Autoridade e poder, na teoria e na prática

Por Poderitário

Comentário ao post “A lição sobre poder que Joaquim Barbosa traz aos brasileiros, por Paulo Nogueira

Já manifestei aqui meu entendimento de que “autoridade” é um poder delegado e portanto, reconhecido pelos delegantes.
 
Já o Poder é simplesmente a capacidade de … poder … (com ou sem delegação).
 
Poder fazer, poder mandar, poder estuprar poder liderar, poder salvar, poder matar, poder educar, poder …
 
E aquele, máximo, que muitos buscam por toda vida e só largam quando descobrem que afinal cairão igual aos (ou pior que os) demais:
 
O “poder poder”.
 
Ocorre que em nossa História, o autoritarismo e o poder econômico (usurpado ou presenteado), em sabida combinação sócio-política-econômica-informacional, aparentemente nos acostumou a aceitarmos as usurpações do poder.
 
Embora aprendamos na escola sobre um monte de instituições, princípios, etc., que até entendemos como razoáveis, somos atropelados por estas usurpações o tempo todo.

 
E não fazemos nada! Somos uns nadegões! 
 
Joaquim Brabosa, em última análise, foi autorizado por nós (que elegemos quem o indicou e aprovou) a ser autoridade, com delegação específica de “poder”(es). Inclusive diferentes de tantos outros, como os do presidente, os legisladores em geral, os prefeitos e governadores, etc.
 
Observemos que este funcionário público regiamente pago e subsidiado por nós recebeu, em resumo, o seguinte poder, também delegado por nós: ser um juiz da Suprema Corte.
 
Não precisamos aqui discutir o que seja esta delegação de poder, pois temos noções aproximadas do que seja (embora alguns a tenham deturpada (por posição emocional ou cultural).
 
Mas que poder(es) não estão inclusos nesta delegação? 
 
Desrespeitar a lei (ao contrário!); não defender a lei; ser autoritário; manipular processos: ser carcereiro; ser promotor; ser justiceiro; ser emocionalmente afetado; fazer visíveis chicanas; praticar vinganças em nome de quem quer que seja; não dar o exemplo; não dar satisfações à sociedade (que lhe paga e delega); não usar a estrutura e organização do Judiciário por desejos e necessidades pessoais; não debochar da ou avacalhar a Justiça; não manipular a lei; desrespeitar seus pares (e subalternos); desrespeitar os ritos e o decoro de sua função; desrespeitar os demais poderes; fazer política; desfazer da Política; … [tem mais, mas já deu pra entender, né?]
 
E por que o sr. Barbosa pensa e age como se seu Poder fosse acima disso tudo aí e mais alguma coisa? Por que percebemos que ele atropela tudo isso aí que NÃO LHE DELEGAMOS (e portanto é poder que ele não tem!).
 
Porque somos nadegões!
 
E alguém dirá: então vamos sair às ruas, pegar em armas, incendiar o STF, quebrar tudo, para a Copa?…
 
Calma lá, nada disso (embora as vezes role uma vontade), estou dizendo que nós, como sociedade, apesar das instituições existirem e estarem funcionando, estão ocupadas (aparelhadas?) e são operadas por gente que tem esta mesma (in)cultura de poder, derivada de décadas de submissão, desinformação e até silêncio, desde a colônia. Ou seus contrários.
 
Que de um lado é de “direito adquirido” (ou a ser perseguido e virar adquirido). Portanto, não estão funcionando, não por que não existem, mas por que nem querem! Neste caso específico, é inacreditável que tantas instituições como o Congresso, o MP, o próprio STF, o Min. Justiça, a OAB, o CNJ, a mídia, a PF, a AJD, ONG´s e outras entidades diversas públicas e privadas…
 
Para resumir, eu que sou um otimista, neste momento pessimista, pergunto-me se somos um país de nadegões.
 
Subjugado por um poder mais nadegão ainda.
 
