A vitória do Brasil no último bar comunista de BH

Sugerido por LA Costa

Do Território LNB

Viva a resistência!

Saiba como a vitória brasileira sobre os Estados Unidos no basquete do Pan de Toronto foi vivida no último bar comunista de Belo Horizonte

Por Bernardo Guimarães

Textos assinados e em 1ª pessoa são raros aqui no Território. Assim como é raro, raríssimo eu diria, vencer os Estados Unidos no basquete. Independente de quem esteja representando o Tio Sam, vestiu aquela camisa com a inscrição USA você sabe que é pedreira.

Mas enfim, chega de explicações.

Ontem eu esperava o início do jogo e pelo andamento de Brasil e Porto Rico no vôlei feminino já desconfiava que Brasil X Estados Unidos no basquete masculino cairia do canal principal do SporTV, algo que, diga-se de passagem, é absolutamente normal dentro da cobertura de um evento gigante e poliesportivo como o Pan. São dezenas de competições simultâneas e por mais que os canais se esmerem na construção das grades, sempre vai ter uma disputa por medalha aqui ou ali a invadir uma transmissão, uma partida que se alonga além da conta, enfim, acontece mesmo.

Como jornalista entendi perfeitamente a mudança para o 2º canal da emissora, como basqueteiro confesso que nem tanto, mas nada que realmente mudasse o meu humor, diferente do que aconteceu alguns minutos depois.

Ao lado da minha casa, colado ao portão da minha garagem que de garagem não tem nada, é muito mais o banheiro do cachorro, tem um bar. E não é qualquer bar, é o Bar do Chico, o último bar comunista de Belo Horizonte! Quer dizer, como a perestroika e o glasnost já completam 30 anos em 2015, o Chico pode ser o último bar comunista das Minas Gerais e quiçá do Brasil, quem sabe o derradeiro fora da bela Havana!

Durante o 1º quarto comecei a ouvir gritos de Brasillll, mas eles não estavam coordenados com as ações do jogo e logo pensei, estão vendo o vôlei no Chico.

Calcei meu chinelinho e fui, com a camisa que a Seleção Brasileira de Basquete utilizou no Mundial da Turquia, em 2010, ao bar exigir do meu vizinho que trocasse de canal, afinal, se ali era um ponto da resistência da foice e do martelo era quase uma obrigação que engrossassem a torcida pro nosso time da bola laranja que enfrentava os Estados Unidos, enquanto no vôlei o adversário era Porto Rico, um território não-incorporado do Tio Sam.

Chegando lá, fui recebido na porta pelo Arthur, filho do Chico. Arthur, que tem 10 anos e síndrome de down, é um menino pra lá de especial, inteligentíssimo e extremamente espirituoso, mas tem um problema, tem uma quedinha pela minha esposa. O menino é maroto que só ele e pra amenizar o possível roubo da minha mulher tenta me empurrar para seu cachorro, o Bruno, pois sabe que eu sou fã do bichinho. Viciado em futebol, ele vê todo jogo que passa na TV, comemora todos os gols, independente do time que o faça, e vive a dicotomia linda de ter o coração dividio por Galo e Cruzeiro. Tem dias que eles está mais alvinegro, tem dia que é tudo azul, uma verdadeira aula para os marmanjos que brigam por causa da bola.

O Bar do Chico é extremamente simples, quase igual a todos os bares da zona leste de BH. Com uma diferença, nele não vemos cartazes da Verão ou de outras musas propagandeando cerveja. De uma lado temos um poster do Chico abraçado com Karl Marx e Che Guevara, do outro a tríade soviética Lenin, Stalin e Trótski e uma bandeira do Brasil. Ao fundo, atrás do balcão, um quadro com a célebre frase guevariana: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”, e mais ao canto, escondidinha, mais uma do Ernesto, só que pintada a mão na parede mesmo, esta bem aplicável a um confronto contra os ianques no basquete: “Seamos realistas y hagamos lo imposible”!

Mais um detalhe antes de prosseguir o texto, o Chico não se chama Francisco. Seu nome é Weverthon e a transformação em Chico é fruto de uma longuíssima história que, infelizmente, ficará para outro dia.

Voltando à nossa história, brinquei rapidamente com o Arthur e fui direto ao comandante cornetar a escolha pelo vôlei: “Não acredito que você está vendo o vôlei Chico, estamos ganhando dos Estados Unidos no basquete e você não vai dar nenhuma moral”?

Incrédulo, ele perguntou se era verdade e quando eu disse que sim ele trocou de canal para confirmar. Os clientes que estavam vendo o jogo das meninas chiaram, mas o Chico é daqueles turrões até o último fio de cabelo e seu bar é daqueles estabelecimentos à moda antiga onde quem manda é o dono e o cliente nunca tem razão. E, caso não goste, a porta é sempre a serventia da casa e o que não falta é bar na zona leste. Experimente quebrar um copo lagoinha lá, vixi, vai tomar aquele sermão. Logo o Chico soltou: “Chega de vôlei, agora vamos ver basquete”! E os clientes, todos habitués da casa, aceitaram numa boa, todos caladinhos.

Quando o Chico viu que realmente ganhávamos dos Estados Unidos seus olhos brilharam da mesma forma que brilham sempre que um novo cliente pergunta sobre o poster com Marx e Che. “Poxa Bernardo, tamo ganhando dos caras mesmo”!

Voltei pra casa com a sensação de missão cumprida. Enquanto me deliciava com o jogo e com a atuação exuberante da nossa Seleção, ouvia os gritos de Brasil vindos do Bar do Chico, agora sim coordenados com a bola laranja.

