Carlos Lessa: Brasil é orfão de um projeto nacional

Enviado por Almeida

Do IHU On-Line

Brasil: Impossível pensar o futuro sem discutir a geopolítica mundial

Entrevista especial com Carlos Lessa, Por Patricia Fachin

“Há muitos anos eu já disse que nós caminhávamos imensuravelmente para a desaceleração da economia, e infelizmente tudo que imaginei aconteceu. Hoje o Brasil está tendo dificuldades imensas de manter se movendo como estava se movendo”, assinala o economista.

“A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo.” A declaração é do economista Carlos Lessa à IHU On-Line, ao comentar as razões de ainda haver tantas desigualdades sociais no mundo. Segundo ele, “o que a história está mostrando é que os comandos desse sistema financeiro assumiram o comando da economia mundial, porque é muito difícil mexer no valor dessa dívida”.

Na entrevista a seguir, concedida por telefone, o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDES menciona a dívida da Argentina como um exemplo que diz “respeito à saúde do mundo como um todo; (…) ela é uma espécie de preliminar das dificuldades que estão à frente”. E alfineta: “Se 93% aceitaram a proposta argentina e estão recebendo segundo essa proposta, como 7% podem derrubar tudo?”.

Lessa também comenta a criação do banco do BRICs como uma possibilidade de “restabelecer liquidações compensatórias de dinheiro entre as moedas dos países do BRICs”. Entretanto, enfatiza, “se ele fizer isso, já está introduzindo uma dimensão importante no jogo financeiro mundial. E minha pergunta é: Vão fazer, ou não vão fazer? É a sério, ou não é a sério? Porque isso já é uma tentativa de reduzir o peso do dólar; e eu não vejo como os americanos concordam com isso tranquilamente”. E cutuca: “A presidenta Dilma foi à última reunião de Davos dizer que o Brasilestá inteiramente consciente e subordinado à ideia do Consenso de Washington, mas aí esse sistema de compensações monetárias entre as moedas dos BRICs não é o que Washington quer; por outro lado, o silêncio brasileiro com respeito à questão argentina — o nosso comportamento está sendo muito encabulado e retraído — é o que Washington quer. Então, eu não sei, e a pessoa (Dilma) para mim também não sabe, apesar de estar perdendo o campeonato”.

Segundo ele, apesar de a população ter melhorado o padrão de vida nos governos Lula e Dilma, especialmente no que se refere à distribuição da renda, “o governo do PT não usou esse ‘oxigênio’ que o Brasil teve para dar sustentabilidade no longo prazo à melhoria”. Na avaliação dele, “para frente, o Brasil vai se confrontar com um problema muito sério: um pedaço enorme do patrimônio das empresas brasileiras, das empresas que estão no Brasil, dos bancos brasileiros e das famílias ricas, está apoiado na dívida das famílias pobres que se endividaram para comprar automóvel, geladeira e mobiliário, então, terá uma queda de braço para frente no país”.

Defensor de um projeto nacional, Carlos Lessa é categórico quanto ao assunto: “Nós estamos órfãos de um projeto nacional. Agora, é evidente que qualquer projeto nacional começa por projetar o Brasil do futuro. (…) Nós fomos achando que é possível tocar o futuro sem discutir o futuro, então é complicado”. E conclui: “Pelo menos três dos grandes países periféricos do mundo têm projetos nacionais claros, enquanto o Brasil não tem nenhum. Nós nem sequer discutimos a geopolítica mundial; nós não temos posicionamento nenhum”.

Carlos Lessa é formado em Ciências Econômicas pela antiga Universidade do Brasil e doutor em Ciências Humanas pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). Em 2002, foi reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Ele também foi presidente do Bndes.

Confira a entrevista.

 

 

IHU On-Line – Como, na Economia, se define e se entende o conceito de “desigualdade”?

Carlos Lessa – Colocando-se a ideia de renda, a desigualdade se mede por diversos coeficientes, que medem a dispersão das extremidades em relação ao valor médio. Isso são estudos de distribuição de renda, desenvolvidos há muito tempo, em 30, 40 países do mundo.

Agora, o que não se faz — e essa é a dimensão que está sendo levantada para discussão — é a distribuição do patrimônio, ou seja, tudo aquilo que representa a chamada riqueza do indivíduo. Nesse sentido, a riqueza do indivíduo pode ir desde a sua casa própria e o que está nela, até participações percentuais nas empresas — que são as participações societárias — e participações da dívida que outros têm, e esses outros podem ser famílias, empresas e Estados nacionais. Então, essa dívida também faz parte da riqueza.

Estudos recentes demonstraram que, embora a distribuição de renda tenha melhorado em diversos países — principalmente nos chamados de primeiro mundo —, a distribuição do patrimônio não melhorou. Ou seja, apesar de uma quantidade crescente de famílias do primeiro mundo possuir casa própria, há um crescimento enorme da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, e essa nova dívida, que faz parte do patrimônio, cresce em uma velocidade tal, que o patrimônio se mantém praticamente o mesmo.

IHU On-Line – E como o senhor vê essa má distribuição do patrimônio?

Carlos Lessa – A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo. Agora, o que a história está mostrando é que os comandos desse sistema financeiro assumiram o comando da economia mundial, porque é muito difícil mexer no valor dessa dívida. Por exemplo, o que está acontecendo com a Argentina, hoje, é uma tentativa de forçá-la a pagar por uma dívida que foi contraída no passado. Porque, na verdade, no momento em que se diz que a dívida pode não ser paga, se retira dela o valor patrimonial que ela tem. Essa questão da Argentina diz respeito à saúde do mundo como um todo; não acho que ela vá definir o futuro da humanidade, mas é uma espécie de preliminar das dificuldades que estão à frente.

 “A partir do governo de Collor de Mello, o Brasil não persegue nada”

IHU On-Line – Nesse sentido, o valor que está sendo cobrado da dívida da Argentina é equivocado?

Carlos Lessa – É totalmente equivocado; estou do lado da posição argentina. A Argentinanegociou uma redução da dívida numa situação em que está fracamente destruída como país, e essa negociação foi aceita por 93% dos diretores; 7% não opinaram porque os fundos abutres compraram. A Justiça norte-americana diz que a Argentina deve pagar a dívida integralmente, e com prioridade para esses 7%. Isso é algo absolutamente espantoso, porque se 93% aceitaram a proposta argentina e estão recebendo segundo essa proposta, como 7% podem derrubar tudo? Então, por isso, uma das coisas mais interessantes que aconteceram nas últimas semanas foi o fato de os países latino-americanos da Organização dos Estados Americanos – OEA terem votado a favor da Argentina e depois repetirem o gesto quando houve esse encontro dos BRICs emFortaleza. Trata-se de um recado dizendo para ter cuidado, porque o tamanho dessa dívida colossal faz com que necessariamente um pedaço dela seja desvalorizado.

IHU On-Line – Como vê a criação do banco do BRICs? 

Carlos Lessa – Estou cheio de dúvidas a respeito. Em uma primeira aproximação, a ideia do BRICsé uma ideia geopolítica de criar uma terceira interlocução em nível mundial. Então, por esse lado, oBRICs tem importância geopolítica para o Brasil. Agora, se vai ter importância econômica, tenho minhas dúvidas. O que o banco do BRICs pode fazer é restabelecer liquidações compensatórias de dinheiro entre as moedas dos países do BRICs. Se ele fizer isso, já está introduzindo uma dimensão importante no jogo financeiro mundial. E minha pergunta é: Vão fazer, ou não vão fazer? É a sério, ou não é a sério? Porque isso já é uma tentativa de reduzir o peso do dólar; e eu não vejo como os americanos concordam com isso tranquilamente.

IHU On-Line – Mas fala-se também que o banco tem o objetivo de financiar projetos de infraestrutura entre os países.

Carlos Lessa – Esse é o pretexto que está por trás da ideia de criar um sistema de compensações monetárias que não esteja baseado no dólar. Agora o pretexto para criar o banco é o pretexto que pode financiar projetos de infraestrutura no longo prazo sem lançar mão de reserva de dólar. Isso reduz o peso do dólar e é um efeito político ou geopolítico importante para um banco. Contudo, quero ver se ele é real mesmo; não é que eu queira ser São Tomé (ver para crer), eu só quero ver como isso vai se desdobrar, porque, por exemplo, a presidente Dilma foi à última reunião de Davosdizer que o Brasil está inteiramente consciente e subordinado à ideia do Consenso de Washington, mas aí esse sistema de compensações monetárias entre as moedas dos BRICs não é o que Washington quer; por outro lado, o silêncio brasileiro com respeito à questão argentina — o nosso comportamento está sendo muito encabulado e retraído — é o que Washington quer. Então, eu não sei, e a pessoa (Dilma) para mim também não sabe, apesar de estar perdendo o campeonato.

 

 “Essa comparação não dá certo e é complicada por uma razão: o PT tentou se criar ‘anti-Getúlio’”

IHU On-Line – Qual é o papel do Brics na arquitetura financeira internacional?

Carlos Lessa – Ainda não tem, mas se ele montar esse sistema de compensações bilaterais, passará a ter. Quer dizer, tem um lado aí que achei muito interessante nesse encontro do Brics, o de sair um financiamento para a Argentina. Outra ação interessante — e há tempo gosto muito do que a diplomacia brasileira faz — foi, na reunião da União de Nações Sul-Americanas – UNASUL e do Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, colocar os países sul-americanos e seus presidentes junto aos presidentes do BRICs. Isso foi um gesto político muito bonito e muito importante, porque marcou certa posição, mas por enquanto estamos na retórica.

IHU On-Line – O senhor leu o livro “Capital in the Twenty-First Century” [O capital no século XXI] de Thomas Piketty? Quais suas impressões?

Carlos Lessa – Li alguns trechos. Não li todo, pois estou com descolamento da retina. Piketty fez diversos exercícios lançando mão das informações disponíveis para demonstrar isso que eu disse a você, ou seja, que a destruição da riqueza do patrimônio não se modificou, apesar de haver melhorias na distribuição de renda.

IHU On-Line – Quais são as principais dificuldades do Brasil em relação às desigualdades?

Carlos Lessa – Os programas que o governo do PT implantou desde 2002, desde o primeiro mandato do Lula, do segundo mandato dele e do início do mandato da presidente Dilma, tiveram um efeito importante do ponto de vista de distribuição de renda, somente isso. Como o Brasil teve uma melhoria espetacular na sua relação de trocas com o mundo, porque os produtos que o Brasilvendia para o mundo se valorizaram — tecnicamente nós dizemos que a relação de troca foi extremamente favorável para o Brasil até 2008, 2009 —, os governos do PT aproveitaram para tocar para frente uma política de distribuição. Ou seja, melhoraram muito significativamente o salário mínimo real, que é a chave da disfunção de renda para a baixa renda do Brasil, que é o indexador geral de todos que têm ou não carteira assinada, e criou alguns programas de assistência social, como o Programa Bolsa Família, e isso melhorou a base da população brasileira.

É impressionante como as pessoas melhoraram o seu padrão de vida. Só que o problema é o seguinte: o governo do PT não usou esse “oxigênio” que o Brasil teve para dar sustentabilidade no longo prazo à melhoria. Agora, para a frente, o Brasil vai se confrontar com um problema muito sério: um pedaço enorme do patrimônio das empresas brasileiras, das empresas que estão noBrasil, dos bancos brasileiros e das famílias ricas, está apoiado na dívida das famílias pobres que se endividaram para comprar automóvel, geladeira e mobiliário, então, terá uma queda de braço para frente no país. Mas o que acho engraçado é que a disputa eleitoral brasileira nem tocou nesse assunto. Sou muito simpático que a universidade esteja preocupada em discutir isso, porque a universidade tem de criar uma geração que saiba pensar e saiba pensar o Brasil, um Brasil no mundo e um Brasil voltado aos brasileiros. Essa discussão é fundamental.

IHU On-Line – O senhor é um defensor do desenvolvimento de um projeto nacional. Em que medida esse projeto pode ter implicações na superação das desigualdades? E em relação a isso, existe no Brasil algum projeto nacional?

Carlos Lessa – Não. Nós estamos órfãos de um projeto nacional. Agora, é evidente que qualquer projeto nacional começa por projetar o Brasil do futuro, o Brasil utópico, o Brasil que nós sonhamos. Eu sonho com um Brasil em que as desigualdades sociais sejam relativamente pequenas, com um Brasil em que todos os brasileiros tenham acesso à casa própria, tenham uma educação de qualidade, acesso à saúde, possibilidade de utilizar o seu tempo para absorver os bens culturais ou simplesmente ao lazer. Eu sonho com um Brasil que seja justo para os brasileiros, e não acho que oBrasil é justo com os brasileiros. O país vai ter de discutir isso, só que essa discussão nem sequer começou.

 “O Brasil quer ser uma Porto Rico enorme do Atlântico Sul? Ou o país quer ter uma grande importância na formação de um continente sul-americano unificado?”

Há muitos anos eu já disse que nós caminhávamos imensuravelmente para a desaceleração da economia, e infelizmente tudo que imaginei aconteceu. Hoje o Brasil está tendo dificuldades imensas de manter se movendo como estava se movendo. Talvez isso tenha um lado muito ruim, porque gera uma perplexidade, uma angústia, uma interrogação forte para as pessoas, uma insegurança das pessoas em relação ao seu “estar no mundo”, mas, por outro lado, pode ser que force as pessoas a discutir que futuro se pensa para o Brasil, porque até agora essa discussão não existe.

IHU On-Line – Esse é um problema do Brasil ou há um limite de se ter um projeto nacional em tempo de globalização?

Carlos Lessa – Isso não é verdade, porque existem muitos países que estão na globalização e estão perseguindo projetos nacionais. O exemplo principal é a China, mas diria que de certa maneira a Índia e a Rússia também têm projetos nacionais. Então, pelo menos três dos grandes países periféricos do mundo têm projetos nacionais claros, enquanto o Brasil não tem nenhum. Nós nem sequer discutimos a geopolítica mundial; nós não temos posicionamento nenhum. Por exemplo, qual é o posicionamento dos brasileiros com respeito ao que vem acontecendo na Argentina? A impressão que eu tenho é de que nenhum — apesar de vocês estarem aí no Rio Grande do Sul. Qual é o posicionamento dos brasileiros a respeito do que vem acontecendo na Ucrânia? Zero; nem se debate. Quem está discutindo no Brasil o projeto eurasiano que Vladimir Putin está desenvolvendo? Ninguém. Só que esse projeto vai levar a Rússia a se aliar ao Japão, por um lado, e à China, por outro, colocando a Europa na dependência total da Rússia. Nós estamos discutindo isso? Não. A rota dos navios que liga o Japão com a Europa vai agora passar a ser pelo Ártico, porque com o degelo e as frotas de quebra-gelo russas isso se torna possível. Só que essa rota, que é ótima para o Japão, que encolhe sete mil léguas submarinas a distância entre o Japão e aEuropa, é péssima para o Brasil, porque nos desloca mais para a periferia do mundo. Estão discutindo isso? Não. Nós fomos achando que é possível tocar o futuro sem discutir o futuro, então é complicado.

IHU On-Line – Pode dar outros exemplos dos projetos nacionais desses países?

Carlos Lessa – Claro. O projeto da China é óbvio: quer voltar a ser o império asiático e mundial. Para isso, combina três dimensões: procurar ter supremacia no comércio mundial, exportando produtos industrializados e importando matérias-primas de alimentos; quer estar na vanguarda tecnológica do mundo, usando os poderes que dispõe para empurrar a tecnologia para frente; e quer, de maneira muito clara, dominar totalmente a esfera asiática. E nós não temos nenhum projeto, nem com respeito às relações com a Argentina nós temos um projeto claro.

IHU On-Line – O senhor é bastante getulista…

Carlos Lessa – Total. Mas nós não podemos fazer invocações de fantasmas, pois nenhum fantasma se materializa. Getúlio foi uma liderança inquestionável para esse país. Eu gosto de dizer que com Getúlio, contra Getúlio e sem Getúlio, o Brasil se moveu 50 anos para perseguir a industrialização. E, a partir do governo de Collor de Mello, o Brasil não persegue nada.

IHU On-Line – Depois dele, quais presidentes pensaram em um projeto de nação?

Carlos Lessa – Ele foi o presidente brasileiro mais consistente e coerente nisso. Eu diria que oRodrigues Alves [1], de certa maneira, e o mineiro Arthur Bernardes [2] tinham visões claras da necessidade de um projeto nacional. Mas, quem adotou integralmente e foi fiel ao projeto nacional, foi Getúlio.

IHU On-Line – Alguns tentam comparar ou fazer alguma aproximação entre Lula e Getúlio. Como vê essa tentativa?

Carlos Lessa – Essa comparação não dá certo e é complicada por uma razão: o PT tentou se criar“anti-Getúlio”. Eu lembro do Lula dizendo a seguinte frase: “A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT é o AI-5 dos trabalhadores”. Ou seja, para ele, a CLT impediria qualquer ingerência dos trabalhadores em seu futuro. O PT era antigetulista, e depois começou a diminuir um pouco isso, mas ao mesmo tempo pegou do pragmatismo de Getúlio a pior de todas as dimensões, porqueGetúlio era pragmático nas alianças que fazia, mas apesar das alianças ele nunca permitiu dissolver os objetivos nacionais. Enquanto isso, o PT vende o petróleo no leilão de Libra. Getúlio nunca permitiu que a privatização fosse um elemento pragmático a ser negociado; soberania nacional sempre foi fundamental para Getúlio. E esse conceito nem existe no governo Lula.

Eu não estou querendo polemizar com o PT; minha preocupação é outra. Minha preocupação é que os estudantes da universidade, os gaúchos, que são a vanguarda do pensamento nacional brasileiro, voltem a discutir o projeto Brasil, mesmo que vocês troquem desaforos entre vocês, são obrigados a explicitar os debates.

 “Fico encabulado em ver o Chile assumindo mais defesa da Argentina hoje do que o Brasil”

O Brasil quer ser uma Porto Rico enorme do Atlântico Sul? Ou o país quer ter uma grande importância na formação de um continente sul-americano unificado? Se for isso, nós temos de cuidar a visão da Argentina que o Brasil tem. Eu fico encabulado em ver o Chile assumindo mais defesa da Argentina hoje do que o Brasil. Nesse sentido, os gaúchos são a grande fronteira de nacionalismo do Brasil.

IHU On-Line – Como o senhor vê as campanhas à Presidência da República? Algum candidato apresenta ou tem em perspectiva um projeto de nação?

Carlos Lessa – Não. Uma das minhas angústias é que o desdobramento da campanha presidencial não está absolutamente politizando o Brasil no bom sentido. O que está acontecendo agora é uma competição para saber quem é cúmplice do mensalão, para descobrir algo sobre o aeroporto doAécio, algo contra o Eduardo, amanhã talvez apareça algo contra a Dilma, e vai ficar nisso. Isso não é absolutamente uma discussão política; é uma discussão que não explicita as escolhas que o Brasil tem de fazer. E se a opinião pública mantiver a posição, como está hoje, de que os políticos são a mesma coisa e que os partidos políticos não servem para nada, eu não sei o que vai acontecer; vamos numa conjuntura internacional muito difícil.

NOTAS

[1] Francisco de Paula Rodrigues Alves (Guaratinguetá, 7 de julho de 1848 – Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1919): advogado, político brasileiro, Conselheiro do Império, presidente da província de São Paulo, presidente do estado, ministro da fazenda e quinto presidente do Brasil.

Governou São Paulo por três mandatos: 1887-1888, como presidente da província; como quinto presidente do estado, de 1900 a 1902; e como nono presidente do estado, de 1912 a 1916.

Rodrigues Alves foi o último paulista a tomar posse como presidente do Brasil. Foi eleito duas vezes, cumpriu integralmente o primeiro mandato (1902 a 1906), mas faleceu antes de assumir o segundo mandato (que deveria se estender de 1918 a 1922).

[2] Artur da Silva Bernardes (Viçosa, 8 de agosto de 1875 – Rio de Janeiro, 23 de março de 1955): advogado e político brasileiro, presidente de Minas Gerais de 1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926.

Redação

22 Comentários

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  1. Questão de dados e honestidade.

    01/10/2003

    “Brasil deve cair de 12ª para 15ª maior economia mundial”

    EDUARDO CUCOLO
    da Folha Online

    Em 1998, o país ocupava a 8ª posição no ranking, mas nos últimos cinco anos foi ultrapassado por Canadá, Espanha (em 1999); México (em 2001); Coréia do Sul (em 2002); e agora deve perder posições para Holanda, Índia e Austrália.

     

    Brasil é 7ª maior economia, e China deve passar EUA logo …

    economia.uol.com.br/…/2014/…/ranking-do-banco-mundial-traz-brasil-c…

    30/04/2014 – O Banco … Com isso, o Brasil assumiu a sétima posição entre as maiores economias mundiais. ..

    1. Honestidade?

      Que dizer que o Brasil ser a 7a economia demonstra que está tudo evoluindo bem e que temos um projeto nacional. Desculpe, mas não sou capaz de ver uma correlação no argumento. Isto é, paises que eram lanterninha como a Coréia nos anos 70 não deviam então ter um projeto nacional.

      O fato é que houveram políticas acertadas pelo governo do PT que favoreceram a economia. Mas outra é achar que existe um projeto nacional claro e visível que possa inclusive criar um ponto de união acima das diferenças políticas. Basta observar que se o maurício ganhar corremos o risco de andar pra trás. Ou seja, é justamente a falta de um projeto nacional [suprapartidário] que explica a nossa inconstância econômica ao sabor dos sucessivos governos.

      1. E como montar este projeto nacional?

        Com as instituições que temos, com o povo manipulado e manietado, com a mídia sempre contra. Se observarmos os exemplos do Sr. Lesa (China, Índia, Rússia), veremos que são países diversos do Brasil. Sem mídia perversa para atrapalhar (censurada ou inexistente), sem congresso opositor mal intencionado, possuidores de cultura milenar… Basta ver os índices de aprovação do Putin e poderemos dizer que o cara é quase um Czar do século XXI. Assim fica fácil. Acredito que tu conheças a realidade do nosso Brasil, portanto, antes de querer um projeto de poder, seja econômico, militar, tecnológico, político ou qualquer outro, precisamos de um projeto de povo e de insitituições que ajudem e não atrapalhem.

        1. E como montar este projeto nacional?

          A resposta a sua pergunta é justamente aquilo que vejo faltar em quem apóia o governo incondicionalmente. Ou seja, pra fazer um plano a primeira coisa é tirar o problema debaixo do tapete e colocar em cima da mesa. Logo, a chuva de críticas ao Lessa é forte evidência de que o governo prefere continuar a varrer pra debaixo do tapete.

  2. Política econômica

    Então não é verdade que isto não acontece nos países ocidentais do hemisfério norte?

    “A verdade é que se houvesse uma redução significativa do valor da dívida das famílias, das empresas e dos Estados nacionais, haveria naturalmente, sem grande trauma, uma mudança no perfil de retração da riqueza do mundo.”

     

    Polêmico?

    “…com Getúlio, contra Getúlio e sem Getúlio, o Brasil se moveu 50 anos para perseguir a industrialização. E, a partir do governo de Collor de Mello, o Brasil não persegue nada”

  3. projeto nacional???

    como fazer um projeto nacional com esta oposição rasteira???

    como fazer um projeto nacional sem regulamentação da mídia???

    como fazer um projeto nacional sem uma reforma política???

    1. A culpa é da oposição, da mídia e da reforma política.

      Getúlio teve praticamente toda mídia contra e uma oposição que o levou ao suicídio; sem falar que o quadro político da época colocava na  ilegalidade o partido comunista e negava voto aos analfabetos, a maioria das classes populares de então. O projeto “nacional” que está hoje em foco é o jogo reeleitoral; então, o debate “maior” se dá em torno do “aeroporto do aécio”. Hoje mesmo há uma postagem neste blogue sobre tal aeroporto, vai ver o número de acessos e comentários.

  4. é patético,senãorisível,

    é patético,senãorisível, certas colocações do lessa como ade dizer que o brasil não temgeopolítica logo depois da reunião do brics…orw, ora, se isto não é uma dos diversos meandros para parofundar a multilteralidade ent~ão o que deveria ser?

    espero que o dito de que a dilma está perdendo o campeonato seja   só um desejo dele.

    1. A proposta dos BRICS não nasceu no Brasil.

      Foi iniciativa da Rússia, formulada a partir de seu projeto eurasiano, procura ser uma resposta ao mundo unipolar que emergiu da Guerra Fria, uma articulação do segundo e o terceiro mundo daqueles tempos, para os quais o primeiro mundo só tem projetos de submissão; entramos nessa de carona, até a iniciativa de convidar a Argentina para a última reunião partiu da Rússia. O que era iniciativa brasileira, a formação de um bloco de interesses regionais, representado pelo Mercosul, está agora reduzido a retórica de “solidaridad con nuestros hermanos”, como nesse episódio recente da Argentina, citado pelo Lessa como um vexame: demonstramos que somos “muy amigos” dos argentinos.

  5. O que acho engraçado é que

    O que acho engraçado é que esses caras falam,falam, falam…E quando estiveram á frente, com possibilidades de proporem algo, nada fizeram. Pois o professsor, doutor, já que o Lula “doutor” não fez, que o faça. Proponha e discuta um projeto nacional, se é que está faltando…Eu, simples cidadão, acho que o Brasil tem projeto, sim.

    1. Nunca deixou de propor. Não

      Nunca deixou de propor. Não fez mais porque não esteve em postos para tanto, não era ouvido por quem poderia ouvi-lo e quem manda no Brasil é o capital financeiro, o rentismo, o patrimonialismo e estes não tem projeto, eles se movem em função de interesses imediatos, bem como eles tem o controle do “debate”, eles “pautam” o pais. A presidenta Dilma ouve alguém? Os outros candidatos tem condições de ouvir e entender? Não. Existe alguém hoje próximo da presidenta capaz de fazer interlocução com Lessa, MC Tavares, Delfim, com macro economistas? Não, eles pensam no micro, o Nassif bate direto na tecla das metas inflacionárias. Ou seja, um animal gigante é pensado e conduzido em função de como se move o rabo.

    2. Propor eles prepõem. O problema é que os têm o poder, e Lula e Dilma fazem parte, lembre-se, não quiseram ou não puderam levar essas propostas adiante.

  6. Discordo em partes

    Nosso projeto é o progressismo “paz e amor”: naquilo que não interfere a burguesia, o país avança. Mas os maiores dos males ficam como estão, já que o big money te muito a perder…

  7. Teve o BNDES na mão

    Por mais que possa concordar com algumas de colocações, é sempre mais fácil quando se está do outro lado.

    Carlos Lessa teve o BNDES nas mãos, e o que conseguiu daquilo que prega? Conseguiu bater de frente com toda a área financeira do governo até ser demitido…

    Daí, não se poder levar em conta esta crítica fácil. É mesma falta de tato político que leva o PSol a ter apenas 3 deputados federais e um senador. Gostemos ou não.

     

     

    1. Carlos Lessa teve o BNDES nas mãos, e o que conseguiu daquilo que prega? Conseguiu bater de frente com toda a área financeira do governo até ser demitido…

      Pois é, se não bate de frente é conivente. Se bate e é demitido, é politicamente incompetente.

      Não acha que esperar de uma mera posição de presidência do BNDES a capacidade de salvar a política nacional é esperar demais?

      1. A importância do BNDES

        Cesar,

        1, A presidência do BNDES não é uma mera presidência, disto sabemos todos.

        2. Não coloquei Lessa como politicamente incompetente, mas não resta dúvida que faltou habilidade quando da sua passagem pelo cargo. Deixei claro que concordo com algumas de suas colocações.

        O que quis mostrar em meu comentário é que a crítica é sempre mais fácil que o fazer. Sobram críticos no Brasil, faltam gestores capazes de implementar boas políticas com sucesso. 

         

         

    2. “… bater de frente com toda a área financeira do governo”

      Este é exatamente o grande mérito do Lessa e o maior demérito deste governo, que mostrou sua opção preferencial, em suma, a quem serve: a banca e o rentismo.

      Tivesse este governo um projeto nacional qualquer, bancaria o antagonismo. Há uma anedota sobre Getúlio, em que ele pediu a um assessor para investigar, as relações pessoais entre duas figuras públicas que pretendia nomear para o Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil. Informado de que eram as piores possíveis,  decide nomeá-los, para espanto dos assessores que indagam os motivos e ele responde: Ora, se um assina o cheque e o outro desconta, o quê que eu vou fazer aqui?

      O país está governado por contabilistas e econometristas, os planilheiros, como os nomeiam o dono do blogue, os economistas políticos sumiram.

       

       

      1. Não é bem esta minha crítica

        Almeida, 

        O que eu coloquei, é que o perfil do Lessa não é executivo. Não vejo problema nenhum nisto. Sua carreira é a de intelectual, professor, pesquisador e crítico reconhecido.

        Qualquer um que tenha trabalhado em projetos de governo, sejam quais forem eles, sabe do que eu falo. Nunca fui nomeado para nada, mas já trabalhei em projetos junto ao setor público. Se você não tiver um mínimo de flexibilidade, tudo desanda. E não é só aqui no Brasil. Espaços institucionais, gostemos ou não, exigem isto. Por isto são “institucionais”.

        Ninguém é obrigado a aceitar. Aceitando, verá que nem tudo é tão fácil quanto parece.

         

        1. Concordo contigo.

          Tem de existir flexibilidade, mas não do essencial, do contrário estamos entregando a essência para projetos alheios. O governo fez sua opção, entre as idéias do Lessa e o “pragmatismo” do henrique -como é mesmo o nome dele? – de plantão, oPTou pela banca do henriquinho. 

           

  8.   O artigo reforça em mim um

      O artigo reforça em mim um sentimento diverso.

      Não adianta adultolescentes mimados estourarem rojões em repórteres: a verdadeira oposição ao governo – e mais importante, aos VERDADEIROS grupode de poder deste país – surgirá se e quando a classe C não mais puder manter seu padrão de geladeira nova, carro novo, viagem de avião.

      O que derrubou a Ditadura não foram Jimmy Carter e o MDB, foram os CHOQUES DO PETRÓLEO e os juros de Paul Volcker.

      O que mudará a cara de nossa política, gostando ou não, será o medo dos que subiram degraus nos governos do PT – e a esses nem PSB, nem PSDB, nem PSOL ou PSTU têm algo a dizer.

      (e blackblocs não tem nada a dizer agora mesmo.)

  9. O velho Getúlio sempre volta 

    O velho Getúlio sempre volta  para nos ensinar..Sem indústria não há desenvolvimento….Primeira coisa é mudar o câmbio..Tema muito debatido aqui por NASSIF..MAs que deveria ser retomado…O Câmbio deveria estar em 3,20..Estamos importando tudo   …

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