Autoridades não sabem se ‘volume morto’ da Cantareira pode ser utilizado

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Sugerido por Assis Ribeiro

 

DA REDE BRASIL ATUAL

SÃO PAULO E UNIÃO ADMITEM QUE NÃO SABEM SE ‘VOLUME MORTO’ DO CANTAREIRA É INSALUBRE

Ofícios enviados por agências ao Ministério Público oferecem respostas evasivas sobre temas delicados, como racionamento, plano de contingência e qualidade da água do fundo das represas do Cantareira

Por Diego Sartorato

A Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE), do governo de São Paulo, encaminharam nesta semana ao Ministério Público respostas aos questionamentos sobre as medidas adotadas para garantir o abastecimento de água das 14 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e de municípios do interior que dependem dos reservatórios do Sistema Cantareira.

Os ofícios enviados aos promotores do Grupo de Atuação Especial para o Meio Ambiente (Gaema), no entanto, provocam mais dúvidas do que esclarecimentos: de acordo com as agências reguladoras, não há informação técnica sobre a qualidade da água que será retirada do “volume morto” do Sistema Cantareira, reserva abaixo do nível das bombas de sucção da Sabesp que começa a ser captada neste mês para compensar a queda histórica dos reservatórios. Da mesma forma, não há estudo técnico sobre a duração dos reservatórios e nem previsão de recomposição dos níveis normais do Sistema, que está com apenas 9,4% de seu volume útil disponível.

“A resposta dos dois órgãos foi: ‘não sabemos, não é conosco, delegamos à Sabesp'”, resume o promotor Ivan Carneiro Castanheiro, do Gaema de Piracicaba, um dos autores do inquérito que investiga possíveis omissões do poder público na gestão da água no estado. “O risco à saúde pública é alto. Sabemos que pode haver contaminação por metais pesados, como chumbo e cádmio, nos sedimentos do fundo da represa. Especialistas avisam sobre risco de contaminações que podem causar problemas de tireoide e nos rins, além de diarreias. É fundamental que exista estudo sobre isso. Ainda que a Sabesp consiga tratar a água para São Paulo, a água que vai para os pequenos municípios também é afetada, e eles não têm estações de tratamento preparadas para isso”, afirma Castanheiro.

O Ministério Público ainda aguarda informações da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), mas, segundo o documento do DAEE, “esse assunto será conduzido pela Sabesp, com fiscalização da Vigilância Sanitária”. Já a ANA destaca que, em 1º de abril, a Sabesp foi orientada a realizar todos os estudos técnicos solicitados, embora esse material ainda não tenha sido concluído. “Não recebemos informação oficial da entrega desses materiais, e também não recebemos nada”, lamenta Castanheiro.

Na comunicação ao MP, ANA e DAEE também esquivaram da responsabilidade por convocar o racionamento de água, conforme sugerido pelo Gaema. O texto indica que quem teria responsabilidade de instituir o rodízio de água seria da Agência Reguladora de Água e Energia de São Paulo (Arsesp). A ANA, no entanto, tem entre suas atribuições a convocação do racionamento preventivo de água. O artigo 2º do decreto 3692, de 2000, que regulamenta a atividade da agência, diz que ela pode “declarar corpos de água em regime de racionamento preventivo e aplicar as medidas necessárias para assegurar seus usos prioritários em consonância com os critérios estabelecidos em decreto ouvidos os respectivos comitês de bacia hidrográfica, se houver”.

“É, mais uma vez, o jogo de ‘empurra'”, critica o promotor.

Entre as respostas evasivas de ambas as agências, consta ainda a admissão, por parte do DAEE, de que a Sabesp não cumpriu o previsto na outorga concedida em 2004 para exploração dos reservatórios do Cantareira nunca apresentou um plano de contingência para a situação atual, e está agindo de improviso para lidar com a escassez. De acordo com Castanheiro, desde o princípio do ano a Sabesp tem ressaltado que tinha plano de contingência para lidar com uma situação de excesso de águas, mas não de estiagem. A outorga para a Sabesp tem validade apenas até agosto deste ano, mas, por conta da situação de emergência, o DAEE admite que a renovação por um período de mais 10 anos não deve ocorrer. Assim, o uso da água do Sistema Cantareira a partir dessa data terá de ser discutida periodicamente por Sabesp, ANA e DAEE, de acordo com o volume do reservatório até o próximo ano.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

12 Comentários

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  1.   Resumo da ópera: a SABESP

      Resumo da ópera: a SABESP (e por tabela o governo do Estado) está prestes a envenenar parte da população da Zona Norte da cidade de São Paulo e adjacências.

      Alckmin começa a me lembrar o demente Burnier e seu PARA-SAR.

  2. “não se sabe a QUALIDADE da

    “não se sabe a QUALIDADE da água retirada do “VOLUME MORTO”… AHAHAHA

    Como estou “educadinha hoje, e “zen”, direi que o PSDB vai oferecer à população LAMA EM COPO.

    Como não fico “zen” por muito tempo…desconfio que serão…COLIFORMES FECAIS EM COPO.

    Como a “educadinha” acabou de sair, ahahahahaha VAI SER SHAKE DE COCO MESMO! 😉

    É O PSDB…”SOCIALIZANDO” DOENÇAS!!!!!! 

  3. Metais pesado é MORTE LENTA

    Tenho uma amiga que tem intoxicaçao por mercúrio há muitos anos (os únicos tratamentos que existem ou tem efeitos colaterais sérios ou sao alternativos e só estao indisponíveis para os clientes dos poucos médicos que trabalham com eles; sao todos médicos particulares, e pouquíssimos). O mercúrio atacou quase todos os órgaos dela, sobretudo a vista e o PÂNCREAS. Ela nao pode comer amido. Já imaginaram isso? Nao é só nao poder comer trigo, etc, por causa de gluten. Ela nao pode comer amido, ou seja, qualquer massa, arroz, batata de qualquer tipo, e até a maioria dos legumes (que têm pouco, mas têm; até cenoura, beterraba, etc.). Só pode comer folhas e carne. 

  4.  
    O CHOQUE DE GESTÃO PROVOCA

     

    O CHOQUE DE GESTÃO PROVOCA APAGÃO NA CANTAREIRA

    O udenista Janio Quadros merecia um melhor reconhecimento por parte de seus moralistas seguidores tucanos. De qualquer forma, a SABESP propicia dar ares de visionário post mortem ao histriônico bufão.

    Imagino a cena do Jânio sendo inquirido a propósito dessa genial solução técnica encontrada pela competência tucana da SABESP. Solução que submeterá a população paulista a fantástica experiência de beber (?), melhor ingerir, água do “volume morto” da Cantareira.

    Diria o Jânio Quadros apoiado-se em sua inseparável vassoura, fuzilando o jornalista com aquele olhar de infrator flagrado na contramão. “Meu filho! Água do volume morto é lama! Lama não é líquido. Portanto, em não sendo líquido, não poderia bebê-la. E, se imagina!… Engana-se… pois, também não a come-la-ei . Isso, por uma singela e simples razão, não sou um suíno.”

     

    Orlando

  5. “Insalubre” de “envenenado”

    “Insalubre” de “envenenado” ou de “sujo”?

    Eh logico que o segundo eh certo e o primeiro eh improvavel.

    1. “Sabemos que pode haver

      “Sabemos que pode haver contaminação por metais pesados, como chumbo e cádmio, nos sedimentos do fundo da represa. Especialistas avisam sobre risco de contaminações que podem causar problemas de tireoide e nos rins, além de diarreias.”

        Ivan, quem diria… dessa vez você foi até bonzinho com os tucanos.

  6. Faturamento da Cantareira cresceu enquanto represas secavam

    Da água da bica à Sabesp: a seca em São Paulo é culpa de quem?

     

    Dentre todos os culpados pela falta d’água em São Paulo, São Pedro é o único inocente. As estiagens e as deficiências de abastecimento são tanto antigas quanto previsíveis. Sempre foi assim, desde a chegada dos colonizadores. Os índios, ao contrário, viviam numa fartura da qual só herdamos a memória.

    A aparente fartura e a seca recentes têm ambas a mesma origem. Pra quem não sabe, ou não lembra, o sistema Cantareira foi projetado pela antigaComasp – Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo, pouco depois do golpe de 1964, em plena ditadura. Naquela época já se previa – novamente – que iria faltar água em São Paulo. E os milicos tinham pressa em fazer grandes obras para impressionar.

