Clipping do dia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

As matérias para serem lidas e comentadas.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Opinião: Desprezo é a melhor punição a autores de atentados.

    De Felix Steiner, jornalista da DW.

    http://www.dw.com/pt/opini%C3%A3o-desprezo-%C3%A9-a-melhor-puni%C3%A7%C3%A3o-a-autores-de-atentados/a-19427956

    Transformar assassinos em estrelas é incentivar imitadores e desrespeitar vítimas. É hora de imprensa e público dedicarem a esses narcisistas desajustados o desprezo que eles merecem, opina o jornalista Felix Steiner.

    Por mais que, nos detalhes, sejam distintas as motivações dos autores dos atentados de Würzburg, Munique, Reutlingen e Ansbach, um aspecto os une: eles são – ou eram – todos narcisistas extremamente doentios, que consideravam a si e à própria visão de mundo a medida de todas as coisas. E que, em seu egocentrismo exacerbado, acreditavam poder colocar-se acima dos outros, como senhores da vida ou da morte.

    No fim, isso acaba se exprimindo em forma de violência. No menos ruim dos casos, violência contra si mesmos; no pior, violência brutal contra muitos outros. Os quais, além de tudo, em geral não tinham qualquer relação com os agressores, mas apenas tiveram o azar de estar no lugar errado, na hora errada.

    Aí, dependendo das circunstâncias, o ato é denominado “suicídio ampliado”, “massacre” ou justamente – deixando-se de lado as declarações políticas delirantes ou as autoincriminações de “guerreiros de Deus” – “atentado terrorista”. Coisa que não faz a menor diferença para quem está ao pé da sepultura ou do leito hospitalar de um ser querido – como comentou tão pertinentemente o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière.

    Também para os meios de comunicação isso não deveria fazer qualquer diferença. Pois, além do autor de tipo narcisista, todos esses atos têm um outro ponto em comum: eles incentivam imitadores.

    No caso do perverso terrorismo da organização jihadista “Estado Islâmico” (EI), eles podem até mesmo motivar expressamente os imitadores – almas doentias que almejam alcançar o mesmo que aqueles que veneram como grandes modelos: estampar as manchetes, tornarem-se famosos e, através de uma atrocidade, terem o nome imortalizado.

    Tal favor é precisamente o que nem a mídia nem o público deveriam fazer aos autores de atentados. Portanto cabe a pergunta autocrítica: por que o fazemos repetidamente? Por que mencionamos os nomes deles? Por que mostramos suas fotos? Fotos que serão veneradas como ícones pela próxima geração de totais desajustados psíquicos e loucos desorientados?

    Porque o público quer ver essas imagens, dizem os profissionais da mídia. Quer mesmo? Não será esse apenas um pretexto dos mais baratos? Ou será que o público não tem a menor ideia do que desencadeia com esse voyeurismo? Então deveríamos fazer um esforço para lhe explicar. E dar o bom exemplo e abdicar dessa forma de divulgação.

    Em retrospectiva, o exame do próprio trabalho jornalístico é especialmente doloroso em relação à sexta-feira passada (22/07): completavam-se cinco anos desde o hediondo massacre na ilha de Utoya, na Noruega, em que um desequilibrado de extrema direita fuzilou sozinho 69 jovens.

    Em diversos veículos, também na DW, o nome do autor do terrível crime já vinha mencionado logo na manchete – na verdade, um tapa no rosto de suas vítimas. O assassino permanece na memória, é uma figura conhecida por todos, enquanto os que ele matou se perdem no esquecimento.

    E então a noite de horror em Munique. A data não foi acaso: o atentado deveria coincidir precisamente com o “jubileu” de Utoya, como revelou a polícia no sábado. Diante de tal informação, os jornalistas deveriam sentir um calafrio.

