Clipping do dia

As matérias para serem lidas e comentadas.

Luis Nassif

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  1. Um desserviço urbanístico

    Um desserviço urbanístico

    por  Roberto Andrés

    O conjunto de viadutos que se implantou em Belo Horizonte é um cemitério do rodoviarismo moderno em pleno século XXI

    O viaduto que caiu em Belo Horizonte matou duas pessoas, deixou 23 feridos e inquietou outros milhões que vivem nas cidades onde foram feitas obras para a Copa. Com o curioso nome de Batalha dos Guararapes, o viaduto havia sido planejado para estar pronto antes da Copa. Não ficou e acabou caindo durante o evento.

    O viaduto integrava as obras para o BRT (sigla em inglês para o sistema de ônibus com corredores exclusivos e embarque em plataformas) da Avenida Antônio Carlos. Sua função, de necessidade duvidosa, era eliminar um cruzamento. Acabou eliminando duas vidas e a confiança de brasileiros e gringos nas “obras da Copa”. Mas as mortes não foram novidade: oito operários morreram nas reformas dos estádios e causaram menos comoção.

    A construtora do viaduto é a Cowan. Também chegou a participar do consórcio a Delta, empresa ligada ao bicheiro Carlos Cachoeira. Em 2012, o TCE encontrou superfaturamento de até 350% na obra do Guararapes. A Cowan é menos conhecida que a Delta, mas seu caso mais notório foi ter bancado a viagem ao Caribe de secretários de Sergio Cabral e Eduardo Paes.

    Em Belo Horizonte, quando estourou a operação Monte Carlo, a Prefeitura manteve a Cowan na obra e retirou a Delta. Dentre as construtoras de outras obras viárias na capital está a Constran, empresa que doou 500.000 reais à campanha do prefeito Marcio Lacerda em 2012.

    Tudo isso diz respeito à relação espúria entre construtoras e governos eleitos: as obras públicas, ao invés de atenderem às reais demandas da sociedade, financiam campanhas. O mais grave é quando uma obra cai e pessoas morrem. Mas o conjunto de viadutos que se implantou em Belo Horizonte é, mesmo que de pé, um desserviço urbanístico, um cemitério do rodoviarismo moderno em pleno século XXI.

    Viadutos, como muitos sabem, são a maneira mais rápida de se conectar dois engarrafamentos. Em 1989, um terremoto abalou as estruturas de um complexo de vias elevadas na cidade de San Francisco, nos Estados Unidos. Como o trânsito não colapsou e a cidade se adaptou, a maioria dos residentes preferiu que as vias elevadas fossem removidas.

    A remoção das vias não piorou o trânsito. E a cidade ganhou uma nova praça pública e um calçadão ao longo da orla de 400.000 m2. Foram construídas 3.000 unidades residenciais, cerca de 190.000 metros quadrados de escritórios comerciais e 35.000 de comércio varejista, tudo em espaços antes ocupados por vias para carros.

    Histórias como a de San Francisco são detalhadas em Morte e Vida de Rodovias Urbanas, publicado pelo Instituto de Políticas para o Transporte e Desenvolvimento (ITDP). O livro reúne exemplos de demolições de viadutos, vias expressas e pistas elevadas em cidades como Portland, Toronto, Seattle, Paris, Berlim, Boston, Bogotá e Seul. Nessas cidades os viadutos não caíram por força do descaso ou de incompetência engenheirística, mas pela vontade de se ter espaços urbanos melhores.

    Em todos os casos de supressão das grandes infraestruturas para carros dois fatos se repetem: 1) o trânsito melhora; 2) o custo de supressão das vias elevadas é menor do que o custo de manutenção se elas continuassem lá. O Estudo do ITDP mostra que com o alargamento de vias e a construção de viadutos o número de automóveis tende a aumentar proporcionalmente ao espaço aberto, saturando-o rapidamente. Por outro lado, a supressão das vias induz à redução das viagens, migrando passageiros para o transporte coletivo ou vias alternativas.

    Se urge a apuração dos responsáveis pela tragédia do Guararapes mineiro, urge também que se reavalie o anacrônico modelo de mobilidade urbana que ainda se implanta em cidades brasileiras. Viadutos degradam cidades, roubam espaço urbano e não melhoram o trânsito. E, embora sirvam para abastecer o caixa de generosas construtoras, quando são feitos às pressas podem cair na cabeça de quem não escolheu construí-los.

    Roberto Andrés é arquiteto, professor na Escola de Arquitetura da UFMG e editor da revista PISEAGRAMA.

     

    Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/07/08/opinion/1404778594_811142.html

     

  2. Basta! Renunciem, Senhores

    Basta! Renunciem, Senhores José Marin e Marco Polo Del Nero

    É simples, Senhores Marco Polo Del Nero e José Maria Marin: renunciem ao comando da CBF.

    Os Senhores são hoje, e há tempos, responsáveis pelo futebol brasileiro, esse personificado pela “seleção”.

    O que o se viu no Mineirão, o que o mundo assistiu admirado, ou perplexo, foi  a seleção mais vitoriosa das Copas chegar ao fundo do charco.

    Este foi o mais deplorável e triste estágio já alcançado pelo futebol brasileiro.

    Não precisam chegar ao harakiri, como fazem orientais quando envergonham a si e aos seus. Basta entender que os Senhores fracassaram, que encarnam à perfeição esse fracasso. Basta sair de cena.

    Permitam que a CBF, suas estruturas, o futebol como um todo se areje, se renove.

    Os Senhores comandam o futebol brasileiro, mandam e desmandam, mas ele e sua riquíssima história não pertencem aos Senhores.

    Os Senhores são herdeiros leais, fiéis, herdeiros não de sangue, mas de espírito, de uma linhagem.

    Os Senhores herdaram a CBF, o futebol brasileiro, de Ricardo Teixeira e João Havelange. O ex- sogro e o ex- genro se viram obrigados a abandonar o futebol e –pasmem! – a FIFA.

    Abandono com desonra. Por, informou a justiça suíça com repercussão em todo o mundo, terem recebido suborno.

    O mando dos Senhores descende desses e disso.

    Os Senhores são eleitos por federações que, várias delas, não resistem a uma investigação. Talvez não resistam sequer a três cliques num site de busca.

    Os Senhores podem alegar, e alegam desde sempre: a CBF é uma entidade privada. Sim, embora seja mais privada do que entidade.

    Essa entidade privada, ou privada entidade, tem hoje o seu ex-presidente, Ricardo Teixeira, passando temporadas de auto-exílio na Flórida, na localidade apropriadamente denominada Boca Raton.

    O Senhor Teixeira sucedeu seu ex-sogro, Havelange. Este teve que deixar, e pelo mesmo motivo, também o Comitê Olímpico Internacional; além de apear-se da presidência de honra da FIFA.

    Os Senhores, talvez ainda haja quem não saiba, se sucedem nesse cargo por que assim quiseram tais antecessores. Os expelidos do futebol. Simples assim.

    Sabemos como funcionam as coisas. Os Senhores anunciarão medidas drásticas, talvez até espetaculares. (Quem maneja esse espetáculo, e ganha muito com ele, vai precisar disso).

    Quem sabe não reconhecerão em público que o futebol brasileiro, seus técnicos, táticas, filosofias, jogadores, precisam de um profundo processo de modernização. Precisam de inteligência, de buscar para se modernizar as origens que levaram ao sucesso.

    Como vimos nessa extraordinária Copa, enquanto regredimos o mundo todo avançou, quem ainda não sabia já aprendeu a jogar.

    O Brasil desaprendeu, como vimos no catastrófico e histórico 7 a 1 imposto pela renovada Alemanha no Mineirão.

    Renunciem, Senhores Marin e Del Nero –sim, sabemos que o Senhor ainda não assumiu, mas renuncie à sua assunção.

    O futebol do Brasil tem servido a gente como os Senhores, mas não lhes pertence. Pertence aos brasileiros. É uma representação simbólica e afetiva do povo brasileiro.

    Mais até.

    Por longevo, glorioso, está nos capítulos principais da história do futebol no mundo, assim como estão a Alemanha, a Itália, o Uruguai, a Argentina, a Espanha recente, a fundadora Inglaterra…

    Sim, sabemos pela sucessão de escândalos mundo afora: o futebol, como qualquer negócio bilionário, pode ser sujo.  Mas basta! A entidade é, tem sido, demasiadamente…privada.

    Basta de jogos às 10 da noite porque a TV assim quer e manda.

    Basta de uma TV, seja ela qual for, impor tudo no futebol, de maneira arrogante, em nome dos seus gananciosos interesses.

    Basta de “comprar” três ou quatro times de grande torcida e esmagar, abastardar os demais, torná-los “o resto”  no curto e médio prazos.

    Basta de, país afora, futebol às terças e sextas, quando não sábados à noite, um futebol medíocre, de segunda ou terceira, apenas e tão somente para que se venda publicidade de quarta.

    Basta de eleger gangsters para dirigir federações e, sim, isso não se resume às federações.Os clubes, os times devem se livrar da pilantragem… E a receita tem sido a mesma para tantas das confederações.

    Por todo o Brasil, nas cenas exibidas nos telejornais, nas redes, nas fotos, crianças, a semente do futuro, choraram com a degradante queda do futebol brasileiro.

    Sim, Senhores, discursos e teses à parte o futebol, queiram ou não, significa no Brasil e para o Brasil bem mais do que o que se joga em campo. É um símbolo, é representação cultural, é memória afetiva.

    Por isso, nesse 8 de julho, tanta gente chorou no Brasil.

    Escondidos, ou tornando ódio a dor, choraram mesmo os oportunistas, os que à falta de ideias e discurso refocilam nos despojos e restos da derrota.

    Que prevaleça o bom senso. E que o Bom Senso dos jogadores faça, da mesma forma, a auto-crítica e dê início ao recomeço.

    Futebol se aprende, se vence, com técnica, dedicação, tática, inteligência, aprendizado constante. Não com auto-ajuda, psicologia de quinta, não rogando a cada lance a intervenção do Divino.

    Até porque, já deveriam ter lido o que foi escrito e aprendido: não se usa o nome Dele em vão, muito menos em público.

    Que os rapazes tenham apreendido a lição: se derrotas são inevitáveis, derrotas ensinam, ou devem ensinar.

    Um futebol  com a história do futebol brasileiro, e com essa mancha agora eterna, não pode seguir mimado, cheio de vontades. Profundamente infantilizado por adultos.

    Um futebol de jovens e adultos jovens cercados pela ação inescrupulosa e voraz de agentes, empresários, “grupos” e quetais…

    Os Senhores dos comandos que, entre outros, faturam com o futebol, que se apropriaram progressivamente do futebol e nele produzem suas receitas, são os responsáveis.

    Ajam como tal. Façam como fez Felipão. Assumam o fracasso.  E saiam. Larguem o butim.

    Não enrolem enquanto esperam a poeira baixar, sempre com a ajuda e omissões obsequiosas da mídia amiga e sócia nesse espetáculo degradante.

    Renunciem. Os Senhores são os responsáveis maiores não apenas pela mais humilhante derrota na história do futebol brasileiro.

    Os Senhores, e antecessores, são responsáveis por muito mais. Por vitórias, certamente, mas elas não bastam para esconder o que salta aos olhos.

    Não escondem, não esconderão jamais esse 8 de julho de 2014, o resumo dessa ópera que emporcalhou a longa e vitoriosa história do futebol brasileiro.

    http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2014/07/09/basta-renunciem-senhores-jose-marin-e-marco-polo-del-nero/

  3. TEM GENTE QUE NÃO ENTENDEU

    TEM GENTE QUE NÃO ENTENDEU NADA

     

    Tentando faturar com derrota de 7 a 1, oposição diz que brasileiros precisam aprender a fazer “sacrifícios.” Pode?

     

    Nem o general Octávio Costa, que escreveu alguns discursos de Emílio Médici, titular do pior período da ditadura militar, seria capaz de produzir as linhas que seguem abaixo.  Centro da agitação eleitoral do PSDB, o Instituto Teotônio Vilela divulgou uma análise sobre a derrota de 7 a 1 com linhas inacreditáveis. Leia alguns trechos. . Num parágrafo, procura-se comparar traços culturais de alemães e brasileiros para dizer que…“ A histórica derrota sofrida pela seleção pode servir como lição para que o Brasil se torne um país melhor. A vitória alemã representa o triunfo da técnica, da disciplina, do método e do rigor sobre o improviso, o descompromisso e a fé em que, no fim, tudo vai dar certo, porque, afinal de contas, Deus é brasileiro e conosco ninguém pode.” Também se combate o otimismo de uma população, que jamais comungou do pessimismo de suas elites – o que era reconhecido por Tancredo Neves – para falar da “ maior goleada da história do futebol mundial. Um vexame de proporções homéricas. Será que isso não nos diz algo sobre o que acontece quando abdicamos de fazer o que é certo apostando que, ainda assim, no fim nada vai dar errado?” Numa exibição de quem pretende usar desgraças do futebol para ganhar pontos na política, mas não conhece uma coisa nem outra, afirma-se:“O pior que pode acontecer agora é ignorar que o fiasco da seleção deve muito à forma com que os problemas são enfrentados no país. (…) Sem sacrifícios. É o cúmulo da cultura da esperteza, que só nos afunda, mas não está presente apenas no esporte.  Pelo contrário.”  É assim, sem sutileza, que se pretende transformar um jogo de futebol em metáfora da situação política. Tratando brasileiros como adeptos da ” cultura da esperteza”, que querem se dar bem ” sem sacrifícios.”  A ideia do brasileiro como formado na ” cultura da esperteza” está no Zé Carioca, personagem colonial de Walt Disney, certo?A ideia de que os brasileiros querem o sucesso ” sem sacrifícios” é tipica de quem acha que o salário mínimo está alto demais e precisamos de ” medidas impopulares.” É grotesco.   Cumpre lembrar que unir futebol e política é um exercício sempre perigoso. A gloriosa seleção do Tri de 1970, a melhor de todos os tempos, foi formada quando o país vivia sob o pior regime de todos os tempos. Era o auge da tortura, das execuções, da perseguição política. Era uma economia que crescia – mas concentrava renda e ampliava a desigualdade entre os brasileiros. O jogo de Pelé, Tostão, Gerson & os outros era um retrato do futebol Brasil da época. Sua melhor geração na historia.  Mas atuava em outra esfera, ou estratosfera. Não serve como elogio a tortura – como tentava fazer a propaganda Ame-o ou Deixe-o.  A Seleção do Brasil de 2014 é um retrato de nosso futebol. Era um time que jogava aos trancos e barrancos, que contava com a sorte,caneladas e gols estranhos para avançar e chegar até onde fosse possível. Nunca prometeu mais do que isso — embora fosse possível, como já aconteceu em outras copas, imaginar um resultado melhor. Comparar o 7 a 1 do Mineirão com o Brasil real é um exercício primário de marketing e ignorância política. Até porque é preciso ter perdido todo contato com a realidade social e econômica do país para imaginar que a partir de 2003 o Brasil sofreu, como nação, qualquer coisa que possa ser comparada a uma goleada. A renda está melhor distribuída. O desemprego é um dos mais baixos do mundo. O ensino superior nunca cresceu tanto – nem de forma tão rápida.E as escolas técnicas? E a política de habitação popular?   Vamos olhar para o que é importante. Futebol é símbolo, ensina a metáfora Patria de Chuteiras, de Nelson Rodrigues.  Aumenta nossa alegria, o afeto, a vontade de rir. Mas não pode encobrir a realidade cotidiana, nem para o bem, nem para o mal. Mas o esforço para transferir o 7 a 1 para o cotidiano dos brasileiros está em outros lugares.Lendo apenas as manchetes dos jornais de hoje, você encontra palavras humilhantes: “Vergonha, vexame, humilhação.” Ou: “ Um vexame para a eternidade.” Ou: “a partir derrota da história.” Ou ainda: “Humilhação em casa.” Vamos combinar. Há momentos em que é preciso separar a vida real da literatura – ou do futebol. Foi Alberto O. Hirshman, intelectual social-democrata do pós-Guerra, muito citado nas obras da pré-historia do PSDB, que criou o conceito de fracassomania. Enfrentando a resistência  a todos esforços políticos para criar leis e realizar reformas capazes de atender aos interesses da maioria, Hirshman explicava que o  principal argumento conservador de nossa época não é discutir o que está certo, nem o que está errado – mas convencer a população de que as mudanças, mesmo bem intencionadas, estão pré-condenadas ao fracasso. Nunca darão certo, diz a teoria, porque cedo ou tarde os interesses maiores do sistema vigente serão  capazes de retomar seus direitos e reverter aquilo que foi conseguido. O resultado, assim, é que toda tentativa de progresso está destinada a dar errado – e não passa de desperdício de tempo e energia.Pretende ajudar mas acaba atrapalhando quem pode resolver as coisas — isto é, o mercado. O melhor fazer, conclui a fracassomania, é deixar tudo como sempre esteve ao longo dos anos e anos.    Essa é a ideia por trás das frases do dia. Querem nos convencer que o país estava ao passo da gloria – mas acabou derrotado porque ainda não se tornou suficientemente alemão, atitude que “representa o triunfo da técnica, da disciplina, do método e do rigor sobre o improviso, o descompromisso e a fé em que, no fim, tudo vai dar certo, porque, afinal de contas, Deus é brasileiro e conosco ninguém pode.”  Sabendo de nosso complexo de vira-lata, não supreende que tenha uma gente que é louca para deixar de ser brasileiro. Traumatizados, querem virar alemães sem sequer pedir licença para a turma de Angela Merkel. Não querem ganhar uma eleição mas prentendem mudar uma cultura. No fundo, não gostam de futebol. Seu deprezo é tamanho que num texto partidário, de quem está querendo votos,falam mal da entrada de Bernard em campo. Pode?  É uma gente que não entendeu nada, certo? Paulo Moreira Leite
    Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de “A Outra História do Mensalão”. Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu “A Mulher que Era o General da Casa”.

     

  4.  
    10/07/2014 6:00
    O Globo
     

    10/07/2014 6:00

    O Globo

    Luis Fernando Veríssimo
     

    Os seis minutos

    A primeira coisa a fazer, já que o Thiago Silva não poderia jogar, era apresentar o David Luiz ao Dante. Os dois conversariam, talvez num jantarzinho, trocariam confidencias e fotos das crianças, e combinariam como jogar contra os alemães. Aparentemente, isto não aconteceu. Quando David Luiz e Dante finalmente se conheceram, se apertaram as mãos (“muito prazer”, “muito prazer”, “precisamos nos encontrar!”) já estava cinco a zero para a Alemanha.

    Outra coisa: houve uma confusão nas convocações. O Felipão chamou o Fred do ano passado, um dos melhores jogadores da Copa das Confederações, e quem apareceu foi o Fred deste ano, claramente um impostor. Ninguém se lembrou de checar sua documentação. E o Felipão não poderia saber que tinha convocado o Fred errado.

    Outro azar: a partida ter terminado em 7 a 1. Até os 7 a 1 foi um desastre, um vexame, um escândalo — tudo que saiu nos jornais. Mas ainda estava dentro dos limites do concebível. Era cruel, era difícil de engolir, mas era um escore até com precedentes, inclusive na história das Copas. Mas se os alemães tivessem feito mais três gols, apenas mais três, entraríamos no terreno do fantástico, do inimaginável, da galhofa cósmica. A única reação possível a um 10 a 1 seria uma grande gargalhada, que nos salvaria do desespero terminal. Nada mais teria sentido no mundo, portanto nada mais nos afligiria, e todos estariam perdoados, inclusive o Felipão e a CBF, absolvidos pelo ridículo. Mas não tivemos nem a benção de perder de 10.

    Proponho o seguinte consolo: vamos descontar aqueles seis minutos em que o alemães fizeram quatro gols como uma invasão do sobrenatural. Uma espécie de catatonia coletiva, de origem desconhecida, que paralisou nosso time. Os quatro gols marcado durante os seis minutos de inconsciência só de um lado, portanto, não valeram. O escore real, livre de qualquer intervenção extrafutebol, foi 3 a 1. Um escore respeitável, com o qual todos poderemos viver.

    FINAL

    E Argentina e Alemanha farão a grande final, no domingo. Todos torcendo pela América contra a Europa, nossos irmãos continentais contra os nossos algozes, nossos co-colonizados contra os senhores do mundo etc. A esta altura, só nos resta a hipocrisia.

     

  5. LISBOA  –  Os temores pela

    LISBOA  –  Os temores pela saúde de um dos maiores grupos financeiros de Portugal golperam com dureza a bolsa de valores do país nesta quinta-feira e impulsionaram a alta de suas taxas de juros.

    As tensões se originaram com situação do Grupo Espírito Santos (GES), que inclui o Banco Espírito Santo (BES), o maior de Portugal.

    As transações com as ações do banco foram suspensas após uma queda de 16%, que arrastaram a Bolsa de Lisboa para uma baixa de mais de 4% e fez com que a taxa dos bônus de 10 anos subissem 0,13 ponto percentual, para 3,89%. 

    Essa situação repercutiu na Europa, onde o índice Stoxx 50 das principais ações europeias caiu mais de 1%.

    As baixas do mercado foram uma ingrata recordação para os investidores das tensões que tem afetado a Europa nos últimos anos, quando cresceram intensamente os temores pelo estado das finanças públicas de vários países que usam o euro.

    Portugal foi o terceiro país da zona do euro, após Grécia e Irlanda, a recorrer ao socorro financeiro internacional, que foi de 78 bilhões de euros em 2011. Desde aquele momento, os sucessivos governos portugueses tiveram de aplicar medidas de austeridade, cortes de gastos e reformas econômicas.

    As tentativas recentes de Portugal para sanear suas finanças públicas permitiram que o país recuperasse a confiança dos investidores, observada na queda das taxas de juros que paga sobre seus empréstimos. Portugal finalizou seu programa de resgate de três anos em maio, com a confiança de que poderia obter recursos nos mercados.

    O governo insiste que o Grupo Espírito Santo está sólido, mas um comitê parlamentar disse que vai convocar o ministro da Fazenda e o presidente do Banco de Portugal para questioná-los sobre o GES.

    No começo desta tarde, a maioria das praças financeiras europeias operavam com queda de mais de 1%. O PSI 20, de Lisboa, declinava 4%.

    Em Nova York, as preocupações com a solidez do GES também influenciavam os negócios e os índices acionários perdiam ao menos 0,5%.

    (Associated Press)

     

     

     

  6. Alemanha lembra derrota na Copa de 2006: “Sabemos como é doloros

    Alemanha lembra derrota na Copa de 2006: “Sabemos como é doloroso”

    Derrotada em casa na semi há oito anos, seleção germânica manda mensagem após bater o Brasil na mesma fase em BH: “Desejamos o melhor para o futuro para vocês”

    Por GloboEsporte.comRio de Janeiro

     Comente agorasaiba maisSolidários, jogadores e Löw lembram que já sentiram dor brasileira na pele

    O futebol brasileiro sofreu na última terça-feira a pior derrota de sua história, na semifinal da Copa do Mundo, com o 7 a 1 aplicado pela Alemanha no Mineirão, em Belo Horizonte. Há oito anos, a própria seleção alemã conhecia o gosto amargo de ser eliminado na mesma fase e ainda por cima em casa. Nesta quarta-feira, os alemães se compadeceram com a situação da Seleção por meio de uma postagem nas redes sociais.

    alemanha brasil twitter (Foto: Reprodução / Twitter)Seleção alemã manda mensagem após goleada sobre o Brasil no Mineirão (Foto: Reprodução / Twitter)

    – Desde 2006 sabemos como é doloroso perder uma semifinal no próprio país. Desejamos o melhor para o futuro para vocês – dizia a mensagem, em português, no Twitter.

    Na Copa de 2006, a Alemanha estava invicta na competição até ser derrotada pela Itália (futura campeã daquele Mundial) por 2 a 0, em Dortmund. A equipe, então treinada por Jürgen Klinsmann, encerrou com uma vitória por 3 a 1 sobre Portugal na disputa do terceiro lugar.

    – Caros brasileiros, primeiramente gostaríamos de agradecer pelo carinho que estamos sendo recebidos por todas as pessoas em cada momento da nossa estadia no Brasil. Fora isso, desde 2006 sabemos como é doloroso perder uma semifinal no próprio país. Desejamos tudo de bom e o melhor para o futuro para vocês – postou a seleção alemã, também em português, numa versão maior da mensagem no Facebook.

    Post Alemanha Facebook (Foto: Reprodução / Facebook)Post da seleção da Alemanha em sua página no Facebook (Foto: Reprodução / Facebook) http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/alemanha/noticia/2014/07/alemanha-lembra-derrota-na-copa-de-2006-sabemos-como-e-doloroso.html

  7. World Cup: Brazil Is Going to

    World Cup: Brazil Is Going to Be Just Fine

    Don’t Buy the Idea That Rout to Germany Will Leave a National Scar

    Updated July 9, 2014 3:31 p.m. ET

    The sun did rise in Rio de Janeiro on Wednesday. Associated Press

    São Paulo

    Guess what happened in Brazil on Wednesday?

    The sun came up. People went to work. They drove taxis, opened grocery stores, clicked on their computers to handle legal and financial matters. Doctors healed the sick. Social workers tackled the problems of the vast poverty in this country of some 200 million. Life went on.

    Guess what didn’t happen? Cities didn’t burn. Mass riots didn’t erupt. As far as we can tell, no soccer fans threw themselves off buildings because their beloved Seleção was embarrassed by Germany, 7-1, in Tuesday’s World Cup semifinal.

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    Germany’s second goal is scored by Miroslav Klose during the 2014 World Cup semifinal against Brazil. Reuters

    In the cruel light of day, it still feels strange to write “Germany 7, Brazil 1.” That kind of result doesn’t happen at this level of soccer. Brazil last lost a competitive game on home soil in 1975. If I were a native, I’d be shaken, at a loss to describe the debacle that went down in the mining city of Belo Horizonte.

    Make no mistake: The defeat to Germany, to borrow U.S. coach Jurgen Klinsmann’s favorite phrase, was “a real bummer.” The people here love their footy as much as any country loves any sport. The government declares holidays when the national team plays. Streets empty, and I mean empty—like you can pitch a tent in the middle of a main thoroughfare and not get hit.

     

    Germany’s rout ended Brazil’s dream of a World Cup championship. Agence France-Presse/Getty Images

    Still, don’t buy the narrative that this loss is going to leave some indelible national scar on a country so desperately trying to thrive in a lot of areas that have nothing to do with soccer. That idea is rather demeaning to the Brazilians I’ve met, who just might be the warmest collection of souls I’ve come across.

    There was the woman at the eyeglass store here in São Paulo who refused to accept money for the eyeglass case she gave me after I had lost mine. There were the college students in Natal who offered me a tour of the city and a ride back to my hotel in the middle of the night when there was no media shuttle in sight following the U.S. win over Ghana. There was the rabbi who, 30 seconds after meeting me, insisted I go to a Sabbath dinner at one of his congregants’ homes. (I did, and the matzo ball soup was awesome). There are countless souls who have stood patiently with me on the street, waiting as I fumbled through my pocket Portuguese dictionary, searching for the right word to complete a dumb question, when surely they had something better to do.

    I’ve been here a month. That hardly qualifies me as an expert in Brazilian culture. My sample size is small and somewhat limited to hotels, restaurants, soccer stadiums and running paths next to beaches in Rio, Natal, Recife and a few other host cities. I know about the crime and the intense poverty.

    But I also know this is an amazing, diverse country. Fly four hours into the Amazon from São Paulo, and the people look completely different from those in the country’s commercial center. In Salvador on the northeast coast you might as well be in West Africa. In every city, people of every shade of black, brown and white skin populate areas that are rich and poor. It’s a country of stunning physical beauty and vast natural resources. Rush-hour traffic makes Los Angeles arteries look like country drives, a sure sign that the place needs some infrastructure upgrades but also that there are a lot hardworking folks who want to make tomorrow better than today.

    In other words, Brazil is a lot more than a canary jersey and an obsession with soccer.

    The collapse against Germany will surely spark some national soul-searching about how Brazil cultivates and develops its next generation of soccer stars. The country has a huge talent pool to draw from, but accidents don’t happen in sports anymore. Winning at the highest level today takes not just talent but money, training and a cohesive strategy.

    “When you think about it,” a 20-something Brazilian in one of those ubiquitous yellow jerseys said to me in a bar last night, “it’s kind of funny. I mean, seven goals. It’s funny, right?”

    I’m going to bet that Brazil as a whole is going to be just fine after this. Bummed out for a bit, sure, but ultimately fine. In a lot of ways, it already is.

    http://online.wsj.com/articles/world-cup-brazil-is-going-to-be-just-fine-1404917404?tesla=y&mg=reno64-wsj&mod=e2tw

  8. Você lembra quando seu time levou 7 gols?

    Talvez seu avô nem fosse nascido

    Do UOL, em São Paulo – 09/07/2014

     

     

    A seleção sofreu diante da Alemanha sua maior goleada em Copas. A derrota por 7 x 1 envergonhou os brasileiros, causou choro de alguns atletas e dificilmente será cicatrizada. A dor de uma goleada já foi sentida por torcedores de clubes. Equipes grandes do futebol brasileiro também experimentaram derrotas por 7 ou mais gols.

    A derrota mais recente por placar dilatado envolveu o Santos, com revés de 8 a 0 contra o Barcelona, na Espanha, jogo amistoso que ocorreu em 2013 como parte da negociação de Neymar para o time catalão.

    Todos os grandes de São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul tiveram dias para serem esquecidos.   

    O UOL Esporte listou as derrotas por goleada mais recentes de vários clubes brasileiros (sete ou mais gols sofridos em um único jogo). Veja:

     

    Qual foi a derrota mais recente de seu time por goleada?Barcelona 8 x 0 Santos – 2 de agosto de 2013 Atlético/PR 7 x 2 Vasco – 27 de julho de 2005 Palmeiras 2 x 7 Vitória – 23 de abril 2003 Vasco 7 x 1 São Paulo – 25 de novembro de 2001 Vasco 7 x 0 Botafogo – 29 de abril de 2001 Santos 7 x 4 Corinthians – 6 dezembro de 1964 Santos 7 x 1 Flamengo – 11 de março de 1961 Internacional 7 x 0 Grêmio – 17 de setembro de 1948 Flamengo 7 x 0 Fluminense – 10 de junho de 1945 Corinthians 11 x 2 Atlético-MG – 12 de outubro de 1929 Atlético-MG 9 x 2 Palestra Itália (Cruzeiro) – 27 de Novembro de 1927 Grêmio 10 x 1 Internacional – 18 de junho de 1911 

     

  9. Nao foi acidente Dona Lúcia

    Texto do jornalista Flávio Gomes

    http://flaviogomes.warmup.com.br/2014/07/nao-foi-acidente-dona-lucia/

    RIO (mirem-se na Alemanha) – No dia da final da Copa das Confederações, há pouco mais de um ano, Carlos Alberto Parreira fez um dicurso motivacional antes do jogo e usou uma frase de efeito para os jogadores que dali a instantes enfrentariam a Espanha. “Existe uma hierarquia no futebol, e eles foram campeões do mundo sem enfrentar a seleção brasileira!”, bradou para a turma do #ÉTóisss.

    Ui, quanta valentia.

    E aí a seleção foi para cima da Espanha, um time já envelhecido e que tinha gasto muitas de suas horas em solos brasileiros tomando caipirinha e comendo putas durante um torneio que não valia nada — exceto talvez ajudar os branquelos e branquelas de camiseta de 200 paus da Nike, unhas muito bem pintadas e cabelos loiros, a não se atrapalharem na hora do sonho intenso e raio vívido, muitas vezes trocados pelo amor eterno seja símbolo, naquela zona de hino que fala de coisas incompreensíveis como impávido colosso, florão (flor grande?) da América, terra garrida, clava forte, verde-louro (é aquele da Ana Maria Braga?) e lábaro que ostentas.

    O time ganhou, os branquelos aprenderam a cantar o hino, aparentemente, os jogadores passaram a ensaiar os mesmos versos para cantá-los com os dentes cerrados, e vamos para a Copa do Mundo. Antes, vamos quebrar também umas vitrines, culpar a Dilma, criar umas hashtags, #VemPraRua, #NãoVaiTerCopa, reclamar das filas nos aeroportos, bater umas selfies e escrever #ImaginaNaCopa no Facebook quando atrasar um voo da TAM para Orlando.

    Acelera o filme e chegamos ao final de maio, maio agora, um mês e meio atrás. Dia de apresentação da seleção em Teresópolis, entrevistas coletivas, olha só como tudo ficou bonito, olha só a estrutura, os quartos, as bicicletas ergométricas, os campos de futebol, a sala de imprensa, as banheiras de hidromassagem, as TVs de LCD, o WiFi funcionando. Felipão: “Nós vamos ganhar a Copa”. Parreira: “Chegou o campeão. Estamos com uma mão na taça. A CBF é o Brasil que deu certo”.

    Acelera um pouco mais o filme, chegamos ao dia 8 de julho, vulgo ontem, Mineirão. Como tinham feito nas cinco partidas anteriores, os jogadores entram em campo um com a mão no ombro do outro, feito minha classe na Escola Municipal Dona Chiquinha Rodrigues, em 1971, no Campo Belo, quando eu estava no primeiro ano primário. Cantávamos o hino todos os dias, mas nunca precisei colocar a mão no ombro de ninguém porque era sempre o primeiro da fila, por ordem de tamanho.

    Tal rotina cumprida por todo um período escolar me permite não embaralhar versos até hoje, garanto que nunca enfiei a paz no futuro e a glória no passado depois do formoso céu, risonho e límpido, mas ao mesmo tempo me privou de decorar de maneira adequada o hino da independência, porque esse a gente zoava mesmo, eram os cinco filhos do japonês, cada um deles contemplado com uma desgraça diferente, um era vagabundo, outro era punheteiro, e o coitado do quinto tinha nascido sem pinto. Como esse a gente cantava só uma vez por ano, não tinha problema algum abrir mão daquelas baboseiras de garbo juvenil, grilhões da brava gente brasileira, e perfídia astuto ardil é a puta que pariu. Na mesma vida ter de decorar lábaro que ostentas estrelado e ímpias falanges é um pouco demais, não força a amizade.

    Pois que os meninos da CBF, o Brasil que deu certo, adentraram o gramado em fila escolar, perfilaram-se, urraram o hino nacional segurando uma camisa do Neymar Jr. como se fosse a farda de um soldado abatido em Omaha Beach, enquanto o próprio assistia ao jogo em sua casa no Jardim Acapulco pingando fotos no Instagram, #ÉTóiss.

    Parêntese. No dia anterior, três dos meninos da CBF também colocaram fotos no Instagram com a hashtag #jogapraele, respondidas, as fotos, com a hashtag #jogapramim pelo soldado abatido na guerra, Neymar Jr. Todos eles, Neymar Jr., Marcelo, Willian e David Luiz, receberam quantia não divulgada da Sadia, patrocinadora da seleção, para a, como se diz hoje, ação. Foram alguns milhões de curtir & compartilhar que deixaram os marqueteiros da empresa muito satisfeitos e ansiosos para saber quantos frangos seriam vendidos no dia seguinte, enquanto os rapazes rangiam seus dentes gritando pátria amada, Brasil.

    Então começou o jogo e foi aquela coisa linda.

    Então acabou o jogo e estavam todos atônitos, pasmos, chocados, passados, desacorçoados, e os câmeras da FIFA se divertiram fazendo closes de garotinhos com fulecos na cabeça derramando lágrimas no peito de papai com um TAG-Heuer no pulso. Oh, coitados. E os óculos Prada embaçados com as lentes melecadas de rímel? Pobres almas.

    Acelera a fita e chegamos à coletiva de hoje, sete figuras em Teresópolis numa mesa, uns dois ou três eu não tenho a menor ideia de quem fossem, ou sejam, porque continuam sendo alguém. Reconheci Parreira, Felipão, Murtosa, o médico, acho que o preparador físico. Tinha um de agasalho, quase um boneco de cera, no centro da mesa tal qual um Jesus Cristo na última ceia, que entrou mudo e saiu calado, e portanto não devia ter grande importância.

    E o que se viu foi uma demonstração de arrogância, soberba, prepotência, falta de humildade, um festival de sandices, um arroto coletivo coroado com a carta da dona Lúcia.

    Dona Lúcia é a grande personagem desta Copa do Mundo, e surgiu, infelizmente, aos 44 do segundo tempo. Teria sido muito divertido saber o que ela pensava desde o dia 12 de junho, na abertura em Itaquera. Foi sua carta, na verdade um e-mail, afinal estamos em 2014 e nem dona Lúcia escreve mais a mão, fecha um envelope, lambe um selo e vai ao correio, que absolveu toda a CBF, todos os membros da comissão técnica, todos os jogadores, todos os nossos pecados. Foi a carta de dona Lúcia que permitiu a Parreira, a quem encarregaram de dar à luz a missiva, concluir que está tudo perfeito, que ele é perfeito, Felipão também, os demais da mesa, o futebol brasileiro, a CBF. Afinal, como ele disse há um ano, há uma hierarquia no futebol. E estamos no topo dessa cadeia. É nóis, mano. #ÉTóiss.

    Bem, vamos a alguns fatos. Foi o pior resultado de uma seleção brasileira desde o dia em que o Homem de Neandertal deu um bico na cabeça do cara da tribo vizinha, arrancando-a e fazendo a dita cuja voar entre duas árvores. Um 7 x 1 numa semifinal de Copa gerou folhas e folhas de estatísticas, todas elas iniciadas com “nunca”. Nunca isso, nunca aquilo.

    Não me senti envergonhado de nada nem durante, nem depois do jogo. Quero que a seleção se foda, não dependo dela para viver, torço para a Portuguesa, e para mim, depois de 1982, tanto faz se a CBF tem um escudo com quatro, cinco ou dez estrelas. Para mim, a equação é simples: quem se dá bem quando a seleção ganha? A CBF e os caras que tomam conta dela, mais um pessoal no entorno, mídia incluída, que se apropria das vitórias e se refere ao time na primeira pessoa do plural. Acho todos desprezíveis, então não me importo se ganha, perde, empata, se goleia, se é goleada. Olho tudo, assim, com o distanciamento e isenção necessários e torcendo apenas por uma coisa: que um dia tudo mude.

    Mude, porque gosto de futebol. Porque olho para a Alemanha e fico feliz da vida de ver que um projeto feito há não muito tempo dá tão certo e é baseado apenas em honestidade de princípios, trabalho, dedicação, metas, filosofia.

    Filosofia. Essa é a palavra. Em 2000, a Alemanha fez uma Eurocopa de merda e não passou da primeira fase. Fritz, Hans, Müller, Klaus e Manfred se reuniram e decidiram salvar o futebol do país. Para isso, era preciso mudar tudo. Clubes, ligas, divisões de base, campeonatos, estádios, distribuição de dinheiro, formação de técnicos, médicos, preparadores físicos, finanças, tudo. O resultado, óbvio e inevitável, seria uma seleção forte, mais dia, menos dia.

    Os resultados estão aí e não vou me alongar neles. São quatro semifinais seguidas de Copas, a Bundesliga tem uma média de público assombrosa, os clubes são saudáveis, vivem decidindo os campeonatos europeus, é um sucesso. A coisa é tão bem feita e bem pensada, que os clubes são obrigados até a estabelecer uma filosofia de jogo e aplicá-la em todas as suas divisões. A divisão de grana não é a obscenidade determinada pela TV Globo aqui, por exemplo. Atende a critérios técnicos, não a planilhas do Ibope. Em resumo, em 14 anos, o que é quase nada, os caras reconstruíram seu futebol. E o futebol na Alemanha, com o perdão da expressão, mas não encontro outra melhor, é do grande caralho.

    Enquanto isso, por aqui, ele é infestado por figuras sombrias e deprimentes, gente ligada ao regime militar, múmias carcomidas, antiquadas, obsoletas, conservadoras (o treinador é admirador confesso de Pinochet), adeptas de rituais de guerra, de conceitos bélicos, de atitudes marciais, gente que não sorri, que dá asco, que, definitivamente, não tem nada a ver com o futebol que o Brasil um dia mostrou ao mundo e fez com que o mundo se encantasse por ele. E até hoje isso acontece. Esse encanto, que é claramente uma herança do passado, segue tão vivo que a Alemanha, hoje, pediu desculpas ao Brasil.

    Não precisava. Essa gente não merece tamanha consideração. A seleção brasileira não representa nada, a não ser os interesses (pessoais, muitas vezes; não estou falando só de dinheiro) de meia-dúzia que há décadas se locupleta com ela. Como explicar a escolha do técnico, por exemplo? Felipão, nos últimos dez anos, perdeu uma Euro com Portugal para a Grécia em casa, foi demitido do Chelsea, mandado embora de um time uzbeque e rebaixou o Palmeiras para a Série B. Prêmio: virou técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo disputada no Brasil.

    Hoje, na tal coletiva, brandiu folhas de papel com seu retrospecto e carga horária de treinos para provar que fez tudo direitinho. Parreira, figura hedionda e sorumbática, interrompia o abatido treinador a cada resposta para rebater toda e qualquer crítica e reforçar sua autoproclamada competência, seu currículo inatacável, seu passado vitorioso de líder de polichinelo, flexão de braço, distribuição de coletes e posicionamento de cones.

    O futebol brasileiro recebeu alguns recados nos últimos anos. Quando o Santos tomou duas goleadas do Barcelona, por exemplo. Ou quando o Inter foi eliminado do Mundial de Clubes por um time africano. E, depois, o Atlético Mineiro — por uma equipe marroquina. As finais da Libertadores serão retomadas agora, depois da Copa. Sabe quantos clubes brasileiros estão entre os semifinalistas? Nenhum. A média de público da Série A é não menos que ridícula. O campeonato do ano passado acabou num tribunal fajuto porque a CBF não consegue publicar uma suspensão de jogador num site. O clube que reclamou dessa iniquidade foi chantageado e ameaçado de desfiliação e acabou rebaixado, sem ter direito sequer de buscar seus direitos.

    Esse futebol, ontem, levou sete gols da Alemanha. Quatro deles em seis minutos. E a turma responsável por esse vexame hilariante, hoje, não desceu do salto. Não assumiu nenhum erro. Não admitiu nenhuma falha. Não reconheceu suas deficiências. Tratou o resultado como um acidente.

    Foi quando surgiu a carta de dona Lúcia. Que termina sua peroração dizendo que não entende nada de futebol. Talvez por isso os sete da mesa, mais os que nela não estavam, tenham tentado convencer dona Lúcia de que foi um acidente.

    Mas não foi não, dona Lúcia.

    * Ilustro este post, que nem queria escrever, porque não escrevi nada desta Copa, infelizmente (foi uma Copa riquíssima e excepcional), com a melhor das capas de jornal que vi hoje. É do “Extra”, aqui do Rio, que enterra de uma vez por todas o Maracanazo. O que aconteceu em 1950 foi uma tragédia. O que aconteceu ontem, uma vergonha. São coisas bem diferentes.

  10. Processo da Globo apareceu!
    O

    Processo da Globo apareceu!

    O Cafézinho

    Postado em : julho 10th, 2014 | 37 comentários

    Com essa os Marinho e os Kamel não contavam.

    Mal digeriram o “vexame” dos 7 x 1, que trataram editorialmente como uma vitória da teoria deles, dos vira-latas, de que o Brasil é mesmo uma merda, e agora podem ter uma indigestão.

    O processo da Receita Federal, contendo todos os detalhes da sonegação da Globo nas Ilhas Virgens Britânicas, finalmente apareceu.

    No ano passado, os blogs vazaram apenas algumas páginas.

    Agora ele será vazado na íntegra.

    A bomba foi agendada para explodir neste domingo.

    Nesta sexta, pela manhã, serão distribuídos no Centro Aberto de Mídia da Copa, no Rio de Janeiro, resumos em português, espanhol e inglês, para toda a imprensa internacional.

    A sonegação da Globo se deu, segundo apontaram os auditores da Receita, durante a compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.

    Essa é a Copa das Copas!

    Leia o texto do Alexandre Teixeira, do blog Megacidadania:

    *

    O​ Núcleo Barão de Itararé RJ acaba de confirmar que a íntegra do processo “sumido” de dentro da Receita Federal será divulgado a partir deste domingo 13/07.

    Apareceu a íntegra original do processo da Receita Federal que estava sumido. Com aproximadamente duas mil páginas ele contém documentos comprovando o envolvimento da própria família Marinho na fraude contra o sistema financeiro além da já conhecida sonegação bilionária.

    O Núcleo Barão de Itararé RJ irá nesta sexta-feira, dia 11/07, ao Centro Aberto de Mídia do RJ distribuir informativo à imprensa internacional informando a existência deste explosivo material.

    É importante destacar que no recente encontro nacional de blogueiros realizado em SP, mais de 500 participantes aprovaram a campanha MOSTRA O DARF REDE GLOBO

    Já foram feitas diversas cópias do material que está sendo distribuído aos principais blogs brasileiros para divulgação ao distinto público a partir do fim da Copa.

    No momento em que o tema corrupção é tratado como aspecto central para a eleição de outubro, fica evidente que a divulgação desta monumental documentação, com toda certeza, poderá ser um balizador para se entender como funciona e se sustenta o império Rede Globo e suas relações com a FIFA e o submundo do crime internacional.

    FACEBOOK: https://www.facebook.com/pages/Mostra-o-Darf-Rede-Globo/250421645160657?fref=ts
    BLOG: http://mostraodarfglobo.wordpress.com/
    TWITTER: @Mostraodarf darf globo

    Confirme seu interesse em auxiliar na ampla divulgação pelo e-mail [email protected]

    Os blogs O Cafezinho, Megacidadania, Correio do Brasil e Tijolaço, que integram o Núcleo Barão de Itararé RJ, participam do esforço cívico de levar ao conhecimento do distinto público mais esta importante informação que é sonegada pela velha mídia empresarial.

    ALEXANDRE Cesar Costa TEIXEIRA

    http://www.megacidadania.com.br/

     

  11.   Entrevista da Presidenta

      Entrevista da Presidenta Dilma à CNN com o excelente jornalista Christiane Amanpour.

     

    Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, presidente diz que “superar a derrota é característica de um grande país”; Dilma Rousseff afirmou que derrota da Seleção Brasileira por 7 a 1 diante da Alemanha não reduz conquistas da realização da Mundial; “Fizemos uma das melhores copas graças à capacidade do povo de receber bem os visitantes”, apontou; ela foi perguntada sobre os tempos de combate ao regime militar, sofrimento de torturas e a condição de ser presidente e mulher; “As mulheres sabem que as pessoas são sentimentos e emoções, e não apenas pensamentos e racionalidade”; íntegra

     

    10 DE JULHO DE 2014 ÀS 17:31

     

    247 – Na condição de anfitrião da Copa do Mundo assistida por mais de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo, a presidente Dilma Rousseff concedeu à rede americana CNN uma entrevista exclusiva, veiculada nesta quinta-feira 10, para a jornalista Christiane Amanpour. A presidente disse que se sente “triste” pela derrota, por 7 a 1, da Seleção Brasileira frente a da Alemanha, na terça 8, mas lembrou que “futebol não é uma guerra, é um jogo”.

    Dilma defendeu “uma renovação” no futebol brasileiro, de modo a permitir que os principais jogadores permaneçam atuando em clubes nacionais. Ele foi questionada sobre seus tempos de luta contra a ditadura militar brasileira, quando foi torturada. “Você descobre que tem de resistir e que só você pode derrotar você mesmo”. Acompanhe:

    Entrevista exclusiva da Presidenta Dilma à CNN:

    Jornalista Christiane Amanpour: Senhora Presidente, bem-vinda ao nosso programa.

    Presidenta Dilma Rousseff: É um prazer para mim, Christiane, falar com você.

    Jornalista: Houve muitas manifestações antes desta Copa do Mundo. E, de repente, durante a Copa do Mundo as pessoas ficaram em êxtase, disseram que era a melhor copa do Mundo, houve tantos gols. A Senhora acha que esta derrota irá moldar o sentimento nacional?

    Presidenta: Olha, eu não acredito nisso porque nós vivenciamos uma Copa. Nós sabemos, nós, brasileiros, e também todos os torcedores que aqui vieram, nós sabemos que foi uma Copa que foi… que transcorreu em paz, com muita alegria, com toda a infraestrutura funcionando. De fato, é muito triste que nós cheguemos nesse momento e tenhamos uma derrota, é muito triste. Agora, isso não elimina nem a luta anterior da Seleção, nem tudo o que foi feito e está sendo feito. Afinal, tem uma característica o futebol: ele é feito de vitórias e de derrotas. Ser capaz de superar a derrota, eu acho que é uma característica de uma grande Seleção e de um grande país.

    Jornalista: Queria lhe perguntar, Senhora Presidente, se a Senhora acha que a ausência de Neymar e Thiago Silva contribuíram para esta derrota.

    Presidenta: Duzentos milhões de brasileiros são técnicos e dão palpite na Seleção. Eu acredito, olhando não como uma pessoa que entende profundamente de futebol, eu acredito que algum efeito significativo teve sobre a Seleção. Agora, diante da derrota, nós temos de ter uma atitude de sermos capazes de aprender com ela e, ao mesmo tempo, superá-la. Por isso, eu tenho certeza que o Brasil e todos os torcedores brasileiros terão um comportamento de persistir nos próximos dias e demonstrar que nós somos capazes de superar essa adversidade. Mas, a gente também tem de considerar uma coisa, sob todos os aspectos o Brasil fez uma Copa do Mundo que eu acredito que, de fato, foi uma das melhores Copas, e nós devemos isso, em grande parte, ao povo brasileiro, à sua capacidade de ter hospitalidade e de receber bem os torcedores do mundo, e eu espero – e tenho certeza – que todo o mundo vai reconhecer esse fato.

    Jornalista: Houve muitas perguntas, não apenas pelo mundo, mas também aqui no Brasil, sobre o custo dos estádios, sobre os 14 bilhões de dólares gastos nestes estádios, comparados com os 4 bilhões gastos na África do Sul em 2010. As pessoas diziam: por que não temos melhores escolas, melhor educação ou melhor transporte, melhor infraestrutura. Durante a Copa do Mundo, elas ficaram empolgadas, porque esta tem sido uma excelente Copa do Mundo e a maioria das manifestações tem sido tranquila. A Senhora se preocupa, acredita na possibilidade de de elas recomeçarem após a final, de as pessoas se perguntarem em que foram gastos esses bilhões de dólares se nós sequer chegamos às finais?

    Presidenta: Veja bem, nos estados, nos estádios foram gastos 8 bilhões de reais, mais ou menos 4 bilhões de dólares, nos estados. Esse gasto dos estádios, ele foi financiado pelo governo.. Nós gastamos, entre 2010 e 2013, com educação e saúde, nas três esferas de governo, 1 trilhão e 700 bilhões de reais, o que dá aproximadamente 850 bilhões de dólares, bilhões de dólares. Então comparar 4 bilhões de dólares com 850 bilhões de dólares é absolutamente desproporcional. Nós não gastamos… porque o resto dos gastos fica para o Brasil, não só para a Copa. Nem os estádios ficam só para a Copa. Os aeroportos, eles existem porque nós, de 2003 para 2013, nós passamos de 33 milhões de passageiros que viajavam de avião no Brasil para 113 milhões em 2013. Você veja que é… nós estamos fazendo aeroportos para nós mesmos, porque há uma imensa multidão de brasileiros que, nesta década, descobriu que podia viajar de avião porque tinha renda para pagar a passagem.

    Quanto aos estádios, este é um lugar de encontro da população, e quando eu disse que o futebol brasileiro tem de ser renovado, o que eu queria dizer com isso? Eu queria dizer que o Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios. Qual é a maior atração que um país que ama o futebol como o nosso tem para ir num jogo de futebol? Ver os craques. Tem craques no Brasil que estão fora do país há muito tempo. Então, renovar o futebol brasileiro é perceber que um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados.

    Jornalista: Senhora Presidente, algumas pessoas disseram que Brasil e Copa do Mundo, esta é a fantasia do Brasil. Este é o Brasil que se gostaria de ter. Organizar uma Copa do Mundo fabulosa, apesar da terrível derrota da sua seleção. Mas este não é o Brasil real. No Brasil real, as pessoas estão nas ruas, querem melhor saneamento, melhor educação, melhores serviços. Isto acontece num momento em que a Senhora se lança para a reeleição. A Senhora sente agora o desafio político, com esta derrota, e que após a competição a Senhora estará sob pressão para mostrar resultados?

    Presidenta: Primeiro, eu acho que esse Brasil que estão descrevendo não tem nada a ver com o Brasil real. O Brasil real é um Brasil que, de 2003 até hoje, tirou 36 milhões da pobreza, levou à classe média 42 milhões de pessoas. Quarenta e dois milhões de pessoas, para a gente colocar uma dimensão, equivale à Argentina, um país próximo aqui e bastante populoso. Isso se conseguiu em uma década. Essas pessoas que chegaram à classe média querem, de fato, melhor educação e melhor saúde. Nós estamos nos esforçando imensamente para esse processo.

    Jornalista: A Senhora fala em retirar 36 milhões de pessoas da pobreza. Este é um grande triunfo para o Brasil. E é obviamente a razão pela qual as pessoas ainda têm aspirações. Elas querem melhorar ainda mais. Qual a sua resposta a esse um milhão de pessoas que saíram às ruas no ano passado e para as pessoas que ainda dizem que ainda têm aspirações, apesar do que a Senhora já fez?, Por outro lado, Senhora Presidente, o incrível crescimento econômico do Brasil da última década desacelerou-se e continua lento. O que a Senhora fará? A Senhora precisará encontrar um novo modelo econômico para alcançar o desenvolvimento?

    Presidenta: Veja você, o nosso crescimento ter desacelerado se deve à violenta crise que começa no mundo a partir de 2008. De 2008 até 2014, no mundo, em torno de 60 milhões de empregos foram encerrados, foram fechados. Nós no Brasil, conseguimos, mesmo assim, enfrentar essa crise mantendo um nível de emprego ainda alto. Nós criamos, nesse mesmo período, 11 milhões de empregos. De fato, o mundo passa hoje por um momento difícil. No nosso caso, nós temos feito um imenso esforço para manter as taxas de crescimento e um desses esforços diz respeito aos investimentos que fazemos em infraestrutura. Eu acredito que nós entraremos num novo ciclo de desenvolvimento no Brasil. Se o primeiro foi baseado no crescimento com inclusão social, estabilidade macroeconômica, o segundo ciclo vai ter de se basear na melhoria da nossa produtividade, portanto, da nossa competitividade. Nós temos, como país, de apostar muito na educação. A educação dá conta de duas coisas: garantir que essas pessoas que mudaram as suas condições de vida e de renda, elas tenham esse ganho de forma permanente. A educação garante isso. Em segundo lugar, nós temos de entrar na economia da inovação, do crescimento e do valor agregado. Somos um país que tem uma agricultura, uma indústria e um setor de serviços bem desenvolvido. Então, nós temos de assegurar qualidade de emprego e temos de investir em infraestrutura logística, energética e social-urbana.

    Jornalista: Quão grave é para este país e para esta nação o problema da corrupção?

    Presidenta: Eu acredito que essa é uma questão fundamental no país. Eu defendo, e a minha vida toda demonstra isso, eu defendo tolerância zero com a corrupção, e isso não é só… não pode ser só uma fala presidencial. Tem de resultar em modificações institucionais. Nós criamos, no setor público federal, nós criamos um Portal da Transparência. Todos os gastos, todas as compras, todos os investimentos realizados pelo governo federal aparecem no Portal da internet em menos de 24 horas. Nós criamos a Controladoria-Geral da União e demos à Controladoria-Geral da União poder de investigar e de criar todos os mecanismos de imposição de melhores práticas dentro da Administração. Muitas das ações de corrupção foram descobertas pela Controladoria-Geral da União. Nós demos integral autonomia para a Polícia Federal investigar crimes de corrupção. Noventa por cento do que aparece de corrupção no Brasil foi investigado pela Polícia Federal, que é um órgão do governo federal.

    Jornalista: A Senhora prometeu transformar a corrupção em crime e não apenas uma contravenção. Isto já foi feito?

    Presidenta: Yes, todas. Não só fizemos isso, mas, agora… porque no Brasil tinha a prática de só o corruptor pagar pela corrupção. Os dois lados, hoje, tanto quem corrompe como quem é corrompido, hoje, paga diante da Justiça, o que eu acho uma grande melhoria porque um não existe sem o outro.

    Jornalista: A Senhora tem uma história de vida fenomenal, Presidente. Depois do intervalo eu gostaria de falar sobre isso.

    (intervalo)

    Jornalista: Bem-vinda de volta ao nosso programa. A Senhora é a primeira mulher presidente do Brasil, um país de mais de 200 milhões de pessoas, o motor da América Latina –   a economia do país é de longe a maior comparada com o restante do continente. A Senhora sempre sonhou em ser Presidente?

    Presidenta: Não, eu nunca sonhei em ser presidente.

    Jornalista: A sua história pessoal sugere, na verdade, justamente o contrário, porque a Senhora foi uma guerrilheira urbana nos anos 60, lutando e resistindo à ditadura militar. A Senhora sonhava em ser uma espécie de Robin Hood?

    Presidenta: Não. Não, não. É muito difícil viver numa ditadura. A ditadura limita seus sonhos. Quando você não tem direito de expressão nem de organização, qualquer ato de discordância torna-se um ato de contraposição. No Brasil, o direito de greve era visto como uma ofensa ao regime. As manifestações que hoje nós… com as quais nós convivemos tranquilamente, eram motivo para você perseguir, matar, torturar. Então, na minha juventude, eu lutei contra a ditadura, eu fui produto desse tempo. Tenho muito orgulho de ter lutado porque não é fácil, não é fácil… o clima de uma ditadura é um clima que corrói, que corrompe as pessoas no sentido de corromper a sua capacidade de resistir.

    Jornalista: A Senhora chegou a ser presa e mantida em prisão por três anos. E foi torturada. A Senhora pode falar sobre isso?

    Presidenta: Eu fui presa nos anos 70 e fiquei por três anos num presídio em São Paulo, que hoje está, inclusive, demolido. É uma experiência em que você aprende que é necessário duas coisas: resistir e… e você percebe que só você mesmo pode te derrotar. Não que seja fácil suportar a tortura, não é, e você só suporta a tortura se você se enganar, deliberadamente, dizendo: mais um pouco eu suporto, mais outro pouco eu suporto, e assim você vai indo, e vai indo, e vai indo. A tortura não pode te derrotar, a adversidade não pode te tirar o ânimo de viver e você não pode se contaminar pelo que o torturador acha de você.

    Jornalista: O que eles fizeram com a Senhora?

    Presidenta: O que faziam no Brasil com todo mundo que era preso: choque elétrico; uma coisa que se chamava pau-de-arara, que é difícil de explicar para você, que é uma forma de pendurar as pessoas pelos braços e pelas pernas; e muito choque elétrico. O pior era o choque elétrico. É a forma mais… é uma dor que anda. A dor praticada por alguém sobre outra pessoa é algo imperdoável, bárbaro, que quem faz isso tem uma perda de valores humanos, de tudo o que nós conquistamos ao sair das cavernas e nos elevarmos à condição de civilizados. A tortura é uma negação disso, é uma negação do outro. Talvez a pior forma de negação. Por isso nós não podemos aceitar, em lugar nenhum do mundo, a ocorrência de tortura, sob qualquer alegação. Eu nunca vi um processo de tortura não destruir a instituição que pratica, que pratica a tortura. Todos os processos de tortura, historicamente, destruíram quem praticou a tortura. É gravíssimo o Ocidente voltar atrás nessa questão.

    Jornalista: Como isto moldou a sua visão de mundo?

    Presidenta: Como eu construí a minha visão de mundo?

    Sabe, só tem um jeito da tortura não te contaminar. Ela não pode te levar a absorver uma raiva contra quem pratica, o ódio contra quem pratica. Você não pode deixar isso entrar para dentro de você, tem de ficar no externo, tem de ficar na dor física. Não pode se transformar numa motivação de sentimento, de visão de mundo, e da sua… eu diria assim, da sua ideologia, da sua cultura, da sua forma de ver o mundo. Agora, eu vou te dizer uma coisa, sobretudo tem uma coisa que eu acho que a tortura me fez viver de uma forma intensa, é a certeza absoluta que nós derrotamos, no Brasil, quem praticou. A derrota não é uma derrota pessoal, não é contra A, B ou C. Nós derrotamos, no Brasil, a estrutura que praticou a tortura, e foi a ditadura. Ao construir a democracia e construir com padrões que respeitam os direitos humanos… porque no Brasil nós temos, hoje, esse amor perdido pela democracia. Eu acho que isso foi o grande ganho.

    Jornalista: Eu posso ver a paixão com a qual a Senhora fala disso. E a sua história pessoal é impressionante. Há muitas críticas hoje à Polícia do Brasil de que é uma das mais letais na região, de que em 2012 cerca de 2 mil pessoas foram torturadas e mortas pela Polícia brasileira. Isso parece ser um legado ruim desse tipo de tortura, ditadura e de falta do Estado de Direito que a Senhora combatia. A Senhora pode mudar isso?

    Presidenta: Esse talvez seja um dos maiores desafios do Brasil.. O combate à criminalidade, ele não pode ser feito com os métodos dos criminosos. Muitas vezes isso ocorre, e nós não podemos também deixar intocada a estrutura prisional brasileira. Então tem de haver uma interação entre o Executivo federal e as polícias, e as polícias são dos estados, porque na Constituição brasileira a atribuição da segurança pública é estadual. Eu acredito que nós teremos de rever isso, rever a Constituição. Por quê? Porque essa é uma questão que tem de envolver o Executivo federal, o estadual, a Justiça estadual e federal, porque também há uma quantidade imensa de prisioneiros em situações sub-humanas nos presídios. Isso nós vamos ter… essa é uma questão das mais graves no Brasil. Essa… em alguns lugares nós conseguimos um grande avanço

    Jornalista: e, finalmente, por falar em Estado de Direito, a Senhora criticou duramente o Governo dos Estados Unidos por causa da espionagem ou das revelações de Edward Snowden. A Senhora foi espionada, milhões de brasileiros foram espionados. A Senhora se reconciliou com o Presidente Obama. As relações estão bem novamente? A questão já passou ou a Senhora ainda tem um problema com os Estados Unidos e a administração Obama quanto a isto?

    Presidenta: Olha, eu não acredito que a responsabilidade com… pelos hábitos de espionagem seja da administração do presidente Obama. Eu acho que ela é um processo que vem ocorrendo depois do 11 de Setembro. O que nós não aceitamos e continuamos não aceitando é o fato de que o governo brasileiro, empresas brasileiras e cidadãos brasileiros fossem espionados, porque isso atinge diretamente os direitos humanos brasileiros, principalmente o direito à privacidade e à liberdade de expressão. Então nós manifestamos essa questão para o governo Obama porque, no momento, o que nós dissemos a eles é que cada ato recíproco entre o Brasil e os Estados Unidos, que são grandes parceiros estratégicos, seria comprometido por revelações que nós não tínhamos controle, não sabíamos que existiam, e que queríamos duas coisas: uma garantia que não aconteceria mais e o fato de que alguém tinha de se responsabilizar e falar para nós que não aconteceria. Naquele momento o governo Obama estava em processo de equacionar esse problema… essa questão da espionagem internacional, e não tinha condições de responder para nós. Como não tinha condição de responder para nós, nós não tivemos nenhuma outra ação… por exemplo, eu ia fazer uma visita e não fiz por isso. Isso não implicou em nenhuma ruptura com o governo Obama. Implicou simplesmente em colocar as cartas na mesa e dizer “olha, isso é impossível”. Hoje eu acredito que eles deram vários passos.

    Intervalo

    Jornalista: Obrigado, gostaria apenas de fazer mais uma pergunta para o segmento final do programa. Finalmente, Senhora Presidente, A Chanceler Merkel e a Senhora são as duas mais poderosas mulheres presidentes do mundo hoje. O que é ser uma mulher presidente? E o que a Senhora dirá à Chanceler Merkel já que a seleção dela chegou à final da Copa?

    Presidenta: Congratulations. Vou cumprimentar a chanceler Merkel pela vitória porque o futebol, ele tem uma característica, ele é um jogo que permite que o que há de melhor na atividade humana apareça. Primeiro, ele é um jogo que implica em cooperação, as pessoas têm de cooperar. Segundo, ele implica em treinamento, as pessoas têm de treinar. No futebol e na vida, se você não se esforçar, não trabalhar, não… você também não obtém sucesso. Implica numa coisa que eu acho fundamental e que é uma educação para todos nós: no fair play, no saber ganhar e no saber perder. Quando você perde, você tem de cumprimentar o adversário. Não é uma guerra, é um jogo, e é por isso que o futebol encanta, porque além disso ele mostra a beleza da iniciativa individual humana em vários momentos, apesar de ele ser um jogo de cooperação. Então eu vou cumprimentar a Angela Merkel e dizer para a Chanceler que o time dela jogou muito bem. E ela esteja de parabéns.

    Jornalista: É diferente ser uma mulher Presidente. A Senhora faz as coisas de maneira distinta?

    Presidenta: Eu acho que ainda no nosso mundo é visto de forma diferente. Mulheres que são líderes políticas, elas são vistas como duras, duras, mulheres duras, frias, cercadas de homens meigos. Nem uma coisa, nem outra é verdade. Nós somos, como lideranças, como presidentes ou como chanceleres, nós somos mulheres exercendo o papel de mulheres. Eu sempre quero crer que nosso olhar feminino tem uma parte que é perceber que você governa para pessoas e não para coisas. Não que os homens façam necessariamente diferente, mas é certo que a mulher sabe que as pessoas são sentimentos e emoções também, além de pensamentos, além da racionalidade. Acho que essa é uma diferença fundamental.

    Jornalista: Presidenta Rousseff, muito obrigada pela participação.

     

     

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