As contribuições de Theodoro Sampaio ao país

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Engenho e arte

As contribuições de Theodoro Sampaio ao país, de Salvador a São Paulo

NELDSON MARCOLIN | Edição 214 – Dezembro de 2013

© IGHB

Sampaio (à dir.)manipula um teodolito durante excursão em Aratu, na Bahia, em 1916

Sampaio (à dir.)manipula um teodolito durante excursão em Aratu, na Bahia, em 1916

O baiano Theodoro Fernandes Sampaio teve uma carreira longeva como engenheiro civil, que começou em 1878 e terminou no 1937. Ele poderia 
ser confundido com um dos naturalistas estrangeiros que visitaram o Brasil na primeira metade do século XIX e se interessavam por tudo: das plantas aos animais, das línguas e costumes indígenas ao clima da terra. Sampaio trabalhou com hidráulica, saneamento, cartografia, planejamento e gestão urbana e deu contribuições a geologia, geografia e história, além de se aventurar pela etnologia, antropologia e linguística – ciências ainda não consolidadas em seu tempo.

Desde as comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, em 2000, alguns personagens têm tido sua importância resgatada. “Theodoro Sampaio é uma dessas figuras históricas que foram revalorizadas. Mas ainda não à altura da real importância de suas contribuições”, diz Ademir Pereira dos Santos, professor de arquitetura das universidades de Taubaté (Unitau), de Mogi das Cruzes (UMC), ambas no interior paulista, e do Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo. Santos escreveuTheodoro Sampaio – Nos sertões e nas cidades (Odebrecht / Versal Editores, 2010), livro que esmiúça a vida e a obra do engenheiro.

© INSTITUTO GEOLÓGICO DE SÃO PAULO

Integrantes da Comissão Geográfica e Geológica de 1888: Theodoro Sampaio  é o terceiro sentado da esq. para a dir. ao lado de Orville Derby (de barba)

Integrantes da Comissão Geográfica e Geológica de 1888: Theodoro Sampaio é o terceiro sentado da esq. para a dir. ao lado de Orville Derby (de barba)

Sampaio (1855-1937) nasceu em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, filho de uma escrava, Domingas. Não se sabe quem era o pai: o padre Manoel Fernandes Sampaio, de quem herdou o sobrenome, ou o visconde de Aramaré, Manoel Lopes da Costa Pinto, dono de Domingas. “Apenas Theodoro sabia e não contou nem aos filhos”, diz Santos. Sabe-se que o pai tinha posses e influência porque ele nasceu livre e recebeu boa educação no Rio de Janeiro. Na corte cursou engenharia na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e formou-se aos 22 anos. Entre 1878 e 1884 comprou a alforria de seus três irmãos negros.

Em 1879, Sampaio integrou a Comissão Hidráulica do Império, que estudou e propôs obras para melhorar a navegação dos rios. Por quatro anos trabalhou no vale do rio São Francisco entre Alagoas e Sergipe, e nas cidades pernambucanas, baianas e mineiras próximas à nascente. Narrador conciso e desenhista talentoso, contribuiu para a confecção da Carta da bacia do São Francisco, revisou e colocou na cartografia parte da Chapada Diamantina.

Mapa de Sampaio com distribuição dos grupos étnicos, segundo Carl von Martius

A vinda para São Paulo ocorreu em 1886 a convite do geólogo americano Orville Derby, chefe da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo. O interior paulista era em boa parte desconhecido e o engenheiro ajudou a explorar e cartografar a região – algo imprescindível ao poder público –, além de projetar obras para a navegação do rio Paranapanema. Sampaio estabeleceu a primeira base geodésica do país, na região de Sorocaba. A técnica é usada para representar cartograficamente, de modo plano, a forma esférica da superfície da Terra, fundamental para melhorar a exatidão dos mapas de grande extensão.

Durante essa fase nos sertões nordestino e paulista, ele colheu informações para dois livros: O tupi na geografia nacional (1901) e O rio São Francisco e a Chapada Diamantina (1905). Também permitiu a Euclides da Cunha copiar um mapa feito por ele da região de Canudos e sanou dúvidas sobre a geografia e o clima, que o escritor viria a usar em artigos antes de viajar ao local e escrever Os sertões.

“Na administração pública de São Paulo trabalhou desde a implantação de serviços sanitários até a expansão de linhas de bondes na cidade”, conta Santos. Publicou artigos técnicos e fez pesquisa histórica – foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 1894.

Aos 50 anos, voltou para a Bahia e abriu seu próprio escritório de engenharia, que projetou o novo sistema de abastecimento de água de Salvador, entre outros trabalhos de infraestrutura e urbanização. Teve intensa atuação no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), que presidiu por 14 anos. “Quem o conheceu diz que era muito discreto e calado, mas um orador excepcional”, conta Consuelo Pondé de Sena, presidente do IGHB. Na última fase da vida – morreu com 82 anos –, publicou estudos sobre a história de Salvador e da Bahia.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. aula de história!! obrigado,

    aula de história!! obrigado, só fiquei com dúvida se o mesmo que da o nome da Rua Teodoro Sampaio em pinheiros

    1. Nome de cidade também.

      Teodoro Sampaio não é só nome de rua famosa no bairro de Pinheiros na capital paulista, mas de uma cidade no oeste do estado, Teodoro Sampaio, município que tem uma antiga disputa entre assentamentos de sem terra e fazendeiros que são acusados de terem anexado a seus imóveis terras devolutas do estado de São Paulo.

  2. Assim como o outro baiano

    Assim como o outro baiano André Rebouças que muito contribuiu para o progresso e desenvolvimento de São Paulo e do país. Ambos têm uma história de feitos admiráveis.

  3. Existe uma cidade na Bahia

    Existe uma cidade na Bahia que homenageia esse santamarense. Mas a propria história de Theodoro e de Rebouças nos dão a dimensão das cotas raciais, esses “privilegiados” da época, que nascerão negros, filhos de escravos, mas que obtiveram por sorte uma educação formal e privilegiada, vejam só se 200 ou 300 negros no brasil tivessem conseguido isso na época. Pois de tantos brancos engenheiros, mil vezes mais que dois negros, não conseguiram este destaque. É por isso que sou a favor das cotas, sou branco, mais sou a favor pela dívida que temos sobre a história dessas pessoas que ficaram pelo meio do caminho.

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