Acre envia haitianos para São Paulo sem avisar prefeitura nem governo federal

Da Carta Capital

Um desastre humanitário no centro de São Paulo
 
Sem avisar a prefeitura de São Paulo e o governo federal, governo do Acre enviou haitianos para a cidade. Abandonados, eles dependem de ajuda para se alimentar
 
por Renan Truffi 

Imigrante haitiano, Ferdinand Charles, de 34 anos, não fala português nem inglês. Como as línguas oficiais do seu país são o crioulo e o francês, Charles tenta se comunicar com as mãos. O primeiro sinal que faz é para explicar que está com fome. Depois, abre a carteira e mostra uma foto com a família, formada pela esposa e quatro meninas que não estão nem na adolescência. Há 15 dias, ele largou os parentes na cidade de Gonaïves, a quarta maior do seu País, e chegou ao Acre. Ficou pouco tempo e ganhou uma passagem do governo estadual para vir a São Paulo. Agora, enquanto espera conseguir uma carteira de trabalho para buscar um emprego, Charles dorme com outros 90 conterrâneos em colchões no chão da Igreja Nossa Senhora da Paz, na Baixada do Glicério, centro da cidade, e depende de ajuda para se alimentar.

Enquanto Charles conta sua história com a ajuda de outro haitiano, um dos poucos no grupo que fala inglês, mais cinco imigrantes entram no pátio da igreja com algumas malas nas costas. Esta é a nova rotina na Missão Scalabriniana Nossa Senhora da Paz, conhecida como Missão Paz, desde que o principal abrigo para haitianos foi fechado na cidade de Brasiléia, no Acre, no início do mês. “Na nossa estrutura já passaram 450 haitianos da primeira semana de abril até agora. Temos uma média de 90 haitianos dormindo aqui por dia além dos 110 que já recebemos normalmente na Casa do Migrante. Ontem saíram duas ou três mulheres e chegaram mais 25 imigrantes”, conta o padre italiano Paolo Parise, diretor do Centro de Estudos Migratórios (CEM) da Missão Paz.

Os haitianos estão alocados de forma improvisada em um dos salões da Missão Paz. Eles dormem em colchões, um do lado do outro, e recebem cobertores por causa do frio durante a noite. Não têm, no entanto, como tomar banho. E comem com a ajuda de moradores do bairro no entorno ou quando outros imigrantes que já estão fixados na região se mobilizam para ajudar. “Sábado alguns imigrantes peruanos vão fazer um sopão para eles. Com a ajuda dos haitianos que já vivem em São Paulo há algum tempo fizemos um jantar na segunda. Foram necessários 110 pratos”, explica Parise.

O fluxo de imigrantes haitianos na capital paulista aumentou porque o governo do Acre pagou passagem de ônibus para as pessoas que estavam abrigadas em Brasileia irem para outros estados, mas a maioria optou por São Paulo. A justificativa do secretário dos Direitos Humanos do estado do Acre, Nilson Mourão, é que as cheias do Rio Madeira impediram a continuidade do trabalho. Assim, neste meio tempo, pelo menos 1.800 imigrantes começaram a se espalhar por diversas cidades do País. Até agora aproximadamente 600 chegaram à capital paulista, de acordo com estimativa da Prefeitura de São Paulo, que diz ter sido pega de surpresa.

O fato de o governo do Acre, a prefeitura de São Paulo e o governo federal serem controlados pelo mesmo partido, o PT, não ajudou na comunicação. “Nós não fomos avisados. O prefeito Fernando Haddad ligou para o governador do Acre para deixar claro essa preocupação. O Ministério da Justiça também não foi avisado. A gente precisa identificar esse processo. Precisamos envolver o governo federal e o estadual”, afirmou Paulo Illes, coordenador de políticas para migrantes da prefeitura. Agora, o poder municipal está tentando conseguir um ginásio para colocar de forma emergencial os imigrantes que estão chegando na cidade.

Responsável pelos cuidados com os imigrantes, o padre Parise disse que recebeu uma ligação de Mourão, o secretário do Acre, pouco antes da “onda de imigrantes” começar a chegar, mas afirmou que o secretário assegurou que eles estavam só de “passagem”. “O Nilson Mourão tinha falado que era só para ajudarmos eles (haitianos) a pegar ônibus para o Sul do Brasil. Depois que a coisa toda se revelou. Mais ou menos 2/3 dos que chegaram até agora estavam sem dinheiro, com fome, alguns com a roupa do corpo e precisavam de abrigo. Os primeiros colocamos na Casa dos Migrante. Outros encaminhamos para o Arsenal da Esperança, aí uma certa altura começou a chegar gente que não acabava mais e não podemos deixar eles na rua”, explicou.