    Contudo já no dia seguinte ficou claro: não, o setor não é capaz de aprender. Na capa do jornal dominical mais vendido na Alemanha, entre outros, o rosto do atirador de Munique nos encarava. É óbvio que pouco mais tarde muitos outros veículos fizeram o mesmo. Alguns, como a DW, com uma imagem pixelada – embora não haja como avaliar o valor informativo de um retrato pixelado.

    Também o nome do jovem assassino há muito já ganhou mundo. Na Alemanha, tão orgulhosa de seus padrões de proteção da personalidade, só se cita o prenome e a primeira letra do sobrenome. Como se nós e o horror fôssemos conhecidos íntimos, que se chamam pelo prenome.

    Não há dúvida que em breve também teremos os retratos do assassino do facão de Reutlingen e do homem-bomba da mochila de Ansbach; para saber os nomes, basta pesquisar um pouco na internet. Mas por que alguém vai querer sabê-los? Ali ou Yussuf? David ou Kevin? Que importância tem isso?

    Em tempos passados, os assassinos mortos eram anonimamente jogados em valas comuns; outros criminosos eram trancafiados em cárceres profundos, para ficar vegetando e serem simplesmente esquecidos. Da perspectiva atual, algo tremendamente desumano, claro.

    Entretanto transformar assassinos em estrelas de mídia não é menos desumano, fornecendo, assim, um incentivo adicional aos imitadores. Pois também eles voltarão a matar seres humanos inocentes – que simplesmente se encontravam no lugar errado, na hora errada.

    Por isso vamos punir esses assassinos com o desprezo, pura e simplesmente. Essa é a única coisa que realmente afeta narcisistas doentios como eles.

  2. É só desmascar a pesquisa da

    É só desmascar a pesquisa da Folha que o Estadão diz – em editotial – que “A maioria também se equivoca”

    http://www.tijolaco.com.br/blog/o-estadao-alivia-folha-e-diz-que-democracia-nao-e-para-agora-agora-e-lulopetismo/

     

    O Estadão alivia a Folha e diz que democracia “não é para agora”. Agora é “lulopetismo”

    O dia começou ainda escuro e o cansaço toma conta, depois de 18 horas, quase, trabalhadas. Mas não posso deixar passar a vergonha do editorial de hoje do Estadão, “relativizando” a democracia.

    Em defesa de seu “concorrente” – quem acredita nisso? – a Folha de S. Paulo, pega em flagrante adulterando relatórios de pesquisas para dizer que 50% queriam a continuidade de Michel temer no governo, o ex-vetusto jornal quatrocentão sai-se com a pérola de um editorial cujo título já é uma confissão antidemocrática: “A maioria também se equivoca“.

    Nele, reconhece que “todas as pesquisas realizadas após o afastamento provisório de Dilma Rousseff da Presidência da República revelam que a maioria dos brasileiros, cerca de dois terços, entende que a melhor solução política para o País, no momento, é a realização de eleições presidenciais antecipadas”.

    E mais, que “o presidente em exercício Michel Temer não conquistou até agora a confiança majoritária da população.”.

    Modéstia, já que mostram que a confiança em Temer anda na casa dos 10%.

    Ainda assim, o editorial diz que  “a defesa de eleições presidenciais diretas antecipadas pode servir ao lulopetismo. Ela se confunde também com o sentimento de vingança, o ‘fora, Temer’. Sonham com essas eleições, ainda, pessoas de boa-fé, porém desinformadas; insatisfeitas com a situação, mas ignorantes dos pré-requisitos necessários à convocação dessa eleição.”.

    Curioso é que os ” pré-requisitos necessários” ao processo de impeachment, o crime de responsabilidade, pode ser solenemente ignorado e transformado numa mera questão de “popularidade”.

    Então, vem o razão mais cínica: “O principal argumento contra a ideia das “diretas já”, no entanto, é o de que ela implicaria manter o País paralisado por no mínimo meio ano, com a deterioração da crise econômica, que está a exigir providências urgentes e eficazes para garantir que os primeiros tímidos sinais de recuperação ganhem fôlego a partir da estabilização política que provavelmente ocorrerá a partir de setembro, após a aprovação do impeachment de Dilma pelo Senado.”

    Ou seja, “o mercado” – ou melhor, as promessas e expectativas do mercado – são a razão para abolir a soberania popular.

    É a velha história “paternal-autoritária” de que “não é o momento” ou, como tantas vezes ouvi na ditadura, que o Brasil “ainda não estava  pronto para a democracia”.

    Qual é o problema de adequar-se a Constituição para que o povo possa votar fora do período normal?

    Não se quer alterar a Constituição para retirar o patamar mínimo das despesas com saúde e educação?

    Não se quer implantar a idade mínima para se aposentar?

    Não se quer abolir os direitos trabalhistas?

    Não se quer criar impostos, tudo isso mexendo na Constituição?

    Porque não de pode emendá-la para esta coisa simples e sagrada que é o povo escolher seu Governo?

    O Estadão, que já publicou receita de bolo na última vez que passamos por um período autoritário, agora quer que o povo brasileiro engula o bolo que ajudou a aprontar.

    Se a pesquisa mostra que ele não quer, dane-se a pesquisa, porque o Estadão, agora, acha que a vontade do povo é um problema para a democracia.

     

  3. Temer chegou ao fim da linha

     Paulo Moreira Leite

     

    27 de Julho de 2016Compartilhe no Google +Compartilhe no TwitterCompartilhe no FacebookLULA MARQUES: pBrasília- DF 16-06-2016 Presidente interino, Michel Temer e o ministro da educação, Mendonça filho anunciando prorrogação do FIES. Foto Lula Marques/Agência PT/p

     

     

       As pesquisas dos últimos dias mostram que mesmo incluindo o esforço para levar o filho de 8 anos na escola, o baú de truques banais para tentar elevar a popularidade de Michel Temer a qualquer preço está chegando ao fim. Com números arrasadores, o Ipsos e o Paraná Pesquisas mostram uma verdade inegável. Quanto mais a população conhece o governo Temer, mais o rejeita. 

     Temer sempre foi um político ruim de votos e é claro que isso quer dizer muita coisa numa democracia. Coisas ruins, em geral. Fez a carreira política beneficiado pela presença em aparelhos  que lhe garantiam a eleição em pleitos parlamentares, invisível e opaco num máquina de cabos eleitorais profissionais, prefeitos, governadores e empresários amigos que garantiam votos anônimos, inexpressivos e difíceis que são assegurados  hoje para serem esquecidos amanhã. Tudo aquilo que a maioria da população rejeita e condena.

         Cresceu na fase sem glória e sem moral do velho PMDB que foi a legenda honrada de Ulysses Guimarães e da luta contra a ditadura. Ganhou importância quando gerenciava – o termo é este – uma força sem importância para o povo, apenas para os interesses de uma maioria arrasadora de amebas profissionais.  

        Protegido pela opacidade de quem nunca sentiu necessidade de revelar uma ideia, um projeto, Michel Temer se desfaz dia após dias, há dois meses, desde que, sob os holofotes da presidência, precisa dizer a que veio e enfrentar a hora da verdade. Nessa circunstância inevitável, exibe um programa de anti-Brasil. A essência do seu problema é política.

         Ele chegou ao Planalto a  bordo de um golpe parlamentar,  uma suspensão temporária do Estado Democrático de Direito, destinada a permitir a aplicação de medidas de exceção de caráter cirúrgico, que devem ser limitadas no tempo e na profundidade, pois não há condições políticas para ir além disso.  

        Desde o primeiro dia, contudo, o governo Temer busca mudanças de outro caráter, que mesmo governadores eleitos, em disputas legítimas e inquestionáveis, teriam dificuldade de realizar. Em países com o perfil socio-econômico semelhante ao nosso, é mais frequente em ditaduras escancaradas – e não nas envergonhadas.

