Clipping do dia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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As matérias para serem lidas e comentadas.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. Chega a ser curioso ver

    Chega a ser curioso ver alguém que um dia se “grilou” com  a “república sindical” e a “cubanização” chegar à uma conclusão dessas no final da vida.
    Não obstante a antropolgia improvisada e a “leitura” sobre Marx, vale à pena ler o texto abaixo.
    Nem que seja só pelo título, que já é um grande avanço.

    “mutatis mutandis”, é claro, soa como o Kant ao dizer que se “libertou do sono dogmático” quando leu Hume.

     

     

     

     

    Análise / Delfim Netto

    Liberdade + igualdade = civilização

    Toda a história do homem é uma narrativa do poder: da tendência de minorias (ou maiorias) que tentam, pela persuasão ou pela força, quebrar a vontade de maiorias (ou minorias) e submetê-las à sua própria vontade. O homem começou a viver da agricultura e a instalar-se em pequenas vilas há pouco mais de 10 mil anos. Tão logo as necessidades vitais de sobrevivência física puderam ser razoavelmente atendidas sem a obediência estrita às normas estabelecidas pelo mais forte, iniciou-se a procura de mecanismos para administrar suas inter-relações. Mecanismos capazes de assegurar a coesão do grupo e a sua defesa contra as “vontades” exteriores. Capazes, além disso, de impedir que a inevitável hierarquia necessária em qualquer tipo de sociedade para lhe dar um mínimo razoável de funcionalidade e estabilidade fosse fonte de uso abusivo do poder por alguns. Ninguém os inventou: emergiram da prática da cooperação adaptativa natural que facilitava a vida de todo o grupo.

    Na longa caminhada em que o homem aperfeiçoou a si mesmo, ele acabou entendendo que só existe um meio eficaz de controle do poder: a lei que, entretanto, não transcende ao homem, não existe fora do homem. Ela é produto de uma ética adaptativa conveniente aceita consensualmente. Neste sentido talvez seja a maior manifestação de humanidade do animal-homem, pois estabelece o desejo de igualdade onde a natureza estabeleceu a hierarquia. Estabelece o respeito onde a natureza estabeleceu a submissão. Estabelece a perpetuação onde a natureza estabeleceu a morte.

    Ao abandonar a comodidade que a natureza lhe oferecia, com sua hierarquia natural, suas regras estritas de sobrevivência e seu processo de seleção, o homem escolheu um caminho difícil. A partir do século XVI, tendo ocupado efetivamente todo o globo terrestre e apreendido da natureza uma noção da ordem inelutável que deu nascimento às ciências físicas, os homens tiveram a ilusão de que suas inter-relações eram também comandadas por forças externas que garantiriam a harmonia dos seus interesses. Bastava-lhes, portanto, descobrir as “leis naturais” dessas inter-relações e obedecê-las para que tudo se acertasse.

    Tratava-se de doce ilusão. Tendo abandonado a natureza, por que esta haveria de oferecer-lhe um caminho seguro? Em meados do século XX, sob o desafio de Marx, o homem foi inexoravelmente forçado a enfrentar essa terrível verdade. Compreendeu que resolver o problema do poder consiste em encontrar uma resultante adequada dos dois vetores de comportamento que o separaram do mundo puramente animal: a busca incessante da igualdade e da liberdade, como valores próprios da ética que construiu. Mas desde cedo aprendeu também que essa resultante é difícil de se encontrar e que aqueles dois valores, depois de um certo limite, destroem-se mutuamente.

    Apesar de todas as dificuldades, o liberalismo político, que obteve sua certidão de nascimento com a Revolução Inglesa de 1688, deu margem à expansão das atividades econômicas apoiadas sobre a formação de uma burguesia extremamente ativa e razoavelmente independente do Estado. Até agora parece a única organização social capaz de compor de forma estável aqueles dois vetores. A combinação do liberalismo político com o capitalismo não é o fim da história. Ela é um sistema em evolução empurrado pelo sufrágio universal. Certamente, não é o regime “ideal”, mas o seu funcionamento na Europa Ocidental, na Escandinávia e nos Estados Unidos mostrou que ele possui uma capacidade quase infinita de continuar a adaptar-se na busca da sociedade civilizada que é o objetivo do homem.

    A evolução social e econômica daqueles países mostra claramente que o liberalismo político é incomparavelmente superior aos regimes “inventados” pelo homem e que o que se tem qualificado de socialismo (quando não se refere ao “socialismo” daqueles mesmos países) não tem sido mais do que um capitalismo de Estado, administrado por uma burocracia extremamente ineficiente e, em geral, tão corrupta quanto a burguesia. Infelizmente, a história mostra que a verdade é sempre descoberta tarde demais.

     

     

     

  2. Ministro suspende propaganda de Marina por ofensa à Dilma e o PT

    Notícia do TSE

     

     

      29 de setembro de 2014 – 19p5

       

    Info

      estor Responsável: Assessoria de Imprensa e Comunicação Social

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    Fechar

    Ministro Herman Benjamin do Superior Tribunal de Justica STJ toma posse no cargo de membro substituto do TSE.

    Ministro suspende propaganda de Marina por ofensa à Dilma e ao PT

     

    Em decisão individual, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin deferiu liminar para suspender propaganda eleitoral da Coligação Unidos pelo Brasil, da candidata Marina Silva, por conter ofensa de caráter pessoal à candidata Dilma Rousseff e à Coligação Com a Força do Povo, capitaneada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

    Na referida propaganda, a coligação da candidata Marina Silva alega que eventual corrupção no âmbito da Petrobras tem financiado a base aliada dos partidos que apoiam a Coligação com a Força do Povo.  Afirma, ainda, que a candidata Dilma Rousseff foi chamada a responder perante o Tribunal de Contas da União pelo prejuízo causado pela negociação envolvendo a refinaria de Pasadena, uma vez que, na época, ela fazia parte do Conselho de Administração da Petrobras.

    Na ação contra a peça, a Coligação Com a Força do Povo e a candidata a reeleição Dilma Rousseff sustentaram que na mídia veiculada no dia 25 de setembro, as representadas não se limitaram a tecer críticas de natureza política, mas buscaram veicular informação sabidamente inverídica em prejuízo à honra e à imagem da candidata, atribuindo-lhe responsabilidade inexistente.

    Alegaram, ainda, que a propaganda ofende a coligação que tem o PT como um de seus integrantes, uma vez que o acusa de sustentar sua base no Congresso com dinheiro da corrupção, imputando conduta criminosa à agremiação.

    No mérito da representação, que será julgada pelo plenário da Corte, a Coligação com a Força do Povo requer direito de resposta com a concessão de tempo não inferior a um minuto correspondente a cada peça de propaganda.

    Liminar

    Ao decidir, o ministro Herman Benjamin reconheceu que houve excesso no teor da propaganda e ofensa aos partidos que compõem a coligação. “No caso dos autos, ao menos em juízo de cognição sumária, próprio desta fase processual, entendo que há ofensa de caráter pessoal ao PT e partidos da base aliada, bem como exploração indevida de dado que ainda é sigiloso (delação premiada), ou seja, cujo teor o público geral não conhece”, enfatizou em seu voto.

    Segundo o ministro, embora o escândalo da Petrobras venha sendo amplamente divulgado na mídia,  não se tem notícia de que a candidata Dilma Rousseff tenha sido responsabilizada pelo Tribunal de Contas da União em relação à compra da refinaria.

    Lembrando que o direito de resposta é cabível nas hipóteses em que candidatos, partidos e coligações forem atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, Herman Benjamin afirmou que a suspensão da propaganda é uma medida prudente.

    “Ante o exposto, defiro a liminar, a fim de determinar a suspensão imediata da propaganda eleitoral atacada, sob pena de fixação de multa diária”, concluiu o relator.

    MC/FP

    Processo relacionado: Rp 143090

    http://www.tse.jus.br/noticias-tse/2014/Setembro/ministro-suspende-propaganda-de-marina-por-ofensa-a-dilma-e-ao-pt?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter

     

     

  3. Sensacional: “Hulk” retira apoio a Marina Silva

    Tijolaço

     

    Sensacional: “Hulk” retira apoio a Marina Silva por conta de casamento gay. Gol do Malafaia! 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        

    29 de setembro de 2014 | 22:00 Autor: Fernando Brito                                                 

    rufallo

    Deu no site Rolling Stones: o badalado apoio do ator Mark Rufallo, famoso pelo papel de Hulk no cinema,  a Marina Silva durou 24 horas. Ele descobriu que Marina deu para trás na historia do casamento gay e ficou verde de raiva.

    O ator postou um texto dizendo que  retira seu apoio à Marina: “Descobri que a candidata à Presidência do Brasil, Marina Silva, talvez seja contra o casamento gay”, escreveu ele. “Isso me colocaria em conflito direto com ela.” O ator explicou que não sabia do posicionamento dela em relação aos direitos dos homossexuais ao gravar o vídeo. “Eu não posso, em sã consciência, apoiar um candidato que tem uma abordagem dura em relação ao casamento gay e aos direitos reprodutivos [aborto, mesmo que este candidato tenha boas propostas sobre as questões ambientais.”

    Os marinistas ficaram desesperados com o “mico” e juram, em inglês, pelo Twitter que “é mentira”. Chegaram até a traduzir o trecho do programa para o inglês, num espetáculo de sabujice sem tamanho.

    Mas ficaram mal na fita, porque o Hulk, que tinha dado pitaco indevido na eleição brasileira, ficou uma fera.

    Como é que vão se explicar para ele? Vou tentar ajudar, a la Joel Santana:

    Mr. Hulk, the pastor Malafaia change the program of Marina, did you understand? He tuitou and nós mudou,okay? Malafaia is the chief of Marina’s church and is not good fight com ele. He’s more strong then Hulk here in Brazil. 

    Ninguém pode dizer que essa campanha não ficou divertida, não é?

    http://tijolaco.com.br/blog/?p=21643

     

  4. A crítica covarde aos blogueiros

    Brasil 247

     

    A crítica covarde aos blogueiros

           

    blogueiros 

     

     

    28 de setembro de 2014

     por Paulo Moreira Leite 

    Em vez de criticar grande mídia que faz cobertura dirigida contra Dilma, medalhões do jornalismo falam mal de quem ajuda o país a respirar um pouco de liberdade

    O jornalista Ricardo Noblat disse que os blogueiros que foram entrevistar Dilma são pagos pelo PT.  Também disse que a entrevista foi uma farsa, embora tenha revelado um furo:  a confirmação de que, se for reeleita, Dilma irá encaminhar o projeto de regulamentação econômica da mídia — tarefa que o Congresso brasileiro deve ao país desde 1988, quando a Constituição definiu que a comunicação social não pode ser objeto de monopólio nem de oligopólio.

    Eu acho que a crítica ao trabalho de blogueiros que têm um posicionamento político favorável a Dilma e Lula seria menos covarde se levasse o Manchetômetro em conta.

    Explico.

    Se você examinar a ultima edição do Manchetômetro, que contabiliza o trabalho dos grandes jornais do país e também do tele-jornal de maior audiência — empresas que remuneram os principais críticos dos blogueiros — verá o seguinte resultado:

    1) no Jornal Nacional, Dilma recebeu 15 notícias negativas. Mais de duas por dia.   Marina e Aécio não tiveram notícias negativas.

    2) na primeira página da Folha de S. Paulo, Dilma teve 8 negativas para 10 definidas como neutras. Marina não tem uma única notícia negativa. Aécio recebeu 1 negativa para 3 neutras.

    3) no Globo, Aécio recebeu duas neutras e duas negativas. Marina, 7 neutras e 1 negativa. Dilma recebeu 30 negativas e 9 neutras.

    4) no Estado de S. Paulo, Aécio recebeu oito notícias neutras e quatro negativas. Marina, 3 neutras e 9 negativas. Já Dilma ficou com 34 negativas para 16 neutras.

    manchetômetro

    Estamos falando justamente de um período da campanha no qual Dilma consolidou a liderança nas pesquisas, cravando uma diferença de 13 pontos sobre a segundo colocada. Chegará com folga no segundo turno e, se ocorrer um terremoto na reta final, pode levar até no 1 turno. Enquanto isso, Aécio e Marina brigam pelo osso.

    Uma semana de notícias negativas para quem? Positivas para quem?

    Eu acho estranho que, sempre a postos para criticar uma duzia e meia de blogueiros, nossos críticos façam um silêncio encandaloso diante desses números.

    Não conseguem achar nada de errado aí, nada a comentar?

    Esse é o significado da palavra “isento” em seus manuais de redação?

    Será que é assim que eles acham que estão fazendo sua parte para construir um Brasil melhor, como dizia dona Celina, minha inesquecível professora de História no Guaracy Silveira, fazendo fé naquilo que lia nos editoriais escritos pelos pais e avós dos jornalistas de hoje?

    A crítica aos blogueiros é prova de uma imensa covardia.

    Parte de profissionais que adoram criticar o que chamam de jornalismo chapa branca mas atuam como pelegos de patrão.

    Dão o braço a quem é forte — e paga seus vencimentos — para tentar atingir quem é fraco.

    Perdidos numa vaidade imensa,  estão sempre dizendo que a opinião adversária não é legítima e foi comprada.

    Com o argumento do dinheiro escuso, tenta-se sugerir que a condição profissional na grande mídia se justifica pelo “talento imenso “,  pela “profundidade de suas análises”, “pela qualidade de sua informação”, pela sua “independência” e outras meias-verdades (ou mentiras totais, conforme o caso)  do jornalismo real.

    Do ponto de vista da circulação de informações e debate de ideias numa sociedade, o Manchetômetro mostra só a ponta do iceberg.

    Estamos falando de uma sociedade na qual o controle da informação é amplo e profundo.

    No conteúdo, o noticiário é abertamente dirigido em função do interesse político. (Você não vai dizer que 30 a 9 ou 15/20 contra Dilma são “expressão possível da verdade, ” a definição clássica para o jornalismo, certo?)

    Mas é este jornalismo pervertido que é reenviado para os sites de jornais, revistas, canais de TV, que também possuem grandes audiências, num processo de alavancagem mútua. Transfere-se depois para a TV e o rádio, onde repórteres e colunistas do papel vestem a roupa de comentaristas e apresentadores e atuam com as mesmas ideias, valores e opiniões.

    O debate, então, é outro.

    A concentração política dos meios de comunicação atingiu um padrão grotesco, irrespirável. Vinte e nove anos depois da ditadura militar, temos um aparato de comunicação social que é privado, pelo regime de propriedade, e autoritário, como instituição política.

    É coerente com sua visão de mundo, extraída da mesma árvore política: liberal no plano dos direitos individuais, reacionária na visão de Estado e de proteção social aos fracos e excluídos.

    São erros cometidos e repetidos com a certeza da impunidade, o veneno da arrogância.

    Tenho críticas a determinados blogueiros e só posso fazer elogios a outros. Mas, como regra, eles causam incômodo pelo lado certo. Arranham o que precisa ser arranhado.

    Falam por uma parte do país que não tem voz. E vamos combinar que, mais uma vez, as pesquisas eleitorais mostram que é uma parte grande, certo?

    Do ponto de vista da liberdade e da democracia, que é a substância do jornalismo, o pior blogueiro faz um trabalho muito mais relevante para o Brasil e os brasileiros do que o medalhão que é regulado pelas mensagens telepáticas enviadas pelo comando da empresa onde trabalha.

    Eu sei disso, você sabe disso. Eles sabem disso.

    É por isso que os blogueiros merecem respeito, e não críticas medrosas, típicas de cães sabujos, que têm receio de perder o filé mignon do pensamento único.

    http://www.brasil247.com/

  5. A ficha caiu

    Carta Maior

    28/09/2014 00:00

     

    A fatalidade de um arrocho doloroso, ganhe quem ganhar, é o novo bordão do jogral do Brasil aos cacos. A receita foi condensada em editorial do Financial Times.

     

    por: Saul Leblon

       

    Arquivo

     

     

     

    Nenhuma frase resume de forma tão incisiva o cavalo de pau ocorrido na política brasileira nos últimos 20 dias –a forma como ele se deu, a intensidade do confronto que o desencadeou e os seus desdobramentos para o futuro– quanto o desbafo da presidenta Dilma Rousseff na última 6ª feira.

    Em entrevista a um grupo de blogueiros, ‘sujos, ideológicos’, como a eles se refere o higienismo isento, a candidata explicitou assim o divisor que marcará o seu possível segundo mandato: ‘Terei um embate (político) mais sistemático; não serei mais tão bem comportada; me levaram para um outro caminho, que não era o que eu queria’.

    Nenhuma liderança responsável escolhe o caminho do embate sistemático como sua primeira opção.

    Um chefe de Estado tem obrigação de esgotar as linhas de menor resistência na consecução de seus compromissos.

    A rotina de confrontos carente de uma correlação de forças pertinente, não raro imobiliza a sociedade, asfixia a economia, prejudica, em primeiro lugar, os mais pobres.

    A história de Dilma não autoriza ninguém a caracterizá-la como uma mulher desprovida de coragem pessoal e política.

    São essas referências que adicionam abrangência superlativa ao desabafo da presidenta e candidata.

    Mais que isso.

    Sua assertiva ecoa um sentimento coletivo no campo progressista. Inclua-se aí o estado de espírito da ala majoritária do PT, da qual faz parte a principal liderança política do partido e do país: Lula.

    Em três mandatos presidenciais sucessivos predominou nesses protagonistas a determinação de restringir o confronto direto com os interesses conservadores na faixa de segurança permitida por uma correlação de forças adversa.

    O marcador mais significativa dessa adversidade é a própria abrangência da coalizão de governo. O que antes parecia uma contingência administrável –ainda que a um custo político cada vez mais asfixiante— evidenciou nestas eleições os contornos de um ciclo esgotado.

    Três fatores convergiram para essa condensação:

    1) o desespero conservador com possibilidade de um quarto ciclo presidencial fora do poder –o que poderá significar a morte do PSDB;

    2) a redução da margem de manobra na economia, após seis anos de crise mundial, gerando insatisfação e rupturas – entre as quais alinham-se as manifestações de junho do ano passado, e

    3) o surgimento de uma candidatura competitiva, capaz de reabrir as portas do poder ao conservadorismo – e a um revival extremado do modelo neoliberal dos anos 90.

    No final de agosto esse conjunto formava um aluvião anti-Dilma.

    Era tão denso que expoentes do colunismo conservador ejaculavam precocemente a derrota irreversível do ‘lulopetismo’.

    O catalisador do êxtase, a candidata Marina Silva, chegou a abrir 10 pontos de vantagem, então, nas enquetes de 2º turno do Datafolha.

    O resto é sabido (leia ‘Uma semana para não esquecer’; nesta pág)

    O sinal de alarme ensejou no PT o fulminante arremate de uma inquietação disseminada, mas que aguardava o safanão de uma crise para emergir .

    Em um encontro de balanço da campanha em São Paulo, dia 5, coube a Lula sintetizar a lição da qual tampouco não se eximia:

    ‘Nós ficamos economicistas; não nos faltam obras, mas política’, diagnosticou para prescrever o antídoto: ‘Temos que demarcar o campo de classe dessa disputa: é preciso levar a política à propaganda’.

    A partir de então a essência radicalmente neoliberal embutida no programa de Marina Silva passou a ser floculada do espumoso caudal de 242 páginas.

    O extrato dessa depuração tem sido exposto à luz do sol em uma narrativa pedagógica, determinada a tipificar um a um seus riscos históricos, estratégicos e sociais.

    Pertence à mesma mutação em curso o desabafo feito pela Presidenta Dilma na entrevista aos blogueiros, na 6ª feira passada.

    Dilma passou a dar nomes aos bois.

    Porém, mais que isso.

    Anunciou que num eventual novo governo, essa dimensão do embate político, mitigada pela prioridade administrativa da gestão, passará a desfrutar de espaço nobre.

    Pode-se argumentar que se trata apenas de um arroubo dirigido a plateia receptiva.

    E que tudo voltará a ser como sempre –na verdade, muito pior– caso as urnas de outubro concedam um quarto mandato presidencial ao PT.

    Afinal, a fatalidade de um ‘arrocho doloroso’, ganhe quem ganhar, é o novo bordão do jogral do Brasil aos cacos.

    É assim que o conservadorismo se calça, diante da eventual vitória do PT, tentando desde reduzi-lo a um frango desossado da Sadia, que só se equilibra espetado em interditos e ajustes incontornáveis.

    Ou não será isso que o editorial do Financial Times adianta neste sábado?

    Referência dos mercados internacionais –e das pautas nacionais, ao lado da Economist, o diário londrino afirma que a redução em curso na liquidez mundial, por conta da proximidade da elevação dos juros nos EUA, exigirá ‘uma quase inevitável’ e ‘dolorosa correção em países como Brasil, Turquia e África do Sul’.

    Por ‘dolorosa’, entenda-se: choque de juros, arrocho fiscal, redução do poder de compra das famílias assalariadas, privatizações (‘flexibilizar o pré-sal’) etc

    Sim, a agenda da frente única do conservadorismo que assessores de Marina e Aécio tem vocalizado às platéias extasiadas de banqueiros e com a qual se pretende depenar o PT num eventual segundo turno em outubro.

    A receita vendida pelo conservadorismo talvez fosse inevitável, de fato, se o desabafo de Dilma e de Lula nestas eleições significasse apenas um ponto fora da curva.

    Um rompante, e não a trajetória final da ficha que acelerou sua aterrisagem no discernimento do partido nos últimos anos.

    O acelerador dessa curva tem um motor turbinado.

    Seu combustível é o ponto de exaustão atingido pelas relações entre o partido, seus dirigentes e a mídia conservadora.

    Marmorizada de ódio político e desrespeito pedestre, a guerra fria cabocla contra o PT ensejou uma experiência de acuamento até certo ponto nova na existência do partido – ainda que virulenta para saturar um ciclo.

    Círculos dirigentes e militantes mais antigos não experimentaram nada parecido antes. Nem mesmo na sua origem, nos anos 70/80, quando operários do ABC se colocaram frontalmente contra o regime militar, em desafio aberto ao poder armado e empresarial.

    Sedimentou-se ali, ao contrário, com base em uma cumplicidade que parecia ampla e sólida, a suposição de que haveria da parte da imprensa se não apoio, ao menos respeito com o avanço da luta dos trabalhadores.

    Mais que isso: tolerância com a criação de um partido próprio, de recorte socialista ecumênico.

    Ancorada na intensidade histórica de uma fase alegre dos consensos democráticos, criou-se assim uma jurisprudência petista.

    A mediação com o conjunto da sociedade, embora marcada pela má vontade de chefias e donos de jornais, estava sendo feita a contento pelos meios de comunicação.

    Até o 2º governo Lula, o PT nunca incluíra entre as suas prioridades efetivas a d regularizar o sistema de comunicação existente para torná-lo mais plural.

    Do mesmo modo, nenhum dirigente histórico deu ao projeto de construção de uma mídia própria, a prioridade política, financeira e mobilizadora devotada, por exemplo, a uma campanha eleitoral.

    A proximidade com os jornalistas – muitos dos quais renunciariam a cargos e carreiras para se engajar na construção do partido e nas campanhas eleitorais dos tempos pioneiros- cevou ilusões.

    O trânsito fácil com a imprensa sugeria haver espaço a ocupar na caixa de ressonância da grande indústria de notícias.

    Um consenso algo ingênuo, algo acomodato exergava uma margem de manobra nas redações; a cota de tolerância não se esgotara.

    A derrota para Collor em 1989, quando a Globo manipulou a edição do debate decisivo da campanha, e deu quase dois minutos adicionais ao ‘caçador de marajá’ no Jornal Nacional, abalou essa inércia.

    Mas não construiu uma novo diagnóstico político, forte o suficiente para renovar a agenda em relação ao poder midiático.

    A liderança de massa de Lula atingiu seu auge e reverberou no país durante os oito anos que esteve à frente de um governo exitoso no plano social e econômico.

    O prestígio esmagador dentro e fora do Brasil empalideceu o cerco midiático diante da obrigatoriedade de se conceder espaço e voz ao Presidente.

    O conjunto coagulou o debate petista sobre o papel da comunicação na construção de uma democracia social em um dos países mais desiguais do planeta.

    Parecia desnecessário diante dos êxitos econômicos sucessivos que calavam uns e aciavam outros.

    Nesse idílio escaparia a Lula e aos dirigentes petistas a brutal transformação em marcha no interior da mídia e na própria composição das redações.

    Ao longo de duas década de polarização entre a agenda afuniladora do neoliberalismo e a da implantação de um Estado social tardio no país, o jornalismo brasileiro sofreria uma mudança qualitativa de pauta e estrutura.

    A tentativa de impeachment de Lula em 2005, já no ciclo da chamada crise do ‘mensalão’ – que culminaria em 12 de novembro de 2013 com a condenação dos doirigentes José Dirceu e Genoíno à prisão – sacudiu a inércia petista com força pela primeira vez.

    O espaço de tolerância acalentado ainda por emissários autonomeados, que traziam recados dos donos de jornais e revistas sobre o preço a pagar por uma trégua na escalada golpista, perdeu eco na cúpula do governo.

    Lula, a contrapelo dos punhos de renda do petismo, recorreu então ao movimento sindical.

    A palavra ‘golpe ‘ foi entronizada no discurso da resistência – para horror dos que teimavam em buscar um acordo com o dispositivo midiático conservador.

    Numa quadra de clamorosa falência do projeto neoliberal, o tridente udenista da corrupção e a demonização da esquerda como sujeito histórico degenerado, pôs-se a campo ainda como mais força, a partir de então.

    Tornou-se a pauta-jogral de um dispositivo midiático reestruturado para esse fim.

    Qual?

    Fazer do segundo mandato de Lula a evidência de que essa dissonância histórica não seria mais tolerada na democracia tutelada pelo poder do dinheiro.

    Instalou-se um termidor antipetista nas redações.

    A ilusão na mídia como ambiente democrático permissivo à formação da consciência crítica e progressista da sociedade deixou de existir.

    A percepção dessa ruptura e os desdobramentos políticos que ela acarreta cristalizaram-se no linchamento midiático que orientou as togas inebriadas pelos holofotes, na Ação Penal 470.

    O que Dilma está dizendo agora, portanto, não é um acidentre de percurso.

    Está sedimentado nas estocadas de uma espiral virulenta que , como ela mesma diz, ‘me levaram para um outro caminho, que não era o que eu queria’

    A ficha da crispação conservadora caiu definitivamente nesta campanha de 2014.

    O PT e sua propaganda redescobriram que não se faz política sem definir o adversário, dizer o que ele representa, por que precisa ser derrotado, as perdas e danos de se entregar o país de volta ao poder conservador.

    Por enquanto isso é feito na janela que o horário eleitoral abriu ao partido em meio ao monólogo conservador que dá aos dois minutos de Marina uma extensão de horas.

    Mas e depois que ela se fechar outra vez?

    ‘Vou fazer a regulação econômica da mídia’, sacramentou Dilma na entrevista da 6ª feira aos blogs ‘sujos e ideológicos.

    Isso não é pouco.

    Não apenas pelo efeito esclarecedor que exerce na opinião pública, hipnotizada pelo jogral do Brasil aos cacos.

    O que Dilma está vocalizando é uma agenda, não uma medida solteira.

    Se socialismo é levar a democracia às suas últimas consequências, a pluralidade da informação que isso requer não pode ser confundida com a disseminação de tabletas e celulares de última geração entre os brasileiros.

    A disjuntiva que se coloca é entre a livre formação do discernimento político da sociedade ou a sua subordinação a um aparato claustrofóbico de difusão, que se avoca o direito de enclausurar a formação da opinião pública brasileira em pleno século XXI.

    Não se trata de uma queda de braço ideológica, tangencial à gestão progressista do Estado.

    É um problema do desenvolvimento brasileiro.

    A presidenta Dilma incorporou a chave da eficiência às prioridades do seu governo.

    Com razão: é obrigação progressista zelar pela cuidadosa aplicação dos fundos públicos, erigir um Estado transparente, capacitá-lo a mobilizar recursos e coordenar as ações da dura luta pelo desenvolvimento soberanoe e justo.

    Durante muito tempo, porém, errou-se ao não afrontar as demais intercorrencias da agenda do Estado mínimo.

    Entre elas a gororoba ideológica construída em torno da lingérie mais reluzente do conservadorismo: o fetiche da autossuficiência da gestão.

    Confunde-se a opinião pública ao endossar falsas convergências redentoras, a exemplo do ‘fazer mais com menos’, que omite a verdadeira luta de sabre para dividir a fatura da crise e instaurar o passo seguinte do desenvolvimento. Ao não distinguir uma coisa de outra, corre-se o risco de endossar a tese que pretende equacionar a desordem atual com poções adicionais do veneno que a originou.

    O colapso neoliberal trouxe para o colo do governo uma crise da qual a Nação é vítima e não sócia; as forças progressistas são adversárias, não co-autoras.

    O nome da crise não é PT, não é gastança, não é Petrobrás, não é desrespeito ao tripé, como quer a constrangedora declamação de Marina Silva.

    O nome da crise é capitalismo desregulado, é supremacia financeira, é a desenfreada ferocidade com que os capitais fictícios exigem um mundo plano de fronteiras livres e desimpedidos , por onde possam transitar à caça de fatias reais de uma riqueza, para a qual não se dispõem a contribuir, apenas se apropriar em espirais de bolhas recorrentes.

    A dissonância de um Brasil que se propõe a construir um Estado de Bem-estar social tardio, regulado e soberano, precisa ser sufocada para que o fluxo incorpore esse promissor naco da riqueza mundial ao seu circuito.

    ‘Não há alternativa’, dizia Margareth Tatcher nos anos 70.

    Quarenta anos depois e uma colapso da ordem neoliberal que se ombreia à crise de 1929, é o que continuam a dizer Aécio, a doce Marina e a mídia que os ancora.

    É o que continua a pontificar o editorial do Financial Times, a vaticinar ‘um arrocho doloroso’ para o Brasil, ganhe quem ganhar as eleições do próximo domingo.

    Os desequilíbrios de fato existem. Não se incorpora 60 milhões de ex-miseráveis e pobres ao mercado sem mexer nas placas tectônicas de uma ‘estabilidade capitalista’ alicerçada em uma das mais desiguais estruturas de renda do planeta.

    Há duas opções: avançar dar coerência estrutural e política à emergencia desse novo ator, ou recuar e devolvê-lo àmargem de origem. Custe o que custar.

    Será ‘doloroso’ , avisa o Financial Times,sobre aquilo que Aécio, Marina e o colunismo isento vendem como virtude.

    Para fazer diferente não basta buscar atalhos na gestão da macroeconomia.

    A macroeconomia não é de esquerda, nem de direita.

    Quem adiciona coerencia à macroeconomia do desenvolvimento é correlação de forças da sociedade em cada época.

    Para fazer diferente do que a frente única do conservadorismo apregoa será necessário coordenar as linhas de passagem de um novo ciclo histórico repactuando metas, concessões, prazos, avanços e salvaguardas com o conjunto das forças sociais.

    Isso requer uma mídia pluralista para que possa acontecer. Foi essa sucessão de contingências que fez cair, definitivamente, a ficha histórica do PT em plena eleição de 2014.

    A consciência desse aggiornamento estratégico talvez seja uma vitória tão importante quanto vencer no próximo domingo. Porque só assim será possível honrar os compromissos com a sociedade nos próximos quatro anos.

    http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/A-ficha-caiu/31884

  6. “A capacidade do PSDB de fazer bobagem não deve ser subestimada”

    —No final de 2005, quando Lula enchia a cara com receio de não chegar ao fim do mandato por causa do escândalo do mensalão, o PSDB desistiu de pedir o impeachment dele. Achou que Lula não se reelegeria. Lula se reelegeu. E elegeu Dilma em seguida.
    Desta vez, o PSDB pode achar que um segundo governo Dilma, bem pior do que o primeiro, talvez seja melhor do que governar com Marina.—

    Não subestime o PSDB
    Blog do Ricardo Noblat—-29.09.2014 04:41

    O destino desta eleição presidencial – a sétima desde a redemocratização do país com o fim da ditadura de 64 – está nas mãos dos eleitores do PSDB. Dos que pretendem votar em Aécio porque o consideram o melhor candidato. Ou dos que votarão nele simplesmente porque querem pôr um fim a 12 anos de governos do PT.

    É isso o que fica claro com a mais recente pesquisa de intenções de voto do Datafolha.

    Em uma semana, a vantagem de Dilma sobre Marina quase dobrou. Passou de sete pontos percentuais para 13. Dilma está com 40% e Marina com 27%.

    Mas quando o Datafolha simulou um eventual segundo turno entre as duas, elas apareceram empatadas dentro da margem de erro da pesquisa. Só há uma explicação para isso: foi o voto anti PT que empurrou Marina para cima de Dilma.

    É por isso que nesta última semana de campanha, Dilma, Lula e o PT continuarão com gosto de sangue na boca contra Marina. Se ela pensa que apanhou o suficiente está enganada.

    Daqui até a próxima quinta-feira, último dia de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, apanhará ainda mais feio. E se passar para o segundo turno nem queira saber. A pancadaria derrubou Marina. A pancadaria poderá derrotá-la.

    Tudo o que Marina diz está sendo usado contra ela. E o que não diz, também.

    Para quem pretende governar, Marina seria refratária a acordos que não sejam à esquerda. Um dia desses, no entanto, ela pediu votos para Paulo Bornhausen, filho de um político conservador de Santa Catarina, candidato ao Senado pelo PSB.

    Pois bem: Marina foi acusada de defender a “Nova Política”, mas de praticar a velha. É infernal!

    Neca Setúbal, acionista do Banco Itaú, é apontada pela propaganda de Dilma como a banqueira de Marina. Ora, Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural e banqueira do mensalão do PT, está presa. Menos mal para Marina.

    Bancos e empreiteiras financiam o Instituto Lula. Não há, hoje, político lobista mais bem-sucedido do que Lula. Que enriqueceu em pouco tempo. A campanha de Dilma é campeã na arrecadação de dinheiro entre os banqueiros.

    Ao se eleger presidente pela primeira vez, Lula decretou que a esperança vencera o medo. A esperança era ele. O medo, tudo o que os adversários usaram para evitar sua vitória.

    Dilma tem dito que a verdade vencerá a mentira. Como se ela fosse o alvo preferencial de mentiras. Dilma abusa da mentira para aumentar a rejeição de Marina e – se possível – excluí-la do segundo turno. Morre de medo dela.

    É natural que Aécio aspire a disputar o segundo turno contra Dilma. Se não for possível decidir a parada no primeiro, tudo o que Dilma deseja é enfrentar Aécio no segundo.

    Nos mais importantes redutos eleitorais de Dilma, o Norte e o Nordeste, Aécio é fraco. Marina, não. O eleitor de Aécio votaria em Marina – ou está votando nas simulações de segundo turno. O de Marina se dividiria entre Aécio e Dilma.

    Uma coisa será o PSDB anunciar seu apoio formal a Marina caso Aécio não vá para o segundo turno. É o jeito. Outra, suar a camisa para eleger Marina.

    No final de 2005, quando Lula enchia a cara com receio de não chegar ao fim do mandato por causa do escândalo do mensalão, o PSDB desistiu de pedir o impeachment dele. Achou que Lula não se reelegeria. Lula se reelegeu. E elegeu Dilma em seguida.

    Desta vez, o PSDB pode achar que um segundo governo Dilma, bem pior do que o primeiro, talvez seja melhor do que governar com Marina.

    A capacidade do PSDB de fazer bobagem não deve ser subestimada.

    URL:

    http://noblat.oglobo.globo.com/meus-textos/noticia/2014/09/nao-subestime-o-psdb.html

  7. Dilma na ofensiva, Marina

    Dilma na ofensiva, Marina cansada e Aécio com gás

    Este é o retrato da reta final na última semana antes da eleição, segundo Tereza Cruvinel, em nova coluna no 247; debate da Record, em sua opinião, favoreceu a presidente Dilma; se ele provocar alguma alteração de posições, avalia a jornalista, será em favor do tucano Aécio Neves, “revigorado pelo crescimento recente” nas pesquisas de intenção de voto; “performance dele melhorou e a de Marina piorou, situação que poderá impulsionar a inversão de posições caso se repita no debate da TV Globo, no dia 2 de outubro”, dia que se encerra também o horário eleitoral gratuito e não dará chance para que o candidato se comunique massivamente com o eleitorado pelos meios eletrônicos; leia a íntegra

    Foi dada a largada à reta finalíssima antes das eleições presidenciais. E o retrato dos três principais candidatos é o seguinte: a presidente Dilma Rousseff (PT) se firma na ofensiva, tanto nos discursos quanto na propaganda eleitoral; Marina Silva (PSB) está cansada de tantos ataques, vindos dos dois lados; e Aécio Neves, do PSDB, revela o “gás” adquirido depois do crescimento nas últimas pesquisas. Essa é a avaliação de Tereza Cruvinel, que escreve nova coluna em seu blog no 247.

    O debate promovido pela TV Record na noite deste domingo, na opinião da jornalista, “certamente favoreceu Dilma, tanto no confronto com Marina, que não conseguiu dissimular a perda de energia e o cansaço com a refrega, como no embate com um Aécio revigorado pelo crescimento recente”. Ela acredita que “dificilmente haverá tempo para uma franca recuperação de Marina ou para uma vitória da petista no primeiro turno”.

    “Se o debate provocar alguma alteração de posições, será em favor de Aécio, que joga tudo para vencer a distância de nove pontos percentuais que o separam da ex-senadora, segundo a última pesquisa Datafolha, para tomar-lhe a vaga no segundo turno”, escreve Tereza. “A performance dele melhorou e a de Marina piorou, situação que poderá impulsionar a inversão de posições caso se repita no debate da TV Globo, no dia 2 de outubro, quinta-feira”, acrescenta.

    Leia a íntegra em Dilma na ofensiva, Marina cansada e Aécio com gás

    http://www.brasil247.com/pt/247/poder/155115/Dilma-na-ofensiva-Marina-cansada-e-A%C3%A9cio-com-g%C3%A1s.htm

  8. Presidente da Fiesp sinaliza

    Presidente da Fiesp sinaliza intenção de ‘dilmar’

    Após demonstrar simpatia por Marina Silva (PSB), Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional, volta atrás e indica apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff: “Não sei em quem vou votar ainda. Posso até dilmar’. Desde que atendidas algumas mudanças”; ele elogia esforço de Guido Mantega em se aproximar dos empresários e sugere interesse em se tornar ministro: “Em algum momento, a gente tem que retribuir o que a vida nos deu” 

    O presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, sinaliza que pode apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Nas últimas declarações, ele sinalizou simpatia pela candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, no entanto, agora afirma: “Não sei em quem vou votar ainda. Posso até dilmar’. Desde que atendidas algumas mudanças”.

    Em entrevista a Folha/UOL, o dono da Companhia Siderúrgica Nacional afirma que empresários podem sofrer perseguição “de toda ordem” se declararem abertamente o voto. “Lá fora você não tem essa necessidade de ter a boa vontade do governo. Aqui, só o BNDES te dá financiamento de longo prazo com carência”.

    Quanto a troca na Fazenda, antecipada por Dilma, ele elogiou o ministro Guido Mantega por seu “esforço grande de aumentar a interlocução com empresários” e defende que o novo comando seja anunciado logo para garantir “transição tranquila”.

    Ele indica ainda interesse em carreira política e até um possível cargo de ministro: “Em algum momento, a gente tem que retribuir o que a vida nos deu. Penso, sim, em algum momento fazer algum tipo de serviço público” (leia mais)

    http://www.brasil247.com/pt/247/economia/155074/Presidente-da-Fiesp-sinaliza-inten%C3%A7%C3%A3o-de-%27dilmar%27.htm

  9. Estados Unidos, condenados à

    Estados Unidos, condenados à repetição

    Obama continua uma tradição de bombardear problemas que há décadas os faz crescerem

    Se forem somados os países que participaram das duas “Conferências Internacionais sobre Paz e Segurança no Iraque”, nos dias 11 (em Jeddah, Arábia Saudita) e 14 (em Paris), chega-se a 30, mas é prematuro considerá-los parte de uma nova “coalizão dos dispostos” à maneira de George W. Bush e Tony Blair. Os únicos governos dispostos a lutar com tropas terrestres contra o Estado Islâmico, os do Irã e da Síria, foram explicitamente desconvidados. Se os próprios Estados Unidos e Reino Unido pretendem se limitar a ataques aéreos, o papel dos demais é ainda mais nebuloso.

    A única consequência até agora foi os EUA dispensarem o pretexto de proteger seu pessoal e instalações, invocado ao atacar as forças jihadistas perto de Erbil, no Curdistão, para bombardear os fundamentalistas perto de Bagdá. A coalizão de 2003 reuniu-se com alarde e entusiasmo para cometer um ato de banditismo internacional contra um governo falsamente acusado de terrorismo contra o Ocidente e de possuir “armas de destruição em massa”. A atual é muito mais tímida contra uma ameaça real e explícita, marcada pelo massacre e execução cruel de milhares de sírios e iraquianos e agora também pela decapitação de reféns ocidentais. Para isso, no caso da vítima mais recente, o trabalhador humanitário britânico David Haines, contrariou a própria Al-Qaeda, que tentou persuadi-lo a suspender a execução.

    A relutância de Washington explica-se pela resistência a admitir que, republicana ou democrata, sua política no Oriente Médio, da Líbia ao Afeganistão e também no Egito, Síria e Palestina, é um fracasso. Um acordo com Teerã e Damasco seria a resposta mais eficaz, mas a meia-volta equivaleria a confessar ter criado a atual situação com décadas de erros políticos e estratégicos que plantaram o caos na região e impuseram um enorme sofrimento em nome de ideais abstratos que, aos olhos dos povos muçulmanos, nunca foram mais que folhas de parreira para defender os interesses militares e petrolíferos do Ocidente e de Israel à sua custa.

    A irrupção do Estado Islâmico foi um efeito colateral que os estrategistas ocidentais não previram e por isso subestimaram o quanto puderam, como quem se esforça por ignorar os sintomas cada vez mais alarmantes de uma doença grave, cujo tratamento exigiria uma mudança drástica de planos e hábitos. Só quando ameaçou as reservas curdas de petróleo começou a ser levado a sério. Ainda é possível ler analistas e políticos protestarem que o califado “não ameaça o Ocidente” e foi “superdimensionado” para insistirem em mais recursos a seus planos e apadrinhados para destituir Bashar al-Assad, pedir bombardeios ao Irã ou reforços ao sistema de vigilância da NSA, tão eficiente na espionagem de cidadãos e aliados quanto inútil contra o terrorismo real.

    Daí a insistência em treinar e armar “rebeldes sírios moderados” que se sabe terem vendido ao califado armas, munições e pelo menos um dos reféns decapitados, aprisionado tropas da ONU perto do Golã e se transferido em bandos para a folha de pagamento de Al-Baghdadi à medida que este conquista mais vitórias e recursos e levam consigo armas, equipamentos e treinamento pagos pelo Ocidente.

    Os EUA aproveitaram a Primavera Árabe para tentar um golpe estratégico e derrubar um aliado de Teerã e Moscou. Não importa se o impulso democrático nesse movimento tenha sido sufocado há muito, Washington vê como questão de credibilidade continuar a pintar Bashar al-Assad como a encarnação do Mal, embora na prática tenha recuado de uma intervenção direta ante as advertências de Vladimir Putin. Voltou a ouvi-las ao dar a entender que atacaria o Estado Islâmico na Síria sem consultar Damasco: isso será considerado “um ato de agressão”. É compreensível, depois de uma mera autorização da ONU para impor uma “zona de exclusão aérea” na Líbia ter sido usada por Barack Obama como carta-branca para intervir no país.

    A própria obsessão com isolar e enfraquecer os aiatolás depois de décadas de normalização do regime e fim de seu impulso revolucionário é sintoma da dificuldade de ajustar o curso e o discurso a novas realidades, tanto quanto os mais de 50 anos do embargo a Cuba. Em nome da “credibilidade” e da satisfação de lobbies internamente importantes, Washington tem um longo histórico de persistir em políticas externas não só fracassadas, como cada vez mais disfuncionais.

    Enquanto isso, a organização de Al-Baghdadi, que em 2013 era estimada em 5 mil combatentes, cresce para 31,5 mil segundo a CIA. Muitos são sírios e iraquianos sunitas, mas 15 mil vieram de outros países e esse número continua a crescer. Apesar do extremo conservadorismo islâmico, a organização atrai milhares de mulheres, algumas das quais recrutadas no próprio coração dos EUA, em Minneapolis-St. Paul, aponta investigação recente, e pessoal suficientemente culto e capacitado para permitir ao califado usar tecnologias avançadas, administrar um Estado do século XXI e promover nas redes sociais uma campanha de propaganda e recrutamento mais eficaz que aquela de qualquer outra organização islâmica. A peça mais recente, um vídeo com o título Flames of War, com ameaças aos EUA e à Casa Branca, poderia ser um trailer hollywoodiano.

    O antigo ISIS não apenas controla militarmente, mas governa de fato um território considerável, onde exerce poderes de polícia e mantém em funcionamento agricultura, mercados, padarias, infraestrutura e assistência social. Mesmo se os EUA conseguirem cortar o fluxo de doações de simpatizantes nas monarquias árabes e de resgates pagos por aliados europeus, a organização não depende mais desses recursos. Exporta de 1 milhão a 2 milhões de dólares diários em petróleo e arrecada impostos nos seus domínios.

    Recebeu adesões e juramentos de lealdade de grupos fundamentalistas da Argélia, Afeganistão e Filipinas e do nigeriano Boko Haram, que se apoderou de uma parte do noroeste de seu país e o transformou em extensão do califado. Com o anúncio da coalizão pelos EUA, recebeu o apoio moral da rival Al-Qaeda (que controla territórios na Somália, Iêmen, Síria e Mali), e afirmou ante seus admiradores a imagem de principal adversário de um Império odiado e inimigo do Islã, o que atrai mais militantes, une seu pessoal e previne dissenções.

    O preço da teimosia pode ser contrariar mais frontalmente a promessa com a qual Obama foi eleito, a da retirada definitiva do Iraque. Em depoimento ao Congresso na terça-feira 16, o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, explicou que, se a atual estratégia falhar e o Estado Islâmico se revelar uma ameaça aos EUA, recomendará o uso de forças terrestres ao presidente.

    Sem uma mudança de postura, isso apontaria não o caminho da vitória, mas o de outro Vietnã, ou muitos, se os focos jihadistas continuarem a se multiplicar. Tanto quanto seus antecessores, o governo Obama age como se acreditasse que os povos muçulmanos abraçariam o liberalismo, se submeteriam aos EUA e às transnacionais e se tornariam felizes consumidores de produtos ocidentais se não fossem impedidos por um punhado de líderes malvados e anacrônicos. A eliminação de Saddam, Kaddafi, Bin Laden e 13 anos de “guerra ao terror” que só aumentaram o ódio a Washington e tornaram o fundamentalismo cada vez mais popular e poderoso não bastaram para dissipar a ilusão. A cada inimigo caído, os EUA voltam a proclamar “missão cumprida” e a vitória definitiva, apenas para vê-lo ser sucedido por um grupo ainda mais impiedoso e intransigente. De nada adianta eliminar mensageiros. Se as massas tiverem motivos para dar ouvidos à mensagem, ela encontrará portadores.

    *Reportagem publicada originalmente na edição 818 de CartaCapital, com o título “Condenados à repetição”

    http://www.cartacapital.com.br/revista/818/condenados-a-repeticao-6413.html

     

  10. Reforma política é prioridade

    Reforma política é prioridade de Dilma em 2015

    Se reeleita, presidenta planeja trabalhar pela proposta de plebiscito no primeiro semestre. Assunto pode esquentar eventual segundo turno da eleição

    A presidenta Dilma Rousseff pretende trabalhar no primeiro semestre de 2015, caso seja reeleita, pela realização de uma reforma política que proíba doações empresariais para campanhas eleitorais. O plano foi revelado em conversa recente com um dirigente de uma entidade da sociedade civil defensora, como Dilma, de um plebiscito para a reforma política.

    O assunto pode ser um dos mais quentes da eleição presidencial na hipótese de segundo turno. Em algum momento entre os dias 14 e 15 de outubro, Dilma receberá o resultado de uma consulta popular que mostrou apoio amplo à ideia de convocar-se uma Constituinte para a reforma política. Os presidentes do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, e do Congresso, Renan Calheiros, também receberão o material.

    A consulta foi realizada por conta própria, no início de setembro, por um grupo de 477 organizações como sindicatos de trabalhadores urbanos, associações de camponeses, união de estudantes e pastorais católicas. Todas são favoráveis a mudanças no sistema político e eleitoral. Foram 7,7 milhões de votantes, em urnas físicas ou via internet, o equivalente a 5% do eleitorado apto a ir às urnas no próximo dia 5. Deste total, 97,5% disseram “sim” à Constituinte.

    Ao menos três candidatos a presidente estiveram entre os eleitores. Marina Silva (PSB), que votou em Vitória da Conquista (BA), Luciana Genro (PSOL), que votou em Santos (SP), e Pastor Everaldo, que votou em Campina Grande (PB). Dilma preferiu não participar, por ser chefe de Estado.

    Uma pesquisa feita em junho pelo instituto Datafolha a pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já havia mostrado a existência de apoio expressivo à reforma política, especialmente à proposta de eliminar as doações empresariais para candidatos. Entre os entrevistados, 61% disseram achar a reforma política “muito importante” e 71% declararam-se “contra” as doações empresariais.

    Dilma defende um plebiscito para a reforma política, cujo objetivo é determinar aos parlamentares que leis eles deveriam aprovar em resposta ao pleito da população, mas ainda não abraçou por inteiro a ideia de que esta decisão parlamentar seja tomada por uma congresso eleito só para isto. Há riscos políticos e jurídicos sobre a ideia de Constituinte exclusiva.

    Quando Dilma lançou a proposta de Constituinte em junho de 2013, em resposta aos protestos de rua, encontrou forte resistência em círculos partidários, midiáticos e intelectuais. Além disso, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, um crítico das doações empresariais e favorável à reforma e ao plebiscito, diz que uma Constituinte tem poderes legais para definir sua própria pauta. Dependendo dos constituintes eleitos, o que era uma boa ideia poderia se revelar um perigo.

    De qualquer forma, no quartel general da campanha de Dilma, há quem defenda que a Constituinte é a única forma de contornar as resistências dos atuais parlamentares, em sua maioria contrários a mexer no atual sistema, pelo qual foram eleitos.

    Em um ato de campanha com intelectuais e artistas no Rio no dia 16, Dilma tocou no assunto. “O mesmo voto que vota no Congresso vota em uma Constituinte exclusiva. É o mesmo voto. Então é fundamental que a gente faça um debate com povo brasileiro. Dê força para as nossas propostas de Constituinte e tenha uma clara consulta para saber: nós somos a favor do financiamento público de campanha ou financiamento privado? Então vamos para a população tirar esse resultado.”

    http://www.cartacapital.com.br/politica/plebiscito-da-reforma-politica-e-prioridade-de-dilma-no-inicio-de-2015-8088.html

     

  11. Ricos x pobresSem reforma

    Ricos x pobres

    Sem reforma tributária, concentração de renda vai continuar no Brasil

    País onera consumo e trabalho, deixa de fora parte importante da renda dos mais ricos, cobra valores irrisórios sobre patrimônio e ignora imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição

    Reclamada de pontos de vista diferentes por representantes do capital e do trabalho no Brasil, a reforma tributária ganha ares de urgência em vésperas de eleição. Porém, apesar de a necessidade de realizar mudanças profundas no sistema ser praticamente consensual entre membros dos setores produtivos, o debate é repleto de distorções e meias verdades – quando não inverdades. Dizer que a carga tributária brasileira é alta ou que é preciso simplificar o sistema são argumentos frequentemente usados por empresários e rentistas, mas a estrutura é hoje o maior entrave a uma verdadeira distribuição de renda no país. No Brasil, quem tem mais, paga menos.

    Segundo estudo da organização não governamental Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) divulgado recentemente, a partir de dados de 2011, um dos maiores símbolos da distorção se reflete na estimativa da participação no bolo: 55,74% da arrecadação tributária de União, Distrito Federal, estados e municípios provém de impostos sobre consumo, e 30,48% da tributação da renda, dos quais 15,64% vém da renda do trabalho. Enquanto isso, a tributação sobre patrimônio representa, de acordo com o estudo, apenas 3,7%.

    Contudo as reclamações de empresários e industriais, segundo os quais o sistema tributário, além de complexo, onera demais a produção e precisa ser simplificado, também não são desconsideradas por especialistas. “São muitos tributos e a legislação é, de fato, meio pesada. Existem problemas de competitividade. As empresas gastam muito tempo com a administração tributária. Não quero diminuir a importância da simplificação”, aponta Cláudio Hamilton Matos dos Santos, da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

    Seja como for, se a desigualdade diminuiu no Brasil, não foi graças a avanços no sistema tributário. Na primeira década do século 21, o país caminhou no sentido da desconcentração de renda. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2001 a 2011 houve crescimento real da renda dos 10% mais pobres, que saltou 91,2%, enquanto no segmento dos 10% mais ricos a expansão foi de 16,6%. O índice de Gini (que mede a desigualdade), incluindo o país inteiro, ficou em 0,501 em 2013. Em 2001 era de 0,594. O indicador, que vai de 0 a 1, mostra melhor situação quanto mais próximo de zero. Os países da União Europeia têm índices que variam de 0,25 a 0,36.

    “É uma redução muito rápida na última década, mas o coeficiente ainda é muito grande e a queda aconteceu a despeito da carga tributária regressiva, que não contribuiu para isso”, anota Cláudio Hamilton. No período, de acordo com a avaliação do técnico do Ipea, a desigualdade caiu, apesar da carga regressiva, porque o gasto público fez o papel de incentivador das políticas sociais do governo, que passam pelos programas de transferência de renda, como Bolsa Família, aumento do salário mínimo e outras.

    Mesmo com a redução dos índices de desigualdade, dados do Banco Mundial de 2012 indicam que 40% da população mais pobre ficava com 11% da riqueza e o Brasil ainda é o 13° país em concentração de renda no mundo.

    A carga tributária de 1995 a 2011 subiu de 27% a 35% e o sistema regressivo onera as classes mais baixas, cidadãos comuns, consumidores e trabalhadores. Inúmeros especialistas concordam que reforma tributária quase sempre significa redistribuição de renda. Porém, no Brasil, as mudanças na legislação, quando ocorrem, costumam concentrar a renda ainda mais.

    “Reforma tributária neutra, imparcial, não existe. Qualquer reforma vai ter ganhadores e perdedores. Para se fazer uma reforma, é preciso enfrentar uma primeira questão: quem vai botar a mão no bolso?”, questiona o economista Evilásio Salvador, doutor em política social pela Universidade de Brasília (UnB) e professor na mesma instituição. “Trata-se de um conflito de classe: você vai desonerar os trabalhadores, os consumidores em geral que estão hoje arcando com a maior parte dos tributos em relação a sua renda, e, portanto, onerar quem tem maior renda e patrimônio? Essa é uma questão essencial a ser respondida.”

    Para Salvador, a segunda questão é que uma reforma tributária pressupõe mexer no federalismo fiscal. O maior imposto do país é o ICMS, que, incidente sobre o consumo, é estadual, e não federal. Ele é responsável, sozinho, por 20,32% de toda a arrecadação tributária do país e 7,18% do PIB.

    O ICMS é considerado “essencialmente regressivo” por tributaristas e economistas que defendem que o sistema seja composto por tributos progressivos, aqueles que seguem a regra de “quem tem mais, paga mais”. Era o caso do IPTU proposto pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em 2013, derrubado pelo Judiciário, que aumentava o imposto nos distritos mais ricos da cidade e o reduzia nos mais pobres.

    Por incidir sobre uma quantidade enorme de produtos e serviços, o ICMS é o contrário. Encarece alimentação, bebidas, serviços de bares e restaurantes, prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal. Todos, ricos e pobres, pagam a mesma alíquota sobre o que consomem. Para se ter uma ideia, o ICMS, com “alíquota-padrão” de 17% ou 18%, é responsável por 45% dos tributos que incidem sobre os alimentos, segundo o Inesc.

    Além de ser regressivo, o ICMS (regulado pela Lei Complementar nº 87/1996, a obsoleta Lei Kandir) é o responsável pela chamada “guerra fiscal” entre os estados e um caos legislativo, já que cada unidade da federação tem a própria lei. Os governos usam o imposto como instrumento para atrair empresas e investimentos, por meio de benefícios fiscais – redução de alíquotas.

    A Cofins, uma contribuição social essencial ao financiamento da seguridade social, é outro tributo que onera fortemente o consumo, representando 10,81% da arrecadação tributária total e 3,82% do PIB. Cofins e ICMS, juntos, respondem por uma arrecadação equivalente a 11% do PIB brasileiro.

    Ao contrário do que se apregoa, mudanças importantes podem ser implementadas sem necessariamente mexer na Constituição. Isso porque boa parte da legislação que rege o sistema tributário brasileiro é formada por leis ordinárias. De 20 anos para cá, houve mudanças significativas, via leis federais, que tornaram o sistema ainda mais injusto, concentrador e regressivo do que já era. “O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso editou umas 15 modificações na legislação, Lula umas cinco ou seis e Dilma Rousseff mais três ou quatro”, lembra Salvador. Por esse motivo, ele acredita que, embora não tenha havido uma reforma tributária no “sentido clássico (por meio de emendas constitucionais), na prática já se fez uma reforma, ou contrarreforma tributária, em mudanças infraconstitucionais”.

    No primeiro ano de governo, o tucano Fernando Henrique desonerou contribuintes abastados ao editar a Lei 9.249/1995, que prevê a isenção de Imposto de Renda à distribuição de lucros e dividendos a pessoas físicas. “É um emblema de que nós somos mais liberais do que os neoliberais. A título de exemplo, um sócio do Bradesco ou o Itaú, pagam zero, absolutamente nada de Imposto de Renda sobre os dividendos, enquanto o trabalhador, no caso o bancário, está pagando na fonte”, diz Salvador.

    Outra herança de FHC é a isenção de IR na remessa de lucros e dividendos das empresas estrangeiras ao exterior. Segundo Nota Técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), as remessas somaram US$ 171,3 bilhões nos últimos oito anos e atingiram US$ 23,8 bilhões em 2013.

    Patrimônio

    Os impostos sobre o patrimônio e grandes fortunas também são simbólicos de um sistema concentrador de renda. O imposto sobre grandes fortunas está previsto no artigo 153, inciso VII, da Constituição de 1988, mas ele não foi regulamentado até hoje, 26 anos após a promulgação da “Carta Magna.”

    Os tributos que incidem no patrimônio, que somam irrisórios 3,70% da arrecadação ou 1,31% do PIB, são Imposto Territorial Rural (ITR), Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCD), Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e os conhecidos IPVA e IPTU. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) esse tipo de imposto representa cerca de 3% a 3,5% do PIB.

    O caso do IPVA, o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores, não é menos significativo. Qualquer cidadão que tenha um carro popular paga este tributo anualmente, mas os proprietários de helicópteros, lanchas, iates particulares e até jatinhos são isentos. A questão do aumento da abrangência do IPVA, que depende de mudança constitucional, pode ter um caráter mais simbólico do que do ponto de vista da arrecadação. “Seria mais pelo princípio da igualdade e equidade, embora não se vá conseguir muito dinheiro tributando helicóptero. Mas a preocupação é legítima”, acredita o economista do Ipea.

    Mesmo não incidindo sobre veículos diferenciados como esses, o IPVA ainda arrecada mais do que o IPTU. “Em nenhuma República de bananas a arrecadação sobre imóvel é menor do que sobre carros, como no Brasil”, diz o professor da UnB. “Nos países principais, Estados Unidos, França, Alemanha, Coreia, Japão, a tributação do patrimônio é 10%, 12% da arrecadação. Todos têm arrecadação importante sobre essa base.”

    Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o país precisa inverter a lógica do sistema tributário se quiser realmente ser justo. “Achamos que as políticas públicas de Estado para educação, saúde, transporte e moradia têm que ser financiadas pela tributação da renda e do patrimônio e das grandes fortunas, inclusive para incentivar o crescimento sustentado do Brasil com as políticas públicas. Não temos conseguido essa inversão, pela maioria conservadora no Congresso Nacional e até na sociedade”, diz Vagner Freitas, presidente da entidade.

    A CUT defende, entre outras medidas, a atualização da tabela do Imposto de Renda, com mais faixas de incidência e menos tributação na renda e salário dos trabalhadores; isenção de tributação sobre a participação de lucros e resultados; regulamentação do imposto sobre grandes fortunas; ampliação da incidência do IPVA para lancha, helicóptero, jet ski e jatinhos. “Os impostos sobre a fortuna e a renda dos empresários têm que subsidiar políticas públicas em educação, saúde, transporte e moradia”, afirma Freitas.

    “A arrecadação de tributos sobre patrimônio e as alíquotas são bastante menores do que nos Estados Unidos. Um bilionário naquele país pode pagar até 40% do espólio ao Estado. Tributa-se muito as doações e as heranças. No Brasil, a alíquota varia de estado a estado, mas a média é 4%”, diz Santos, do Ipea.

    Imposto de Renda

    A desigualdade do sistema tributário brasileiro também é clara quando se trata do Imposto de Renda. Além das desonerações determinadas pela Lei 9249/1995, levantamento feito pela PricewaterhouseCoopers (PWC) sob encomenda da BBC Brasil, divulgado em março deste ano, revelou que o imposto sobre a renda da classe média alta e dos ricos no Brasil é menor do que em quase todos os países do G20, o grupo das nações mais ricas do mundo.

    Aqui, os que têm renda mensal de 250 mil e 150 mil libras (renda média de R$ 50 mil e R$ 83 mil por mês) são onerados em 26,7% e 26,1% a título de imposto sobre a renda, respectivamente, diz o estudo.  Na média do G20, esses contribuintes desembolsam 35% e 32,5%. Na Itália, esse tipo de contribuinte deixa com o fisco nada menos do que 49,4% e 48,6%. De acordo com o estudo, melhor do que o Brasil em termos de imposto de renda, para os abastados, apenas Rússia e Arábia Saudita.

    O Imposto de Renda é um tributo progressivo, ou pelo menos tem características que podem ser usadas em favor da progressividade. No entanto, o popular IR, que já teve 13 faixas até 1985, hoje tem apenas cinco: isenção para quem teve rendimentos tributáveis até R$ 1.710,78 mensais e quatro alíquotas: 7,5%, 15%, 22,5%, e 27,5%, esta última denominada alíquota marginal, que incide em rendimentos a partir de R$ 4.271,59.

    Países europeus e Estados Unidos trabalham com regimes que estabelecem tributação conforme aumenta a renda e os mais ricos desembolsam até 56,6%, como na Suécia, ou cerca de metade dos rendimentos, casos da Bélgica, Reino Unido, Áustria, Holanda e outros. “O IR talvez seja o grande exemplo de imposto progressivo. mas, no Brasil, simultaneamente, uma parcela grande da população é isenta, há poucas faixas de incidência e a alíquota marginal é baixa”, diz Cláudio Hamilton, do Ipea.

    Segundo a pesquisa do Inesc divulgada em setembro, de 23,5 milhões de declarações de ajuste de imposto de renda do exercício de 2007, apenas 5.292 contribuintes apresentaram rendimentos tributáveis acima de R$ 1 milhão. No entanto, o número de milionários não para de crescer no país. De acordo com pesquisa do The Boston Consulting Group (BCG), o Brasil tinha, em 2008, 220 mil milionários, 15,7% a mais do que no ano anterior. “A fortuna desses milionários está estimada em, aproximadamente, US$ 1,2 trilhão, o que equivale a praticamente metade do PIB brasileiro. Para o BCG, milionários são aqueles que têm mais de US$ 1 milhão aplicado no mercado financeiro.”

    Às vésperas das eleições de 2014, os principais candidatos não apresentaram a não ser propostas generalizantes para mudar o sistema tributário. No Congresso, há dezenas de projetos. “Me parece que, independentemente de quem ganhar as eleições, uma reforma no caminho tanto do reequilíbrio federativo, como onerar os mais ricos, mexer em renda e patrimônio, só vai ser possível num começo de governo e com apoio da sociedade civil organizada, movimentos sociais e movimento sindical. Senão, não acredito em reforma tributária nesse caminho”, diz Evilásio Salvador.

    http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2014/09/sem-reforma-tributaria-concentracao-de-renda-vai-continuar-no-brasil-7590.html

  12. Conselho mantém TJLP em 5% ao

    Conselho mantém TJLP em 5% ao ano, menor nível da história

    Pelo oitavo trimestre consecutivo, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) foi mantida em 5% ao ano, o menor nível da história. O índice, usado nos financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi definido hoje (29) pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    A cada três meses, o CMN fixa o nível da taxa para o trimestre seguinte. O conselho é composto pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, e pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

    De junho de 2009 a maio de 2012, a TJLP permaneceu em 6% ao ano. A taxa foi reduzida para 5,5% em junho de 2012 e para 5% em dezembro do mesmo ano, como medida de estímulo à economia.

    Criada em 1994, a taxa é definida como o custo básico dos financiamentos concedidos ao setor produtivo pelo BNDES. De acordo com o Ministério da Fazenda, o valor da TJLP leva em conta dois fatores: meta de inflação, atualmente em 4,5%, mais o risco Brasil, indicador que mede a diferença entre os juros dos títulos brasileiros no exterior e os papéis do Tesouro norte-americano, considerados o investimento mais seguro do mundo.

    http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-09/taxa-de-financiamentos-do-bndes-e-mantida-no-menor-nivel-da-historia

  13. Expectativa dos consumidores

    Expectativa dos consumidores com a economia é melhor em setembro

    A expectativa dos consumidores brasileiros com a economia melhorou em setembro. Elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) cresceu 1,3% em setembro, em relação a agosto, alcançando 109,7 pontos. Em 2014, o índice está abaixo apenas dos 113,9 pontos registrados em janeiro.

    De acordo com a CNI, o resultado de setembro parece confirmar a tendência de recuperação do Inec, que apresentou melhora em todos os indicadores que o compõem. De um mês para outro, a expectativa de que a inflação vai cair aumentou 2,5%. O da queda do desemprego subiu 1%, enquanto a de melhoria da renda pessoal aumentou 0,7%.

    Conforme os dados, cresceu 2,1% o índice de consumidores que acreditam que a situação financeira pessoal vai melhorar. O indicador de endividamento (consumidores que esperam queda no endividamento) aumentou 1,4%. No mesmo período, subiu 0,7% o de pessoas que pretendem comprar bens de maior valor.

    O Inec funciona como termômetro da confiança do consumidor. Quanto maior o índice, maior o otimismo. Realizada em parceira com o Ibope, a pesquisa ouviu 2.002 pessoas, em 142 municípios de todo o país, entre 11 e 15 de setembro.

    http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-09/expectativa-dos-consumidores-em-relacao-economia-melhora-em-setembro

  14. Xingar o juiz não pode. Xingar a CBF pode

     

     

    por Juca Kfouri

    – 30/09/2014 

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    O jogador corintiano Emerson Sheik, emprestado ao Botafogo, xingou o árbitro Igor Benvenutto, que o expulsou de campo no jogo contra o Bahia, de “safado, sem vergonha e vagabundo”.

    Ao sair do gramado, Emerson não deixou por menos e disse três vezes que a CBF é uma “vergonha, vergonha, vergonha!”.

    Por ofender o juiz, Emerson foi julgado ontem no STJD e pegou quatro jogos de suspensão.

    No mesmo julgamento foi absolvido por ter dito que a CBF é uma “vergonha, vergonha, vergonha!”.

    Em mais um capítulo para o folclore do circo do STJD firmou-se notável jurisprudência: o apitador é inatacável, mas a CBF é como a Geni, da música de Chico Buarque de Hollanda.

    Pode-se jogar pedra à vontade nela.

    Afinal, ela é “feita para apanhar, ela é boa de cuspir”.

     

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