Segundo o padre, alguns haitianos chegaram a ser encaminhados também para albergues da cidade, mas, normalmente, eles não querem ficar e voltam para a Missão Paz. “A nossa tentativa há anos é convencer a Prefeitura que precisa abrir uma casa com perfil só para atender imigrantes e refugiados, coisa que não estão entendendo. Eles acham que (os haitianos) precisam entrar no bolo dos abrigos de pessoas em situação de rua. Tem três instituições que cuidam dos imigrantes. As três são ligadas à Igreja Católica. As três trabalham no limite. O fato dos haitianos agora só revela um fato que espera uma resposta que está atrasada”, alertou.

Sem emprego

Independentemente da cidade onde nasceram, os haitianos têm a mesma resposta quando perguntados sobre o interesse em vir para o Brasil: um emprego. Todos reclamam que há poucas chances de conseguir um trabalho no país de origem e eles se sentem “obrigados” a deixar suas famílias para tentar enviar dinheiro de outro lugar do mundo. “Depois que você termina a escola ou a universidade você tem que sair do país. São poucos empregos, pouco dinheiro”, reclama Alcius Kedner, de 28 anos, que chegou na Rodoviária da Barra Funda na terça-feira (22).

A esperança de conseguir garantir uma vida melhor faz, inclusive, com que alguns imigrantes cheguem “em família”. Jean Michelle Jeanty, de 47 anos, por exemplo, veio ao Brasil com o cunhado, de 34 anos. Largou a mulher e os dois filhos na cidade de Léogâne e parece estar convencido de que fez a melhor escolha mesmo quando questionado sobre quem vai garantir alimento para a família neste período em que ainda está tentando se estabelecer na capital paulista. “Ninguém. Eu quero mandar dinheiro”, afirma.

E, apesar das dificuldades com a língua, os haitianos estão recebendo diversos convites para ocuparem postos de trabalho de mão-de-obra barata. Várias empresas já procuraram a Missão Paz para oferecer emprego aos imigrantes, mas as ofertas esbarram na burocracia da retirada dos documentos necessários. Ainda que todos os haitianos já tenham CPF (Cadastro de Pessoa Física), muitos ainda não conseguiram a Carteira de Trabalho, o que dificulta a contratação.

“Ontem nós conversamos com o Ministério do Trabalho para propor uma ação especial para dar Carteira de Trabalho para esses imigrantes. Atualmente, em São Paulo, demora um mês e meio para conseguir uma carteira. Já tem trabalho, as pessoas estão prontas para contratá-los e falta o documento. Ontem (terça-feira 22), eu contei e tinha 50 haitianos sem isso”, avisa Parise.

Ainda que esteja passando fome e não possa nem tomar banho, Ferdinand Charles só tem uma preocupação: ligar para a família para avisar que está bem. “Não tenho dinheiro para falar com a minha esposa”, lamenta antes de reforçar que não quer voltar para o Haiti. “Melhor, se possível, seria encontrar um emprego para mandar dinheiro para os meus parentes”.

 

Redação

24 Comentários

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  1. Muito bom!
    Haitianos são

    Muito bom!

    Haitianos são tratados como mercadoria tóxica no Acre petista, mas como é uma operação entre petistas, será tratada como facilitação de locomoção de pessoas necessitadas para  a maior cidade do Brasil, a fim de lograrem um futuro melhor.

    Sabemos que a esquerda tem o monopólio do humanismo, não confundir com os reacionários que andam por aí…

     

    1. A maldita migra.

      Bem, tomara que você não seja um paulistano típico querendo disputar esta modalidade de “humanismo”.

      Parece claro para qualquer idiota que não foi o governo petista do Acre que criou o êxodo de haitianos, bem como não será o Acre com sua estrutura (falta de) e suas condições que vai conseguir manter os haitianos por lá.

      Mas podemos tentar fazer igual aos estadunidenses, ou melhor, que tal campos de concentração, como os italianos?

  2. São Paulo não tem condições

    São Paulo não tem condições de cuidar nem dos brasileiros que aqui estão, dentre eles muito paulistas. Não é justo que a cidade seja tratada dessa forma é,sobretudo, não é justo, e digno, que os haitianos sejam jogados para cá e lá como mercadoria..

    O governo do Acre foi safado!!

  3. essa historia de abrir as

    essa historia de abrir as porteiras para qualquer um querer entrar nao tem relação com humanismo

    é falta de governo e descontrole absoluto porparte das autoridades

    a situação dos haitianos é absurda e poderia ficar muito melhor  ( se aquela ridicula missao adotada pelo PT do governo FHC ) de fato mudasse algo

    Os Haitianos precisam de ajuda mas a ajuda deve ser dar no H-A-I-T-I !!!

    Ajudar de verdade o governo Haitiano seria infinitamente melhor para eles e para nós ( ja atolados com miseria nacional ) do que ficar brincando de pais bonzinho, potencia regional que nao faz nada a nao ser praticar ajuda s/ valor agregado na infraestrutura do pais e ainda aumentando o ja enorme contingente de miseraveis nas capitais do Brasil.

    Demagogia é uma merda mesmo…

    1. Haitianos precisam de ajuda no H-A-I-T-I

      “Há três iniciativas brasileiras, entre outras, que me entusiasmam particularmente. Uma são os três hospitais comunitários de referência, construídos junto com Cuba e o próprio governo do Haiti, para atender às camadas mais pobres da população. Outra é um projeto inovador de reciclagem de resíduos sólidos, elaborado e executado pelo grupo IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), que contribuiu ao mesmo tempo para a limpeza urbana, a geração de energia e a criação de empregos. Essa inciativa foi, inclusive, premiada pela ONU. E a terceira é o projeto de construção de uma usina hidrelétrica no Rio Artibonite, que certamente representará um salto histórico na infraestrutura do país, ampliando o acesso da população à eletricidade, favorecendo a agricultura e a indústria, e permitindo ao Haiti reduzir a sua dependência da importação de petróleo. Trata-se de um empreendimento para o qual o Brasil já elaborou os projetos de engenharia e doou 40 milhões de dólares (1/4 do seu valor total) que estão depositados num fundo especifico do Banco Mundial, esperando que outros países completem os recursos necessários para a execução da obra.”

      http://www.institutolula.org/artigo-de-lula-nao-vamos-nos-esquecer-do-haiti/#.U1la6FSx0wI

  4. Quanta canalhice.

    Os hatianos, expulsos de seu país após catástrofes naturais e sociais, estas últimas resultantes de séculos de dominação imperialista, estão entrando no país há anos.

    E nada foi feito para auxiliar o Acre para dotar estas pessoas de documentos e possibilidades de encontrar um rumo. O governo federal (o MJ do ministro “jênio” Cardozo) desconhecia o fato?

    A pergunta é: se a prefeitura de SP fosse avisada, o que faria? 

    A questão é: se estão aqui legalmente, se foram recebidos, podem ir para onde quiserem, assim como nós.

    E se o Estado do Acre reconhece que não pode dar a solução que eles desejam (emprego), não há problema em facilitar o acesso aos locais onde pode haver a solução.

    Os que estão aqui a reclamar do Acre deveriam responder:

    Qual a solução? Fechar a fronteira, mantê-los em campos de concentração, ou deportá-los?

  5. PT do mal contra PT do bem?

    http://www.altinomachado.com.br/2014/04/prefeitura-de-sao-paulo-critica-governo_23.html

    O secretário Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura de São Paulo, Rogério Sottili, criticou (leia) a atitude do governo do Acre, governado pelo petista Sebastião Viana, de enviar refugiados haitianos para São Paulo sem qualquer comunicação com a prefeitura paulistana. 

    – Não podemos aceitar o que ocorreu com os haitianos enviados do Acre para São Paulo, tratados de qualquer jeito, viajando dias de ônibus e sem nenhum atendimento preparado para recebê-los – protestou.

    Segundo Sottili, entre 800 e 1900 imigrantes devem desembarcar em São Paulo. Seiscentos chegaram desde o último dia 10 e outros devem chegar nos próximos dias. Eles têm se dirigido a equipamentos públicos e igrejas, como a Paróquia Nossa Senhora da Paz, na rua do Glicério, centro da capital.

