As escutas ilegais do jornalismo inglês

Jornal GGN – De acordo com os testemunhos prestados ao Supremo Tribunal de Londres, jornalistas usaram “milhares de vezes” escutas ilegais para perseguir celebridades. A coisa era feita em escala industrial, pelo Daily Mirror, Sunday Mirror e People. Para se ter ideia, apenas um jornalista, Dan Evans, do Sunday Mirror, disse que grampeou cerca de 100 celebridades todos os dias, de 2003 a 2004.

Grampos telefônicos foram usados ‘em escala industrial’ na imprensa inglesa

Do O Globo

Grupo MGN é acusado de manter rede de escutas por mais de dez anos e publicar conteúdo de conversas privadas de celebridades

Paul Gascoine. Ídolo do futebol inglês teve telefone grampeado e estampou manchetes de jornais do grupo MGN – Wikimedia Commons

LONDRES — A “escala industrial” de escutas telefônicas no “Daily Mirror”, “Sunday Mirror” e “People” faziam o “News of the World” parecer uma “indústria pequena” em comparação. Dezenas de celebridades, incluindo a atriz Sadie Frost e o ex-jogador de futebol Paul Gascoigne, foram grampeados milhares de vezes por jornalistas que utilizaram a prática ilegal de meados de 1999 até 2009, dizem os testemunhos ao Supremo Tribunal de Londres.

Segundo o diário britânico “Guardian”, o primeiro sinal da verdadeira extensão dos grampos telefônicos nos três veículos, o tribunal ouviu que o ex-jornalista do “Sunday Mirror” Dan Evans grampeou cerca de 100 celebridades todos os dias, de 2003 a meados de 2004. Tal era a dependência de escutas telefônicas para as histórias que um jornalista veterano estava desesperado para que Evans criasse “uma máquina capaz de quebrar automaticamente códigos de segurança”, informaram ao tribunal.

David Sherborne, o advogado de oito vítimas, disse que grampos nos veículos eram “completamente sem precedentes” e que o conhecimento da atividade foi para os níveis mais altos do grupo midiático MGN.

— Isto não foi apenas o trabalho de repórteres novatos. Muito pelo contrário — disse Sherbone. — As provas demonstram que a intercepção de correio de voz, bem como a obtenção ilícita de informações pessoais por falsidade ideológica ou uso de investigadores privados, estava generalizada e era comum entre um grande número de jornalistas em todos os três veículos da MGN.

Entre junho de 2002 e meados de 2006, Sherborne disse que os jornalistas da MGN fez cerca de 10 mil chamadas para a plataforma de correio de voz da Orange, que permite que as pessoas acessem suas mensagens chamando um número geral e inserindo seus dados pessoais. Ele disse que os jornalistas veteranos da MGN deram “declarações deliberadamente trabalhadas e insinceras” ao inquérito Leveson sobre ética na imprensa, e acusou a MGN de ​​reter provas essenciais, o que significa que apenas “a ponta do iceberg” poderia ser revelada.

Dois jornalistas veteranos, que não podem ser identificados por razões legais, supostamente apresentaram as escutas telefônicas a Evans em abril de 2003 e ordenou-lhe para construir um “banco de dados de grampos telefônicos” usando uma lista de números de celulares de celebridades. Evans, que mais tarde se declarou culpado de grampear telefones, encobriu suas atividades ilegais, jogando seus telefones celulares — apelidado de “queimadores” — no rio Tâmisa a cada dois meses.

A prova veio no dia de um julgamento civil aberto por oito reclamantes — incluindo Frost, Gascoigne e o diretor criativo da BBC, Alan Yentob — contra a MGN por invasão de privacidade. Eles pedem que o juiz Justice Mann avalie a extensão das escutas telefônicas nos três títulos e apresente um veredicto sobre os danos causados a cada um dos requerentes. Os outros envolvidos no caso são as estrelas novelas Lucy Taggart, Shane Richie e Shobna Gulati, a aeromoça Lauren Alcorn e o produtor de TV Robert Ashworth.

Frost teria sido grampeada diariamente por ter sido casada com o ator Jude Law e manter uma amizade com a modelo Kate Moss. Ela descreveu ter suas mensagens de voz interceptadas como ser “monitorada e perseguida por uma espécie de polícia secreta, que estavam cavando tanto quanto podiam para descobrir todos os detalhes possíveis sobre nossas vidas privadas, bem como nossas vidas profissionais, para usar isso contra nós”.

Sherborne disse que as informações “mais profundamente privadas” foram interceptadas e publicadas por jornalistas, incluindo o comparecimento de Frost a reuniões do AA, os problemas financeiros de Richie, o divórcio de Ashworth, e a relação de Taggart com o ator Steve McFadden.

Das histórias que Mirror Group admitiu serem resultado de grampos telefônicos, 49 foram impressas no “Sunday Mirror”, 40 no “Daily Mirror” e 23 na “People” entre Junho de 2000 e Outubro de 2006.

A editora havia negado veementemente qualquer irregularidade até setembro do ano passado, quando fez admissões limitadas no tribunal. Desde então, o grupo estabeleceu um fundo de compensação de 12 milhões de libras para vítimas de grampos, e no mês passado publicou um pedido de desculpas em seus três jornais por “uma intrusão injustificada e inaceitável na vida privada das pessoas”.

Redação

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Liberdade de imprensa,

    Liberdade de imprensa, tudo

    Liberdade dos indivíduos, nenhuma.

    Câmeras em todos os lugares, condomínios, ruas, shopping, lojas, aeroporto que lhe escaneia, invasão de v em nossas residências, revistas nos estádios de futebol …

    Onde está a liberdade que nos prometeram?

  2. reflexões 2 (SwiisLeaks)

    …………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………….

    “No caso do SwissLeaks, fizemos parceria com Fernando Rodrigues, respeitado jornalista investigativo do UOL, que até há pouco trabalhava na Folha. Rodrigues revelou detalhes de contas suíças ligadas a envolvidos no escândalo da Petrobras e de empresários de ônibus do Rio. Recentemente, ele sugeriu que incluíssemos outro grupo de mídia para investigar com ele os arquivos brasileiros do SwissLeaks. Agora, o ICIJ trabalha também com “O Globo”.

    O Senado brasileiro prometeu abrir inquérito sobre o SwissLeaks. Se as autoridades locais quiserem seguir o exemplo de outros países, devem requisitar ao governo francês os arquivos do HSBC referentes ao Brasil, que envolvem mais de 6.600 contas bancárias, ligadas a mais de 8.600 clientes que possuíam cerca de US$ 7 bilhões em 2006/2007, segundo a análise do ICIJ.”

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador