As dúvidas sobre os acordos com a China

 
Comentários ao post “As possibilidades abertas pela China
 
Por gentilhomme
 
Os acordos com a China não têm sido bons para o Brasil: ainda em 2004 estendemos adiantadamente à ela o status de economia de mercado e o que recebemos foi uma agressiva política de ocupação dos mercados preferenciais de nossos produtos – na América do Sul, num primeiro momento, e de nosso mercado interno em um segundo momento.
 
Até as pedras da Grande Muralha sabem que a China é competitiva em diversos segmentos, notavelmente nos baseados em escala, mas que um avanço nessa velocidade só pode ocorrer com base em uma política comercial agressivíssima, com alto nível de subsídio e de ações estratégicas coordenadas e planejadas. Ao mesmo tempo, a China não fez nenhum investimento de vulto no Brasil e o surto de compras de commodities brasaileiras naõ foi nenhum favor, decorreu apenas de sua avidez em expandir e qualificar sua infraestruttura, política que foi incrementada como parte de seu programa anticíclico depois de 2009.

 
Os dados de IED são desanimadores. Apenas mais recentemente o Inovar Auto e concessões no Pré-Sal conseguiu resultados válidos, até então sua postura foi de comprar terras – o que felizmente Dilma vetou sem dó (aqui sim temos um diferença com o tucanato, eles sem dúvida defenderiam, em coro com o agribussines mais tacanho, a livre venda das terras) – e participar em empreendimentos que lhes permitissem ou garantir sumprimento de matérias primas ou venda de bens em setores vistosos (a China tem política até para melhorar a cara de seus indicadores de poder nacional).  
 
Parte desse desânimo é creditado ao excesso de exigências dos brasileiros – coisas como conteúdo nacional mínimo e contratação de mão de obra local. Boa parte dos policy makers chineses não via o Brasil de forma muito diferente da África até bem pouco. ]
 
Digo “via” porque desde a ampliação da vertente de “abafamento” dos BRICS compartilhada pela tríade EUA-UE-Japão, parece que os BRICS aceleraram sua dimensão bloco geopolítico. Assim como parece realmente disposta a uma integração mais profunda com a Rússia, o Brasil aumetou sua importância como de fato parceiro, como país com importância instituicional para a estratégia de desenvolvimento a longo prazo do novo gigante.
 
Isso caiu como uma luva no pésssimo momento que atravessamos e que, para que não vire o que virou o fundametnalismo fiscal na Europa, depende da criação de fatos capazes de alterar a propensão a investir dos capitalistas. Nesse sentido, mais que virtù, é fortuna o que ocorre. Caso tenha de fato havido uma conversa entre iguais prévia, certamente é ademais uma ótima notícia. Vindo a se realizar o principal grande anúncio – uma ferrovia transoceância, há alguns riscos, mas muito mais oportunidades alvissareiras em jogo. 
 
O que não faz nenhum sentido é opor a aproximação com a China à com os EUA. Embora os EUA certamente nunca tenham, com exceção deum breve interregno durante a II GM, nos tratado de fato como parceiros, no frigir dos ovos os EUA são um grande comprador de produtos manufaturados do Brasil, e são historicamente bons cumpridores do que nos prometem. 
 
A capacidade de articular bons acordos com os dois grandões, aproveitando com cada um o que temos de interesses e complementariedades, é um elemento essencial para que, caso o retorno do fiundamentalismo não logre acabar dominando o ajuste temporário em curso, é um elemento de primeira importância para que possamos retomar a trajetória de ascensão internacional que vigorou entre 2004 e 2010. Sem isso e outras condições, nosso nascente welfare state estará com os dias contados antes de iniciar o grande páreo de 2018.
 
Por Nicolas Crabbé
 
A grande dúvida, o que não está claro, é saber quais serão as contrapartidas exigidas pela China. Não podemos esquecer que países não têm amigos, têm interesses. A atitude da China não é diferente da dos EUA ou da UE: ela olha seus interesses e age em consequência.

A China está num momento de transição, querendo subir na cadeia de valores da indústria, deixando de fabricar produtos baratos e com pouca qualidade e complexidade para passar a níveis cada vez maiores de sofisticação. 