    “Não é possível que se trate assim uma questão humanitária. Não é um problema receber os imigrantes do Haiti, mas isso precisa ser feito com planejamento”, argumentou.

    O secretário explicou que a prefeitura dialoga com entidades assistenciais e estuda a ampliação emergencial dos serviços de assistência social na cidade para receber os haitianos da melhor maneira possível.

    A prefeitura de São Paulo, administrada pelo petista Fernando Haddad, chegou a divulgar uma nota (leia) em que “considera irresponsável a ação do governo do Acre de enviar uma grande quantidade de imigrantes haitianos para São Paulo, sem pactuar previamente com a administração municipal a melhor forma de recebê-los”.

    De acordo com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, “o deslocamento está sendo promovido por entes governamentais de forma indigna e sem prévio contato com a Prefeitura”. A prefeitura paulista espera do Ministério da Justiça “medidas cabíveis com relação ao governo do Acre diante destas ações com esta população já tão sofrida”.

    O governo de São Paulo também criticou duramente (leia) a decisão unilateral do governo do Acre de enviar os imigrantes haitianos. A Secretária de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo, Eloisa de Souza Arruda, declarou que “nos padrões internacionais, isso poderia ser classificado como deportação forçada”.

    A secretária acusa seu colega Nilson Mourão, secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Acre, de ser “desleal” por não tê-la procurado antes de financiar a viagem dos refugiados.  

    Atualização às 23p4 – Comentário da professora Letícia Mamed:

    “A realidade e suas versões:

    1. A versão de cá, da terra encantada, naquele padrão batido da agência oficial de notícias:

    “Acre assegura serviço humanitário aos imigrantes haitianos e africanos”

    2. A versão de lá, jornalística, com as várias versões institucionais, evidenciando o conflito, a dimensão do problema e sua complexidade:

    “Acre ‘deporta’ para São Paulo 400 refugiados do Haiti”

    E os imigrantes – cheios de esperança e cada vez mais vulneráveis ao sonho brasileiro -, permanecem na linha de fogo, sem saber como será o amanhã.”

    1. Essas pessoas não leem jornal

      Essas pessoas não leem jornal para saber do risco terrível que todos estavam correndo de morrer afogados?

    2. colega, se pegar o metro da

      colega, se pegar o metro da linha vermelha e observar ( no percurso entre a estação pedro II e Sé ) pela janela do lado direito as condiçoes das pessoas que transformaram os canteiros das vias centrais junto a estaçao sé do Metro,  ficara estarrecido!

      A miseria é absoluta, barracos de lona e pedaços de madeira estao transformando as imediaçoes da estaçao sé do metro em uma verdadeira favela

      Uma cidade que permite tamanho grau de miseria e ” holocausto Urbano ” em um raio inferior a 1 km da sede de sua prefeitura pode se achar em condiçoes de abrigar decentemente algum haitiano ou qualquer outro nas mesmas condiçoes?

       

  6. SP tem total condições de ajudar
    Se fosse o prefeito anterior seriam embarcados de volta. Se nem todos do pt são bons governantes, pelos menos existem alguns. Estamos muito melhor com Haddad em SP.

  7. Seria viável abrir fábricas no Haiti?

    O que os haitianos buscam é trabalho, obviamente para se manter, com o dinheiro ganho. 

    As fotos que o google mostra daquele país são terríveis.

     

  8. Um mes e meio para uma pessoa

    Um mes e meio para uma pessoa que quer trabalhar, com trabalho a disposição,  conseguir tirar um documento obrigatório ?

    Isso é o fim da picada. E ainda querem transformar o Brasil num competidor global. Fala sério.

  9. Estava previsto

    Vamos construir um abrigo em Rio Branco, que estará associado a outro abrigo que o governo federal vai construir em Sao Paulo, provavelmente em Guarulhos. 

     

    http://terramagazine.terra.com.br/blogdaamazonia/blog/2014/04/09/governo-vai-construir-abrigo-para-receber-haitianos-em-sao-paulo/

    Governo vai construir abrigo para receber haitianos em São Paulo

     

    Duramente criticado pelo Ministério Público Federal e organizações de defesa dos direitos humanos por acolher imigrantes haitianos em condições degradantes, o governo do Acre decidiu fechar o abrigo mantido com apoio do governo federal em Brasiléia, município que tem o Rio Acre como limite da fronteira do Brasil com Cobija, capital do departamento de Pando, na Bolívia. A ONG Conectas denunciou a situação dos imigrantes ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suiça, no final do mês passado.