Arthur era um dos mais empolgados! Pouco acostumado com basquete, a cada cesta gritava gooooooooooool do Brasillllllll! Hoje cedo sua mãe veio me contar que de tanto gritar gol o menino perdeu a voz. Não era pra menos, foram 31 cestas de quadra e mais 16 lances livres convertidos, muito gol pro Arthur!

Quando o jogo acabou veio o ápice, fogos de artifício aos berros de “aqui é Brasil” e “viva la resitencia”!

E quer mais? O Chico já mandou avisar que, excepcionalmente, hoje seu bar abrirá às duas da tarde! Sabe por que? Única e exclusivamente por causa da semifinal do basquete masculino no Pan de Toronto!

E só posso dizer uma coisa depois dessa, Seamos realistas y hagamos lo imposible!

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. Viva a Resistência

    Essa história me faz lembrar quão tímida é a nossa resistência ao subjugo e dependência do Brasil, quando se trata das relações com os EEUU. Pródigo em submeter o nosso país aos ditames de Washington, os governantes brasileiros,  ao longo da história, sempre foram subservientes e conformistas, ao não esboçar um mínimo gesto que pudesse contrariar a arrogância dominadora dos Yanks, Até que, malgrado a aquiescência quase ingênua dos Generais da ditadura, em aceitar as instruções do governo americano através da CIA, tivemos o General Geisel, contrariando, por vezes, os códigos daquela polícia política, ao perceber que eles estavam interessados, de fato. em nossas riquezas naturais, ou seja, nossa amazõnia verde e nosso manancial  petrolífero. Sómente na gestão de  Lula, observamos a adoção de medidas, que pra eles eram preocupantes, quando nosso governo iniciou uma  cruzada diplomática em  outras regiões do mundo, estabelecendo uma geo política estratégica com países antipáticos a eles. Dilma também botou as unhas de fora no caso da espionagem eletrônica, chegando a suspender visita já agendada. Hoje, convivendo com eles no intercâmbio comercial, percebe-se um Brasil mais livre e auto determinado. Saudações ao velho Chico do último bar comunista.  Grande reforço pra nossa resistência é viralizar essa rapidinha #DilmaLeiDeMídia. Vamos transformar isto num referendo nacional e internacional e mostrar que o povo brasilero unido jamais será vencido. #Lula/2018.

  2. Brasil, ouro no basquete

    O time de basquete do Brasil jogou muito bem o Pan. Na final, contra o Canadá, venceu por 81 a 76, e com aproveitamento de 53% nas cestas contra 32% dos canadenses, mesmo sem os jogadores brasileiros que jogam a NBA.

    Neste pan de Toronto, o Canadá levou o seu time principal em diversas modalidades e mais do que dobrou número de ouro deles. Mesmo assim, o Brasil, com 141 medalhas no total (incluindo a do vôlei masculino), já igualou o feito de Guadalajara em 2011. Mas esse tipo de notícia não se vê na mídia que torce contra o Brasil. Portando, parabéns a todos os atletas brasileiros, que lutaram pelo país.

  3. Hahahahahaha!, Muito

    Hahahahahaha!, Muito Bom!

    “… e seu bar é daqueles estabelecimentos à moda antiga onde quem manda é o dono e o cliente nunca tem razão. E, caso não goste, a porta é sempre a serventia da casa…”

    Gosto de buteco assim (e nem é por ser de “comunista”): é quando o dono e os frequentadores falam: vai pra casa, já tá chato pra car@£#0! Já encheu o saco!…

    … E alguns dias depois o assunto já é outro… Hahahahah!

    Lembro de uma feita, um pouco recente, em BH; no “Balaio de gato”, em frente à Igreja Universal…

    No ano em que o Galo estava disputando com o Fluminense a liderança e teve aquela tramóia da mudança de data do jogo do Atlético com o Famengo.

    Eu, flamenguista,vendo o jogo lá… E o Flamengo meteu 2 X 1!

    No finalzinho teve aquele lance em que o Réver deu um sôco no zagueiro do Flamengo,  o Gonçalves.

    Eu falei: “ah, UFC já passou!”

    O buteco estava cheio e alguém gritou lá de trás: “tem é que meter a porrada nesses flamenguistas filhos da puta!”

    … Eu rapidamente olhei pro dono do bar e logo pedí minha conta..

    Ele: “vai, vai, sim, que é melhor! Volta aí outro dia!”

    … Terminei de ver o jogo no meu endereço ali no JK…

    … Escapei…

    Voltei outras tantas vezes no mesmo bar e quando resurgiu o assunto foi sobre a “poliiticagem do futebol” que “favorece  os clubes do Rio e de Sao Paulo”..

    Eu argumentei que “não existe” o Flamengo paraticipar de qualquer armação pra favorecer Fluminense, Vasco, Botafogo… Não existe… E ficar “aturando pilha” no dia seguinte?!

    Não existe!

    Conversa vai, conversa vem e: “quem é que vai pagar a próxima cerveja aê?!

    .. E por aí vai…

    Gosto de buteco assim.

  4. Bar comunista em BH

    Muito bom o texto,  quase uma cesta de três pontos no ultimo segundo para cima  dos yankes !

    Melhor que a narrativa  do cenário  do bar em BH era a possibilidade de ver  o  Chico  pagando uma rodada , mais  isso seria a mais valia… Excelente ! Kkkkk

    A laranja redonda tem lá sua força, que diga o Brasil com  o técnico  hermano!!!!!!  

    Tudo pode ser possível ….

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