Olhando dessa forma, com certeza não interessará à China que a indústria de transformação brasileira se desenvolva: seria criar um concorrente a mais no mercado. Acredito que o interesse deverá manter-se no fornecimento de matérias-primas ou produtos de baixo valor agregado. Ou seja, a mesma pauta de exportação que já existe hoje, o que não ajudará a indústria brasileira de transformação a se reerguer.

Espero estar errado…

 

Redação

13 Comentários

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  1. Perguntem aos africanos

    Os africanos gostam mais dos chineses que dos ocidentais.

     

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-fechar-parcerias-com-a-china-e-muito-melhor-do-que-com-o-ocidente-por-paulo-nogueira/

     

    Por que a China é um parceiro melhor que os EUA. Por Paulo Nogueira

     

    Você quer luzes sobre o significado da China como grande parceira, e não as sombras que encontra na cobertura das corporações de mídia?

    O mundialmente aclamado livro “Winner Take All” (O Vencedor fica com Tudo), da economista zambiana Dambisa Moyo, é um ótimo caminho.

    (A editora Objetiva adquiriu os direitos. Se não lançou ainda, deveria.)

    Li o livro em 2012,  quando foi lançado, e reli agora por conta dos novos investimentos da China no Brasil.

    Numa linguagem simples, jornalística, Dambisa dá ao leitor aquilo de que ele precisa.

    Mostra, em primeiro lugar, a lógica da estratégia chinesa. Quando e por que a China se lançou vorazmente à compra de recursos mundo afora, sobretudo nos países mais pobres.

    E conta também como os países em que a China mais investiu inicialmente, na África, enxergam, passados anos, o papel chinês.

    Pesquisas feitas por respeitados institutos como o americano Pew demonstram que os africanos gostam dos parceiros chineses.

    Veem neles um sócio melhor e mais confiável do que os americanos.

    Os chineses desenvolvem parcerias que Dambisa qualifica de “simbióticas”. É o tipo de sociedade em que as duas partes precisam muito uma da outra.

     

    Para a China, é vital se abastecer de recursos naturais que tendem a ser perigosamente escassos no futuro.

    E para os países que oferecem tais recursos à China falta dinheiro para explorar adequadamente suas riquezas.

    Ganha um, ganha o outro, ganham todos.

    Adicionalmente, a China investe na infraestrutura dos países dos quais compra recursos minerais, para facilitar o escoamento da mercadoria.

    É exatamente isso que se viu, agora, nos acordos fechados com o Brasil.

    Dambisa sublinha bem a diferença entre o estilo chinês e o estilo ocidental de colocar dinheiro em nações em desenvolvimento.

    Os ocidentais se intrometem e impõem condições muitas vezes terríveis. (Os brasileiros têm memória das exigências do FMI, por exemplo.)

    A China, não. Tudo que ela deseja está estampado nos negócios que fecha. A política fica inteiramente de fora: cada sócio que cuide de suas coisas.

    Nos países africanos, a China foi adiante como sócia. Para ganhar corações e mentes, perdoou dívidas (o que o Brasil também fez, sob críticas ferozes dos conservadores) e construiu na África escolas, hospitais e coisas do gênero.

    Este, enfim, é o jeito chinês de se relacionar com o mundo.

    “Os chineses aparentemente aprenderam com os erros ocidentais e dão a seus anfitriões exatamente aquilo que eles querem – dinheiro, estradas, ferrovias – em troca de acesso a recursos naturais”, escreveu Dambisa em seu livro. “Todos os envolvidos triunfam.”

    Por tudo isso, é muito bom ver o Brasil fechar negócios bilionários com a China – a despeito das vociferações dos desinformados ou mal-intencionados.

    E muito bom não para Dilma ou o PT apenas — mas para o Brasil.

     

    1. Edson, comentario otimo.  Mas

      Edson, comentario otimo.  Mas nao explica a rapacidade da invasao de produtos chineses nos EUA.  De novo, o Nicolas tem um assunto pertinente um pouco abaixo.

      Nao vai dar pra misturar assuntos estatais com assuntos de empresas privadas.  So que quando chegou a isso as empresas chinesas invadiram os EUA e o Estado chines achou otimo ter um, dois. ou tres trilhoes de dividas com os EUA.  Evidentemente isso leva a um desquilibrio fantastico.  Ou eh as commodities ou eh o dinheiro, nao pode ser os dois.