        Ainda que tenham sido inspirados em Margaret Thatcher e Ronald Reagan, as versões sul-americanas mais conhecidas de criação de um Estado mínimo exibidas pelo governo Temer só conseguiram avançar em suas pretensões através da ditadura, da tortura e da violência, da supressão das garantias democráticas. Você sabe de quem estamos falando: Augusto Pinochet, que destruiu no Chile o mais avançado estado de bem-estar social do continente; e Alberto Fujimori, que arrancou a raiz das primeiras iniciativas que vinham sendo construídas nessa direção. Pinochet chegou a La Moneda pelo sangue de um golpe que se tornou uma vergonha mundial desde o primeiro dia — como tantos exilados brasileiros conheceram na própria carne. Fujimori foi eleito e, após uma série de movimentos demagógicos, cavou terreno para um golpe institucional, origem de uma ditadura corrupta e violenta que seria derrubada com auxílio da Casa Branca, com receio de que o caráter temerário de seu governo levasse a uma situação fora de controle, ameaçando a estabilidade conveniente aos investimentos no país. Nos momentos de megalomania, seus aliados falavam que a “fujimorização” poderia ser uma entendia na América Latina.

        Pinochet foi ditador por 17 anos. Fujimori, tudo somado, ficou dez.

        Antes disso, porém, ambos tiveram direito a pequenos minutos de glória, permitida a partir de princípios mais flexíveis do que se imagina por parte de quem tinha o dever de negar apoio e consideração.  Pinochet foi tratado por Tatcher com honras de aliado preferencial, protegido inclusive no momento em que, deposto, teve de encarar um mandato de prisão por tortura e morte assassinado pelo procurador espanhol Baltazar Garzón.

        Ainda em seu posto, Fujimori estufou o peito, em Lima, na cerimônia em que Fernando Henrique Cardoso lhe entregou a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração do Estado brasileiro.

        A impopularidade de Temer é recorde pelo prazo mas sua origem é o conteúdo. Trata-se de um programa que jamais teria votos da maioria dos brasileiros para chegar ao Planalto. De caráter socialmente excludente, colonial em sua essência, a rejeição era só uma questão de tempo.

       Por mais que a mídia grande tenha feito o possível para esconder a natureza perversa do processo em curso, numa manipulação de informações coerente com um processo que o Premio Nobel da Paz Perez Esquivel chamou de golpe branco, a população já compreendeu o sentido do espetáculo. Diariamente, descaradamente, seus benefícios são reduzidos. Conquistas de tempos recentes recentes são ameaçadas – quando não foram suspensas de imediato. Não há nenhuma boa notícia para quem é pobre, dá duro no fim do mês para pagar contas e educar os filhos. A lista é tão longa que o risco de esquecer alguma coisa é real.

    O projeto que limita o endividamento do governo é um programa de recessão permanente. A reforma na Previdência é uma ofensa. A mudança no Minha Casa Minha Vida é um escárnio. A base para cortes no Bolsa Família é uma mentira. O ataque a Petrobras é um crime. O retrocesso na educação é um recuo histórico. O programa de destruição da CLT envergonha qualquer cidadão com orgulho do 13 de maio de 1888.

      Nos terroristas de Alexandre Moraes, na suspensão do Whatsapp, no projeto de suspensão de garantias democráticas do Ministério Público, medidas autoritárias ameaçam chegar a vida real. O nome adequado para o financiamento politicamente dirigido a portais da internet é aparelhamento.

      Nefasto por sua própria natureza, o golpe de abril-maio é um desses desafios imensos que o povo de um país está condenado a vencer, de uma forma ou de outra. Se a história conta uma lição é ensinar  que cedo ou tarde a maioria consegue impor seus direitos, por mais obstáculos que encontre no caminho.

      No Brasil de 2016, a opção mais civilizada e menos traumática também é a mais curta, obviamente.  Reside na votação do Senado, que pode transformar o pesadelo dos últimos dois meses num episódio grave mas passageiro. Bastam os votos necessários para derrotar o golpe, abrindo caminho para um plebiscito que poderá realizar aquilo que a quase totalidade da população deseja — a realização de novas eleições presidenciais. Para além de tramas menores de balcão, disponíveis em qualquer lado, a base dessa decisão será a convicção, por parte de um número razoável de senadores, de que é impossível ignorar que mesmo direitos e prerrogativas de representantes do voto popular estão em jogo num processo que abre caminho a medidas de exceção que ninguém sabe aonde vão terminar.

        A hipótese de uma derrota da democracia no Senado é lamentável, deve-se admitir. Seu efeito seria transformar a resistência num processo mais duro e doloroso, ainda que inevitável. Mas, ao contrário do que dizia a filosofia amiga de Pinochet e Fujimori, não há fim da história. Ela sempre pertence ao povo que, nas pesquisas sem truque, já disse com clareza o que pensa de Michel Temer e seu governo.

  4. Será isso crível ?

    http://brasileiros.com.br/2016/07/alianca-pmdb-psdb-nao-tem-futuro-diz-cientista-politico/

     

    Aliança entre PMDB e PSDB não tem futuro, diz cientista político

    Para Décio Saes, o PSDB é um partido inviável e está destinado a ser oposição; Temer prometeu adotar programa neoliberal para obter o impeachment, mas não vai adotá-lo

    27/07/2016 8:00, atualizada às 26/07/2016 19:01 2 

     

    Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Henrique e Aécio Neves - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

    Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Henrique e Aécio Neves – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

    Autor dos livos Classe Média e Sistema Político no Brasil (1975) e A Formação do Estado Burguês no Brasil (1985), o cientista político Décio Saes sustenta que a aliança PMDB-PSDB não tem futuro: não há condições políticas para viabilizar as propostas neoliberais dos  tucanos. A única opção do governo é manter a estratégia de desenvolvimento moderado adotada na gestão Lula (2003-2010). Michel Temer pode até utilizar a retórica neoliberal para garantir o apoio do bloco PSDB-DEM até a votação do impeachment, mas o Planalto não vai de fato colocá-la em prática. Tanto é assim que já vetou a abertura de até 100% do capital das empresas aéreas ao capital estrangeiro.

    Ex-professor titular da USP e da Unicamp, e hoje na Universidade Metodista de São Paulo, Saes argumenta que “em um primeiro momento Temer lançou algumas propostas de medidas reacionárias, mas que não têm nenhuma chance de passar no Parlamento, porque os peemedebistas e seus aliados, em sua maioria, têm medo de não conseguir a reeleição em 2018”. No início deste mês a Câmara rejeitou até mesmo um pedido de urgência para o projeto que alongaria a dívida dos Estados com a União.

    “Todas essas medidas anunciadas tendem a fracassar”, diz Saes: “Qual é o maior inimigo da proposta de idade mínima para a aposentadoria? É a Força Sindical do Paulinho, que apoiou o impeachment, um sindicalista de direita”. A mesma coisa aconteceu com a tentativa de abrir radicalmente o País ao capital estrangeiro: “O presidente da Gol deu uma entrevista dizendo que não aceita a abertura total do setor em hipótese nenhuma”. O Senado exigiu mudanças no projeto, e Temer vetou o dispositivo aprovado: “O presidente lançou todo aquele pacote, mas depois não fez nada para implementá-lo”.

    De acordo com Saes, “não existe uma crise de hegemonia no País. Não concordo com a ideia de que a burguesia interna se afastou do governo. As pessoas dizem que a burguesia se descolou do governo, mas que críticas os bancos fizeram ao governo Dilma? Nenhuma. Que críticas o agronegócio fez ao governo? A Kátia Abreu permanece ao lado de Dilma até hoje. O que há é que a burguesia interna se retraiu: ela achou que não deveria se envolver em uma crise governamental. Ela só ficou assistindo da camarote. E eles sabiam que, se houvesse um impeachment, assumiria o PMDB”.

    O que provocou essa crise? Dois fatores. O primeiro deles foi a reação do PSDB à derrota de 2014: “Depois de perderem quatro eleições consecutivas, os tucanos viram que o PT, exercendo o presidencialismo de coalizão, poderia ficar 40 anos no poder, como ficou o Partido Radical na França, ou mais de 40 anos, como aconteceu no México com o Partido Revolucionário Institucional. Quando ele venceu sua quarta eleição, o PSDB e as frações de classe associadas ao partido perceberam que iria se instalar no Brasil um sistema de partido dominante baseado numa proposta de centro-esquerda. O PT tinha descoberto a pólvora: uma política de desenvolvimento moderado, que contempla a burguesia, e uma política de distribuição de renda, que contempla as massas populares”.

    Para o PSDB, “a única saída era tentar reverter essa situação por meios escusos, mas aparentemente constitucionais, e entrou na estratégia do impeachment. Mas o PSDB precisava contar com aliados para conseguir isso. Uma grande parte do aparelho de Estado tende a se aproximar do PSDB porque este partido representa ideologicamente a classe média antipetista. A massa de advogados, promotores e juízes tem de fato um compromisso ideológico com o PSDB. Aí começou a mobilização para a derrubada. Há de fato um envolvimento do Ministério Público, da Polícia Federal, do Supremo”.

    O segundo fator que desencadeou o impeachment surgiu quando “Dilma tentou violar as regras do jogo do presidencialismo de coalizão”, diminuindo o espaço do PMDB no governo: “Dilma não tem a flexibilidade do Lula. Ela quis abafar o espaço do PMDB e lançou um candidato à presidência da Câmara. Resultado: o PMDB deu um passo atrás. A crise se deveu, de um lado, ao temor da oposição tucana de que se instaurasse definitivamente um sistema de partido dominante centrado no PT e, de outro, na decisão do governo petista de aumentar seu espaço em detrimento do espaço do PMDB, que era o partido majoritário. Isso foi um verdadeiro suicídio. O governo petista colaborou para que a crise se ampliasse. Houve amadorismo político da Dilma”.

    Com o afastamento de Dilma, o PSDB voltou ao governo, mas numa posição acessória: “A entrada do PSDB no governo tem a cara de uma manobra política para aplacar um setor que foi muito importante na agitação do impeachment. Mas acho que a presença dessas pessoas no governo não é duradoura. Elas não vão ficar muito tempo devido à inviabilidade das políticas que defendem. Não vão passar no Congresso. Veja o caso do José Serra. Ele começou com essa política de relações prioritárias com Estados Unidos, que não querem comprar nada do Brasil, e se aproximou do Mauricio Macri, que é um hiperliberal. O que aconteceu? Hoje a fronteira com a Argentina está bloqueada, não entra mais nada lá. E esse era o maior aliado do Serra. A gestão que o Serra propôs no Itamaraty é puramente ideológica, não tem o mínimo de pragmatismo comercial”.

    “Toda a política que Temer anunciou parece um produto de marketing para legitimar o processo de impeachment para iludir os neoliberais. Só que os peemedebistas não vão fazer nada disso. Então vamos para a questão histórica de fundo: a única política viável no Brasil é a política de centro-esquerda que contempla os interesses da burguesia interna e os interesses de curtíssimo prazo das massas populares. Não existe alternativa. É por isso que tende a se instaurar um sistema de partido dominante no Brasil centrado num partido de centro-esquerda. É por isso que o PSDB é um partido inviável”.