    O governo estadual se mobiliza para improvisar um novo acampamento para os haitianos no Parque de Exposições, em Rio Branco, a capital, onde realiza anualmente a Feira Agropecuária, o maior evento cultural, artístico e de negócios do Acre.

    Será o sétimo endereço para receber haitianos, dominicanos e senagaleses que já formam o maior fluxo de estrangeiros para o País. Os precários acampamentos mantidos na fronteira se revelaram com espaço insuficiente para para acomodar o crescente contingente de imigrantes recebidos ao longo dos últimos quatro anos.

    – Vamos encerrar o refúgio em Brasiléia porque a cidade está exausta. Se não fizéssemos isso, passaríamos a correr o risco de acontecer hostilidade envolvendo imigrantes e a população da cidade. Vamos construir um abrigo em Rio Branco, que estará associado a outro abrigo que o governo federal vai construir em Sao Paulo, provavelmente em Guarulhos. Temos que agradecer ao povo de Brasiléia tanta compreensão e solidariedade – disse ao Blog da Amazônia o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre (Sejudh), Nilson Mourão.

    O acampamento de Brasiléia mede 200 m² cobertos com um teto baixo de zinco. Lonas plásticas servem como cortinas e a temperatura ambiente chega a 40C°. Com esgoto a céu aberto, o mau cheiro toma conta. Apesar de bastante criticada, a parceria dos governos federal e estadual assegura aos imigrantes água, três refeições diárias e serviço de saúde. Amontoados no chão, colchões velhos, enfileirados, em contato direto com o piso, expostos a todo tipo de sujeira, restos de comida, poeira, acúmulo de água, baratas, ratos, moscas e outros insetos.

    Em Rio Branco, o governo estadual pretende atuar no novo abrigo com no máximo 200 imigrantes, fazendo um rodízio de permanência de até 10 dias, segundo o secretário Mourão. No acampamento atual, a permanência diária gira em torno de 500 e 1000 imigrantes, mas a capacidade é para apenas 200 ou no máximo 300 pessoas.

    O Acre é a principal porta de entrada dos imigrantes haitianos no País. Os primeiros registros do trânsito de haitianos em Assis Brasil, Brasiléia e Epitaciolândianas, cidades acreanas na fronteira com Peru e Bolívia, são de dezembro de 2010.

    Segundo a Sejudh, cerca de 21 mil haitianos chegaram ao Brasil após o terremoto que devastou o Haiti em janeiro de 2010, sendo que 18 mil teriam ingressado pela região até março deste ano.  Em média, de 30 a 50 imigrantes, entre homens, mulheres e crianças, permanecem chegando diariamente pela rodovia Interoceânica, responsável pela conexão do Brasil ao Peru.

    Capital e trabalho

     

    A imigração haitiana não parece ter suas raízes em uma decisão voluntária e individual e daqueles que decidem sair de seu país e recomeçar a vida no Brasil. Segundo as sociólogas do trabalho Eurenice Oliveira de Lima e Letícia Mamed, do grupo de pesquisa Mundos do Trabalho na Amazônia, da Universidade Federal do Acre, que estudam o movimento dos imigrantes haitianos pela Amazônia Ocidental, pelas características históricas e estruturais que apresenta e pela maneira como se realiza, o fluxo de haitianos sugere uma conexão direta com a conjuntura do sistema capitalista de produção e distribuição de riquezas.

    – No caso do Haiti, país de capitalismo dependente, criou-se um imenso excedente, que, por não encontrar possibilidade de reprodução social digna de sua existência, é impelido a emigrar, sob o espectro da miséria e da fome – afirmam as pesquisadoras.

    As empresas que mais recrutaram haitianos foram as da construção civil, metalúrgicas, têxteis, hoteleiras e, principalmente, da agroindústria da carne, estabelecidas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nos últimos seis meses, empresas dos estados de Goiás e Mato Grosso também reforçaram contratações.

    Letícia Mamed, doutoranda da Unicamp, investiga em especial o recrutamento de haitianos na Amazônia pela agroindústria da carne do Centro-Sul brasileiro, e analisa como se estabelece a inserção deles nos processos de trabalho, a trajetória e a experiência dos imigrantes empregados em larga escala nos abatedouros industriais de carne.

