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Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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As matérias para serem lidas e comentadas.

Lourdes Nassif

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  1. Análise sobre a queda de preços do petróleo

    Aswath Damodaran, professor de Finanças na Stern School of Business na New York University (NYU), analisa em seu blog as recentes quedas do preço do petróleo, as previsões equivocadas que foram feitas nos últimos tempos. Damodaran avalia também quais foram as empresas e países mais prejudicados e fala das expectativas para o futuro próximo.

    Nas últimas semanas, o mercado financeiro foi sacudido pela queda nos preços do petróleo, e o processo nos fez lembrar de três realidades. A primeira é que para todo o dinheiro que é gasto em projeção do preço de commodity, há muito pouco que devemos mostrar para ele. A segunda é que todos os grandes acontecimentos macro-econômicos criam vencedores e perdedores e o efeito de rede dessa mudança no preço do petróleo, quando positivo, neutro ou negativo, pode levar um tempo para se manifestar. O terceiro é que investidores são geralmente prejudicados tanto pela venda feita em pânico de todas as coisas relacionadas ao petróleo ou a compra impensada das derrubadas ações do petróleo.

    Petróleo: Preços caem e a incerteza aumenta

    No início de 2014, o preço por barril de Brent era de aproximadamente US$ 108 por barril, depois de três anos de preços mais altos do que US$ 100 o barril. De fato, parecia haver poucos motivos para acreditar, visto os sinais de recuperação econômica nos Estados Unidos, que os preços do petróleo cairiam a qualquer momento pouco depois. Uma combinação de choque de demanda moderada (demanda reduzida da China) e, mais visível ainda, os choques de oferta que conspiram para criar a queda de preços, começando em setembro, acompanhada de mais incerteza sobre preços futuros:

    O choque do petróleo (Reprodução)O choque do petróleo (Reprodução)

    Embora a maior parte da atenção tenha sido direcionada para a queda de 40% nos preços de petróleo, a triplicação na volatilidade implícita nos preços do petróleo merece ser vista com atenção e, como vou argumentar mais adiante, poderia ter um efeito não só nas ações do petróleo, mas no mercado em geral.

    No início, as matérias sobre o choque do preço do petróleo eram quase todas positivas, sugerindo que preços mais baixos de gás permitiriam que consumidores gastassem mais dinheiro no varejo, restaurantes e outros negócios, impulsionando assim a economia. Nas primeiras duas semanas de dezembro, porém, houve uma guinada abrupta no humor, quando os mesmos jornalistas que estavam louvando a queda dos preços do petróleo algumas semanas antes estavam apontando seus dedos  nela como a principal culpada por trás das quedas dos preços das ações em todo o mundo naquelas semanas.

    A trinca desinformada: Analistas, Empresas e Investidores

    O aspecto mais sóbrio do choque do preço do petróleo é que realmente surgiu do nada, com nenhum dos analistas de economia no início de 2014 prevendo a magnitude da queda. No início de 2014, uma pesquisa da Bloomberg sobre os “mais precisos” analistas de preços de petróleo chegaram a prever US$ 105 para preços de petróleo no ano, mostrando bem que “preciso” é um termo relativo neste mercado. Em uma pesquisa da Reuter em dezembro de 2013, que fez um levantamento com analistas sobre preços do petróleo em 2014, a previsão de preço mais baixo era de US$ 75 por Ed Morse, chefe global de pesquisa do mercado de commodities do Citibank e especializado há tempos em preços do petróleo. 

    Se você acredita que as empresas de petróleo, por estarem perto da ação, foram precavidas, você se engana. No início de 2014, a Chevron anunciou que seu orçamento seria baseado em preços do petróleo de US$ 110/por barril, com John Watson, o presidente da empresa, dizendo, “Há uma nova realidade em nosso negócio… US$ 100/por barril está se tornando o novo US$ 20/por barril em nosso negócio… os custos alcançaram os rendimentos para vários tipos de projetos.” e acrescentando que, “se US$ 100 é o novo US$ 20, os consumidores vão pagar mais por petróleo.” A Chevron não estava sozinha nesta avaliação e empresas de petróleo tomaram globalmente decisões em  investimentos, aquisição e produção baseadas no pressuposto de que preços de três dígitos chegaram para ficar, o que explica porque a um preço de US$60 ou abaixo, quase um trilhão de dólares em investimentos feitos por empresas petroleiras não eram mais viáveis. Vendo as companhias aéreas, onde os custos da gasolina representam uma grande proporção das despesas de operação, há prova de que a restrição de gasolina segue o preço do petróleo, em vez de guiá-lo. A restrição de gasolina chegou ao auge em 2008, assim que os preços do petróleo chegaram ao topo, e seguiram a queda dos preços do petróleo nos anos seguintes desde então. 

    Completando o trio desinformado, investidores também estiveram atrás da curva de preços de petróleo. Dinheiro institucional continuou a fluir para as ações para a maior parte do ano e saiu somente no último trimestre quando as ações do petróleo caíram.  O chamado dinheiro esperto (smart money) fez pior, com os hedge funds entre os maiores perdedores em ações de petróleo, com grandes nomes como Icahn e Paulson liderando com apostas que os fizeram perder muito dinheiro. Se há alguma boa notícia para os bulls do preço de petróleo, é que analistas estão agora prevendo preços mais baixos no ano que vem, empresas petroleiras estão reavaliando suas suposições sobre um preço normal de petróleo, empresas aéreas estão reduzindo ou até mesmo suspendendo sua restrição e investidores institucionais estão fugindo das ações de petróleo. Levando em conta seu resultado histórico coletivo, esse pode ser o melhor momento para apostar em uma subida dos preços do petróleo.

    Os Maiores Perdedores

    Quando os preços do petróleo caem, o impacto mais imediato se dá nos produtores de petróleo e o ecossistema que serve a eles, incluindo equipamento e prestadores de serviços. Dentro desse grupo, porém, o efeito pode variar dependendo da geografia, o tamanho e a alavancagem, como veremos na seção do ninho.

    a. Empresas no negócio do petróleo

    O efeito de uma mudança no preço do petróleo em uma empresa produtora pode parecer óbvio, mas vai além do efeito nas receitas e lucros a curto prazo. Ao mudar o reembolso para o crescimento e o risco na empresa, uma mudança no preço do petróleo pode ter um efeito multiplicador no valor.

    Preço do petróleo e valor de mercado do petróleo (Reprodução)Preço do petróleo e valor de mercado do petróleo (Reprodução)

    Com esses efeitos estabelecidos, você deveria esperar que os efeitos mais negativos de queda dos preços do petróleo aconteçam em empresas altamente alavancadas em reservas mais caras e custos fixados mais alto. 

    Vamos ver os números. Nos últimos três meses, com a queda dos preços do petróleo, as ações de empresas petroleiras despencaram, perdendo a soma inacreditável de US$ 1,7 trilhão em  capitalização de mercado, como é mostrado na tabela abaixo, com empresas se desmantelando em diferentes sub-negócios:

    ReproduçãoReprodução

    Perceba que as empresas no final do ciclo da produção e perfuração foram mais afetadas pelos preços mais baixos, enquanto as empresas que foram menos atingidas são as que estão no fim do ciclo de refino e distribuição. Dentro dos negócios de petróleo, o estrago também varia nas empresas. Analisando os números, isso é o que vemos:

    ReproduçãoReprodução

    Empresas menores, menos cotadas foram atingidas com mais força do que as maiores e com grau de investimento, sendo que o massacre foi maior nas empresas da América Latina. Na única descoberta surpreendente (pelo menos para mim), as empresas com as mais altas margens de lucros (em termos de EBITDA/Sales) testemunharam maiores perdas no valor de mercado do que firmas com margens menores.  (atualização: meu primeiro pensamento sobre isso foi que empresas com maior EBITDA/Sales podem ter  índices mais altos de dívida e que o efeito da dívida estava se sobrepondo o efeito  de rentabilidade. A tabela abaixo dá um suporte parcial, já que está entre as empresas mais altamente alavancadas que se vê  uma relação mais forte de alta rentabilidade/retorno negativo, mas há algo a mais que também está acontecendo no fundo. Então, de volta ao trabalho..) 

    Note que eu estava usando essa medida de rentabilidade como uma referência aproximada para os custos de reservas de companhias, já que você deve esperar que empresas com  reservas mais caras sejam mais atingidas por preços mais baixos dos preços de petróleo do que aquelas com reservas com custos mais baixos. Como os preços mais altos do petróleo induziram as companhias a explorar e desenvolver novas reservas, o custo da extração de petróleo é muito mais alto em algumas dessas reservas, como mostra essa tabela de apenas reservas de petróleo de xisto nos EUA:

    Reservas de petróleo nos EUA: Preço de equilíbrio do petróleo e Tamanho das reservas (reprodução)Reservas de petróleo nos EUA: Preço de equilíbrio do petróleo e Tamanho das reservas (reprodução)

    Eu tomaria os preços de rentabilidade que analistas relatam para reservas com um grão de sal, porque computar uma verdadeira rentabilidade iria requerer muito mais informação sobre custos de produto “em queda contra incremental” assim como ‘fixado contra variável’ do que temos acesso, mas a verdade fundamental permanece. Na medida em que os preços do petróleo caem, o efeito no valor e viabilidade vai variar nas reservas e esse efeito deveria então penetrar nas empresas.

    b. Países exportadores de petróleo

    Indo das empresas para os países, fica claro que as companhias que mais perdem com os preços mais baixos do petróleo são as grandes exportadoras de petróleo. Entre esses países, porém, os efeitos vão variar (como fizeram com empresas), baseados nos custos da extração de petróleo nas reservas, quanta dívida soberana é devida pelo país e quanto dependente eles são dos rendimentos do petróleo para equilibrar seus books. Países com reservas de maior custo que são mais dependentes das receitas de petróleo para cumprir obrigações da dívida e equilibrar books deveriam ser mais afetadas negativamente por mudanças dos preços do petróleo, e a tabela abaixo oferece essas estatísticas:

    ReproduçãoReprodução

    Entre o dia 16 de setembro e 16 de dezembro, com a queda dos preços do petróleo, o país mais vulnerável (em parte devido à sua dependência no petróleo para receitas e em parte devido a fatos geopolíticos) foi a Rússia. No gráfico abaixo, vemos o massacre nas mudanças nos prêmios dos CDS para a Rússia (uma medida de risco de default no país) e no rublo russo.

    O efeito do preço do petróleo na Rússia (Reprodução)O efeito do preço do petróleo na Rússia (Reprodução)

    Olhando mais amplamente, fica claro que o estrago não se limita à Rússia, como é evidenciado nesse gráfico de prêmios soberanos dos CDS para quatro países exportadores de petróleo: Rússia, Venezuela, Arábia Saudita e México (com o preço do CDS de setembro sendo fixado em 100 para todos os quatro).

    Diferenciais de CDS soberanos: Grandes exportadores de petróleo (reprodução)Diferenciais de CDS soberanos: Grandes exportadores de petróleo (reprodução)

    O estrago foi maior na Rússia e na Venezuela, com o CDS russo subindo 137,83% e o CDS venezuelano mais do que triplicando. No entanto, a Arábia Saudita e o México, apesar de estarem em melhor forma, também foram afetados com o CDS mexicano aumentando cerca de 58% e o CDS saudita subindo 65%.

    O efeito cascata

    O estrago se estende além dos negócios de petróleo para empresas de energia verde, que se beneficiaram dos altos preços do petróleo na última década, e credores de empresas petroleiras, que sentem os efeitos do crescente risco do crédito. Na tabela abaixo, eu estimo o efeito de preços mais baixos do petróleo em empresas de energia verde e limpa e bônus corporativos emitidos por empresas de energia:

    Prejuízo colateral: Energia verde e credores (Reprodução)Prejuízo colateral: Energia verde e credores (Reprodução)

    Quanto ao setor do petróleo, a extensão do prejuízo varia através de subgrupos, com mais amplitude para as dez maiores companhias de energia solar do que para empresas que fazem parte da corrente de energia solar ou, de forma mais abrangente, de energia limpa. Coerente com o comportamento dos rendimentos através de ações através de índices, os bônus de energia com grau de investimento foram muito menos afetados do que os bônus abaixo do grau de investimento. 

    Os vencedores dos preços mais baixos de petróleo são mais difíceis de achar, pelo menos em curto prazo. Você poderia esperar que empresas que têm uma alta proporção de seus custos conectados aos preços do petróleo ganhem mais, e os dois setores citados como beneficiários foram companhias aéreas e transportadoras.

    As companhias aéreas foram as maiores ganhadoras, mas note que o valor agregado do mercado coletivo (cerca de US$ 55 bilhões através de todas as empresas do setor, globalmente) foi apequenado pelas perdas de mais do que US$ 2 trilhões em empresas de petróleo e energia verde.

    No longo prazo, o consenso geral parece ser de que preços mais baixos de petróleo serão bons para a economia e talvez até para preços de ações. 

    Entre 1974 e 2013, há pouco evidencia que preços mais baixos (tanto no dólar quanto em termos de percentagem) não tiveram qualquer efeito no crescimento econômico  (PIB real), taxas de juros e inflação ou preços das ações. De fato, a única variável onde há uma relação é com o dólar americano, e preços mais baixos do petróleo levaram a um enfraquecimento histórico da moeda. Vendo o acordo, há dois benefícios chave advindos de preços do petróleo mais baixo. O primeiro é que consumidores vão gastar menos em petróleo (para transporte e aquecimento) e vão então ter mais dinheiro para gastar no varejo, lazer e outros itens discricionários. 

    O segundo é que preços mais baixos do petróleo vão reduzir a inflação, ao menos em curto prazo, dando assim aos bancos centrais um pouco mais de espaço de manobra na política monetária. Há, no entanto, dois custos potenciais. O primeiro é que com uma queda do preço do petróleo grande o suficiente, o desespero financeiro nas empresas produtoras e países exportadores de petróleo pode se espalhar no resto da economia; defaults de grandes empresas de petróleo ou um grande mutuário soberano podem criar caos nos mercados financeiros. 

    O segundo é que os preços do petróleo em queda livre costumam ser acompanhados por uma maior incerteza sobre os futuros preços do petróleo, como foi o caso nas últimas semanas, que, por sua vez, pode levar a mais incerteza sobre o crescimento geral da economia, taxas de juros e inflação. Já que esses são condutores do prêmio de risco em renda variável global (equity risk premium), um prêmio de risco em renda variável mais alto e preços mais baixos das ações vão seguir. É verdade que a queda do preço de petróleo nas últimas semanas foi grande, relativa à história, e que os efeitos podem então ser diferentes, mas essa pode ser mais uma razão para não esperar e ver quais serão os efeitos macro-econômicos desses preços.

    E agora?

    Você pode não ser um controlador do mercado ou um analista dos preços do petróleo, mas esses preços têm um efeito em seu portfólio e talvez em sua estratégia de investimento. Quando você olha para o estrago criado pelas quedas dos preços do petróleo, pelo menos o petróleo em seu portfólio, é fácil você adivinhar as decisões que você fez semanas, meses ou até anos atrás. Eu acredito que se arrepender e olhar para o próprio umbigo não são somente coisas desnecessários mas perigosos e que seu tempo será melhor gasto recolhendo os pedaços e olhando adiante. Genericamente, há quatro pontos de vista que você pode ter sobre os preços de petróleo: que eles vão continuar a cair (a história do ímpeto), que US$ 60 é o novo preço normal (US$ 60 é o novo US$ 100), que eles caíram rápido demais e vão dar um salto de volta (o movimento contrário) ou que qualquer acima (agnóstico de preços). Em todos os pontos de vista sobre petróleo, você pode ir tanto para uma estratégia protecionista ou uma mais agressiva, com a última se tornando mais atrativa na medida em que sua confiança em seu ponto de vista aumenta.

    Reprodução

    Reprodução

    Você pode me colocar com convicção na categoria  “agnóstico de preços”. A exposição dos preços de petróleo que eu tenho em meus portfólios reflete investimentos que fiz over time em ações que eu percebi como sendo que bom valor no momento em que eu as fiz e não estavam projetadas primeiramente para aumentar minha exposição do preço do petróleo. Se eu escolho vendê-los, será porque eu não os vejo mais como sendo de bom valor, devido aos preços do petróleo no momento da avaliação, e não porque eu tenho um ponto de vista sobre os preços do petróleo.  Assim sendo, meu investimento na Lukoil de cerca de quatro semanas atrás, quando os preços do petróleo estavam em US$ 77 o barril, cai em cerca de 15%, mas vistos os preços do preço do petróleo de hoje, está sub-valorizado. Meu timing de investimento deixou claramente muito a desejar mas vendê-lo hoje não trará meu dinheiro de volta!

    http://www.jb.com.br/economia/noticias/2014/12/27/meditacao-sobre-mercados-uma-analise-sobre-as-quedas-do-preco-do-petroleo/

    1. Obrigada Leilane. Muito bom!
      Obrigada Leilane. Muito bom e preciso! Um comentarista já nos alertava aqui no GGN: roupa suja se lava em casa. A esquerda não entendeu ainda que dar munição ao inimigo é encurtar a possibilidade de atuação sobre a realidade.

  2. O último parágrafo de uma

    O último parágrafo de uma matéria do jornal Tribuna da Bahia, sobre a presença de Dilma na Bahia:

    “Outra função da presidente que também precisará ser muito bem ou melhor pensada será a definição de quem ocupará o lugar do ministro Joaquim Barbosa, que completa 70 anos. Mas para isso, ela tem um mês para pensar. Só será em fevereiro.”

    E assim caminha o jornalismo no Brasil.

    Sem comentários…

     

  3. Katia Abreu na Agricultura e Aldo Rebelo na Ciência e Tecnologia

    Katia Abreu na Agricultura: Código Florestal desprovido de ciência e direitos indígenas regulados pelo Congresso.

    Aldo Rabelo na Ciência e Tecnologia: aquecimento global não tem comprovação científica.

    Dilma caprichou no desprezo aos índios, à sustentabilidade e ao  meio ambiente.

    .

    Feliz Ano Novo.

     

    http://cbn.globoradio.globo.com/Player/player.htm?audio=2014/colunas/mundo_141227&OAS_sitepage=cbn/comentarios

     

  4. Venina de Singapura: que vida difícil!

    As razões da menina veneno

    27 de dezembro de 2014 | 12:11 Autor: Miguel do Rosáriohttp://tijolaco.com.br/blog/?p=24017

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    Meme genial, que vale mil palavras.

    A nova heroína da Globo bem que tentou posar de paladina contra a corrupção.

    Mas o seu teatro no Fantástico, posando de coitadinha, “exilada” em Cingapura, sem poder visitar a mãe, ficou bastante abalado pela constatação de que:

    1) ganhava quase R$ 200 mil por mês, bem mais que a própria presidenta da Petrobrás, e portanto poderia ter visitado a mãe quando quisesse;

    2) era uma das melhores amigas de Paulo Roberto Costa, o ladrão da Petrobrás; na verdade, durante anos foi uma espécie de “afilhada” dele;

    3) beneficiou o próprio marido com um contrato de alguns milhões, sem licitação;

    4) está envolvida até o pescoço em diversas denúncias no relatório da Polícia Federal da Operação Lava Jato.

    A principal lição que se tira do episódio é, mais uma vez, o mau caratismo da mídia, tentando manipular qualquer informação e qualquer testemunha, com objetivo político-partidário.

     

  5. “O quintal dos EUA já não é a América Latina; é a Europa”

    Do

    Roy Chaderton: “O quintal dos EUA já não é a América Latina; é a Europa”

    20/12/2014, Saker-Latinoamerica, Roy Chaderton ‒ Embaixador venezuelano na OEA, Organização dos Estados Americanos é entrevistado por Bruno Sgarzini

    Roy Chaderton: “El patio trasero de Estados Unidos ya no es América Latina sino Europa”

    Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

    Roy Chaderton

    O embaixador venezuelano na Organização dos Estados Americanos – OEA, Roy Chaderton, ajuda‒nos a apartar do liberalismo dominante e a desconstruir a narrativa com a qual o anglo-sionismo construiu sua dominação global e deseja perpetuá-la.

    Segundo essas novas coordenadas, Chaderton reconstrói o relato a partir de sua experiência como chanceler e diplomata de carreira na Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, dentre outros países. O que se segue é uma entrevista que é preciso ler.

    PERGUNTA: Na atualidade há grande disputa por energia, dentro, inclusive, das rotas planejadas para o transporte da mesma energia, enquanto a China edifica as Novas Rotas da Seda que a podem levar a ser uma das principais potências do mundo, em meio à eclosão de uma nova ordem multipolar – como Chávez anteviu. Qual sua visão nesse contexto de luta para criar essa nova ordem, com os EUA que tentam impedir que seja criada promovendo conflitos cada vez mais intensos e mais difíceis de explicar?

    Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Lembro, de quando era embaixador em Londres, de uma visita oficial ao Secretario de Relações Exteriores da Grã-Bretanha. Ele disse que as próximas guerras seriam por energia e pela água. E se há recursos que nos sobram nesse continente e na Venezuela são exatamente esses, tão importantes para o desenvolvimento da humanidade e das nações. Como razões para mais guerras, energia e água estão sempre presentes, sejam grandes guerras, miniguerras, guerras ocultas e subterrâneas e no reaparecimento de formas racistas e de opressão, as quais, inclusive, se veem nos próprios EUA, onde a tragédia do racismo continua. E pode-se ver que persiste lá uma estrutura social totalmente racista, apesar das aparentes formas de igualdade e acesso equitativo a posições sociais

    Nesse contexto, também se vê a exacerbação do poder econômico e o crescimento desmedido da ditadura dos veículos da imprensa-empresa de massas. Talvez valha a pena relembrar que a guerra “midiática” não começou em Roma nem na Grécia, nem com as revoluções panfletárias, mas começou, simplesmente, em 1887 – ano em que a empresa “midiática” Hearst enviou um correspondente a Cuba, para que desenhasse in loco imagens da guerra de independência.

    Aconteceu que quando o artista chegou a Havana, viu que não havia o que desenhar, e pediu autorização para voltar aos EUA, porque estava sem ter o que fazer em Cuba, porque não havia guerra alguma a desenhar. William Hearst, patrão do “jornalista”, respondeu: “Desenhe as imagens, que eu desenho a guerra”.

    A partir disso gerou-se uma campanha “jornalística” feroz contra a Espanha, até que, um ano depois, estava ancorado em Havana, não se sabe por quê, um  encouraçado dos EUA, chamado “Maine”. Esse navio foi o pretexto para que os EUA entrassem em guerra contra a Espanha, atacassem a Espanha e começassem a intervir no processo de independência de Cuba.

    A primeira grande operação-golpe clandestina

    A guerra “midiática” de quarta geração continua, e que ninguém confie na “mídia”, porque por trás da “mídia” vem a guerra real, mesmo que por outros meios, e mesmo que as redes sociais tenham aplicado importantes derrotas às tais “mídias”.

    Quase 38 anos depois daquele “evento”, foi realizado o filme Cidadão Kane, o qual, pela primeira vez, denunciava a imbricação entre os interesses da imprensa-empresa e das elites econômicas e políticas.

    Claro que as guerras geradas pela “mídia” continuaram, apesar de algumas resistências individuais. Já nos anos 50s, o senador McCarthy, católico e bêbado, moveu campanha ensandecida contra todos e quaisquer que fossem acusados de alimentar simpatias ou militância comunista, socialista e marxista, e atacou muitos jornalistas. Na resistência contra McCarthy, destacou-se o jornalista Edward Murrow (…). E nos anos 60 e 70, em plena guerra do Vietnã, destacou-se o jornalista Walter Cronkite, da CBS, o primeiro a informar o que realmente se passava lá.

    (…)

    Hoje em dia já são uma corporação militar industrial, financeira e “jornalística”, e esse é o poder que está enlouquecido e inventa guerras como a do Iraque, onde o governo dos EUA e a imprensa-empresa norte-americana levaram ONU e a comunidade internacional a atacar um país que não ameaçava a segurança dos EUA.

    Exemplos como esses há milhares, e o que vemos hoje é uma unificação crescente dos veículos da imprensa-empresa de direita contra os movimentos sociais e os povos livres. Especialmente na Venezuela, que a imprensa-empresa apresenta como ditadura violadora dos direitos humanos, mesmo ante a evidência de que os EUA são os principais responsáveis por esses delitos no mundo e controlam as organizações que fazem as falsas denúncias.

    O poder da imprensa-empresa combinado ao poder político já penetrou tudo. Antes, a América Latina produzia lutadores e lutadoras importantes, por exemplo, as Mães da Praça de Maio; agora, só se ouve falar de especialistas em “direitos humanos” que fazem uma defesa acomodatícia e oportunista de um legalismo esterilizado. Vez ou outra, até que se pode admitir que um ou outro caso das ditas “violações de direitos humanos” corresponda a casos politicamente significativos e relevantes, mas, em geral, a dita “defesa de direitos humanos” não passa de grande mentira que se harmoniza perfeitamente com a guerra mundial pela energia e pela água da qual falamos. Eles nos roubam água e petróleo. E tantos, por aí, a reivindicar vagos “direitos humanos”…

    A “nação excepcional e indispensável” contra a América Latina (e o mundo)

    É tão forte o ataque no plano continental, que é como se estivéssemos na defensiva. Na verdade, estamos, sim, em movimento de ofensiva: nossos países andam hoje muito melhor do que antes, com movimentos sociais e a esquerda em crescimento, com suas respectivas características e diferenças.

    PERGUNTA: O senhor falou de uma imprensa-empresa, em confluência com o poder econômico e político e também com o poder militar. O senhor falou de vários fatos que estão acontecendo, recapitulou rapidamente o que os ultracapitalistas chamaram de“Fim da História”, com a ascensão dos EUA como ‘xerife mundial’ (o Iraque é o grande exemplo), e agora uma forte repressão contra os movimentos sociais e os países que defendem a própria soberania. Como essa ofensiva está articulada contra a América Latina?

    Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: O império mostra cada vez mais abertamente suas misérias. Penso, mesmo, que ruirá de dentro para fora, mas acho que não acontecerá durante minha vida. Por hora, estão caindo cascalhos da pedra do muro que protege o império e que, um dia, foram estruturas monolíticas indestrutíveis. Seja como for, a guerra “midiática” de 4ª geração continua, e não se pode relaxar porque, depois dela vem a guerra real, mesmo que por meios diferentes e mesmo que as redes sociais já tenham aplicado boas derrotas ao tal poder “midiático”.

    Em termos militares, sempre fizeram o que fazem os Marines: primeiro, bombardeiam para “alisar” a praia; na sequência, chegam as tropas de invasão e ocupação. No caso da Venezuela, esse “alisamento” é feito pela imprensa-empresa; tem o objetivo de nos fazer sentir-nos mal, fracos, errados, viciosos, ignorantes. Fazer-nos crer que o país onde vivemos é o pior do mundo, o mais corrupto, o mais pervertido.

    É tão forte o ataque no plano continental, que às vezes parece que estamos na defensiva, mas não. Nossos países estão hoje muito melhores do que antes, os movimentos sociais estão crescendo, a esquerda vai aos poucos se re-estruturando, com suas diferenças. E o povo responde ao que os governos progressistas lutam para assegurar.

    Na Nicarágua, por exemplo, todos comem, e é hoje o país mais seguro do continente. Na Bolívia todos comem e os bolivianos têm dinheiro e distribuem uma prosperidade que antes nunca conheceram porque sempre lhes foi roubada, como acontecia também aqui na Venezuela. São coisas básicas. Antes de grandes sofisticações e complexíssimas aspirações nacionais ou individuais, é preciso garantir o básico. O direito mais básico, de todos, é o direito à vida. Para isso é preciso comer. A educação também é direito de todos. Sem ela, a vida é sempre miserável. De fato, hoje, em muitos países do continente está em curso uma revolução pacífica, porque se o estado oferece e garante educação e formação para o povo, estou transferindo instrumentos que as massas podem usar para defender-se e derrotar os bandidos.

    Chávez sempre disse que não vivemos tempos de luta armada, mas tempos de confiar no povo e que o levante aconteça pelo voto popular. É claro que algo está acontecendo, porque se vê que os países do Caribe, que tiveram a formação conservadora dos britânicos, já estão apoiando a Venezuela e já não se deixam levar pelo cabresto pela OEA. Acontece quando a alma é mais forte que o medo e as ameaças, e há gente que não se encolhe e não baixa a cabeça em circunstâncias difíceis e nunca, em nenhuma circunstância, rouba ou se deixa corromper, por muito que esteja em jogo.

    Mas estamos vivendo momentos de imenso perigo, porque o império está desesperado e seus aliados estão com medo.

    O quintal dos EUA já não é a América Latina: é a Europa. E a OEA já não é o ministério das colônias dos EUA. Muita coisa mudou.

    PERGUNTA: Recompor situações?

    Os estados-nação estão sob ameaça e sob risco de serem fragamentados, como consequência do avanço do projeto daquele 1% cujo principal interesse é criar um Estado global, com sede nos EUA, e que haja grande massa de desempregados, efeito de uma nova fase no uso das tecnologias, o que gera ameaças e crises. Porque esse modelo de civilização carece de guerras e mais guerras e de intermináveis conflitos.

    A ascensão dos movimentos populares tem a ver com isto, porque quando se ouve falar sobre fragmentação dos estados-nação a primeira ideia que ocorre é o caso da Iugoslávia, que era independente do poder dos EUA, onde conviviam nações de diferentes origens e culturas. E a Iugoslávia foi partida numa guerra estimulada pelos EUA contra a Sérvia, apoiada pela Croácia, que era estado semifascista, com católicos de extrema direita.

    O que estamos vendo acontecer na Ucrânia é semelhante e assombroso, porque a OTAN e os EUA tentam obter o que nem Napoleão nem Hitler jamais conseguiram: cercar e sufocar a Rússia. E tentam fragmentar a Ucrânia.

    Mas na América Latina não foi muito diferente. Vimos recentemente na Bolívia a “meia lua” separatista, imediatamente contida por uma reunião da UNASUL no Chile. Não há dúvidas de que esses movimentos separatistas são estimulados. Na Venezuela, são os grupos separatistas de Táchira e Zulia, que ficaram conhecidos por seu “Plano Balboa”.

    O estado de Zulia, por exemplo, poderia ser autárquico, posto que tem energia, produz alimentos nas terras mais férteis da Venezuela e tem fronteiras internacionais e acesso ao mar. Em teoria, seria local ideal para provocar uma divisão de dentro para fora, gerando atritos entre países, criando condições para confrontos, até que a ONU e os EUA encontrem meios para intervir para “recompor” a situação.

    Interessante é que, hoje, já se encontram focos não convencionais de resistência para os que temos visão de mundo de esquerda; e por todos os lados se veem nacionalistas de direita anti-norte-americanos. Há até alguns espaços de interesses comuns convergentes. Mas não há dúvidas de que o mais característico é que o império vive seu período de máxima paranoia. Se se considera o que me disse certa vez um embaixador gringo na Venezuela, que “todas as políticas são locais”, o significado disso tudo é que a política externa dos EUA já está sequestrada pelos cubanos da Florida, estado que garante total impunidade para terroristas e é “lar” da escória do continente.

    PERGUNTA: O senhor falou das intenções separatistas em Zulia y Táchira, do abrandamento da cabeça de praia e da ofensiva contra os povos livres. Nesse contexto, qual a força do povo venezuelano, para derrotar a tentativa de restauração conservadora?

    Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Os imensos progressos que se realizaram nos últimos anos. Os que antes não comiam, agora comem. Num país onde todos estão estudando e onde já não há analfabetos – o que até a ONU já reconheceu – quem antes nem chegava à escola primária hoje já está alfabetizado e já completou os estudos fundamentais; quem nem chegava à escola secundária, idem; quem jamais antes chegara à universidade, hoje está formado. Cada um desses venezuelanos converte-se em instrumento de defesa do sistema que lhe deu dignidade – e que começou com a chegada do chavismo ao governo da Venezuela.

    Por isso se vê que estamos nas ruas defendendo nossa revolução, mas não a defendemos com machado e fuzil. Nós a defendemos com um exemplar da Constituição Bolivariana. É realmente espetáculo maravilhoso, independente do que tenhamos de fazer ainda pelas armas. Quem empunha a Constituição está aprendendo que seus direitos e sua dignidade não estão plenamente conquistados, que as pessoas apenas começaram a conhecer os próprios direitos e a própria dignidade com o processo venezuelano. São como um exército de reserva para a resistência.

    Por outro lado, essas mesmas pessoas são o alvo selecionado para ser atacado pela ditadura “midiática”, da imprensa-empresa do império. Acho, sim, que é preciso chamar as coisas pelo nome: é uma ditadura. E os EUA não são democracia, não são “império democrático”: são uma plutocracia.

    PERGUNTA: Sobre o quê, especificamente, o senhor está falando?

    Estou dizendo que o que há em Washington é governo dos ricos. Abraham Lincoln falava da democracia como governo do povo, para o povo e pelo povo, e em certo sentido cumpriu. Mas o que há hoje é governo dos ricos e para os ricos. Só será senador se for milionário ou se tiver milionários que o apoiem. A imprensa-empresa é concentrada e foi silenciada, mas não pela censura oficial que conhecemos na América Latina e, sim, pela censura das grandes empresas “midiáticas”, que vendem lixo ao seu público consumidor, geram cada dia mais fanatismo religioso e mantêm seus consumidores isolados do que se passa no mundo.

    Porque “informação” é só a que convenha aos EUA. Se Washington bombardeia e tortura em Faluja, Iraque, ninguém sabe disso nos EUA. Os EUA são país terrivelmente mal informado e sem cultura geral, com veículos de imprensa-empresa que existem para reproduzir e ensinar às multidões o que haja de mais banal, de mais baixo, de mais vil. Difícil imaginar algo mais repugnante que um reality show no qual é entrevistado um homem que engravidou a própria avó, ali em cena, ao lado dele, barriguda. E de repente os dois se põem a brigar, e entram em cena leões-de-chácara que apartam a briga.

    Toda essa porcaria é inventada nos EUA. Daí também que os EUA sejam os maiores produtores mundiais de pornografia. Simultaneamente são puritanos e horrorizam-se quando o presidente dos EUA tem uma experiência de felação e é entrevistado exibindo uma lata de Coca-Cola.[1] Também é o país onde alguém pode perder cargo para o qual tenha sido eleito se for apanhado com outra mulher que não a própria esposa, como aconteceu ao governador da Carolina do Norte, quando se soube que mantinha “um caso” com uma argentina, e foi visitá-la no país dela, pensando que “ninguém descobriria”. Façam-me o favor! Nesses “critérios” moralistas misturam-se crueldade, maldade e o mais perfeito ridículo.

    Os EUA são império que vai desaparecer. Ainda demora e eu, com certeza, não estarei vivo para ver.

    PERGUNTA: Por que não verá?

    Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Porque prevejo que não acontecerá no curto prazo. Tomara que eu esteja enganado. Mas a verdade é que derrubar o império não é empreitada simples. É império rico e armado. Além do mais, o complexo industrial-militar é hoje mais forte que nunca. No Vietnã, por exemplo, quem mais enriqueceu foi a empresa Halliburton, que fornecia tudo, de tanques de guerra a hambúrgueres. Tudo isso é sigiloso, tudo é protegido, todo o esforço acadêmico e intelectual dos EUA está dirigido para a guerra; os drones são produto das guerras. Agora, alguém sentado na Califórnia ou no Texas aperta um botão frente a uma tela de computador e mata à distância quem apareça ali, na sua “lista de matar”.

    Tentativas de guerra civil e atentados divisionistas

    Muita gente quebrou, inclusive pessoas do 4 de fevereiro. A palavra “lealdade” é muito importante.

    PERGUNTA: Com a guerra de 4ª geração, estão tentando levar a Venezuela a um confronto civil, como na Síria, mas esse cenário foi desarticulado nas mais recentes tentativas de golpe. Como a Revolução Bolivariana articula sua liderança nesse contexto, quando a reação se mostra tão violentamente beligerante?

    Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Há um dito que ensina que, para dançar um tango, é preciso que haja dois interessados em dançar. Também para uma guerra civil, é preciso que haja dois lados interessados. Já temos 15 anos de processo revolucionário na Venezuela e não houve guerra civil, porque, primeiro, tínhamos a sabedoria de Chávez, depois, a sabedoria de Maduro. Quando se vê o que houve em Altamira vê-se que havia um assalto planejado para desarticular os militares e aquilo estava sendo apresentado como se fosse alguma insurreição. Chávez deixou que a coisa se esvaziasse e em três meses já nada havia na “praça”.

    Na Venezuela não temos cultura de guerra civil. Tivemos guerra civil, sim, na Guerra Federal e na Independência, guerras nas quais perdemos 1/3 da população. Passamos por situações difíceis, combates internos, golpes de Estado, processos de desestabilização, mas, por uma ou outra razão sempre se produziram processos de conciliação. Depois da guerra subversiva dos anos 1960s e 1970s, nos reconciliamos no processo de pacificação. Os guerrilheiros desceram da montanha, não mataram ninguém nem foram mortos e alguns deles, hoje, estão na ultradireita!

    Essa é outra história que tem a ver com o  “alisamento” da praia: o homem sofreu tanto como guerrilheiro, ferido, fugindo de tropas militares, comendo mal, arriscando a vida… e depois encontra respeito e reconhecimento da classe governante. Começa a ganhar bem, casa-se, tem um filho e um cachorro, é convidado para fazer uma conferência em Harvard e é ali que o homem acaba de ser “alisado” de vez: porque deixa de ver o império como império, apanhado na rede dessas formas não violentas de cooptação. É o que aconteceu a alguém como [Fernando] Henrique Cardoso, quando se une aos comícios antichavistas, como Joaquín Villalobos.

    Uma coisa é que se tornem moderados ou racionais, porque não se faz revolução com doidos varridos. É preciso ser racional, é claro, como Jesús Faría, economista marxista-leninista dos mais respeitados, que disse, há pouco tempo, que é claro que temos de ajudar alguns empresários a manter a produção, porque sem isso seria o desabastecimento; e que não é possível infernizar a vida dos empresários com medidas burocráticas “pensadas” por “esquerdistas” de merda ou burocratas, porque, com isso, nós também ajudamos a desestabilizar o país. É claro que é preciso pensar racionalmente. Não há outro meio para promover cada vez mais justiça social, mais igualdade, democracia e liberdade.

    PERGUNTA: Há pouco tempo, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, disse que há chavistas que falam como chavistas, mas não são chavistas; e que há um setor muito conhecido da esquerda que ameaçou deixar o governo se suas demandas não forem atendidas. Que lhe parece?

    Roy Chaderton, embaixador da Venezuela na OEA: Nada mais fácil que se pôr a ‘denunciar’ e ameaçar deixar o governo cada vez que as coisas ficam difíceis. Criticar não é coisa que se possa fazer levianamente, para livrar a própria cara, cada vez que surge um problema. A crítica revolucionária deve ser manejada como arma. A crítica revolucionária não é muleta para fazer andar moralistas reacionários. Denuncie muito, ponha-se a criticar… e você está salvo! Se tudo vai bem, você elogia em segredo. Se as coisas vão mal, você criticaem público. Muita gente pensa assim, e a imprensa-empresa existe para dar “meios” a essa gente e vender a ilusão de que alguém estaria criticando para transformar. De fato, a “crítica” que a imprensa-empresa distribui é crítica para conservar: repetir e reproduzir. Muita gente quebrou, inclusive pessoas do 4 de fevereiro. A palavra “lealdade” é muito importante.

    Também há os que causam danos ao processo revolucionário, de dentro para fora. Um burocrata, por exemplo, que inventa e impõe dificuldades e empecilhos à ação popular. No serviço público, o revolucionário tem de mostrar que ama o próprio povo. Mas se, porque está no governo, alguém se sente “superior”, só porque está do lado de “lá” da mesa, e há um homem ou uma mulher muito pobre do lado de “cá” da mesma mesa, aí está alguém que é um perigo para a revolução. Os incompetentes, os arrogantes e os inconsequentes, saibam ou não, atrasam a revolução e ajudam a reação.

    Nota dos tradutores [1] Sobre isso ver Carlos Eduardo Lins da Silva, Folha de S.Paulo, 29/11/1998: “Escândalo modela EUA no fim do século” – Desdobramentos do caso Monica Lewinsky influenciam áreas como política, jornalismo, costumes e feminismo.

    Os “pêlos (sic) pubianos na lata de Coca-Cola”, que tanto escandalizaram o país em 1991, eram brincadeira de criança se comparados aos charutos e vestidos de agora, e as acusações de Hill eram muito menos substantivas do que as de Paula Jones ou Kenneth Starr.

    Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/12/roy-chaderton-o-quintal-dos-eua-ja-nao.html

  6. Belluzzo critica ação dos cartéis da construção e da informação

    Belluzzo critica ação dos cartéis da construção e da informação na crise

    Rede Brasil Atual

    http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2014/12/belluzzo-critica-acao-dos-carteis-da-construcao-e-da-informacao-na-crise-266.html

     

    Economista, diz que Dilma é uma das poucas pessoas por quem põe ‘a mão no fogo’. Para ele, presidenta é ‘atormentada’ por cartéis e o que ‘estão fazendo com a Petrobras é imperdoável’

    São Paulo – “A economia brasileira tem os seus cartéis, dentre os quais os mais importantes são as empresas de construção”, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp. Em entrevista ao Seu Jornal, da TVT, Belluzo afirma que a importância do setor de construção da economia – junto com a Petrobras responde por sete a nove pontos percentuais da taxa de investimentos no país – não exime os empresários do setor de serem punidos com o rigor da lei. “Estou defendendo as empresas, e não os empresários, os que cometeram malfeitos têm de cumprir o que a lei manda.”

    Ele vê no entanto, que a crise da Petrobras envolve, além os casos de corrupção – que têm de ser investigados e solucionados para que a empresa se recupere –, questões geopolíticas externas e interesse internos: “Está lá no Congresso o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) clamando pela mudança do modelo de partilha para o modelo de concessão. Concessão é adequado para quando você vai descobrir as reservas de petróleo. Você não pode aplicar isso a reservas já descobertas, seria uma impropriedade. Isso envolve uma questão geopolítica, de interesse, no fundo, de se privatizar ao máximo a exploração do petróleo e tirar do controle da Petrobras”, observa. “Por isso o caso da Petrobras é muito grave. Isso que foi feito é imperdoável, porque fragiliza muito a empresa.”

    O economista se solidariza com a presidenta Dilma Rousseff: “É uma das poucas pessoas pelas quais eu ponho a mão no fogo. Eu sei que ela deve estar atormentada e é inacreditável que tentem imputar a ela alguma coisa parecida com corrupção”, diz. E faz uma referência à atuação da imprensa brasileira. “A imprensa brasileira é um cartel. Um cartel da informação, o que é grave para um país que quer avançar na democracia, na melhoria dos padrões de convivência. É preciso diversificar os meios de comunicação e não permitir que o cartel continue operando. E o cartel está operando.”

    Assista à entrevista concedida a Talita Galli, da TVT.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=D3WmJpifJn0 align:center]

     

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