnesa, é PF, com um ministro da justiça incompetente, é Gilmar Mendes, é FHC, os tucanos renhidos do Congresso, os aliados que nem tão aliados são, e até mesmo os próprios petistas, que parecem estar divididos, haja vista a atitude de Martha Suplicy, nem falar da imprensa, a coisa mais abjeta que já se viu no nosso país. Acho que Dilma ainda sorri porque engrossou a pele e o espírito de tanto apanhar na vida. Ela é forte, todos sabemos, só que governar no Brasil é assim: primeiro tem agradar gregos e troianos, se não quiser ser apunhalada pelas costas, tal como aconteceu com Lula. Se seguisse a cartilha de Itamar, também mineiro, indicaria para ministro da Fazenda um nome absolutamente fora dos já especulados pela imprensa. 

    A Operação Lava a Jato deu uma chance maravilhosa para que o Governo saísse da condição em que se encontra, com agentes da PF, os mesmos que insultaram Dilma e Lula, expondo o nome de Consenzo, quando, em realidade, todo o estardalhaço feito não passou de um crime praticado pela corporação, que todos esstão julgando como séria, e que foi, mas deixou de ser pelo que vimos assistindo. 

    O Ministro da Justiça perdeu a grande oportunidade de exigir a saída desses policiiais da Operação, e tomado outras providências, expondo também o nome deles como agentes ou delegados, não sei, que não estão à altura para atuar num caso tão delicado e relevante, que exige de cada investigador um mínimo de ética, e de capacidade, dentro das normas legais, etc. Vejamos que uma atitude dessa, partindo do Ministro Eduardo Cardoso, iria dar muito o que falar, mas tudo muito bem esclarecido, encaixaria na cabeça de qualquer ser inteligente, com um mínimo de senso crítico. 

    O Governo fica numa saia mais justa porque não pode contar com seus assessores. Eles são tão lenientes, são tão passivos, que chegam a parecer que estão do outro lado. 

  3. VOLTO A FRISAR, GOVERNO QUE ATACA OS PEQUENOS É GOV. MINÚSCULO

    O Banco do Brasil suspendeu emissão dos Cartões BNDES para as ME/EPP, Segundo a gerência do BANCO DO BRASIL somente estão disponibilizados estes cartões para EMPRESAS A++ ou A+ , Portanto aplicaram o conto do vigário nas micros empresas durante a campnha eleitoral, foi ESTELIONATO ELEITORAL, pois aladearam PROTEÇÃO E CRÉDITO VIA BNDES e foi e é foi mentira, os Bancos COZINHARAM  AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS até GANHAREM A ELEIÇÂO. São mesmo enganadores e não merecem o respeito do povo brasileiro, nem de tolo como eu que acreditei.

  4. Pela milionésima vez o

    Pela milionésima vez o governo eleito, a despeito dos esforços contrarios da mídia da qual Claudia e seu “Valor(?)” são baluartes, esta “encurralado”, Lula em 2002 e 2006, e Dilma em 2010 e agora em 2014 não conseguiriam governar, a midia esta tão repetitiva que nem consegue mudar seus chavões, embora nossa heroina tenha tentado alterando “Tempestade perfeita” para “Tempestade quase perfeita”, pelas previsões desses analistas Lula não teria terminado seu mandato em 2002 e o país não teria passado pela revolução que o tirou da condição de mendicante do FMI para ator com participação global, nenhum desses “analistas de antolhos” foi capaz de antever nenhuma das mudanças pelas quais o país passou, ao contrario, segundo eles o fim do mundo sempre estava na próxima esquina, como esqueçer do caos da Copa do Mundo? Tal qual como em 2012 todos ficaram esperando a concretização das profecias catastrofistas porém o que se viu foi o mundo seguindo em frente e os profetas procurando outro assunto, na maior cara dura seguem com sua cantilena do fim esta próximo. 

  5. Nassif
    Ela esta “regendo a

    Nassif

    Ela esta “regendo a pantomima” da petrobras.

    A imprensa esta devidamente “alimentada”.

    E tem a aprovação das contas.

    Será caixa 1 ou 2?

    Tudo no seu devido tempo.

  6. A verdade é que ninguem quer

    A verdade é que ninguem quer segurar a “bomba 2015”, segurar o rojão e se queimar no mercado.

    A ANOS o Nassif , e vários outros que conhecem bem os meandros e funcionamento da economia brasileira veem alertando para os erros que estavam sendo cometidos – com destaque para a politica cambial e deficiencias em infraestrutura.

    Como acompanho mais o blog do Nassif, me recordo bem na primeira eleição de Dilma de um video que ele fez detalhando os problemas que existiam e deveriam mudar, e as consequencias se nada fosse feito. E infelizmente muito pouco foi feito.

    Tiro certo, na mosca, 2015 está previsto já a 4 anos. Queda na atividade industrial, problemas inúmeros nas contas públicas, remendos fiscais efetivos apenas a curto prazo que já terminaram… tá tudo registrado aqui no blog para quem quiser procurar.

    O único fator relevante que não foi (nem se poderia) imaginar é essa história agora da Petrobrás – independente de ser verdade ou não, de ser muito ou pouco desvio, de ter politico ou partido X, Y ou Z, esse noticiario agrava ainda mais a credibilidade do país. A Petrobras é a maior empresa brasileira, e é estatal.

    Minha humilde opinião é que não é hora para “bala de prata”. Não adianta inventar agora um “super homem” que irá gerar expectativas positivas que não vão se concretizar em 2015. Isso só vai piorar o cenario a curto prazo (1 ou 2 anos).

    O momento é de colocar alguem pragmatico, que tenha clareza da situação e aponte o caminho que será seguido. E que não saia falando bobagens aos 4 ventos como o Mantega, mas que efetivamente execute as soluções que DEVEM ser apresentadas ao mercado.

     

     

  7. Hahahahahahahaha…..
    Diante

    Hahahahahahahaha…..

    Diante de tal quadro pintado pela funcionária dos Marinho e Frias, só resta mesmo que Dilma peça desculpas, renúncie e entregue o cargo diretamente ao Aécio (ou ao Serra, o mais preparado?).

    Que a patir de agora cancele-se qualquer eleição e que a função da escolha de presidentes, governadores e prefeitos recaia únicamente no membros das 7 famiglias.

    Essa história do povo escolher o seu futuro definitivamente é uma bobagem.

     

    1. qua qua qua
      Veja vc Marco!
      Dilma so tera uma bala!
      Ate o aa tah definindo o que eh golpe.
      O LN pisou na jaca , com o poster do GM e pulou o muro legal.
      Se espalhou alem das fronteiras. E o urubu nao mata so come carnica este eh o GM.
      Estao querendo pautar a Dilma.
      O caso petrobras eh uma piada do judiciario, PF, MP, PGR e uma vergonha.
      Nunca na minha vida esperei falarem na ditadura como fosse a salvacao. Erro da informacao e historia. Se tivessem feito justica com os torturadores isto nao se repetia agora.
      Emfim
      Estao chantagiando, margiando, apertando o governo da Dilma sem um minimo corretamente.
      Eh uma bobagem. Cancele o cidadao.
      A casa grande quer ter a ultima palavra. Decisao.
      A velha elite ainda quer mandar.

  8. o pig pautando o eleitos
    e

    o pig pautando o eleitos

    e defendendo os sabujos do golpe ou dos interesses da casa grande.

    o povo?

    longe, longe da mente dessa plutocracia.

  9. Um tucano que merece respeito

    O artigo publicado hoje na Folha de S. Paulo por Ricardo Semler merece ser lido.

    Pela primeira vez vemos um tucano apontar a hipocrisia dos que acham que a corrupção nasceu no Brasil em 2003.

    Pela primeira vez vemos um tucano admitir que, ao contrário do que diz o PIG, nunca se combateu tanto a corrupção no Brasil como agora.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/196552-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml

    Podemos divergir politicamente. Esse é o segredo da democracia. Mas, admitir que para fazer parte da oposição é necessário apenas se mostrar indignado com ações governamentais, principalmente aquelas que, infelizmente, fazem parte da prática brasileira há séculos, é muita desonestidade intelectual. Talvez apenas desonestidade, pura e simples.

    Colunistas de jornais e revistas incitaram Aécio a se mostrar um cão raivoso para demonstrar ser um autêntico opositor. O playboy achou que poderia fazer o gênero. Deu no que deu. O “ferrenho opositor” desapareceu do Senado.

  10. Ditadura da maioria?

    Sempre julguei que democracia fosse apenas “ditadura da maioria” imposta à minoria, que embora descontente deveria enfiar a viola no saco e resignar-se com os resultados das urnas. Só que no Brasil este conceito é inverso. A minoria derrotada nas urnas se recusa a enfiar a viola no saco, e fica por ai inlando de ódio um bando de tolos em nome da democracia. Colocam um lobo incoerente que não cumpre sua palavra de deixar o Brasil para a guiar os tolos para o mesmo buraco, e o que é pior, tudo em nome da democracia. É simplesmente estarrecedor o que está por vir. Acordem idiotas, não abram as portas do inferno, pois, com certeza vocês vocês vão pedir eleições democráticas de novo. Bando de retardados.       

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador