Clipping do dia

As matérias para serem lidas e comentadas.

Luis Nassif

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  1. BEM-VINDO AO MANCHETÔMETRO
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    BEM-VINDO AO MANCHETÔMETRO

    O Manchetômetro é um website de acompanhamento diário da cobertura das eleições 2014 na grande mídia, especificamente nos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de S. Paulo, e no Jornal Nacional, da TV Globo. O Manchetômetro é produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), grupo de pesquisas com registro no CNPq, sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O Manchetômetro não tem qualquer filiação partidária ou com grupo econômico.

    O QUE É VALÊNCIA?

    A valência de uma notícia ou chamada diz respeito a sua orientação positiva ou negativa em relação ao assunto noticiado. Como define Aldé (2003), nos estudos de valência procura-se avaliar “o efeito potencial para cada candidato, procurando esclarecer se (a notícia) beneficia ou prejudica a candidatura em questão”.
    Não se trata, portanto, de uma medida objetiva da intenção de viés jornalístico ou mesmo de se avaliar se a notícia é verdadeira ou não.

     

    http://www.manchetometro.com.br/

     

  2. Obama admite: “Nós torturamos algumas pessoas”.

    Do G1: ( http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/08/nos-torturamos-pessoas-apos-o-… )

    Obama admite que CIA praticou tortura após 11 de setembro

    Segundo Obama, tais técnicas eram usadas por medo de novos ataques.
    ‘Fizemos algumas coisas que eram contrárias aos nossos valores’, diz.

    O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,  admitiu nesta sexta-feira (1º) que a CIA “torturou algumas pessoas” após os atentados de 11 de setembro de 2001, e que a Casa Branca entregou ao Senado norte-americano um relatório de uma investigação sobre “técnicas  avançadas de interrogatório”.

    “Nós fizemos um monte de coisas que eram certas, mas nós tortuamos algumas pessoas. Fizemos algumas coisas que eram contrárias aos nossos valores”, disse Obama em coletiva de imprensa na Casa Branca.

    O comentário de Obama foi uma reafirmação de sua decisão de proibir o uso de técnicas de interrogatório como afogamento, tomada logo depois que ele assumiu a presidência, em janeiro de 2009.

    A administração anterior de George W. Bush autorizava o uso de técnicas de severo questionamento a militantes detidos na esteira dos atentados de 11 de setembro de 2001, por considerar que elas não configuravam totura.

    Obama disse aos jornalistas que tais técnicas eram usadas porque os Estados Unidos tinham medo de mais ataques.

    “É importante que não sejamos muito moralistas em retrospecto sobre o duro trabalho que aquelas pessoas tinham”, disse. “Muitas daquelas pessoas estavam trabalhando sob uma enorme pressão e são verdadeiros patriotas”, disse.

    Obama também disse que tem total confiança de que o diretor da CIA, John Brennan, apesar da recente revelação de que a agência espionou computadores de um comitê do Senado quando investigava suas técnicas de interrogatório.

    O governo americano deve divulgar nos próximos dias um relatório detalhando os abusos cometidos por agentes dos serviços de inteligência contra membros de grupos extremistas.

  3. O bordão apavorante: o direito ao terror financeiro

    Carta Maior

    01/08/2014

    O bordão apavorante: o direito ao terror financeiro

    Não importa o custo em libras de carne humana; a autonomia evocada para o BC deve valer para cada célula do metabolismo rentista. Simples assim.

    por: Saul Leblon
     

           

    Arquivo

     

    Existem os economistas de banco e os jornalistas dos economistas de banco.

    Um não vive sem o outro.

    Como dentes de uma engrenagem azeitada, compõem um mutualismo estrutural. 

    O mercado financeiro não teria o poder de emparedar o imaginário social entre o apocalipse e a rendição, se os seus interesses não fossem potencializados por esse moinho de notável sincronia.

    A máquina da chantagem vocaliza as condições subjacentes ao sequestro da política e da soberania pelo interesse rentista em nosso tempo.

    Não está em causa negociar , mas impor à sociedade os termos de uma rendição permanente se quiser subsistir.

    O terror financeiro ganhou pedagógica transparência eleitoral no episódio protagonizado pelo departamento econômico do maior banco estrangeiro aqui sediado. 

    Operosa, a área de análise do Santander produziu um panfleto contra o governo Dilma e o imprimiu nos extratos remetidos a clientes vips do banco.

    A endogamia mostrou-se então de corpo inteiro.

    O flanco aberto pelo Santander foi acudido rapidamente pelo jogral conservador.

    De faca na boca brandiu-se o ‘direito’ à independência dos bancos em relação à sorte do país.

    Não importa o custo em libras de carne humana; a autonomia evocada para o Banco Central deve valer também para cada célula do metabolismo rentista.

    Simples assim. 

    Mas apavorante é o mandamento político inscrito nessa coerência. 

    O terror financeiro contra a sociedade foi ungido como legítimo pela fatia que se avoca a sua expressão mais qualificada para redimir o crescimento. 

    Tucanos como Aécio Neves disseram ‘presente’ nas primeiras horas da batalha.

    O colunismo especializado em vulgarizar o interesse rentista sucedeu-o em massa.

    Do ponto de vista desse mutirão há uma palavra que resume a cotação de tudo o mais que não for o interesse imediato da renda financeira por aqui: supérfluo. 

    Supérfluo será o país, bem como a democracia, o futuro, a natureza e cada um de nós se o que estiver em causa for a reprodução sagrada do dinheiro especulativo.

    Aos espíritos passionais é forçoso advertir: não se trata de uma perversidade de sentimentos.

    É pior que isso: é estrutural.

    Na era da livre mobilidade dos capitais, o dinheiro não tem pátria.

    Todo capital é capital estrangeiro.

    Não se deve esperar lealdade de seus detentores graúdos, bem como da guarda pretoriana formada pelo matrimônio entre economistas de bancos e os jornalistas de economia.

    Seu único engajamento é o partido do juro alto. 

    Todas as suas causas vinculam-se ao tudo ou nada decorrente da superprodução de capitais, fruto da própria eficiência sistêmica em ‘expulsar’ o trabalho, gerador de mais valia, das entranhas da produção. 

    O vencedor desse jogo leva tudo ou perde tudo.

    E ai de quem teimar em enfrenta-lo, sugerem os analistas do Santander.

    Cada vez mais, miudezas como projetos de desenvolvimento, bem estar social, infraestrutura, emprego, renda não fazem parte do seu portfólio. 

    A especialidade aqui é comprar e vender expectativas.

    Como mostra a guerra eleitoral em curso, esse ‘comércio’ pode mover ou travar a engrenagem decisiva do investimento na vida de uma nação.

    Num caso, o país retoma o crescimento ancorado em bases consistentes.

    No outro, o pessimismo estreita o horizonte do futuro e afoga a economia no arrocho rentista.

    É a disjuntiva dos dias que correm.

    Faz parte do negócio estremecer a Petrobrás para comprar ações na baixa. 

    Depois vendê-las na alta, quando os próprios autores desmentem o boato da véspera.

    O mesmo vale para indicadores da economia.

    Câmbio, inflação, juro, investimento — ‘expectativas’ em geral.

    Entre elas, as alimentadas pelas pesquisas de intenção de voto.

    Nos últimos meses é disso que vive a Bovespa.

    Ou seja, da endogamia entre institutos de pesquisa e especuladores espertos que lucram às custas dos ingênuos orientados pelo colunismo econômico. 

    O núcleo irradiador dessa usina de sombras e abismos é afinado por um jogral de pluralidade ideológica risível.

    Em entrevista a um blog, no ano passado, o colunista do Estadão, José Paulo Kupfer, escancara o filtro que modela a pauta econômica nos dias que correm:

    ‘Fiz uma pesquisa de fontes em alguns principais jornais: Estadão, O Globo, Folha. Captei 500 participações. 85% das citações eram de consultorias, departamentos de economia (alinhados) a escolas neoliberais. Fica tudo com uma visão só”, constatou Kupfer.

    O que, afinal, deseja essa turma que jogou a humanidade no maior colapso do sistema capitalista desde 1929 — e só poupou o Brasil porque não pode derrubar Lula em 2005, perdeu em 2006 e foi às cordas de novo em 2010?

    Simples: trata-se agora de fazer valer as esperanças do dinheiro grosso para conectar de vez o Brasil –ou o que falta dele– ao circuito da mobilidade irrestrita dos capitais.

    Com toda a guarnição de direito,a saber: redução do ‘Estado intervencionista’, regressão salarial, cortes de gastos sociais, novo round de privatizações. 

    O pré-sal não perde por esperar.

    Trata-se de fazer desse país um piquete de engorda à altura da fome pantagruélica do dinheiro ocioso, em vigília planetária por sangue fresco e lastro rentável. 

    O problema então não é o departamento de economia do Santander.

    Ele apenas materializou a bases do jogo.

    O rolo compressor responsável por ter jogado o mundo na pior crise do capitalismo desde 29, tudo fará para impedir que Dilma seja reeleita. 

    Não se deve esperar indulgência dessa engrenagem se, como tudo indica, a reeleição tiver o endosso da urna em outubro.

    A radicalização precedente reflete um estreitamento do campo de composição na luta pelo desenvolvimento brasileiro.

    Escolhas estruturais terão que ser feitas.

    Entre outras razões, por uma particularidade histórica importante lembrada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em recente entrevista ao site da Unisinus.

    Aqui, ao contrário do que se vê na Europa, a grande agenda do conservadorismo não é desmontar um Estado de Bem Estar Social que nunca existiu por essas bandas. 

    Mas, sim, implodir a pactuação social que, desde 2003, mobiliza forças pela criação –ainda que tardia– de direitos que em última instancia implicam a repressão sobre a autofagia financeira e a coordenação do investimento econômico pelo setor público. 

    O talho do facão, portanto, terá que ser mais fundo, sobre uma carne mais magra de gordura, e um bolso mais raso de patrimônio. 

    ‘É preciso pagar em libras de carne humana o ajuste de custos que o Brasil necessita fazer para ganhar competitividade internacional’, confirmam os vulgarizadores dos economistas de banco. 

    Nunca é demais repetir: a coerência macroeconômica quem dá é a correlação de forças da sociedade, que tem na formação das expectativas um de seus ordenadores decisivos.

    A radicalização intuída no caso do Santander não foi um ponto fora da curva.

    Ilude-se ao ponto da irresponsabilidade suicida o governante que ainda acreditar ser possível superar esse círculo de ferro concedendo ao bunker rentista o monopólio sobre o imaginário social.

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/O-bordao-apavorante-o-direito-ao-terror-financeiro/31504

  4. Choveu pouco em São Paulo. Sim, Mas o problema é maior….

    Do Tijolaço

    Choveu pouco em São Paulo. Sim, mas o problema é maior e a Folha não quer ver

     

    1 de agosto de 2014 | 22:44 Autor: Fernando Brito  

    cantafolha

    A Folha publica agora à noite um levantamento que, além dos erros aritméticos ( o gráfico diz que choveu 60% abaixo da média e é só fazer a conta para ver que a chuva foi 42,4% abaixo da média) que  pode acrescentar dramaticidade, deixa de lado a questão mais importante.

    A de que o grave foi, claro que por causa da falta de chuvas, mas não só, a queda na vazão dos rios que abastecem o Sistema Cantareira.

    A vazão afluente média dos rios que o abastecem é, nos últimos 50 anos, de 46,3 metros cúbicos por segundo.

    Mas de janeiro a julho deste ano foi de meros 9,7 m³/s, ou apenas 20,9% do normal.

    Em julho, reduziu-se a meros 4,17 m³/s,  ou 16,4% da média para o mês.

    É evidente que a proporção em que a chuva se reduziu foi muito menor do que aquela em que baixou a vazão dos rios.

    Parte disso, tecnicamente, se explica pelo déficit de absorção de água pelo solo e pelo rebaixamento do lençol que os forma.

    Parte, mas não tudo.

    A falta de proteção dos mananciais, o aumento do uso da água rio acima e outros fatores menores levaram à redução do volume de água e colocam o Cantareira numa situação de risco que – embora possa ser mitigada por chuvas fortes – tende a se tornar permanente.

    E se o governo paulista continuar na política irresponsável que está seguindo, vai continuar por 2015 e 2016, inibindo o desenvolvimento da região metropolitana e, pior, sujeito a criar uma absoluta falta de água para milhões de paulistanos e moradores da periferia se o período de estiagem do final de 2013 e do início de 2014 se repetir.

    Porque as poucas reservas que havia, agora, não existirão. E a providencial água do fundo das represas terá sido sugada.

    Não se deixa, aqui, de enxergar a falta de chuvas.

    Mas também não se deixa de ver que, além dela, há o retrato do fracasso de um modelo de exploração dos recursos hídricos que se preocupa em tirar cada vez mais água dos rios mas não com os rios de que tira água.

    Quando a água falta, compram-se umas bombas, instalam-se mais um “mangueirões” e pronto.

    O negócio é ter água – turva e nem sempre – na torneira até a eleição.

    São Paulo caminha para uma catástrofe, em outubro, em novembro, em dezembro ou no ano que vem, sob o silêncio de sua elite, sobretudo a jornalística que recusa, há mais de seis meses, o retrato do desastre, por achá-lo “alarmismo” ideológico ou partidário.

    E há seis meses a água, baixa, baixa, baixa em ritmo assustador.

    Culpar a falta de chuva é fácil.

    As elites nordestinas fizeram sempre assim com a seca.

    Era de se esperar que a paulistana, com todo o seu verniz de ilustração, fizesse diferente.

    Mas não faz.

    Nem regra de três faz direito.

    http://tijolaco.com.br/blog/?p=19576

     

    1. Não está se dando a devida

      Não está se dando a devida atenção a este problema que pode ser de proporções gigantescas. 

      É um problema estrutural, gerado por um capitalismo burro, posto que não regulado. 

      O sistema capitalista é como menino, se não tiver alguém para ficar de olho e dar uns puxões de orelha de vez em quando, faz besteira.

      Arrisco a dizer que isto pode ser fatal para a economia paulista.

      Mídia e elite é uma coisa só. E este pode ser um acontecimento histórico de um processo de ruptura, isto é, de declínio da economia paulista em relação ao Brasil. A arrogância da elite paulista pode estar levando o Estado a “falência”.

      Dez milhões de pessoas afetadas por um problema estrutural de falta d’água não é pouca coisa.

  5. Globo e Futebol… (aí tem ‘coisa’!)

    Da Folha/uol

    Globo faz reunião extraordinária com clubes para debater até atletas de base

    BERNARDO ITRI
    DO PAINEL FC
    DANI BLASCHKAUER
    EDITOR-ADJUNTO DE “ESPORTE”

     

    01/08/2014  19p1

    Detentora dos direitos de transmissão dos principais campeonatos do país, a Globo convocou os 20 clubes da Série A do Brasileiro para reuniões nas próximas semanas, a fim de discutir o futuro do futebol nacional.

    O primeiro encontro foi marcado para quinta-feira (7), na sede da emissora em São Paulo. As equipes foram divididas em grupos e cada um será recebido nas semanas seguintes.

    A pauta proposta pela emissora inclui desde o calendário do futebol até a formação de jogadores.

    No comunicado enviado, a Globo descreve que o objetivo da reunião é “estreitarmos nosso diálogo com vistas à melhoria do futebol e, em especial, da capacidade de investimento dos clubes na formação de jogadores”.

    O convite feito por e-mail é assinado por Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esporte, braço da emissora responsável por negociar o direito de transmissão dos campeonatos nacionais.

    Na carta, Pinto cita que também estarão na reunião os integrantes do Comitê de Esportes da Globo: Renato Ribeiro, Anco Márcio Saraiva, Roberto Marinho Neto, Pedro Garcia e Eduardo Gabbay.

    O convite causou estranhamento em presidentes de clubes, que não viram sentido em a emissora convocar uma reunião para tratar da formação de atletas. O assunto, segundo um dirigente, não tange à emissora.

    A pauta da reunião cita também outros pontos, como “processo de gestão dos clubes e das entidades de organização do desporto, equação financeira, oportunidades de novas receitas nos estádios”.

    A CBF também deve ser representada no encontro para participar das discussões.

    Essa reunião com a Globo acontecerá quase duas semanas depois de os clubes se reunirem com a presidente Dilma Rousseff.

    No dia 25 de julho, 12 clubes participaram de um encontro com Dilma no Palácio do Planalto. Estiveram em Brasília representantes de Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Botafogo, Flamengo, Inter, Grêmio, Atlético-MG, Bahia, Coritiba, Santa Cruz e Paysandu. Os cartolas pediram urgência na aprovação da lei de refinanciamento das dívidas fiscais.

    Procurada pela reportagem para comentar o propósito da reunião, a Globo não se pronunciou até a publicação desta reportagem. 

  6. Sobre a greve nas universidades paulistas

    As sérias consequências do arrocho salarial

     

    Muitas informações interessantes podem ser extraídas deste gráfico, em particular o resultado dos movimentos de greve em 1994, 2000 e 2004. O que talvez mais chame a atenção é que após a enorme perda imposta em apenas dois anos — entre 1989 e 1991 — foram necessários quase 25 anos para que recuperássemos uma parcela significativa do poder aquisitivo real médio que nos tomaram. Aparentemente, um novo ciclo de arrocho se inicia com o mandato de Zago e Vahan. A história nos ensina que é preciso resistir com firmeza a este tipo de iniciativa, pois deixa marcas indeléveis no corpo e nas atividades-fim da universidade.

    O arrocho de salários, como já vimos acontecer na educação pública básica, contribui para a corrosão e eventual destruição da capacidade instalada, constituindo-se em enorme desperdício de investimento público anteriormente destinado ao setor. Além disso, potencializa a privatização interna da universidade pública, em particular através das fundações privadas, ditas “de apoio”.

    De pouco vale a “temperança” que a atual administração tenta passar aos docentes por meio de vídeos e cartas. O fato é que sem a luta — que empreendemos e continuaremos a empreender — por mais investimento nas universidades estaduais paulistas, assistiremos, em pouco tempo, ao desmonte destas instituições como universidades que mereçam esse nome.

    Causa surpresa que a Reitoria considere inapropriado responsabilizar o governo estadual pela falta de financiamento perene e adequado para contemplar a expansão das universidades estaduais paulistas, ou que defenda como legítimo, por exemplo, o desconto do montante da Habitação da base de cálculo do repasse a que elas fazem jus. Todos aqueles que leem com atenção (e um mínimo de isenção) a argumentação amplamente divulgada pelo Fórum das Seis e pela Adusp sabem que tínhamos duas frentes:

    Arrocho é inaceitável e há espaço para negociação;A situação das universidades estaduais é séria e precisamos agir de forma enérgica para mudar o enunciado do artigo 4º da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de forma que recebam o mesmo tratamento que os municípios, o que nos levou a defender a introdução da expressão “total do produto do ICMS”. Isto porque estamos no Brasil; em países organizados não seria necessária a mudança de redação para que as bases de cálculo de municípios e das universidades estaduais fossem as mesmas.

    Adicionalmente, cabe destacar que, conforme mostra estudo do Sindicato dos Agentes Fiscais de Renda do Estado de São Paulo (Sinafresp), a lei que instituiu a Nota Fiscal Paulista viola preceitos básicos e precisa ser revista. Em particular, como já escrevemos, ainda que seja uma iniciativa destinada a combater a sonegação, não pode ser financiada por meio da retirada de recursos dos municípios e do financiamento de direitos sociais fundamentais, tais como educação e saúde públicas.

    Argumentar, como fez o reitor da USP, que um artigo do secretário da Fazenda responde a essas questões é o mesmo que argumentar ser indevido suspeitar de raposa indicada para cuidar de um galinheiro. Afinal, o governo Alckmin é mais um exemplo dos que têm ojeriza da vinculação de verbas para o financiamento dos direitos sociais fundamentais da população paulista.

    Os demais membros do atual Cruesp reconheceram a validade e oportunidade das propostas (1) e (2) acima, tanto é que, à sua maneira, tentaram intervir na Assem­bleia Legislativa (Alesp) durante o debate da LDO-2014. Só o reitor da USP, isolado, publicamente avisa o governo e propala aos docentes da USP que as universidades estaduais não precisam de mais recursos. Interessante esta postura, mais adequada a um representante do gover­no na USP, do que a um mandatário da USP perante o governo.

    Registre-se que o Cruesp há tempos sabe que os 9,57% são insuficientes. Ofício datado de 29/7/2005, assinado pelo professor Marcos Macari, então presidente do Cruesp, reivindicava a passagem dos 9,57% para 10,27%. Os argumentos apresentados no ofício envolvem, entre outras ponderações, a expansão das estaduais paulistas. Vai ver que a atual administração da USP também não sabia disto; no entanto, suas declarações desqualificam seus pares do Cruesp, de ontem e de hoje. Aparentemente, a atual gestão reitoral da USP não parece importar-se com isto. Fato é, porém, que se trata de atitude incompatível com o exercício dos cargos de reitor e vice-reitor.

    Interessante também a repetida assertiva da atual administração de que de nada sabia, tudo ignorava, embora seus expoentes compusessem a administração J.G. Rodas. Será que não era para desconfiar da origem dos recursos destinados por J.G. Rodas às Pró-Reitorias, em particular a de Pesquisa, com os quais financiou-se um grande número de Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAPs), os quais tiveram suas verbas confiscadas tão logo Zago e Vahan tomaram posse como reitor e vice-reitor?

    Carta alguma da atual administração fará os docentes esquecerem as páginas amarelas da Veja, a entrevista no Estadão, as ameaças de corte do RDIDP, a desqualificação do pessoal docente que há anos dedica-se à USP, a manutenção no cargo do coordenador da Superintendência do Espaço Físico (SEF) depois de insultar docentes e estudantes, o modo desres­pei­toso como foi tratada a ques­tão da EACH, a ameaça de corte de ponto e o desrespeito ao direito de greve, a indisposição ao diálogo, à argumentação e à contestação… A lista já é longa e estamos apenas no primeiro semestre de mandato.

    Tabela 1: Perda Salarial desde Maio de 2013 ICV-Dieese*Salário real (%)IPC-Fipe*Salário real (%)IPC-A*Salário real (%)maio de 2013-100-100-100maio de 20147,05%93,425,20%95,066,28%94,09junho de 20147,20%93,295,46%94,826,38%94,01julho de 20147,20%93,285,50%94,797,20%93,29

    Salário real

    Enquanto a Reitoria tergiversa, a tabela 1 indica o valor real do nosso salário em relação ao de maio de 2013, utilizando uma variedade de estimadores da inflação: ICV-DIEESE (o nosso padrão de estimativa), IPC da Fipe e Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPC-A). 

    Frise-se que, em tempos de inflação não muito alta, perdas de cerca de 7% são muito significativas. Se a evolução inflacionária acirrar-se, esta situação pode agravar-se consideravelmente. É por isto que insistimos em não aceitar arrocho de salários: quando começa, é muito difícil de reverter.

    A sangria continua

    A perda de recursos por não termos a mesma base de cálculo dos municípios (i.e., não ter no artigo 4º da LDO a expressão “total do produto do ICMS”) permanece em 2014 e continuará vigorando em 2015! Até o mês de junho de 2014, não foram incluídos na base de cálculo das estaduais paulistas R$ 1,305 bilhão, incluindo o desconto mensal de R$ 104 milhões correspondente à Habitação. Se incluirmos os 75% de R$ 999,8 milhões distribuídos pela Nota Fiscal Paulista em abril/2014, o montante faltante na base de cálculo dos 9,57% das estaduais paulistas atinge, apenas no primeiro semestre de 2014, R$ 2,055 bilhões! Ou seja, até agora essa prática já subtraiu, em 2014,  R$ 197 milhões das universidades públicas estaduais!

    Ida ao Palácio

    Faz parte da nossa luta contra o arrocho salarial, continuarmos a nos empenhar em obter mais investimento em Educação Pública em geral e nas universidades estaduais paulistas em parti­cu­lar. Com esta perspectiva, o Fórum das Seis protocolou pedido de audiência com o governador do Estado e realizará, no dia 14/8, Ato Público no Palácio dos Bandeirantes. Até agora, não recebemos resposta do governo. Apresentamos ao governador Alckmin no ofício, e o faremos também no Ato, nossas reivindicações de maior investimento na Educação Pública em geral, assim como na USP, Unesp, Unicamp e Centro Paula Souza.

    Somente nossa mobilização e nossa organização podem, de fato, garantir condições dignas de vida e trabalho para o corpo da universidade, resistindo ao descompromisso do governo estadual em dar a devida prioridade à educação, bem como às ameaças e à intransigência que têm caraterizado a administração da USP até agora.

  7. Em um mundo de inevitáveis

    Em um mundo de inevitáveis colisões

    Não vai ser fácil para os Estado Unidos partilharem a liderança monetária com a China

    Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul firmaram em Fortaleza um acordo de cooperação financeira e monetária. Esse arranjo está consubstanciado na criação do Novo Banco de Desenvolvimento e no Fundo Contingente de Estabilização. O banco conta com capital de 50 bilhões de dólares e o fundo, com 100 bilhões, poderá mobilizar recursos para defender as moedas daqueles países em caso de situações de crise de balanço de pagamentos. O banco tem capacidade de alavancar recursos de outras instituições financeiras.

    Os chamados BRICS anunciam o banco e o fundo no ano do 70º aniversário da concertação internacional que levou à constituição das instituições monetárias e financeiras internacionais de Bretton Woods.

    Nos trabalhos elaborados para as reuniões que precederam as reformas de Bretton Woods em 1944, John Maynard Keynes formulou a proposta mais avançada e internacionalista de gestão da moeda internacional. Baseado nas regras de administração da moeda bancária, o Plano Keynes previa a constituição de uma entidade pública e supranacional encarregada de controlar o sistema internacional de pagamentos e de provimento de liquidez aos países deficitários. Tratava-se não só de contornar o inconveniente de submeter o dinheiro universal às políticas econômicas do país emissor, como observamos agora, mas de evitar que a moeda internacional assumisse a função de um perigoso agente da “fuga para a liquidez”.

    As transações comerciais e financeiras seriam denominadas em bancor e liquidadas nos livros da instituição monetária internacional, a Clearing Union. Os déficits e superávits seriam registrados em uma conta corrente que os países manteriam na Clearing Union. No novo arranjo institucional, tanto os países superavitários quanto os deficitários estariam obrigados, mediante condicionalidades, a reequilibrar suas posições, o que distribuiria o ônus do ajustamento de forma mais equânime entre os participantes do comércio internacional. No Plano Keynes, não haveria lugar para a livre movimentação de capitais em busca de arbitragem ou de ganhos especulativos.

    Em 1944, nos salões do hotel Mount Wash-
    ington, na acanhada Bretton Woods, a utopia monetária de Keynes capitulou diante da afirmação da hegemonia americana que impôs o dólar, ancorado no ouro, como moeda universal.

     

    E

    ssas características do arranjo monetário realmente adotado em Bretton Woods sobreviveram ao gesto de 1971 (a desvinculação do dólar em relação ao ouro) e à posterior flutuação das moedas em 1973. Na esteira da desvalorização continuada dos anos 70, a elevação brutal do juro básico americano em 1979 derrubou os devedores do Terceiro Mundo, lançou os europeus na “desinflação competitiva” e culminou na crise japonesa dos anos 90. Na posteridade dos episódios críticos, o dólar fortaleceu-se, agora em obediência ao papel dos Estados Unidos como “demandantes e devedores de última instância”.

    A crise dos empréstimos hipotecários e seus derivativos, que hoje nos aflige, nasceu e se desenvolveu nos mercados financeiros dos Estados Unidos. Na contramão do senso comum, os investidores globais empreenderam uma fuga desesperada para os títulos do governo americano.

    A pretendida e nunca executada reforma do sistema monetário internacional, ou coisa assemelhada, não vai enfrentar as conturbações geradas pela decadência dos EUA. Vai sim acertar contas com os desafios engendrados pelas assimetrias de ajustamento provocadas pelo desarranjo da economia sino-americana, ancorada na força do dólar e no poder dos mercados financeiros dos Estados Unidos.

     

    I

    mpulsionada pela “deslocalização” da grande empresa dos EUA e ancorada na generosidade da finança privada do país, o processo de integração produtiva e financeira das últimas duas décadas deixou como legado o endividamento sem precedentes das famílias “consumistas” americanas, a migração da indústria manufatureira para a Ásia “produtivista” e os desregramentos do endividamento público nos países desenvolvidos.

    A interdependência sino-americana não esgota seus efeitos no desequilíbrio comercial entre os dois países, mas avança suas consequências para dentro da Ásia manufatureira e estende sua influência à África e à América Latina, não só como como fontes provedoras de matérias-primas, mas como espaço de expansão de empresas chinesas que iniciam um forte movimento de internacionalização. Está claro que os chineses ensaiam cautelosa, mas firmemente a internacionalização do yuan ao ampliar a conversibilidade financeira e multiplicar rapidamente os acordos de troca de moedas (swaps) com seus parceiros comerciais mais importantes.

    Não vai ser fácil para os americanos partilharem a liderança monetária com a China. Muitos argumentam que a política de inundação de liquidez destinada a adquirir, sobretudo, títulos de dívida de longo prazo (quantitative easing) em nada afetou sua utilização como moeda de denominação das transações comerciais e financeiras, a despeito do avanço do yuan nos negócios entre os países asiáticos e, provavelmente, agora, nas transações entre os BRICS.

    Seja como for, a crise demonstrou que a almejada correção dos chamados desequilíbrios globais vai exigir regras de ajustamento não compatíveis com o sistema monetário internacional em sua forma atual, aí incluído o papel do dólar como moeda reserva. Isso não significa prognosticar a substituição da moeda americana por outra moeda, seja o euro, seja o yuan, mas constatar que o futuro promete solavancos e colisões nas relações comerciais e financeiras entre as nações.

    http://www.cartacapital.com.br/revista/809/em-um-mundo-de-inevitaveis-colisoes-7923.html

     

  8. Congressistas republicanos

    Congressistas republicanos conseguem autorização para processar Obama 

    Câmara dos EUA aprova medida por 225 votos a favor e 201 contra. Presidente é acusado de abuso de poder ao implementar lei de reforma da saúde. Democratas afirmam que objetivo dos republicanos é impeachment de Obama.

    Dividida, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou, nesta quarta-feira (30/07), a abertura de um processo judicial contra o presidente Barack Obama, proposto pelos republicanos. O motivo alegado é abuso dos poderes constitucionais no contexto da lei de saúde, aprovada em 2010 e conhecida como Obamacare.

    A câmara aprovou a medida por 225 votos a favor e 201 contra, mas os republicanos ainda não definiram um cronograma para, de fato, entrar com um processo contra o presidente.

    Nenhum democrata votou a favor do plano, e o partido chamou o procedimento de eleitoreiro, acusando-o de ter como objetivo atrair eleitores conservadores às urnas nas eleições para o Congresso, em novembro deste ano.

    “Em vez de me processar por fazer meu trabalho, quero que o Congresso cumpra o seu e faça a vida dos americanos que o elegeram um pouco melhor”, atacou Obama durante um discurso no estado do Missouri.

    A medida aprovada permitiria que John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes – uma das duas câmaras do Congresso americano, ao lado do Senado –, desse início aos procedimentos legais. “Isso não diz respeito a republicanos e democratas, mas sim à defesa da Constituição que juramos e agir incisivamente quando ela pode ser comprometida”, argumentou Boehner.

    Os republicanos querem limitar o processo à acusação de que Obama falhou em seguir as determinações legais ao implementar a lei que reforma o sistema de saúde. Eles afirmam que o presidente aplicou as leis da maneira que queria, perigosamente transferindo poder do Congresso para a presidência. Assim, os republicanos alegam estar protegendo a divisão de poderes.

    Os adversários do presidente democrata também acusam Obama de abuso de poder em outras questões, incluindo o episódio envolvendo o sargento Bowe Bergdahl. Na ocasião, Obama não teria notificado o Congresso com antecedência sobre a troca de cinco membros do Talibã detidos em Guantánamo pelo militar americano preso no Afeganistão.

    John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, diz que medida tem como objetivo proteger a Constituição

    Os republicanos também usam como argumento comentários feitos por Obama em janeiro deste ano. Na ocasião, o presidente anunciou que este seria “um ano de ação” para implementar suas prioridades, que ele colocaria em prática “com ou sem o Congresso”.

    Já os democratas acusam a medida aprovada nesta quarta-feira de ser um prelúdio dos esforços para votar um impeachment contra Obama – sugestão que os republicanos dizem ser infundada.

    As especulações sobre o impeachment de Obama têm sido populares entre ativistas conservadores. Os democratas as aproveitaram para arrecadar recursos dos apoiadores do partido. Com esse argumento de que os republicanos querem arruinar a presidência de Obama, os democratas arrecadaram 1 milhão de dólares nesta segunda-feira, segundo o comitê eleitoral do partido.

    Processos legais do Congresso contra presidentes são raros nos EUA. Timothy K. Lewis, ex-juiz de um Tribunal de Recurso dos EUA, afirma que a ação poderia levar pelo menos entre um ano e meio e dois anos para tramitar por todo o sistema judicial federal.

    http://www.dw.de/congressistas-republicanos-conseguem-autoriza%C3%A7%C3%A3o-para-processar-obama/a-17823588

  9. Pernambuco e os conflitos

    Pernambuco e os conflitos socioambientais (por Heitor Scalambrini Costa)

    Em Pernambuco, o mais mesquinho dos egoísmos é como o governo tem tratado mal a questão ambiental e descuidado da qualidade de vida de sua população, pois não protege a natureza e nem respeita as pessoas. Aqui impera o racismo ambiental.

    O crédito público associado às isenções e aos incentivos fiscais e financeiros são armas poderosas que poderiam ser usadas para induzir um novo tipo de comportamento, exigindo integral e verdadeira responsabilidade social das empresas que viessem a se instalar no Estado. Quase a metade do crédito, todo de longo prazo e módicos juros, vem de bancos públicos muitas vezes avalizados pelo governo estadual. Logo, se o governo quisesse, outra forma de desenvolvimento (humano e social) seria possível: bastava induzir boas práticas através de sua força econômica, mudando os incentivos.

    Ao invés disso, o governo estadual é o maior promotor de conflitos socioambientais, como nas remoções forçadas dos moradores para as obras da Copa, provocando também degradação ambiental. Merece também destaque a violência praticada pela empresa pública Suape contra os moradores nativos do território abrangido pelo Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS), e o desmatamento local de Mata Atlântica, manguezais e restingas. Somente para citar dois exemplos.

    Os primeiros quatro anos de gestão do ex-governador, agora candidato presidencial, foi uma verdadeira catástrofe ambiental, se caracterizando como um governo autoritário, com promessas ilusórias, sem dialogo com os setores da população (quem participou dos seminários do Todos por Pernambuco sabe bem como funcionou), desconsiderando completamente as argumentações daqueles que ousaram apontar as mazelas que estavam ocorrendo em função do crescimento econômico desordenado e predatório, particularmente com relação ao território do CIPS. O autoritarismo aliado à completa falta de dialogo distanciou a gestão estadual dos movimentos sociais.

    Foram inúmeras medidas desastrosas adotadas em nome do crescimento econômico, obedecendo a uma mentalidade que tem base na visão ultrapassada do “crescimento a qualquer preço”, ignorando a dimensão sócio-ambiental. O mais lamentável foi o Projeto de Lei Ordinária no 1496/2010 (17 de março) enviado pelo executivo a Assembléia Legislativa (Alepe) referente à maior supressão de mata nativa já ocorrida em Pernambuco (e talvez no Nordeste). Inicialmente previa desmatar cerca de 1.076 hectares (equivalentes a 1.000 campos de futebol) de vegetação nativa em áreas de preservação permanente para obras de ampliação do CIPS. Após pressão e indignação popular este montante foi reduzido para 691 ha (508 de mangue, 166 de restinga e 17 de Mata Atlântica).

    A aprovação ocorreu mesmo com o parecer contrário da Comissão de Meio Ambiente da Alepe, que já questionava a supressão dos 88,7 ha de mangue e restingas entre 2007 e 2008, cujas compensações ambientais não haviam sido cumpridas pela empresa Suape, que por sucessivos anos desdenhou do Ministério Público, assinando Termos de Ajustes de Condutas (TAC´s) que não foram respeitados.

    Outro empreendimento, em nome de um crescimento econômico a cada dia mais questionado, que resultou na agressão ao que ainda resta da vegetação da Mata Atlântica (somente 3,5%), foi à implantação e pavimentação do contorno rodoviário do município do Cabo de Santo Agostinho, a chamada “Via Expressa”. Dos 11,8 ha suprimidos, 2,6 ha estão localizados em áreas de preservação permanente.

    Outra decisão também equivocada na área ambiental, que mostra claramente a inequívoco desprezo pelo meio ambiente e pelas pessoas, foi à opção por tornar Pernambuco um pólo de termoelétricas consumidoras de combustíveis fosseis (o vilão do aquecimento global). A tentativa de trazer para o Estado a maior (e a mais poluente) termelétrica a óleo combustível do mundo, anunciada pomposamente, em julho de 2012, como Suape III (1.450 MW), foi rechaçada pela sociedade pernambucana. Se tal construção fosse realizada, em pleno funcionamento iria despejar, segundo cálculos preliminares, em torno de 20 mil toneladas dias de gás carbônico (CO2). Todavia, a termoelétrica Suape II (320 MW), construída para ser acionada apenas em situações de emergência, funciona diariamente. Ainda na área energética/ambiental, merece destaque o interesse do governador, agora presidenciável, pela vinda da usina nuclear, anunciada inicialmente para o município de Itacuruba, a 512 km de Recife, no sertão, às margens do Rio São Francisco. Com uma biografia dessas na área ambiental, no seu segundo mandato o ex-governador tentou colorir de verde o seu governo. Para isso cooptou seu ex-adversário, candidato do PV a governador, oferecendo-lhe a recém-criada Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade.

    Algumas ações foram possíveis, utilizando a figura pública do ex-secretario, que atuou e militou, até então, nas causas ambientais. Com o apoio intensivo da propaganda e do marketing político foi divulgado alguns projetos nesta área. Foram criadas reservas de proteção permanente “de papel”, foi lançado o projeto Suape Sustentável (que até agora não disse para que veio), dentre algumas medidas de caráter midiático. Além disso, foram abertas algumas portas para a projeção a nível nacional e internacional da figura do governador como amigo da natureza, já que a Conferencia Rio+20 se aproximava e se tinha que fazer algo pela imagem do governo na área ambiental.

    De 13 a 15 de abril de 2012, aconteceu no Recife uma reunião denominada “Pernambuco no Clima” com o patrocínio do Governo Estadual, da Prefeitura do Recife e da Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco (CHESF). Este evento, como anunciado pelos seus organizadores, foi uma reunião preparatória do Rio-Clima (The Rio Climate Challenge), que ocorreria paralelo a Conferencia Rio +20, no Rio de Janeiro. Nesta reunião, como atestou à relação de participantes, a sociedade civil organizada ficou de fora. Marcaram presença entidades e personalidades com fortes vínculos com o governo nas três esferas, além de personalidades e cientistas nacionais e internacionais que contribuíram para avalizar o aspecto técnico do referido encontro.

    Para tornar Pernambuco uma das sedes dos jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, não foram medidos esforços no comprometimento financeiro do Estado e na tomada de medidas socioambientais injustas. Segundo a Secretaria Geral da Presidência da República 1.830 desapropriações ocorreram, sendo 1.538 residências e 292 imóveis comerciais, terrenos, para as obras ligadas a Copa do Mundo de 2014. A truculência das expulsões e as irrisórias indenizações caracterizaram este triste e inesquecível episodio imposto pelo governo do Estado. Somente a construção da Arena Pernambuco e da Cidade da Copa resultou no desmatamento de uma área considerável do fragmento da Mata Atlântica no município de São Lourenço da Mata, situado a 20 km de Recife. O projeto previsto da Cidade da Copa (não executado) abrangeu uma área de 239 ha para construção de todos os equipamentos (prédios residenciais e um hospital). A Arena, única construção existente no local, ocupou cerca de 40 ha desse total.

    Hoje a situação não mudou. O que era já planejado na época se concretizou com o lançamento do ex-governador como candidato a presidente. A ex-senadora e ex-ministra do meio ambiente do presidente Lula foi incorporada na chapa que disputará as eleições de outubro próximo. Algo de um pragmatismo exemplar na política brasileira diante das diferenças abismais entre os pensamentos e as ações de ambos em suas respectivas vidas públicas. Mas a politicagem brasileira sempre nos reserva surpresas.

    A Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade segue não mãos do partido Verde. E este tem demonstrado o quanto é utilizado, dirigindo uma secretaria de quinto escalão. Problemas ambientais gravíssimos existem em todas as regiões do Estado, e a SEMAS segue o seu caminho.

    Apesar das recentes promessas, que não são poucas, a chapa da “nova política” , como se denominam seus integrantes, não é confiável na área ambiental. Mais recentemente demonstrou total desrespeito a inteligência alheia, quando no dia mundial do meio ambiente (5 de junho) a população foi convocada, pelo agora defensor da natureza, o ex-governador pernambucano, a se manifestar através das redes sociais contra o “retrocesso ambiental” do governo federal. A convocação tinha sentido, mas não tinha quem a convocou.

    .oOo.

    Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco.

    http://www.sul21.com.br/jornal/pernambuco-e-os-conflitos-socioambientais-por-heitor-scalambrini-costa/

     

  10. Alckmin, Haddad e as escolhas

    Alckmin, Haddad e as escolhas da mídia

    A expressiva diferença de tratamento da imprensa com as ações do Estado e da Prefeitura ajuda a entender a má avaliação de Haddad e a tranquilidade de Alckmin

    No jargão jornalístico, “setorista” é o repórter que acompanha e escreve exclusivamente sobre algum tema. Quando Gilberto Kassab era prefeito de São Paulo, um conhecido jornal paulista não tinha nenhum setorista de Prefeitura. O que existia –e ainda existe—são repórteres especializados em transportes ou saúde, por exemplo. São profissionais que fazem matérias sobre sua área, seja qual for a instância de poder. Em janeiro de 2013, quando começou o governo Fernando Haddad, o mesmo jornal nomeou três setoristas de Prefeitura. Ou seja: a partir da mudança de comando na cidade, três profissionais deste veículo passaram a se dedicar exclusivamente a cobrir a Prefeitura de São Paulo.

    No governo estadual, a realidade é outra. Não há na mídia convencional nenhum jornalista que se dedique exclusivamente a cobrir a administração Geraldo Alckmin (PSDB).

    A diferença de tratamento é uma escolha das empresas de comunicação. A direção de cada rádio, jornal, revista ou TV que tem sede em São Paulo ou atua na cidade decidiu noticiar de forma crítica cada movimento da gestão Fernando Haddad (PT) e, em uma atitude oposta, deixar o governador Geraldo Alckmin “livre” ao tratá-lo com menor atenção e rigor editorial.

    Essa linha editorial-ideológica dos “grandes” da comunicação explica, em parte, os resultados de pesquisas divulgadas nos últimos dias e que mostram uma má avaliação da gestão de Haddad e a tendência de reeleição em primeiro turno de Alckmin.

    E estamos falando de uma gestão que está implantando corredores de ônibus e ciclovias pela cidade toda, implantou um programa inovador de apoio a usuários de crack, está combatendo o uso indiscriminado de Ritalina, aumentou a capacidade de reciclagem de lixo da cidade, garantiu a reabertura do cinema Belas Artes e aprovou um plano diretor elogiado até pelo MTST, entre outras medidas desses últimos 18 meses.

    A gestão do petista Fernando Haddad tem seus problemas, claro. Chama a atenção, entretanto, o fato de ser a pior avaliada após um ano e meio de governo desde a de Celso Pitta (1997-2000). Segundo pesquisa Datafolha divulgada no último dia 18 de julho, 47% da população considera a atual gestão municipal “ruim” ou “péssima”, e apenas 15% a aprovam.

    Como comparação, a gestão José Serra foi a mais bem aprovada desde que o instituto começou a fazer esse tipo de pesquisa, na gestão Jânio Quadros (1986-1988). O tucano ficou à frente do poder municipal de São Paulo por apenas 13 meses e abandonou o cargo para concorrer ao governo estadual, deixando a prefeitura para Gilberto Kassab. Mesmo seus eleitores têm dificuldade de lembrar qualquer realização de seu breve governo e, mesmo assim, Serra teve sua administração classificada como “ótima” ou “boa” por 56% dos entrevistados.

    Agora vejamos o governo estadual. Entre idas e vindas, Alckmin está em seu 9º ano no comando do Palácio dos Bandeirantes. O PSDB está por lá desde 1995. Com duas décadas de partido único, São Paulo é o estado brasileiro com menor alternância de poder dentre os 27 entes da federação.

    A gestão de Geraldo Alckmin é aprovada por 46% da população, e suas intenções de voto chegam a 54% no Datafolha. Os números são semelhantes em outros institutos e lhe garantiriam uma folgada vitória no primeiro turno caso a eleição fosse hoje.

    Crise inédita de falta de água, violência policial, sensação de insegurança da qual boa parte da população reclama, valor dos pedágios, metrô em marcha lenta, denúncias de corrupção (Alston, Sabesp etc), maior crise financeira da história da USP, presídios e Fundação Casa super lotados, Santa Casa quase fechando as portas… nada “cola” no governador, parece ser tudo culpa de um genérico “poder público”.

    Esses assuntos estão no noticiário, mas com muito menos frequência e de outra forma do que no caso de eventuais problemas da gestão Haddad, e raramente associados ao nome do governador. Pelo noticiário, a impressão que se têm é que a falta de água é um problema divino, e há quem acredite que a crise da Santa Casa ou a lentidão do metrô “é culpa da Dilma”. Perceba a diferença entre os títulos “Falta de planejamento do Estado causa falta de água” e “Falta de planejamento de Alckmin causa falta de água”. Como já disse Paulo Francis, “jornalismo é uma questão de ênfase”.

    Um amigo não petista e eleitor de Marina costuma dizer que “os problemas do governo do Estado só vão ser noticiados se o Padilha ganhar”. A ironia traz um fundo de verdade. Alguém acredita que, em caso de vitória do petista Alexandre Padilha, o Palácio dos Bandeirantes seguirá sem um único jornalista especialmente destacado para vigiá-lo?

    Não há problema algum nessa postura da mídia. Cada veículo tem suas preferências políticas e posições bem definidas. É assim no mundo todo. O que varia é o grau de transparência e honestidade com o leitor. O problema é que a imprensa brasileira, e particularmente a paulista, não reflete a diversidade de ideias encontrada na sociedade. Ela segue uma lógica editorial que contempla apenas uma parcela da população.

    Os veículos em geral escondem suas intenções por detrás de um verniz de uma suposta imparcialidade que ainda ludibria boa parte dos leitores. Se todos jogassem limpo e revelassem suas posições, como acontece, por exemplo, na mídia dos Estados Unidos e da França, pelo menos o jogo ficaria mais honesto e o leitor não compraria gato por lebre.

    http://www.cartacapital.com.br/blogs/midiatico/as-escolhas-da-midia-com-haddad-e-alckmin-4033.html

     

  11. É assim que a coisa funciona. Qual o antídoto?

    Lino Bocchini: Abismo em pesquisas reflete tratamento desigual

    publicado em 1 de agosto de 2014 às 10:58 no blog Vi o Mundo

    Captura de Tela 2014-08-01 às 10.49.33

    Manchete do IG não tem sujeito; abaixo, manchete da Folha não diz que foi o Aécio que fez.

    minas

    Qual prefeito sabia de tudo? Pode parecer Fernando Haddad, do PT, mas era Gilberto Kassab, do PSD, ex-prefeito:

    Captura de Tela 2014-08-01 às 10.54.26 

    Quando é do PT, não tenham dúvidas, o nome do partido vai na manchete:

    PT

    Ilustrações capturadas pelo Viomundo

    Política e imprensa

    Alckmin, Haddad e as escolhas da mídia

    A expressiva diferença de tratamento da imprensa com as ações do Estado e da Prefeitura ajuda a entender a má avaliação de Haddad e a tranquilidade de Alckmin

    por Lino Bocchini — publicado 31/07/2014 02:39, em seu blog

    No jargão jornalístico, “setorista” é o repórter que acompanha e escreve exclusivamente sobre algum tema. Quando Gilberto Kassab era prefeito de São Paulo, um conhecido jornal paulista não tinha nenhum setorista de Prefeitura. O que existia –e ainda existe—são repórteres especializados em transportes ou saúde, por exemplo. São profissionais que fazem matérias sobre sua área, seja qual for a instância de poder. Em janeiro de 2013, quando começou o governo Fernando Haddad, o mesmo jornal nomeou três setoristas de Prefeitura. Ou seja: a partir da mudança de comando na cidade, três profissionais deste veículo passaram a se dedicar exclusivamente a cobrir a Prefeitura de São Paulo.

    No governo estadual, a realidade é outra. Não há na mídia convencional nenhum jornalista que se dedique exclusivamente a cobrir a administração Geraldo Alckmin (PSDB).

    A diferença de tratamento é uma escolha das empresas de comunicação. A direção de cada rádio, jornal, revista ou TV que tem sede em São Paulo ou atua na cidade decidiu noticiar de forma crítica cada movimento da gestão Fernando Haddad (PT) e, em uma atitude oposta, deixar o governador Geraldo Alckmin “livre” ao trata-lo com menor atenção e rigor editorial.

    Essa linha editorial-ideológica dos “grandes” da comunicação explica, em parte, os resultados de pesquisas divulgadas nos últimos dias e que mostram uma má avaliação da gestão de Haddad e a tendência de reeleição em primeiro turno de Alckmin.

    E estamos falando de uma gestão que está implantando corredores de ônibus e ciclovias pela cidade toda, implantou um programa inovador de apoio a usuários de crack, está combatendo o uso indiscriminado de Ritalina, aumentou a capacidade de reciclagem de lixo da cidade, garantiu a reabertura do cinema Belas Artes e aprovou um plano diretor elogiado até pelo MTST, entre outras medidas desses últimos 18 meses.

    A gestão do petista Fernando Haddad tem seus problemas, claro. Chama a atenção, entretanto, o fato de ser a pior avaliada após um ano e meio de governo desde a de Celso Pitta (1997-2000). Segundo pesquisa Datafolha divulgada no último dia 18 de julho, 47% da população considera a atual gestão municipal “ruim” ou “péssima”, e apenas 15% a aprovam.

    Como comparação, a gestão José Serra foi a mais bem aprovada desde que o instituto começou a fazer esse tipo de pesquisa, na gestão Jânio Quadros (1986-1988). O tucano ficou à frente do poder municipal de São Paulo por apenas 13 meses e abandonou o cargo para concorrer ao governo estadual, deixando a prefeitura para Gilberto Kassab. Mesmo seus eleitores têm dificuldade de lembrar qualquer realização de seu breve governo e, mesmo assim, Serra teve sua administração classificada como “ótima” ou “boa” por 56% dos entrevistados.

    Agora vejamos o governo estadual. Entre idas e vindas, Alckmin está em seu 9º ano no comando do Palácio dos Bandeirantes. O PSDB está por lá desde 1995. Com duas décadas de partido único, São Paulo é o estado brasileiro com menor alternância de poder dentre os 27 entes da federação.

    A gestão de Geraldo Alckmin é aprovada por 46% da população, e suas intenções de voto chegam a 54% no Datafolha. Os números são semelhantes em outros institutos e lhe garantiriam uma folgada vitória no primeiro turno caso a eleição fosse hoje.

    Crise inédita de falta de água, violência policial, sensação de insegurança da qual boa parte da população reclama, valor dos pedágios, metrô em marcha lenta, denúncias de corrupção (Alston, Sabesp etc), maior crise financeira da história da USP, presídios e Fundação Casa super lotados, Santa Casa quase fechando as portas… nada “cola” no governador, parece ser tudo culpa de um genérico “poder público”.

    Esses assuntos estão no noticiário, mas com muito menos frequência e de outra forma do que no caso de eventuais problemas da gestão Haddad, e raramente associados ao nome do governador. Pelo noticiário, a impressão que se têm é que a falta de água é um problema divino, e há quem acredite que a crise da Santa Casa ou a lentidão do metrô “é culpa da Dilma”. Perceba a diferença entre os títulos “Falta de planejamento do Estado causa falta de água” e “Falta de planejamento de Alckmin causa falta de água”. Como já disse Paulo Francis, “jornalismo é uma questão de ênfase”.

    Um amigo não petista e eleitor de Marina costuma dizer que “os problemas do governo do Estado só vão ser noticiados se o Padilha ganhar”. A ironia traz um fundo de verdade. Alguém acredita que, em caso de vitória do petista Alexandre Padilha, o Palácio dos Bandeirantes seguirá sem um único jornalista especialmente destacado para vigiá-lo?

    Não há problema algum nessa postura da mídia. Cada veículo tem suas preferências políticas e posições bem definidas. É assim no mundo todo. O que varia é o grau de transparência e honestidade com o leitor. O problema é que a imprensa brasileira, e particularmente a paulista, não reflete a diversidade de ideias encontrada na sociedade. Ela segue uma lógica editorial que contempla apenas uma parcela da população.

    Os veículos em geral escondem suas intenções por detrás de um verniz de uma suposta imparcialidade que ainda ludibria boa parte dos leitores. Se todos jogassem limpo e revelassem suas posições, como acontece, por exemplo, na mídia dos Estados Unidos e da França, pelo menos o jogo ficaria mais honesto e o leitor não compraria gato por lebre.

     

  12.  
    O que vai acontecer no

     

    O que vai acontecer no Brasil caso a receita de Thatcher seja reaplicada com Aécio

       

    in
    Postado em 31 jul 2014por :  Dama de Ferro

    Dama de Ferro

      

    O terrorismo econômico está aí.

    Essencialmente, o que os conservadores estão dizendo é que a política econômica descarrilhou sob Dilma.

    Só Aécio salva, é a mensagem.

    O que a direita quer para a economia é, numa palavra, a receita thatcheriana.

    Os pilares da doutrina consagrada nos anos 1980 por Margaret Thatcher podem ser resumidos assim: privatizar, desregulamentar e reduzir ao máximo as despesas sociais.

    A busca, em suma, do Estado mínimo.

    É o que o “mercado” quer por razões óbvias: as empresas, nacionais e internacionais, ganham barbaramente com isso.

    Como em todo jogo alguém perde, os trabalhadores pagam a conta. A Inglaterra sob Thatcher regressou a níveis de desigualdade próximos do abismo que existia na era vitoriana.

    Esqueça, por um momento, questões como ideologia ou mesmo justiça. A questão é: a receita funciona?

    Ou sob outro ângulo: se o Brasil adotar os preceitos thatcherianos reivindicados pelos conservadores a economia vai deslanchar?

    A resposta, se você olha a história, é: não.

    Os mandamentos de Thatcher são bons apenas para o chamado 1%. Para os demais 99%, não.

    Para o país como um todo, para a saúde da sociedade, menos ainda. Seguir Thatcher é uma calamidade nacional.

    O thatcherismo está na raiz da crise econômica que castiga o mundo desde 2008.

    Sob Reagan, os Estados Unidos abraçaram o thatcherismo. O mercado financeiro foi desregulamentado, para dar liberdade aos bancos e assim, alegadamente, promover a economia.

    Depois de alguns anos, veio a hecatombe.

    Na busca de lucros exorbitantes, os bancos americanos – livres de regulamentação – afrouxaram todos os controles para quem pedia empréstimo para comprar casa.

    Até que começou a inadimplência.

    Milhares, milhões de tomadores de empréstimo não tinham condições de honras as dívidas.

    Os calotes se multiplicaram. Grandes bancos quebraram. E a crise econômica se espalhou rapidamente pelo mundo.

    Nunca mais a economia mundial se recuperou. A locomotiva dela, os Estados Unidos, vem se arrastando desde então.

    Em breve, graças à estagnação americana, a China deve se converter na maior economia do mundo.

    Também a Inglaterra de Thatcher ainda hoje enfrenta as consequências econômicas e sociais da falsa revolução da Dama de Ferro.

    A ressaca do thatcherismo tornou Thatcher tão detestada que os ingleses fizeram celebrações em praças públicas quando ela morreu.

    Não existe uma única estátua dela na Inglaterra, sequer em sua cidade natal: ela seria derrubada em dias, talvez horas.

    É esta mesma receita que os conservadores querem para o Brasil agora.

    Suponha que ela seja adotada pela próxima presidência. Rapidamente, os suspeitos de sempre lucrarão – a plutocracia, ou o 1%.

    Num país cujo maior desafio é mitigar a desigualdade social, seria uma tragédia.

    O país avançou socialmente nos últimos anos. Menos do que poderia e deveria, é verdade. Mas avançou.

    O thatcherismo faria o Brasil retroceder várias casas na questão social em pouco tempo.

    Num momento de franqueza desconcertante, Aécio prometeu a empresários “medidas impopulares” caso se eleja.

    Seu guru econômico, Armínio Fraga, um fundamentalista do thatcherismo, falou que o salário mínimo cresceu muito nos últimos anos.

    Avisos do que vem por aí caso o thatcherismo seja posto em ação no Brasil não faltam, portanto.

    Os thatcheristas prometem a você o paraíso. Mas entregam o inferno. Paraíso, só para eles mesmos.

     Paulo Nogueira

    Sobre o Autor

    O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

     

  13. Por que Israel vai perder a guerra

    Por que Israel vai perder a guerra – Carta Capital

    Por Salem H. Nasser (Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais)

    A evidente decisão israelense de alvejar preferencialmente os civis e de multiplicar de modo terrível o número de massacres nos últimos dias tem uma explicação e uma razão que se misturam.

    Em um documentário chamado Os Guardiões, Ami Ayalon, que dirigiu o serviço de segurança interna de Israel de 1996 a 2000, se refere à noção de banalidade do mal para nos contar como matar intencionalmente grandes contingentes de civis vai se tornando, para os israelenses, algo banal, desprovido de importância, desprovido de peso psicológico, algo a que se acostumaram gradualmente.

    Em outro momento, o mesmo Ayalon nos diz algo precioso: se vencer a guerra é poder viver em paz e segurança, então Israel vence todas as batalhas, mas perde a guerra.

    A razão e a explicação são ao mesmo tempo a banalidade e a inevitabilidade da derrota. Os civis são alvejados em massa porque a coisa tornou-se banal, e eles são alvejados em massa porque Israel está perdendo a batalha, e, também porque eles são alvejados em massa, Israel perderá a guerra no sentido pensado por Ayalon.

    Mas, antes da guerra, a batalha, esta última campanha contra Gaza. A esta altura, sabemos todos que, em meio à violência contínua contra os palestinos, Israel escolheu o episódio dos três colonos mortos como pretexto para um ataque massivo contra a Faixa de Gaza.

    As razões reais para a nova campanha, no entanto, tornaram-se objeto de conjecturas para cujo esclarecimento Israel não contribui muito. É razoável supor que os ataques tivessem por alvo, num primeiro momento, a recém conquistada união nacional entre Fatah e Hamas. E é razoável pensar que, como acontece a cada 2 ou 3 anos, Israel estivesse tentando atingir as capacidades de resistência militar que desenvolvem os grupos armados palestinos.

    Esses objetivos mais prováveis foram logo sendo envoltos numa sucessão de objetivos declarados e depois revistos: o bombardeio para a eliminação da capacidade de lançar foguetes, a incursão terrestre para acabar com os túneis, a continuidade da incursão até o desarmamento total da resistência e, logo mais, até a libertação do oficial capturado hoje.

    A confusão dos objetivos é ajudada pelas descobertas desagradáveis que fez Israel desde que iniciou os ataques à Faixa: a surpreendente capacidade de lançamento de mais foguetes, mais precisos, de maior alcance, que tem a resistência; o perigo representado pelos túneis e o que estes dizem sobre o preparo dos grupos armados; a disposição e a qualidade dos combatentes palestinos no confronto de proximidade, uma vez iniciada a incursão terrestre; as altas perdas em número de soldados e equipamentos no campo de batalha da Faixa; a capacidade da resistência de levar a guerra até o território israelense.

    Tudo isso mostrou que alguns dos objetivos possivelmente concebidos por Israel são simplesmente inatingíveis e que outros demandariam concessões importantes. Mostrou também que a continuidade da guerra traria custos que Israel não pode suportar. É por isso que Israel quer e os Estados Unidos tentam lhe fornecer um cessar-fogo.

    Já a resistência, consciente de suas possibilidades no campo de batalha, pensa que não pode haver outro resultado final para esta rodada de violência que não seja o fim daquela violência, mais longeva e igualmente dolorosa, do cerco à Faixa. Qualquer outra resultante fará, em sua própria linguagem, com que o sangue das vítimas tenha corrido em vão.

    É por isso que, para Israel, matar o maior número de civis apresenta-se como o melhor meio de levar os palestinos, população e resistência, à exaustão, e fazê-los aceitar um fim das hostilidades sem que Israel tenha que fazer concessões, é o que permitiria aos israelenses dizer que venceram esta batalha, que machucaram os grupos armados, reduziram suas capacidades, mataram vinte vezes mais do que morreram, e mantiveram o cerco.

    Mas, apesar dos números, a batalha está sendo perdida por Israel. A partir de certo momento, os números que contarão a vitória serão outros: a resistência palestina poderá dizer que 95% dos que matou eram militares e morreram no combate direto, e Israel terá que explicar por que 95% dos que matou eram civis, mulheres, crianças, velhos. E as fábulas da legítima defesa, dos escudos humanos, do desejo de morrer, do desamor à vida já não servirão a estancar a verdade da banalidade de que falava Ayalon.

    E a guerra também está sendo perdida. Ao menos desde o ano de 2000, a capacidade militar de Israel – sempre fenomenal – tem crescido em impotência. Naquele ano, pela primeira vez, o exército israelense se viu forçado a sair de um território ocupado, o sul do Líbano, por força das ações armadas de grupos de resistência. Isso aconteceu de novo na Faixa de Gaza em 2005. Em 2006, na guerra de julho, o Hezbollah libanês impôs os foguetes como instrumento de dissuasão e de equilíbrio – relativo – do poder de fogo, e assustou os israelenses com a sua proficiência na guerra de guerrilha. O resultado final foi a descoberta de que agora Israel já não conseguia operar uma ocupação terrestre, quanto mais manter uma. Algo parecido aconteceu em Gaza em 2008-2009 e em 2012. O que está trazendo este último episódio que testemunhamos agora é o anúncio de que os próximos, e inevitáveis, confrontos entre Israel e os grupos da resistência palestina e libanesa poderão acontecer no território israelense.

    A profecia de Hannah Arendt de que Israel degeneraria em uma Esparta realizou-se há muito. Mas, o que acontece quando Esparta vai deixando de ser Esparta e vai deixando de assustar?

    Muitos israelenses – e muitos de seus apoiadores – nos apresentam a sua Esparta como uma necessidade da auto-preservação: um Davi cercado por um Golias de muitas cabeças. Essa tese mereceria maior crédito se Israel não nos provasse, dia após dia, por mais de sete décadas, por ações – e por palavras que cada vez mais escapam entre as cortinas de fumaça da encenação da paz – que o seu projeto é de ocupação e domínio permanente sobre qualquer pedaço de terra que se pudesse candidatar a ser um Estado palestino, e ao gradual esvaziamento desses espaços da população palestina originária. Simplesmente, para não falar de mais nada, não há explicação plausível para os assentamentos na Cisjordânia e em torno de Jerusalém, que já abrigam perto de 700.000 colonos, que não seja essa apropriação e essa expulsão.

    O que Israel vem ensinando, aos palestinos e a outros, é que não há processo negociador que possa por fim a essa gradual despossessão, especialmente quando o único mediador aceito por Israel é a superpotência que parece funcionar sob suas ordens, que não há esperança a ter na ONU quando ali também opera a mesma superpotência, que não há caminho senão a resistência armada, que nada fez Israel recuar senão a resistência armada.

    Israel está perdendo a guerra não apenas porque não conseguirá, ao fim de sucessivas batalhas, viver em segurança, mas porque, à força de querer manter a todo custo a sua dominação colonial sobre um outro povo, corre o risco de realizar outra profecia, a de Henry Kissinger, de que em alguns anos já não haverá Israel.

    *Salem H Nasser é professor de Direito Internacional na FGV Direito SP e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais(GR-RI)

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