Mas, infelizmente, ainda Poder.
Redação

6 Comentários

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  1. Abuso de poder contra Dirceu é ruim pro Brasil
    Desrespeitar a lei (ao contrário!); não defender a lei; ser autoritário; manipular processos: ser carcereiro; ser promotor; ser justiceiro; ser emocionalmente afetado; fazer visíveis chicanas; praticar vinganças em nome de quem quer que seja; não dar o exemplo; não dar satisfações à sociedade (que lhe paga e delega); não usar a estrutura e organização do Judiciário por desejos e necessidades pessoais; não debochar da ou avacalhar a Justiça; não manipular a lei; desrespeitar seus pares (e subalternos); desrespeitar os ritos e o decoro de sua função; desrespeitar os demais poderes; fazer política; desfazer da Política; … [tem mais, mas já deu pra entender, né?] Abuso de poder é crime, mas no Brasil, recém saído de uma didatura sangrenta, há muitos que acham isso até bonito, mal sabem que isso é péssimo para o Brasil e que o abusadores da laia de Barbosa podem se virar contra qualquer um de nós algum dia, de forma que fariam melhor se, não reagissem pelo menos não apoiassem isso, pois se trata de crime a ser punido, o Senado pode fazer isso para colocar Barbosa nos trilhos 

  2. Só acrescento a minha vergonha.

    Que faço? Sinto vergonha. Tento entender este poder que se adquire do que não é, nem tem, mas que pode ser exercido sem nenhum problema. Não há limites. É desastroso à sociedade.Alguma coisa está errada.  Este poder esta arraigado até  por funcionários públicos de baixissimo escalão.  Tenho o poder de ter poder, então…, e não encontra barreiras. E veja o poder do pig.

    Estou lendo o Os Donos do Poder do Faoro para ver se entendo. Mas a vergonha continua.

  3. Existe um erro de

    Existe um erro de analise.

    Joaquim Barbosa não detem qualquer poder especial, o poder de atacar, perseguir e desrespeitar qualquer limite não é dele, nem do STF, nem do Lula.

    Esse poder foi informalmente concedido pela elita financeira através da grande midia, enquanto JB perseguir os inimigos desta elite, tudo bem, mas se ele tentar fazer algo que contrarie os verdadeiros donos do poder ele será rapidamente descartado.

    1. Existe um erro de entendimento

      O que vc diz, a partir da segunda linha, é o que comento.

      JB (ou qualquer um nos 3 poderes) tem, de direito, poderes delegados, dentro dos quais ele é e tem autoridade.

      Que inclusive são válidos apenas durante seu mandato.

      Fora disso, o poder é usurpado, seja lá por que origens e meios forem (informais, secretos, descarados, mídia, elite, etc.).

      Mas não deixa de ser poder de fato. Mas não de direito. E ter poder de fato não significa sempre ter autoridade.

      Nossa história de autoritarismo, mudanças não institucionais (golpes), concentração e abuso de poder econômico controlando (e aparelhando) as instituições, e similares fez nossa cultura social acostumar-se a ser subjugada pelo poder de fato e a não reconhecer nem questionar a diferença.entre ambos.

      Esta cultura, arraigada nas instituições (congresso, ministérios, judiciário, executivo, mídia E sociedade em geral) faz com que aceitemos e não questionemos, institucionalmente, as tão comuns deturpações de autoridade e abusos de poder.

      Mudar esta cultura é  um desafio gigantesco (e lento), Revoluções costumam ser ineficazes porque além de apenas trocar (parte d’) os ocupantes do poder, não são institucionais e acabam não mudando a cultura de não reconhecer poder sem autoridade.

      E que está no poder (com ou sem autioridade) não quer permitir que esta cultura mude.

      Pois ai perderão, eles, o “poder poder”.

  4. Uma sugestão…

    Nassif, ao falar sobre “poder delegado” e “poder exercível”, nós (todos nós) precisaríamos de um background bibliográfico comum para a discussão produtiva do conceito de “poder de fato”. Cito algumas obras:

    1. O Código de Hamurabi (com uma desejável leitura comparativa dos “Dez Mandamentos”);

    2. A República, de Platão;

    3. As Leis e Da República, de Marco Túlio Cicero;

    4. O Príncipe, de Maquiavel;

    5. Discurso da Servidão Voluntária, de Etiénne de La Boétie.

    Isso é básico (diria essencial) para uma percepção para além da atual visão idealista e hipócrita de poder e política moderna (tida como modelo de avanço civilizatório) que esconde a real dimensão e prática vil deste campo de atuação humana.

    Porque a diferença entre o que “deveria ser feito ” e o que “existe e se faz” é o abismo que separa o ideal do real – objeto de discussão em inúmeras ciências como Filosofia, Sociologia, História, dentre muitas outras. Ignorar esse debate centenário seria contraproducente.

    Abs.

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