    “Vamos privatizar tudo? Ninguém vai aparecer aqui para comprar. Quantas vezes não fizeram licitações para portos e aeroportos e não apareceu capital estrangeiro nenhum? Os jornais diziam que as condições não eram suficientemente flexíveis. Não era nada disso. O capital estrangeiro percebeu que aqui não existe infraestrutura para fazer grandes investimentos. A China pretendia instalar uma grande fábrica de carros elétricos em Minas. Quando o grupo chinês foi analisar a cidade, percebeu que não havia condições mínimas para instalar a fábrica lá. Desistiu. Aqui eles não conseguem fazer nem os Jogos Olímpicos. O pessoal está saindo do alojamento e indo para o hotel.” 

    A única estratégia possível, segundo o cientista político, é a do desenvolvimento capitalista moderado, com poucas mudanças. O empresariado brasileiro não ajuda muito, porque tem receio de investir em novos setores: “O Carlos Lessa [que presidiu o BNDES de 2003 a 2004] disse que chamou várias vezes o Antônio Ermírio de Moraes, quando ele estava vivo, e falou: ‘Você não quer sair do cimento e passar para a informática, telecomunicações, novas tecnologias’. O Ermírio respondia: ‘Eu não saio do cimento. Eu não saio porque não confio no governo. Estou negociando com você hoje, mas daqui a dois anos você não estará mais aqui para garantir o que me disse. Então eu não saio do cimento’. A burguesia nacional é uma burguesia fraca. Ela não é capaz de ousar uma estratégia de avanço na substituição de importações”.

    Que partido poderá retomar o modelo de desenvolvimento moderado definido pelo PT durante a era Lula? “Talvez o PT tenha cumprido o seu ciclo histórico, talvez não seja mais o PT. O problema é saber quem cumprirá esse papel. Talvez seja um PMDB renovado após um saneamento interno, ou algum outro partido que surja para preencher esse espaço. Eu apostava minhas fichas no Ciro Gomes, do PDT. Mas o Ciro, pelo que me disseram, é muito complicado, tem épocas que ele desaparece do mapa. E o PSOL é um partido pequeno. Não sabemos ainda, mas um partido vai preencher esse espaço de centro-esquerda. E o PSDB continuará sendo um partido que permanecerá fazendo oposição neoliberal e pró-imperialista a esse governo”. 

    Talvez isso nem demore muito: “Há uma perspectiva de que o PSDB acabe saindo do governo, o que coincide com a fraqueza crescente do partido. Ele conseguiu participar do processo de impeachment graças sobretudo à força dele em alguns setores do aparelho de Estado. Mas o PSDB é eleitoralmente fraco: o único candidato que ele dispunha, que é o Aécio Neves, está envolvido nas denúncias de corrupção. O PSDB não tem cacife. Se o PMDB quiser reformular o ministério para se manter até 2018, ele pode tirar o PSDB, tirar o Serra. O Henrique Meirelles nunca foi verdadeiramente do PSDB. Aos poucos a presença do PSDB vai diminuir, até porque eles não têm nenhum nome para compor o governo. Eles não têm ninguém. Eles não têm ninguém nem para ganhar a prefeitura de uma cidade reacionária como São Paulo. Vão perder essa eleição. Vão perder outra vez. E provavelmente o Alckmin nem vai conseguir fazer seu sucessor”.

     

     

  5. Maioria das críticas ao Rio nos Jogos é correta, mas há exageros

    Maioria das críticas ao Rio nos Jogos é correta, mas há exageros ridículos

     

    por Rodrigo Matos

    do UOL

    A proximidade da Olimpíada-2016 provoca uma avalanche de críticas ao Rio de Janeiro por parte da imprensa internacional. São justas? A maioria das notícias negativas retrata a realidade dos problemas da cidade, e é até benéfica para pressionar organizadores e governantes. Há, no entanto, exageros ridículos que cheiram a oportunismo.

    A imprensa internacional presta um serviço à população carioca ao chamar a atenção para a sujeira na Baía de Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas. É vergonhoso que o Estado tenha fracassado na sua meta de conter 80% da poluição da baía onde ocorrerão os eventos de Vela.

    Por isso, velejadores estarão, sim, submetidos a navegar sobre detritos e uma água contaminada. Em menor escala, os remadores e canoístas enfrentarão águas sujas e assoreadas na lagoa.

    Agora, é no mínimo falta de bom senso do “New York Times” comprar sem contestação a tese de um pesquisador brasileiro – com largo currículo, diga-se – de que nadadores estarão “nadando em merda” e correm “risco de ser infectados” na praia de Copacabana. Há uma controvérsia sobre a questão desde que a AP patrocinou testes nesta água e achou a presença de vírus. As medições do governo estadual para coliformes fecais mostram índices normais, e a OMS (Organização Mundial de Saúde) diz que a água é segura.

    Na vida real, milhões de pessoas mergulham em Copacabana no ano inteiro. A água às vezes tem muitos detritos, às vezes está bem limpa – falo por experiência própria. Mas não há nenhum relato de contaminação por vírus em larga escala na praia. Nem por autoridades de saúde, nem por jornais brasileiros. Se houvesse real ameaça à saúde de atletas, haveria à população. Como se explica que nada aconteceu até agora? Não ocorreu essa pergunta ao jornalão norte-americano?

    Em seguida, há a questão da segurança. Os índices de criminalidade no Rio têm piorado mês a mês com a falência moral e financeira do governo do PMDB do Estado. Mais uma vez, a imprensa internacional presta um serviço à população carioca ao apontar essas falhas. É provável que em termos de criminalidade os Jogos sejam seguros com excesso de exército e soldados nas ruas. Depois, a população estará entregue ao PMDB novamente.

    Mas nada explica uma reportagem como a do “USA Today” que cita, sem contestação ou checagem de dados, um pastor evangélico que diz que 40% da população das favelas da cidade usa crack. Sim, essa é a fonte estatística do jornal: um pastor (nada contra pastores, mas duvido que eles tenham dados corretos sobre uso de drogas na cidade). Assim, ilustram uma reportagem em vídeo em favela perto do Maracanã com viciados.

    A população de favelas do Rio gira em torno de 1,4 milhão e 2 milhões de pessoas, dependendo do levantamento. Levando-se em conta o número mais baixo, o Rio teria 560 mil viciados em crack, ou quase 10% da população urbana. Seria uma legião de zumbis causando o caos pela cidade. Será que o jornal não percebe que o dado não faz sentido? Ou o objetivo é soltar a informação e impressionar seu leitor sem se importar com a sua veracidade?

    Outra polêmica gira em torno do zika. A contaminação pela doença é obviamente um problema de saúde sério, e de difícil solução para a população brasileira. O risco de infecção no inverno, no entanto, é muito baixo, segundo a OMS. Ou seja, nós brasileiros sofreremos, e quem vem aos Jogos, não.

    Então o que leva uma goleira como Hope Solo, dos EUA, a tirar uma foto com máscara de proteção como se enfrentasse abelhas assassinas na véspera de sua viagem? Ou a golfistas dizerem que não irão aos Jogos pelo mosquito? Cheira a oportunismo, e é. Atletas como Michel Phelps, por exemplo, que se informaram, minimizaram o risco de contaminação.

    Por fim, as críticas de australianos e outras delegações a organizadores dos Jogos são, até o momento, absolutamente pertinentes visto que o Rio-2016 falhou ao entregar a primeira instalação aos atletas: sua casa, a Vila. É um vexame que a obra estivesse inacabada, e o comitê organizador tenha deixado para a última hora para testá-la. A ver como estarão as sedes de competições.

    O Rio tem muitos defeitos a serem sanados, assim como possui qualidades. Quem vem de fora e aponta os erros reais ajuda a cidade a se entender, e a tentar se consertar. Quem opta por exageros sensacionalistas só demonstra a própria ignorância.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador