Clipping do dia

As matérias para serem lidas e comentadas.

Luis Nassif

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  1. Sonegação dos ricos rouba 200 bi em cinco meses

    Carta Maior

    22/05/2015 –

     

    Valor supera todos os escândalos de corrupção mais conhecidos e ultrapassa até o que seria necessário para o ajuste fiscal em discussão no Congresso.

     

    Antonio Lassance

     

     

     

    reprodução

     

    Número estará estampado pelos painéis do Sonegômetro espalhados pelo País. Valor supera todos os escândalos de corrupção mais conhecidos e ultrapassa até o que seria necessário para o ajuste fiscal em discussão no Congresso (R$80 bi).
     
    Situação causou revolta em servidores do Ministério da Fazenda. Procuradores acusam:
     
    “Estamos diante de uma batalha bastante desigual, onde um único Procurador da Fazenda Nacional, sem carreira de apoio, atua em processos complexos envolvendo grandes devedores, normalmente defendidos pelas maiores bancas de advogados do país.”
     
    No ano passado, não foi diferente. Os procuradores bradavam:
     
    “Como se não bastasse, vemos uma elite muito bem acomodada e grandes corporações abonando a continuidade desse sistema anacrônico, enquanto surrupiam o erário público por meio da sonegação fiscal. E assim, em apenas 5 meses, o painel digital Sonegômetro já registra um rombo de 200 bilhões.”

    Leia o artigo do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional.

    O Sonegômetro, a Lavanderia Brasil e a Esquizofrenia Fiscal

    Subir juros que já habitavam a estratosfera, aumentar a carga tributária como se estivéssemos mais para Bélgica do que para Índia, encarecer tarifas de energia, combustíveis e mudar regras de benefícios sociais, como se a culpa de toda a desordem administrativa do país fosse dos trabalhadores, aposentados e pensionistas.
     
    Por mais que se tente explicar o ajuste fiscal promovido pelo governo, não dá para entender e muito menos para aceitar. Ou melhor, dá para desconfiar. Pois se a União espera cortar R$ 80bi de seu orçamento e arrecadar mais 0,48% de tributos em relação a 2014, como esse mesmo governo deixa escoar pelo ralo da sonegação mais R$ 500 bi ao ano?

    Essa postura não condiz com o discurso de quem pretende “reverter a deteriorização fiscal”, nas palavras do Ministro da Fazenda Joaquim Levy. Não por acaso, essa justificativa do arrocho sobre os pobres e classe média é igualmente defendida por pessoas e instituições que nunca têm nada a perder. Ou melhor, que sempre têm muitos bilhões a lucrar, surfando nas altas ondas do mercado financeiro.

    Transitando com desenvoltura nesse mar de insensatez, sonegadores e corruptos seguem curtindo o sol e o céu da impunidade. Sim, pois à exceção de casos midiáticos como as operações Lava Jato e Zelotes, envolvendo acordos de delação premiada, nenhuma medida efetiva tem sido tomada para a estancar a sangria da sonegação.

    Para ficar bem claro, é importante ressaltar que dos 500 bilhões sonegados em 2014, mais de R$ 400 bilhões passaram por operações sofisticadas de lavagem de dinheiro. Isso representa 3546 vezes o valor declarado do Mensalão (R$141 milhões); 240 vezes o custo da operação Lava-Jato (R$2,1 bilhões) e 26 vezes o que até agora se descobriu na operação Zelotes (até agora avaliado em R$19 bilhões).

    E o rombo poderia ser ainda maior, não fosse o trabalho diuturno dos Procuradores da Fazenda Nacional (PFNs), que somente nos últimos quatro anos evitaram a perda de mais de R$1 trilhão em contestações tributárias e arrecadaram mais de R$60 bilhões em créditos inscritos na dívida Ativa da União. Isto, apesar do quadro de desvalorização da Carreira e de sucateamento estrutural da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN).

    Vale dizer que estamos diante de uma batalha bastante desigual, onde um único PFN, sem carreira de apoio, atua em processos complexos envolvendo grandes devedores, normalmente defendidos pelas maiores bancas de advogados do país.

    O governo sabe que para cada R$1,00 investido na PGFN há um retorno de R$20,96 à sociedade. Mas, estranhamente, prefere deixar de cobrar de quem deve e pode pagar, optando pela comodidade de repassar a conta ao cidadão em forma de impostos.

    O Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPROFAZ) entende que a defesa dos interesses da Carreira de PFN se confunde com a defesa da Justiça Fiscal. Por isso segue em frente promovendo campanhas de conscientização tributária, apresentando o painel Sonegômetro e a Lavanderia Brasil, denunciando, criticando e ampliando o debate por um sistema tributário mais justo para todos.

    Fonte: Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional
    http://www.quantocustaobrasil.com.br/artigos/o-sonegometro-a-lavanderia-brasil-e-a-esquizofrenia-fiscal

    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Sonegacao-dos-ricos-rouba-200-bi-em-cinco-meses/4/33545

     

     

  2. A Folha de São Paulo não gosta da China; tampouco do Brasil

    Os “burros de Tróia” na Folha

    23 de maio de 2015 | 06:31 Autor: Fernando Brito no Tijolaço

    troia

    Mordida pelo despeito e movida pela ignorância, a Folha segue, diariamente, sua campanha contra os acordos de investimentos feitos pela China com o Brasil.

    Nem é preciso dizer que os faríamos com norte-americanos, suecos, alemães, finlandeses ou o que fossem, se as condições forem boas para o Brasil: áreas estruturantes da economia, longo prazo, pagamento não-escorchante, controle nacional, etc.

    Ontem foi a versão “a China promete, mas não cumpre” propostas de inversão aqui. É verdade, em muitos casos. E não é, em tantos outros, porque não são doações que impliquem em obrigação moral, mas negócios. Sujeitos, portanto, às condições do mercado que, como só a Folha não sabe, se deterioraram no mundo, e aqui também, em parte.

    Hoje, a asneira é completa.

    Diz o Painel que sindicalistas “vão pedir ao Ministério do Trabalho detalhes sobre as condições negociadas para a vinda de mão de obra chinesa ao Brasil”. Alega Miguel Torres, da Força Sindical, que os investimentos da China podem ser “um cavalo de Troia” para a entrada de trabalhadores chineses no país.

    De novo, tenho de praticar um hábito meio fora de moda no jornalismo e contestar com base em fatos.

    Está lá ao final do post  a tabela oficial da entrada de  estrangeiros no Brasil, que é regulada – e tome de regulada, nestes tempos globais! – pelo Ministério do Trabalho. Quando estive lá, por delegação do Ministro, era eu quem assinava a autorização, após aprovação dos órgãos técnicos, e sei bem do que falo.

    Veja lá que os norte-americanos lideram com folga a entrada de pessoas para trabalhar no Brasil.

    Tirando Filipinas e Índia, que têm números altos porque são a origem de trabalhadores de muitas embarcações e plataformas afretadas pela Petrobras e outras petroleiras – será que alguém acha que alugam um barco de alta tecnologia e especializadíssimo vazio, sem tripulação? – e Portugal, pelas óbvias ligações históricas e culturais, os países desenvolvidos nadam de braçada neste ranking.

    Os chineses ficam num modesto 10° lugar,  com menos de 3% das autorizações de trabalho temporário o que, para o país de maior população no mundo, é um nada: 1.348 em um ano.

    Os números absolutos são ridículos se considerarmos que somos um país onde a força de trabalho, em todas as áreas e formas, anda acima de 100 milhões de pessoas.

    Existem critérios restritivos bastante fortes para a concessão de vistos de trabalho no Brasil e que valem para todas as nacionalidades..

     

    Há exceções e me recordo de uma, curiosa: um dirigente de um grande frigorífico – não era a JBS, coxinhas, calma… –  telefonou-me para expor um problema: o Brasil é um grande exportador de frango halal, para o Oriente Médio e isso requer que o animal seja abatido por um muçulmano, que esteja voltado para Meca e ainda que se cumpra o ritual de invocar Alá no momento do abate, entre outras exigências.

    E não se achava, na comunidade muçulmana brasileira, abatedores em número suficiente e faltavam algumas dezenas de trabalhadores adequados. O que fazer, deixar de vender frango para eles, um imenso mercado, no qual nosso país é líder?

    Quem quiser me acusar de advocacia administrativa que o faça, mas não tive a menor dúvida em pedir aos dirigentes do Conselho de Imigração atenção especial para esta questão, e avisei ao empresário que, como contratante direto e indireto dos abatedouros ficasse de olho nas condições de trabalho, porque a mão de obra para este serviço, em boa parte, vem dos países muçulmanos da África, porque existe uma fiscalização do Trabalho.

    Vejam só quanta estupidez há neste “caso” dos chineses.

    Como disse, boa parte é de curto prazo.

    Os que ficam até um ano, para assistência técnica ou transferência de tecnologia – ou seja, com contratos de trabalho na China, não aqui – são 525 apenas.

    E os que vêm para ficar, com visto permanente, são 274 por ano. Regula com os franceses e espanhóis e ninguém está falando em uma invasão francesa, n’est pas?

    E daí se vierem, temporariamente, mais mil, dois mil chineses para empreendimentos que vão gerar, diretamente, 40 ou 50 mil empregos no Brasil e, indiretamente, muitos mais.

    Quantos brasileiros trabalharam nos meganavios que “São” Roger Agnelli encomendou na China e na Coreia? Ah, aplaudiram porque “era mais barato” fazer lá, não é?

    E que mal há que, dos estrangeiros, algumas centenas venham mesmo de mala e cuia, como vieram os avós e bisavós de tantos de nós?

    Vamos deportar  milhares e milhares de nossos ancestrais?

    Nacionalismo não é xenofobia, é defender a soberania e os interesses brasileiros.

    Coisa que esta gente, assustada com o “perigo vermelho”, não faz quando se trata dos homens do capital que preda nossas riquezas.

    trabtemporario

     

  3. O aeroporto já está pronto; olha o aviãozinho!

     O mico da ‘coluna Aécio’

     Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
     A Folha de S. Paulo anuncia em nota na sua primeira página, na edição de sexta-feira (22/5): “Grupos anti-Dilma dizem que PSDB e Aécio são traidores”. O Estado de S. Paulo, em reportagem interna sobre o mesmo tema, informa: “Grupos se dizem traídos por tucanos”.

    A imagem que ilustra o texto do Estado mostra doze – isso, exatamente uma dúzia – de manifestantes que caminham pela Rodovia Anhanguera, com destino a Brasília, onde pretendem fazer sua pregação em favor do impeachment da presidente da República. Quando saíram de São Paulo, no fim de abril, os integrantes da marcha foram estimulados por líderes do PSDB, que imaginavam uma espécie de “coluna Prestes” invertida, a recolher, pelo caminho, milhares de cidadãos descontentes com o governo, numa chegada triunfal à rampa do Planalto. Mas, como no poema de Hesíodo, as relações entre os homens e os deuses devem se submeter ao crivo da verdade, e esta nem sempre se manifesta como desejam os humanos.

    Entre o fim de abril e esta última semana de maio, a expectativa do grupo de manifestantes, estimulada por discursos inflamados do senador que perdeu a eleição presidencial em 2014, não foi justificada pelos fatos. O descompasso entre os trabalhos políticos e os dias de marcha acaba por produzir a ruptura entre os doze aloprados que imaginam reverter a decisão das urnas e os oportunistas que os apadrinharam.

    Por sugestão do jurista Miguel Reale Jr., convocado a emitir parecer sobre a proposta do impeachment, os líderes do PSDB acharam melhor ingressar com processo contra a presidente Dilma Rouseff na Justiça comum, talvez confiantes na ação dos julgadores que o poeta grego chama de “comedores de presentes”. Mas o Judiciário, já embaraçado com a interferência do Congresso em suas atribuições, não dá sinais de que irá acolher tal petição.

    Representantes dos grupos que pedem a interrupção do mandato da presidente da República teriam ouvido na semana passada, na capital federal, promessas de parlamentares do PSDB e de outros partidos de oposição de que entrariam com o pedido formal de impeachment assim que os marchadores alcançassem a Praça dos Três Poderes. Desde quarta-feira (20/5), a uma semana da chegada da marcha a Brasília, prevista para o dia 27, a página do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que organizam o protesto, exibe um quadro dizendo que o senador Aécio Neves traiu a causa (ver aqui).

    Ignorância política

    Segundo o Estado de S.Paulo, líderes do PSDB avaliam, reservadamente, rever a estratégia de apoiar explicitamente a marcha, quebrando a promessa de dar um caráter apoteótico à sua chegada a Brasília.

    O ex-deputado federal Francisco Graziano, assessor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, disse à Folha de S. Paulo que entende a frustração dos que querem o impeachment, mas considera que “atacar Aécio, FHC ou o PSDB mostra ignorância política”. De repente, os tucanos descobrem que meteram a mão em cumbuca.

    Restará aos protestadores, certamente, o apoio do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e talvez a presença do deputado Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), cujas biografias não justificam os cuidados que precisam ter os líderes do PSDB.

    O principal partido de oposição embarcou na aventura dos golpistas pela mão do senador Aécio Neves, que foi demovido do plano de impeachment pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada. Agora, precisa de um discurso consistente para evitar o constrangimento de se haver associado aos aloprados que seguem para Brasília.

    Não se pode prever o que irá ocorrer na capital federal na quarta-feira (27/5), mas certamente não será a grande festa cívica que esperavam os organizadores do protesto. Nesse período, o núcleo principal das propostas de ajuste econômico já terá sido aprovado, ou uma nova agenda estará acertada entre o Executivo e o Congresso Nacional.

    Analistas acreditados pela imprensa já registram uma redução das tensões entre os poderes, que vêm sendo estimuladas pela mídia desde a posse da presidente Dilma Rousseff em segundo mandato.

    A decisão da presidente, de elevar a alíquota da Contribuição Social sobre o lucro líquido dos bancos, tende a reconciliá-la com parte de seu eleitorado, pela simbologia da medida, combinada com a manutenção da carência de um mês para pagamento de abono salarial, que beneficia os trabalhadores.

    Tudo de que os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, não precisam, neste momento, é barulho de manifestantes. O “mico” do impeachment fica com o PSDB, que vai ter que explicar, daqui para a frente, se considera que eleição é para valer ou se, nas próximas disputas, caso venham a ser derrotados novamente, os tucanos irão outra vez mobilizar a “coluna Aécio”.

     

  4. Maria Lucia Fatorelli: Banqueiros capturaram o Estado brasileiro
    Maria Lucia Fatorelli: Banqueiros capturaram o Estado brasileiro; auditoria levaria a desconto de 70% na dívida; BC mascara dados publicado em 11 de agosto de 2013 às 17:13  por Luiz Carlos AzenhaO documento acima é oficialíssimo. Está nas páginas do Senado brasileiro. Leia a linha de número dois, sob Pago:R$ 134 bilhões, 53 milhões, 618 mil e 451 reais.É quanto você pagou em juros da dívida brasileira em 2012, segundo o governo (mas há controvérsias, sobre as quais você vai saber abaixo).Agora leia a linha de número seis, sob Pago:R$ 618 bilhões, 888 milhões, 549 mil e 837 reais.É quanto você pagou em amortização/refinanciamento da dívida em 2012.Uma enormidade, não?Pois Maria Lúcia Fatorelli acredita que, se houvesse uma auditoria, o valor devido poderia ter uma redução de até 70%.Por que? A ex-auditora da Receita Federal está certa de que existem ilegalidades e irregularidades nas cobranças da dívida brasileira.Para benefício dos banqueiros e prejuízo dos contribuintes.Escrevo “contribuintes” porque a dívida é paga com dinheiro de nossos impostos. Tudo o que o Tesouro brasileiro faz é pendurar a conta em nosso nome: “procura o gerente” e entrega uma montanha de papéis assumindo que “devo, não nego, pago quando puder”. Com juros, muitos juros, razão de viver dos bancos.Aqui, uma pausa importante: a mídia corporativa não tenta explicar tudo o que você vai ler e ouvir abaixo aos leitores, ouvintes e telespectadores. Por que? Porque os bancos são grandes patrocinadores. Por outro lado, mesmo os governos não gostam de falar do assunto. Quanto mais transparência, menor margem de manobra para os acertos de bastidores. Por isso, em geral os governos fazem de conta que o assunto é muito árduo, muito difícil de entender e que você não precisa se preocupar com isso. Ou seja, deve pagar a ficar quieto.Mas, voltemos ao que interessa…O poder dos banqueiros sempre foi imenso. Eles definem as regras nas duas pontas: desde as condições de emissão dos papéis em que prometemos pagar até as regras da cobrança.Faturam com as comissões sobre as transações e com os juros. Juros altos interessam aos banqueiros. Quanto maiores, mais eles recebem emprestando ao governo.E os cidadãos? Pagam a conta através dos impostos e ficam sem os serviços públicos que o dinheiro dado aos banqueiros poderia financiar. Sem o Metrô, os hospitais e as creches que o dinheiro gasto em juros poderia financiar.Sob o peso da dívida — grosseiramente, R$ 3 trilhões em dívida interna e U$ 400 milhões em dívida externa — o governo privatiza. Aliás, “concede”. Entrega parte da soberania.Entrega à iniciativa privada — cujo objetivo principal, como o dos banqueiros, é o lucro — algo que poderia fazer, possivelmente mais barato, com recursos públicos, se o dinheiro não fosse usado para pagar ou rolar a dívida e os juros.Concede portos e aeroportos. Facilita o acesso a recursos naturais. Em outras palavras, entrega o ouro.Maria Lucia Fatorelli é coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, uma entidade que batalha para que o Brasil faça o mesmo que o Equador fez, em 2007 e 2008. Aliás, uma experiência sobre a qual Maria Lucia pode falar de cátedra. Ela foi convidada pelo presidente equatoriano Rafael Correa a fazer parte da CAIC, a Comissão de Auditoria Integral da Dívida Pública.Resultado final? Boa parte da dívida equatoriana era ilegal. Não havia provas, por exemplo, de que o governo tinha de fato recebido os empréstimos pelos quais estava pagando. Ao fim e ao cabo, o presidente Correia reconheceu apenas 30% da dívida. Curiosamente, 95% dos bancos credores do Equador aceitaram fazer acordo com o governo e renunciaram a qualquer ação nos tribunais internacionais.O Brasil tem hoje uma dívida externa de cerca de U$ 440 bilhões. Uma fatia razoável é de empresas privadas, que tomam dinheiro no Exterior. Mas Maria Lucia está certa de que a fatia pública desta dívida externa, em caso de auditoria, teria um cancelamento tão grande quanto a do Equador, dado que condições similares foram aplicadas ao mesmo tempo nos dois paises por banqueiros internacionais e que, em 1992, parte da dívida dos dois países prescreveu.Prescreveu? Prescreveu e continuamos pagando?Para entender melhor, ouça o trecho da entrevista em que Maria Lucia fala a respeito de seu trabalho no Equador:Durante a gravação Maria Lucia fez duas promessas.Primeiro, nomear os bancos norte-americanos que, através do Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, controlam a taxa de juros que nos é cobrada na dívida externa, a Prime: Citibank, Chase Manhattan, Goldman Sachs, JP Morgan e Bank of America, entre outros. Já a Associação dos Banqueiros de Londres tem peso decisivo na definição da Libor, outra taxa importante no mercado.A auditora também prometeu o gráfico abaixo:A coluna azul é dos gastos sociais no Equador. A coluna vermelha é a do serviço da dívida pública. Notem como ela foi invertida nos últimos anos. É óbvio, mas não custa reafirmar: menos dinheiro pagando juros é mais dinheiro disponível para gastos sociais e investimento em infraestrutura.Maria Lucia acha factível o Brasil fazer o mesmo que o Equador: “Se o Brasil toma uma iniciativa dessas, ele encoraja outros paises a enfrentar o esquema”. O “esquema” a que ela se refere é o sistema pelo qual os banqueiros passaram a capturar fundos públicos para turbinar seu poder no mundo.No trecho seguinte da entrevista, ela explica que a origem da dívida interna brasileira, de quase R$ 3 trilhões, se deu no Plano Real, quando para combater a inflação o governo de FHC disparou a taxa de juros para atrair dinheiro de fora.Desde então, acusa Maria Lucia, o Tesouro brasileiro comete ilegalidade ao emitir dívida para pagar juros, o que segundo ela é inconstitucional:Maria Lucia Fatorelli também teve participação importante na Comissão Parlamentar de Inquérito da dívida, realizada no Congresso (veja todos os detalhes aqui), que gerou denúncias enviadas ao Ministério Público Federal.Na CPI, algumas informações importantes foram levantadas.Por exemplo: quem são os detentores dos títulos da dívida?“Pessoa física mesmo quase não aparece no gráfico”, diz ela.Mais da metade da dívida está nas mãos dos banqueiros.Ou seja, numa ponta eles incentivam o governo a gerar dívida e faturam comissões vendendo a dívida; noutra, faturam com os juros da dívida. Que bom negócio!!!Outro detalhe impressionante diz respeito ao arranjo que existe para a venda dos títulos brasileiros.“O Tesouro, quando emite os títulos, somente um grupo privilegiado de doze instituições financeiras pode comprar esses títulos. Se eu, você, qualquer brasileiro quiser nós vamos ter de comprar através de uma corretora, de um intermediário”, conta Maria Lucia.São os chamados “dealers”.“Olha como o jogo funciona. O Tesouro emite. Se os juros não estão no patamar que eles querem, eles não compram. Por isso é que são os ‘dealers’, eles é que mandam. Antes, eles já se reúnem e já repartem, de tal forma que apenas um, no máximo dois vão participar de cada leilão, para não ter concorrência! Tudo muito bem repartido. É um esquema que a gente, quando descobre essas coisas… não é possível que a finança do País tá desse jeito!”A lista acima é a dos “dealers” a que se referiu Maria Lucia.E como é definida a taxa Selic, a principal taxa de juros do Brasil? Antes da trigésima sexta reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, houve uma consulta a “analistas independentes”.Você que está nos lendo e paga a conta, foi consultado?Ah, lógico que não.Veja quem o BC ouviu, segundo Maria Lucia:Caraca!, exclamaria você. Os banqueiros estão em todas as pontas do negócio.Participam da emissão da dívida, influem nas taxas de juros e recebem a taxa de juros sobre a qual influem!!!Estes são os motivos pelos quais Maria Lucia Fatorelli acredita num grande abatimento da dívida brasileira em caso de auditoria: ilegalidades, conflito de interesses e tráfico de influência, como registrado acima.Ela faz um resumo neste trecho da entrevista:Maria Lucia Fatorelli suspeita que o governo federal esteja fazendo manobras contábeis ao lidar com a dívida e, no curso delas, viola o artigo 167 da Constituição, que não permite emissão de dívida para pagamento de juros.A suspeita nasceu assim: na tabela que aparece logo abaixo, está dito na linha 2 que o Brasil pagou R$ 134 bilhões em juros da dívida em 2012. A taxa média de juros no ano passado, de acordo com o próprio Banco Central, foi de 11,72%.Mas, aplicando a taxa ao estoque total da dívida interna e externa — cerca de R$ 3,4 trilhões no início de 2012 — o número deveria ser muito maior!Nos cálculos de Maria Lucia, o total de juros pagos em 2012 deveria ter sido de R$ 398 bilhões.E onde foi parar a diferença? O gato comeu R$ 264 bilhões em juros?Na opinião da auditora, é a prova de que o governo emite títulos para pagar juros.Com isso, parte substancial do pagamento de juros acaba na coluna “refinanciamento”.Salta da linha 2 para a linha 6:Maria Lucia Fatorelli insiste que isso contraria a Constituição.“Fraude!”, insiste. No trecho da entrevista ela se refere à tabela acima:Ao fim e ao cabo, segundo Maria Lucia, é o peso da dívida que acaba enfraquecendo o endividado Estado brasileiro.Seria o motivo para as concessões de estradas, rodovias, portos e ferrovias anunciadas pelo governo Dilma.Para fazer parecer que o problema não é tão grave quanto é, os cálculos do governo sobre a relação entre a dívida e o PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil, considera a chamada “dívida liquida”, ou seja, o governo desconta as reservas detidas pelo Brasil em dólares, de cerca de U$ 400 bilhões, da equação.Da mesma forma, quando o governo calcula o pagamento de juros como parte do Orçamento, não inclui os juros que, segundo Maria Lucia Fatorelli, estão “embutidos” no refinanciamento da dívida.Seriam truques para fazer parecer que o problema não é tão grave quanto é. Acabam mascarando o domínio dos banqueiros sobre o “sistema”.É por isso que os dois gráficos abaixo, divulgados pela Auditoria da Dívida Cidadã na internet, causam tanta controvérsia. Os governistas acham que só deveriam ser considerados os R$ 134 bilhões oficialmente declarados como juros pagos em 2012, não R$ 753 bilhões que são a soma de juros + amortizações.Ao concluir nossa entrevista, Maria Lucia Fatorelli diz que o crescente grau de endividamento reduz a margem de manobra do governo e o empurra para as privatizações, agora “de estruturas de estado”, não apenas de empresas lucrativas, como aconteceu no período da privataria tucana. Outro ponto controverso,  já que petistas insistem que concessões não equivalem à venda de patrimônio.[Produzir conteúdo próprio custa caro. Ajude-nos, assinando o Viomundo]Maria Lucia opina que o Estado brasileiro hoje serve mais aos banqueiros que aos cidadãos que pagam a conta. Outra opinião capaz de causar um acalorado debate, mas desta vez na federação dos banqueiros, a Febraban, que costuma dizer que os bancos prestam um serviço público, sem admitir que fazem isso também às custas do dinheiro público.Ouçam o trecho final da entrevista:https://soundcloud.com/azenha/quem-d-as-cartas-na-venda-doshttp://www.viomundo.com.br/denuncias/maria-lucia-fatorelli.html

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