    Até 1880 só havia água de pipa ou de bica. Em 1881 foi criada a Companhia Cantareira de Águas e Esgotos para o fornecimento de três mil metros cúbicos por dia, equivalentes a 50% da água encanada consumida na capital A empresa privada – veja você! – foi estatizada pelo governo do estado por causa dos péssimos serviços prestados à população. Naquela época o sucateamento das empresas era feito para estatizá-las, e não privatizá-las, como é feito hoje.

    A Comasp foi criada em 1968 para a captação e tratamento das águas que abasteciam a Grande São Paulo. E eles previram tudo direitinho. O sistema Cantareira seria um conjunto de cinco reservatórios correspondentes às barragens do rios Jaguari e Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Juqueri e Águas Claras que iriam produzir 33 metros cúbicos por segundo, quando todas as represas ficassem prontas. A construção foi feita em duas etapas: Na primeira foram feitas as barragens a jusante do rio Cachoeira, produzindo 11m³/s. Depois foi acrescido o reservatório da barragem dos rios Jaguari e Jacareí, para atingir os 33m³/s previstos para o sistema.

    “Reservatório”, como se sabe, foi feito para “reservar” a água dos rios, permitindo regular seu aproveitamento em casos de seca ou chuva. E osreservatórios do sistema Cantareira foram planejados para fornecer água em abundância por bastante tempo, a ponto de fazer os paulistas esquecerem por algum tempo a escassez de água que os milicos pretenderam acabar.

    “Volume morto”, o lodo que se acumula nos fundo dos reservatórios e está prestes a ser filtrado para retirar água da lama, passou a ser chamado de “reserva técnica”, como se o reservatórios não fossem uma reserva e um tanque de decantação ao mesmo tempo. E “rodízio” virou um neologismo para “racionamento”. Assim como você deixa seu carro na garagem uma vez por semana, também poderá encostar seu chuveiro, cozinha e máquina de lavar.

    Em 1972, os economistas Paulo Roberto Davidoff Cruz e Cláudia dos Passos Claro, da Secretaria de Planejamento do estado previam, com bastante exatidão, que a demanda por água encanada na região metropolitana seria de 68,29 metros cúbicos por segundo em 1990, para uma população estimada de 17 milhões de habitantes. Essa previsão só foi atingida no ano 2.000. Hoje, a população servida pela Sabesp na Grande São Paulo é de 16,3 milhões de pessoas, que receberam 73,2 metros cúbicos por segundo somente no ano passado. Se eles erraram, foi para mais, não para menos.

    Quem distribuía a água captada pela Comasp, porém, não era ela própria como faz a Sabesp hoje. Era a Saec – Superintendência de Águas e Esgotos na Capital, sucessora do Departamento de Águas e Esgotos, o DAE. Em 1972 a Saec já admitia uma perda de 30% da água distribuída por causa de vazamentos nas tubulações. Exatamente o mesmo índice da Sabesp hoje, 42 anos depois.

    Os estudos conduzidos pela Seplan paulista consideraram apenas a demanda para consumo doméstico. A demanda industrial não foi prevista, pois segundo eles seria improvável garantir o fornecimento dos grandes volumes contínuos exigidos pelas indústrias, além da ausência, naquela época, “de indicadores confiáveis sobre a estimativa de grande consumo industrial”. Os industriais preferem captar a água de que necessitam do que depender do abastecimento público duvidoso, acreditavam os técnicos do Estado desde então.

    O engenheiro Haroldo Jenzler, presidente da Comasp, calculou em 1972 a necessidade de investimentos de 100 milhões de dólares ao ano durante 20 anos para realizar as obras projetadas para a Grande São Paulo. E concluiu: “Ou aceitamos as metas que serviram de base para esses investimentos e conseguimos os recursos necessários, ou deveremos modificar as metas.”

    Os governos estadual e federal resolveram manter as metas e por isso criou a Sabesp em 1973, pela fusão da Comasp, da Saec – distribuidora da capital – do Fomento Estadual de Saneamento Básico e da Sanevale do Vale do Paraíba, entre outras empresas. Ela “vende” diretamente ao consumidor a água tratada que traz dos rios. E “vende” também para os grandes consumidores industriais urbanos, que não dispõem de fontes próprias de abastecimento, como supunham os planos iniciais.

    seca

    Para atender a demanda industrial, a Sabesp ampliou em 13 vezes sua produção de água de “reúso”, proveniente do tratamento parcial de esgotos, em sociedade com a Odebrecht. Ainda assim, a produção é de apenas 395 mil metros cúbicos por mês, equivalentes a 0,15 metros por segundo. Se a população cresceu menos do que as previsões iniciais, a falta de previsões sobre o crescimento do consumo industrial fez toda a diferença.

    Não são surpreendentes, portanto, os dados dos resultados obtidos pela unidade de negócios Metropolitana Norte da Sabesp, encravada no atual sertão paulista.

    Segundo os dados apresentados pela unidade da estatal para concorrer ao Prêmio Nacional da Qualidade em Saneamento 2013, o volume total faturado pela unidade que abastece toda a zona norte da Grande São Paulo de São Paulo, mais os municípios produtores do sistema Cantareira – Bragança Paulista, Joanópolis, Piracaia, Atibaia, Mairiporã e Franco da Rocha -, passou de 350 milhões de metros cúbicos em 2010 para 370 milhões em 2012. Um crescimento de 6% na véspera da seca.

    No mesmo período, a rentabilidade expressa em termos do Ebitda – lucro antes de juros e impostos – subiu de 65,9 para 72,6%. A arrecadação da unidade metropolitana norte passou de 863 milhões de reais em 2010 para um bilhão em 2012. O incremento do fornecimento para grandes consumidores – indústrias – saltou de 18 para 35% do volume faturado, incluída ai a incansável e sedenta construção civil.

    Esses resultados são bons? Depende pra quem. Desde 2002 a Sabesp passou a negociar ações no Novo Mercado da Bovespa. As ações subiram ininterruptamente de seis para trinta reais entre 2008 e 2012. O crescimento médio do lucro líquido foi de 23% nos últimos cinco anos.

    Nos últimos dez anos a companhia distribuiu aproximadamente quatro bilhões de reais em dividendos, dos quais a metade no período de 2010 a 2012, quando a Metropolitana Norte batia recordes de faturamento.

    A região metropolitana como um todo responde por 75% do faturamento da companhia.

    O rating internacional passou de BB a BB+. Como um desempenho tão fantástico pode ser classificado como classe B?

    Para os acionistas foi um bom negócio, pelo menos até recentemente. As previsões de queda no faturamento e aumento das despesas deverão afetar esses resultados no curto prazo.

    Sabesp e Petrobrás devem se tornar os troféus em disputa na campanha eleitoral que se aproxima. Ambas são grandes empresas brasileiras de economia mista, sólidas e bem administradas por profissionais competentes. As duas são importantes não só para seus clientes, funcionários e acionistas, mas para o país.

    Uma se deu mal na Cantareira e a outra em Pasadena. Nenhum dos dois prejuízos é irreversível para gigantes como elas.

    As ações da Petrobrás não ostentam a valorização e o rendimento esfuziantes da Sabesp na última década. Mesmo assim a produção de petróleo bateu novo recorde em março. As ações da empresa dispararam 4% na quarta-feira, dia 7, e a Folha anunciou que o motivo foi a queda nas intenções de voto na presidenta.

    Infelizmente não dá pra beber petróleo. Nem engolir essa.

  7. Se fosse no Japão, certamente

    Se fosse no Japão, certamente já teríamos Diretores da SABESP se suicidando ENVERGONHADOS pelo CRIME que cometeram, negligenciando os alertas feitos desde 2004, e que poderão ter consequências GRAVÍSSIMAS para a  saúde da população que será afetada pela LAMA PODRE do Sistema Cantareira.

    Mas como estamos em São Paulo, tanto MP, SABESP, MÌDIA e GOVERNADOR fazem de conta que nada acontece….

    INCRÍVEL!!!

  8. Várias pessoas passando mal!
    Muitas pessoas passando mal!!!!!!!!Coincidência????? Além dos casos que testemunhei, acontecendo com pessoas muito próximas, estou sabendo de outras que tem passado mal, com sintomas que incluem vômitos e desarranjo intestinal. Água podre do volume morto?????  Devo ter escapado, pois não bebo a água fornecida pela sabesp!!!!!!Alguém mais sabe de outros casos?

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