As ilegalidades da PM na era Alexandre de Moraes

Jornal GGN – Especialistas criticaram a entrada da Força Tática da Polícia Militar, sem mandado judicial, no Centro Paula Souza, na manhã de ontem (2). O local está ocupado por estudantes desde a semana passada, em protesto pela falta de merenda. O Tribunal de Justiça considerou a ação policial como ilegal. A PM deixou o prédio na noite de ontem.

José Afonso da Silva, constitucionalista e ex-secretário de Segurança Pública no governo Mário Covas, diz que, quando a Justiça autoriza a reintegração de posse, “ela controla a execução e evita que haja algum arbítrio”. Para ele, cabe uma ação disciplinar. Já Conrado Hubner, da Faculdade de Direito da USP, diz que, há alguns anos, a Polícia Militar de São Paulo vem testando os limites da legalidade e classificou a ação como imprudente.  Frederico Almeida, professor de ciência política da Unicamp, afirma que a ação da PM foi “claramente intimidatória”. Leia mais abaixo:

Da Folha

Entrada da PM no Paula Souza foi imprudente, dizem especialistas

A entrada da Força Tática da Polícia Militar sem autorização da Justiça no Centro Paula Souza nesta segunda-feira (2), ocupado por estudantes desde asemana passada, foi, no mínimo, imprudente, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

A ação policial foi ilegal, segundo o Tribunal de Justiça. De acordo com o juiz Luis Manuel Pires, a entrada da Força Tática ocorreu sem mandado judicial. No local, funciona a coordenação das escolas técnicas de São Paulo. A PM deixou o Centro Paula Souza na noite desta segunda.

Para o constitucionalista José Afonso da Silva, ex-secretário de Segurança Pública do Estado (governo Mário Covas), se a reintegração de posse tivesse ocorrido de fato, a medida da Secretaria da Segurança Pública deveria ter sido amparada integralmente por autorização judicial.

“Houve uma facilitação para que os funcionários entrassem no prédio. Não tendo havido confronto, o problema fica menos grave”, afirmou. “Para permitir que os funcionários entrassem [no prédio], o certo seria ter buscado uma decisão judicial. Isso seria o correto, evitaria qualquer problema.”

“Quando a Justiça autoriza a reintegração, ela controla a execução e evita que haja algum arbítrio. Neste caso, não houve confronto, não houve coisa mais séria. O que cabe agora é uma ação disciplinar, se a decisão partiu da PM”, conclui José Afonso da Silva.

 

O professor da Faculdade de Direito da USP Conrado Hübner Mendes diz que a Polícia Militar de São Paulo, há alguns anos, vem testando os limites da legalidade. “O fato de o prédio estar ocupado [por estudantes] muda o regime jurídico da situação. Ingressar no local foi, no mínimo, imprudente por parte da PM”, disse Hübner.

“O Tribunal de Justiça, finalmente, tem imposto alguns limites à arbitrariedade policial, no caso das ocupações de estudantes. Nas ruas, no entanto, o Judiciário como um todo tem deixado a desejar.”

INTIMIDAÇÃO

Para Frederico de Almeida, professor de ciência política da Unicamp e estudioso do tema, “a ação da PM foi claramente intimidatória. Não havia motivo para ingressar no prédio. Não houve, inclusive, qualquer abertura para o diálogo. A polícia agiu friamente, como tem que agir sempre, mas não houve chance de diálogo”, diz.

Almeida, que esteve no Centro Paula Souza desde o começo da tarde desta segunda, diz que a situação era muito tensa e desgastante. “Fiquei lá das 13h até o começo da noite. Eram os mesmos policiais que estavam de pé, parados. Foi uma situação muito desgastante para todos, inclusive para os PMs.”

O sociólogo Renato Sérgio de Lima, professor da FGV-SP e vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que a polícia tem seus argumentos ao dizer que entrou para garantir o ingresso dos funcionários.

“Mas não foi uma decisão tomada na hora, foi uma decisão do comando da polícia ou da Secretaria da Segurança Pública, pois a Força Tática estava lá. Na segurança pública, a sociedade delega à polícia uma excessiva autonomia para tomar decisões táticas e, muitas vezes, ela adota atitudes políticas e estratégicas”, afirmou.

Para Lima, “isso não é saudável”. “Além de agravar os conflitos, fragiliza as instituições. Precisamos saber qual foi, exatamente, a cadeia de comando. Se a secretaria contrariou uma decisão da Justiça, o governo precisa ser cobrado por isso. Qual linha de comando será responsabilizada?”, questionou.

Em nota, o governo Alckmin afirmou que em nenhum momento, “se adiantou na execução da reintegração de posse” e reiterou a posição da PM, de que os policiais, “unicamente, garantiram acesso ao prédio aos funcionários do Centro Paula Souza. Tanto é verdade que os estudantes continuam a ocupação”.

A nota do governo do Estado informa ainda que o secretário Alexandre de Moraes solicitou a audiência conciliatória –em que deverá ser decidida a expedição do mandado de reintegração de posse para esta terça-feira (3).

 

Redação

2 Comentários

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  1. Comentário.

    Minha parede questiona se nenhum policial ali considerou que seu ato é abuso de poder.

    Para começar…

    Ou se eles estão ali, justamente, pois não colocam nem isto em questão.

  2. minist da justiça Alexandre Fleury

    Nassif vc tinha comentado a poucos dias atras sobre esse Alexandre de Moraes ser convidado pra fazer parte do minist da justiça do golpe…Se esse sociopata intimidador de secundarista for pra Brasilia…que da inveja até no Delegado Fleury (ditadura militar), só resta guerra civil.

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