    Chapecó (SC) é um dos principais destinos dos que são recrutados no Acre. A cidade é o berço de um dos maiores grupos empresariais do setor, a Brasil Foods, conglomerado do ramo de produtos alimentícios e proteínas animais, surgida em 2009, da fusão da Sadia com a Perdigão.

    No caso dos senegaleses, segundo Letíca Mamed, existe um movimento significativo de recrutamento também pela agroindústria da carne, mas em um segmento muito específico, que é o de frigoríficos com abate diferenciado, conhecido como “halal”, cuja produção se destina à exportação para o Oriente Médio, com o necessário cumprimento de rituais islâmicos no processo de abate.

    Na avaliação da pesquisadora, ao receber, abrigar, alimentar e documentar esses imigrantes, parcialmente e em condições precárias, o Estado brasileiro reforça esse circuito, pois prepara e organiza a força de trabalho para ser oferecida a baixo custo ao capital.

    – A considerar que o valor da mão de obra haitiana é o mais baixo do mundo, inclusive mais que a chinesa, as perspectivas existentes para esses imigrantes são bastante limitadas. Ao longo dos últimos quatro anos, no Acre se configurou um campo de refugiados próprio ao Brasil, que concretamente assume a face de um verdadeiro mercado de força de trabalho, pobre, negra e barata, com limitadas possibilidades de resistência às formas de exploração, opressão e violência que o trabalho precário estabelece. Se esses imigrantes fugiram do Haiti sob o espectro da fome, no Brasil passam a conviver sob o espectro do trabalho escravo contemporâneo, demarcado por jornadas exaustivas, condições laborais e de moradia degradantes, incluindo em muitos casos a retenção por dívida – acrescentou Letícia Mamed.

  10. Sul do Brasil?

    “O fato de o governo do Acre, a prefeitura de São Paulo e o governo federal serem controlados pelo mesmo partido, o PT, não ajudou na comunicação.”

    É claro que ajudou. Nem precisava comunicar.

    Tá tudo em casa…

    “o secretário assegurou que eles estavam só de “passagem”.

    “O Nilson Mourão tinha falado que era só para ajudarmos eles (haitianos) a pegar ônibus para o Sul do Brasil.”

    O Sul do Brasil?

    Onde fica essa cidade chamada “Sul do Brasil”- suposto destino final dos haitianos?

    Não ocorreu ao Padre Parise pergunta tão óbvia?

    De repente, não era “Sul do Brasil”; mas sim: “ao sul do Brasil”.

    Quem sabe, na calada da noite, despejar todos no Uruguai…

  11. Qual eh o montante de

    Qual eh o montante de dinheiro que o Brasil gasta com as tropas no Haiti? Esse dinheiro poderia ser aplicado em investimentos diretos naquele país, gerando algum emprego e diminuindo o fluxo de imigração.

  12. Enganaram essa gente ao

    Enganaram essa gente ao dizerem que no Brasil havia muito emprego, há alguns empregos sim em determinadas áreas, porém com salários aviltantes.  Como esses homens irão trabalhar e mandar dinheiro para suas famílias se aqui só se paga um mísero salário mínimo a quem não tem qualificação, essas vagas quando existem,  já contam com os nordestinos para ocupá-las.  Estão criando um problema social de difícil solução, quem ganha salário mínimo só pode morar em favelas e pagando aluguel, sendo assim, como irão sobreviver?  Em breve teremos haitianos roubando e vivendo como ingigente nas ruas do país inteiro.  E o governo finge nada ver, e continua estimulando a vinda desses infelizes. Um país com milhões de miseráveis moradores de chiqueiros em favelas violentas, insalubres e imundas que não consegue dar conta de seus miseráveis ainda quer acabar com a miséria alheia.  Depois não chore quando perder eleições.  Arrume sua casa primeiro, depois vá arrumar a casa de seu vizinho.

  13. Haitianos – abrigo

    Em que pese a questao humanitária é muito estranho várias autoridades tratarem o assunto de forma populistica querendo angariar votos. É muito estranho. Estamos em um país onde distribuimos quase 20 milhões de bolsa familia, portanto, 20 milhões de famílias com desempregados e vamos regularizar agora os haitianos como se isto fosse normal para nossa situação. É muito estranho.

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