Cientistas descobrem o que torna a voz carismática em políticos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por JNS

Manipular a freqüência de voz pode ser a chave para soar carismático, dizem pesquisadores

Da BBC

Os investigadores incluiram os políticos Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Luigi de Magistris (Itália) e François Hollande (França) para examinar a percepção de vozes carismáticas em diferentes países.

Martin Luther King, John F. Kennedy e Churchill tinham a capacidade de encantar aqueles que ouviam as suas falas. Qual era o seu predicado especial? Sabemos que era, mas como eles alcançaram um grande carisma? Nós certamente podemos reconhecê-lo quando vemos ou ouvimos, mas não há nenhuma maneira científica para medir o carisma.

Agora, cientistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos deram pelo menos parte da resposta. Eles descobriram que certas qualidades vocais desempenham um papel-chave na percepção do carisma pessoal.

O Oxford English Dictionary define carisma como “um dom ou poder de liderança ou autoridade” e “a capacidade de inspirar devoção ou entusiasmo.” Este, na melhor das hipóteses, é um conceito bastante nebuloso. Mas uma coisa que os líderes mais carismáticos têm em comum é a capacidade de fazer discursos que podem capturar e encantar o pequeno e o grande público. Os grandes oradores do mundo, a partir dos religiosos aos presidentes, contam com carisma para manter suas audiências e levá-las junto com eles. Esta mais recente pesquisa nos ajuda a entender como esses grandes oradores usaram a  ​​manipulação de voz e as alterações na freqüência para dar uma qualidade mais rica aos seus discursos.

Rosario Signorello, um estudioso de pós-doutorado na UCLA’s Bureau of Glottal Affairs, ficou fascinado pelas conexões entre as qualidades vocais e os grandes oradores carismáticos, enquanto ele estava trabalhando em sua tese. Seus estudos posteriores descobriram que os oradores, com uma vasta gama de variação de frequência vocal, eram os mais propensos a serem percebidos como dominantes. Além disso, os falantes com uma baixa taxa de vibração fundamental das cordas vocais, chamada frequência fundamental ou F0, são percebidos como mais dominantes do que os oradores com uma fundamental freqüência de altura. (F0 é medida em Hertz e é a taxa de vibração das cordas vocais). O tamanho da laringe e do comprimento da corda vocal afeta muito a freqüência de voz, mas os melhores oradores têm mais controle sobre as faixas de freqüência.

Signorello descobriu que os detentores de vozes carismáticas apresentam dois componentes fundamentais, um biológico e outro enraizado na língua e na cultura.

O componente biológico da voz carismática é inato e consiste da capacidade de uma emissão vocal que manipula as alterações nas freqüências vocais fundamentais, que por sua vez permite que ele ou ela possa ser reconhecido como um líder do grupo. Usando um processo de síntese de voz chamado ‘delexicalização’, Signorello descobriu que era possível remover a influência subjetiva do conteúdo de um discurso. Isto permitiu que ele estudasse o componente biológico de uma forma controlada.

Ele se livrou das palavras e tentou manter os parâmetros acústicos, disse Signorello. A freqüência F0 e a sua intensidade e duração foram retidas “sem alteração para os outros parâmetros espectrais e acústicos”. Estes parâmetros podem ser modificados individualmente para avaliar o que tem o maior impacto sobre a vontade de um ouvinte em concordar com um orador ou um líder carismático.

A pesquisa analisou a percepção de voz carismática de diferentes países e incluiu os políticos Luigi de Magistris, François Hollande e Luiz Inácio Lula da Silva. Quando os líderes usaram a voz com baixa F0 e ampla variedade de altura, eles foram percebidos como dominantes ou ameaçadores. Quando usaram maior F0 e uma variedade de alturas estreitas, se depararam com a percepção do ouvinte como um orador sincero e reconfortante.

Houve variações culturais cruzadas na percepção do carisma. “Os italianos parecem preferir uma voz baixa e os franceses mais aguda, devido a razões culturais”, disse Signorello. Parece que os italianos buscam os líderes mais dominantes, enquanto a preferência francesa é o de maior competência.

Signorello pretende ampliar sua pesquisa para os primatas não-humanos para ver se esses resultados forem replicados de acordo com a espécie. Ele apresentou os seus resultados na 168th Meeting of the Acoustical Society of America (ASA), que foi realizada entre 27-31 outubro de 2014, em Indianápolis.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1.  a frequencia deve ser

     a frequencia deve ser importante, mas o que vale

    é a verdade que a voz emite.

    uma mentira  dita por uma bela voz continua sendo mentira.

    um dedo em riste da  bela patrícia poeta

    continua sendo um gesto deseducado pela falácia da   falsa beleza.

    não é   só a voz que torna uma pessoa    carismática,

    são os gestos, o que representa para  a sociedade num determinado momento histório.

     

  2. Traduçao de m*…

     

    “Além disso, os falantes com uma baixa taxa de vibração fundamental das cordas vocais, chamada frequência fundamental ou F0, são percebidos como mais dominantes do que os oradores com uma fundamental freqüência de altura”.

    O primeiro termo da comparaçao está claro, falantes com frequência fundamental baixa. Mas e o segundo? Pela lógica, o artigo original deve ter-se referido a uma frequência fundamental alta, mas isso foi traduzido como a cara de quem traduziu ou é traduçao Google. 

    1. A tradução está ruim, mas a

      A tradução está ruim, mas a “altura” de um som é um parâmetro de frequência, o que vai contra o senso comum.

      1. Sei disso, sou linguista; mas isso nao muda o q eu disse

        “Fundamental frequência de altura” quer dizer o quê? Ainda mais oposto à “baixa taxa de vibraçao fundamental das cordas vocais”? Frequência fundamental nao é uma frequência de altura (o que isso quer dizer?) que seja fundamental (no sentido de importante, etc), e sim a frequência mais baixa da voz, que corresponde à da vibraçao das cordas vocais (a voz corresponde a uma onda complexa, com várias frequências simultaneas, resultantes da filtragem — e amplificaçao, etc– da energia básica q vem das cordas vocais efetuada(s) pelo resto do aparelho vocal). Claro que a oposiçao no texto deve ser entre frequência fundamental baixa X frequência fundamental alta; e isso (frequência fundamental alta) é que deve ter sido traduzido por fundamental frequência de altura… Traduçao de m*, repito. 

        E na verdade altura (a propriedade que distingue sons agudos de sons graves) nao é um parâmetro de frequência, é o resultado acústico da frequência. A frequência é um parâmetro físico de qualquer onda, sonora ou nao (número de vibraçoes por segundo); a altura é a impressao psíquica, acústica, que resulta da frequência de onda (dentro de certos limites, os que correspondem às ondas sonoras). 

        Obs: sou linguista, mas nao especialista em Fonologia acústica, e estou escrevendo sem consultar nada; pode haver alguma impropriedade no dito acima, mas no grosso está fundamentalmente correto. 

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