      E o Brasil esta sendo gigolado por seus commodities ha 5 seculos.  Tem mais eh que abrir os olhos, senao vira tudo Ouro Preto:  todo o ouro vazado, sobraram…  igrejas;  nada mais.

      1. invadidos porque quiseram

        Os produtos chineses invadiram os EUA por acordos comerciais. 

        Os EUA foram produzir na china, mais barato.

        Bom para as empresas, ruim para os empregados.

        Mas foram acordos comerciais,  os EUA assinaram porque quiseram.

        Bastava não fazer os acordos. 

  2. “Os acordos com a China não

    “Os acordos com a China não têm sido bons para o Brasil: ainda em 2004 estendemos adiantadamente à ela o status de economia de mercado e o que recebemos foi uma agressiva política de ocupação dos mercados preferenciais de nossos produtos – na América do Sul, num primeiro momento, e de nosso mercado interno em um segundo momento”:

    Seria ingenuidade enorme pensar que isso somente aconteceu com o Brasil, claro -essa mesma invasao eu vi com os proprios olhos aqui nos EUA.

    O aviso do Nicolas eh pertinentissimo.

  3. E ………………………

    “Por tudo isso, é muito bom ver o Brasil fechar negócios bilionários com a China – a despeito das vociferações dos desinformados ou mal-intencionados.

    E muito bom não para Dilma ou o PT apenas — mas para o Brasil.”

     

    Já disse tudo, mas complemento para temperar o assunto:

    Para desespero dos conservadores e coxinhas !!!!!!!!!!!!!!!

  4. Realmente trocar chines por

    Realmente trocar chines por americanos? Ou europeus? Será que o Brasil precisa de uma ferrovia nova para se desenvolver? mas não privatizaram tudas as linhas ferreas, inclusive as da Vale? O que deveriamos estar fazendo é criar uma industria automobilistica nacional de verdade, por exemplo, somos o quarto mercado e até chines tem marca no paós mas nenhuma brasileira, é uma vergonha sem tamanho e de uma falta de visão estrategica sem limites, o país precisa mesmo é inovar e criar, não tem ninguem bonzinho no mundo, enquanto isso deixam um juiz longinguo acabar com a industria naval brasileira.

    1. Você tem ideia de como estão nosso parque ferroviário?

      A Noroeste que atendia o transporte de cargas e passageiros até início da década de 90 acabou de fechar as portas totalmente aqui em CG, inclusive o de carga.. Até o combustível terá de vir de caminhão encarecendo o frete e consequentemente o preços dos combiustíveis no MS. 

      http://www.midiamax.com.br/politica/259763-sindicato-pede-ajuda-reinaldo-evitar-fim-ferrovia-ms.html

       22/05/2015 17p2 – Atualizado em 22/05/2015 17p3

      Sindicato pede ajuda de Reinaldo para evitar fim de ferrovia em MS

      Representantes foram ontem à Assembleia pedir ajuda dos deputados

      Mayara BuenoShare on whatsappShare on facebookShare on printfriendly 

      Representantes do Sindicato dos Ferroviários e alguns deputados estaduais vão se reunir com o governador do Estado, Reinaldo Azambuja (PSDB), nesta sexta-feira (23), para discutir o encerramento das atividades da ALL (América Latina Logística), no trecho entre Corumbá e Bauru (SP).

      SAIBA MAIS

      Azambuja considera radical decisão de greve e quer suspender lei de PuccinelliPara ter concurso, Assembleia aposenta irmã de deputado e filho de ex-prefeitoPrograma de aposentadoria da Assembleia atrai 86% dos servidores

       

      Eles pedem a interlocução do executivo e legislativo para cobrar da União, por entenderem que a concessionária está ‘desmontando o sistema ferroviário’, com demissões que vêm ocorrendo  – só nos últimos meses teriam ocorrido ao menos 100 demissões e há previsão de mais 180.

      Além disso, os representantes questionam a ANTT, e consideram que ela está sendo conivente e omissa com ações da ALL, que se juntou A Rumo Logística em novembro passado.  

      Uma Audiência Pública foi defendida pelos deputados Marquinhos Trad (PMDB), Barbosinha (PSB), Eduardo Rocha (PMDB) e Amarildo Cruz (PT), com a participação da ANTT e autoridades federais.

      Juntas, as empresas ALL e Rumo prometem investir R$ 8 bilhões em ferrovias do país. “Tanto investimento mas não sobra nada para nossa malha. Definiram o nosso trecho como ‘antieconômico’ mas se não gera lucro, é porque não houve investimentos”, afirmou ontem o diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Empresas Ferroviárias de Bauru e Mato Grosso do Sul, Ivanildo da Silva.

      Um dos temores dos parlamentares é o fim da ferrovia que passa em Três Lagoas, um dos principais polos industriais do Estado.

       

       

  5. Por favor…

    Como profissional de língua portuguesa, imploro e suplico que não usem mais esse acento grave ante pronomes pessoais (à ela). É feio e nada significa, além de estar redundantemente errado.

  6. Globalização

    O Brasil convidou a China para fazer um churrasco da lage. A China ajuda a fazer a lage a comprar o material  e o Brasil serve um churrasco para todos. Qual o problema disso?

    Os EUA não gostam desse relacionamento igualitario. Preferem te emprestar dinheiro, condicionar o orçamento doméstico do país ao empréstimo  e mandar na obra. Prefiro a China.

  7. Amazonia e “Belo Monte”

      1. Odebrecht Defesa e Tecnologia assina memorando de entendimento (MOU ), com a China para o projeto de monitoramento que cobrirá toda a “Amazonia Legal”, em: http://www.planobrazil.com/odebrecht-defesa-e-tecnologia-assina-memorando-para-desenvolvimento-do-programa-de-integração-da-amazonia-legal

       2. Belo Monte: A Stategrid ( SGCC – no Brasil: http://www.stategridbr.com ), empresa chinesa responsavel pelas futuras linhas de transmissão, propos a seus sócios nacionais, trazer até 5.000 chineses para apressar os trabalhos ( esta na FSP de hj. e no UOL ).

       Sobre o item 1 : O CENSIPAM é um  projeto que se arrasta há anos, e será muito atingido nos cortes do orçamento federal, portanto esta iniciativa totalmente privada é bem vinda – em termos – pois colocar na mão de outro país, independente de qual seja, o acesso a todos os recursos de uma região da Nação, é um risco muito grande, não apenas de segurança, mas economico e politico.

        Sobre o item 2 : Caso tal proposição for real – creio que é – deve ser barrada de imediato, sem tergiversações, pois esta prática de “importação de mão de obra “, quando em projetos de infraestrutura financiados por empresas e capitais chineses, é comum na Africa e na Asia – ninguem me contou, eu vi, tanto em Angola, Nigéria e Namibia ( porto de Windhoek, quando da reforma por empresas chinesas, até a segurança das instalações era feita por soldados chineses, funcionários do governo local tinham que solicitar ao embaixador chinês o acesso as instalações ).

         Claro que nesta altura do campeonato, nas condições macroeconomicas existentes, na baixa capacidade de investimento atual, qualquer dinheiro novo é bem vindo, MAS as condições devem ser muito bem explicitadas, e o gerenciamento e gestão destes projetos serem balanceadas de acordo com nossos interesses.

    1. Caro Junior

      Quanto ao item 1, infelizmente todas as informações coletadas estão sob o poder americano, desde a compra dos radares da amazonia (SIVAM). Será apenas mais um a ter acesso as informações previlegiadas que um pais sério não deixaria ninguem saber. Devemos isto ao governo FHC. Quanto ao item dois, está corretíssimo. Deixar estrangeiros para tocar a obra aqui é dar atestado de incompetência e deixarmos ser submisso aos chineses. Isto já aconteceu por aqui. A telefonia privatizada por FHC aos espanhois gerou funcionários deste país achando que estavam no território deles.

  8. Falar de industria de transformação

    OPs, falar de industria de transformação me remete a pensar em PORCAS E PARAFUSOS. 

    Senhores, industria agregadora de valor é BIT.

    Conhecimento e so conhecimento.

     

    BEAT, bit,,,bit…bit…bit…..BYTE!

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