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  1. Dilma participa de cerimônia de recepção dos restos mortais do e

    Blog do Bruxo

     

    Dilma participa de cerimônia de recepção dos restos mortais do ex-presidente João Goulart

     

     

    03 de maio, 2015

     João Goulart, unico presidente constitucional a morrer no exílio. Deposto pela Ditadura.Nesta matéria tem três vídeos, um deles, é de apenas 14m34s – a solenidade de chegada do corpo de João Goulart a Brasília, para passar por uma autópsia, pois havia dúvidas se ele poderia ter sido envenenado. O evento aconteceu num hangar da Base Aérea de Brasília, com a Presidenta Dilma, a Primeira Dama Thereza Goulart, familiares e personalidades. É triste, um homem governou este país na busca da democracia, respeito aos direitos democráticos, trabalhistas e evitou uma guerra civil. Voltou para Brasília depois de quase 50 anos no caixão. Um homem que nem é lembrado em nossa história oficial, nos nomes de ruas, praças, escolas…  A capital da ditadura, Luiz Augusto Gollo, 02/5/2015 – foto capa: João Goulart, unico presidente constitucional a morrer no exílio. Deposto pela Ditadura.               http://institutojoaogoulart.org.br/noticia.php?id=13437&back=1                          O movimento contra a construção do Memorial Liberdade e Democracia João Goulart em Brasília deita suas raízes na falta de educação política e de civismo que, afinal, não é privilégio da capital federal. É um repúdio ensaiado que germina em solo impróprio, mas fértil, onde costumam vicejar ódios, rancores, mágoas, ressentimentos e recalques comuns ao consultório do especialista. E como manifestação indevida busca legitimar-se em aleivosias e leviandades tais como atribuir aos mortos juízos que por esta condição não podem confirmar ou desmentir. Paira no ar a dúvida: será que mestre Niemeyer terá projetado o memorial sem saber onde seria erguido? Desde logo rejeito o argumento por suspeito de servir aos interesses dos detratores de Jango, única e exclusivamente a eles. No mesmo viés, não se pode admitir que “Brasília não quer” o memorial. Suponho que a Brasília a que se referem vagamente, ligeiramente, levianamente, não excede o grupelho cujo grão-mestre já tem patenteados não apenas o criador da capital, como também suas iniciais, seu nome e seu sobrenome, e quem sabe seu sorriso e seu aceno de mão. Discurso do Presidente JOÃO GOULART na Central do Brasil completa 50 anos. Por que ele foi derrubado e veio o Golpe de 64:[video:https://youtu.be/dnwJhw4EP_o%5D A julgar pelo alto grau de indignação desse grupo, pode-se imaginar veto ideológico ao governo João Goulart, aos seus planos anunciados há 51 anos e até hoje na agenda nacional; e, nesta hipótese, os opositores à homenagem ao único presidente brasileiro morto no exílio formariam, ombro a ombro, com os militares que o sucederam inconstitucionalmente na presidência da República. Supor-se-ia, também, que este reduzido e exclusivo clube saudosista endossa a infâmia de que Jango era comunista, mas para evitar o anacronismo deste pensamento nos dias em que os EUA reatam com Cuba e a União Soviética é um retrato na parede (qual a Itabira de Drummond) sublimemos esta suposição. No entanto, sob a superfície rasa da falácia que adivinha “dinheiro público” na obra que “agride o patrimônio da humanidade” e outras supostas verdades absolutas se esconde o pensamento arcaico, vetusto e desgastado do anticomunismo cego e surdo aos gritos da contemporaneidade.Para começo de conversa, o Instituto João Goulart não tem verba de governo algum, seus primeiros passos são custeados por doações via internet, no sistema de “crowdfunding”.  Em segundo lugar, o memorial será erguido em terreno apropriado, ao lado do Memorial JK. Não será um templo religioso construído em quadra residencial ao arrepio da legislação do uso do solo no Distrito Federal, nem será um mastro na Praça dos Três Poderes, óbvia agressão ao projeto original de Niemeyer e Lúcio Costa e impune ao fim da ditadura que o plantou.  Em terceiro lugar, o mote segundo o qual Jango “não gostava de Brasília” é de infantilidade espantosa, beira a molecagem. Como se o fato de ser gaúcho (e não mineiro) tornasse Jango menos brasileiro – ou ainda pior: como se Brasília não tivesse em sua história Hélio Prates da Silveira, Arthur da Costa e Silva, Aimé Lamaison, Emílio Médici, Ernesto Geisel, gaúchos a quem jamais foi indagado se lhes agradavam as tesourinhas da capital da república; todos tiveram-na como missão político-administrativa da qual se desincumbiram conforme sua capacidade.De fato, julga-se apenas o presidente deposto João Belchior Marques Goulart, duas vezes vice-presidente da república (a primeira de Juscelino Kubitschek), herdeiro do getulismo desenvolvimentista de Volta Redonda, da Petrobras, do trabalhismo petebista do aumento de cem por cento no salário mínimo nos anos 1950, da criação do décimo terceiro salário em 1962, hoje ameaçado pelo Projeto de Lei da terceirização, de autoria de um antigo correligionário do grupo contrário ao Memorial João Goulart – veja como é a vida, simples e sem mistérios. Como Jango, cuja memória histórica foi restabelecida em caráter oficial pela presidenta Dilma Rousseff há um par de anos apenas. [video:https://youtu.be/yhVjJUWmm6U%5D Aí poderia residir a verdadeira motivação dos que se opõem à criação do Memorial Jango, nas semelhanças de estilo e de objetivos entre os programas de governo de então e de hoje. Os mesmos interessados em manter o povo acabrunhado e silente na ignorância de sua História se insurgiram nas décadas de 1950, 1960 e se insurgem na atual. Os interesses capitalistas internacionais continuam a ditar diretrizes e diatribes aos golpistas de ocasião. É aí, no dinheiro, onde se refugia a ideologia deles.  Não é por temor à figura de João Goulart, mas pelo que ela representa no contexto republicano que se ergue a onda contra a justa homenagem do memorial. É contra toda e qualquer tentativa de construir uma sociedade menos injusta, menos desigual, menos desumana do que a nossa.  Que mal há em Brasília contar em seu acervo arquitetônico com memoriais a JK, Jango, Vargas e outros que tenham trazido progresso econômico e social ao país? Qual o desdouro em dedicar um trecho do eixo Monumental a esses monumentos?  Qual o problema real, onde está o incômodo que tanto irrita o grupo que se opõe ao Memorial Liberdade e Democracia João Goulart?  Pesquisando declarações, esmiuçando argumentos e destrinchando alegações, não se logra alcançar o mínimo motivo legítimo, à exceção daquele jamais explicitado, que é manter o feudo e seus senhores, à revelia dos avanços e das conquistas populares.  Há trinta anos se disse que o fim do regime militar trouxera ao poder a “vanguarda do atraso”. É a mesma mentalidade que pretende manter para sempre Brasília como “a capital da ditadura”; não como a cidade futurista construída por Juscelino. Dilma participa de cerimônia de recepção dos restos mortais do ex-presidente João Goulart [video:https://youtu.be/uglsWfWeLPk%5D Publicado em 21 de nov de 2013 – Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), autores do projeto, argumentaram que a declaração de vacância da Presidência foi inconstitucional, porque a perda do cargo só se daria em caso de viagem internacional sem autorização do Congresso, e o presidente João Goulart se encontrava em local conhecido e dentro do país. Eu estava com ele, em Porto Alegre — disse emocionado, Pedro Simon, ao relatar os acontecimentos dramáticos relacionados à deposição de Jango. Simon exaltou a coragem e a responsabilidade de Jango ante a possibilidade de uma guerra civil e até de uma intervenção norte-americana.  O momento é histórico. Este Congresso restabeleceu a verdade histórica. Viva o presidente João Goulart! – disse o senador, que classificou a sessão de 1964 de “estúpida”, “ridícula” e “imoral”. Ele sublinhou que aprovação da proposta reconstitui a verdade para o povo brasileiro e permite que a história seja ensinada de maneira diferente nas escolas e universidades. Nós não temos desejo de vingança, nem ódio, nem mágoa. Não temos nada disso. Nós queremos apenas reconstituir a história. Quem ler vai saber — afirmou.Após o início do golpe de Estado, em 31 de março de 1964, o presidente João Goulart decidiu ir a Porto Alegre a fim de encontrar aliados políticos e estudar como poderia resistir ao golpe de Estado. Foi nesse período que o então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República. Simon conta que o general Kruel, aquele que recebeu seis malas de dólares, tentou chantagear Jango. Simon conta que Jango não resistiu porque os americanos queriam dividir o Brasil em Norte e Sul. O PiG era uma só voz: estava no Golpe, imoralmente. Até a Globo pede desculpas ao Brasil. Simon lembra que Jango foi eleito vice duas vezes pelo voto popular, direto.  [video:https://youtu.be/v3piYgoIaA8%5D  Milton Nascimento – Coração de estudante (1983)  [video:https://youtu.be/lKFPmun4YYU%5D  Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar. A música Coração de Estudante, composta por Milton Nascimento e Wagner Tiso, ganhou as rádios do País em 1983. E conquistou um fã especial: Tancredo Neves, o político conterrâneo dos compositores mineiros, que dizia ser uma de suas músicas preferidas. A canção, no entanto, foi composta originalmente por Tiso para outro líder político. Era um dos temas instrumentais do documentário Jango, do diretor Silvio Tendler, em homenagem a João Goulart, presidente deposto pelo golpe militar em 1964.

    http://blogdobruxo.com.br/page/noticia/joao-goulart-unico-presidente-constitucional-a-morrer-no-exilio-deposto-pela-ditadura-

  2. Brasil, exemplo para o mundo, apesar do terrorismo do PIG

    Publicado em 27/07/2015 no Conversa Afiada

    Brasil atingiu as metas
    do milênio. Chora, FHC, chora!

    As metas brasileiras eram mais ambiciosas que as da ONU!

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    De Pedala Direita, no facebook

    Na EBC:

     

    Brasil atingiu metas de redução de pobreza da ONU

    A especialista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, Renata Rubian, afirmou que o Brasil conseguiu atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ODMs, em relação à pobreza e à fome.

    Em Nova York, Rubian disse em entrevista à Rádio ONU que o país buscou metas bem mais ambiciosas do que as determinadas pelas ODMs.

    “Por exemplo, a meta de redução da pobreza no Brasil não é de 50%, a meta de redução do Brasil que o governo adotou é de reduzir a 25% a incidência da pobreza extrema. A meta de redução da fome no Brasil também não é de redução de incidência de 50%. É uma meta de erradicação da fome”.

    Em relação aos países de língua portuguesa, ela citou resultados mistos. Rubian falou sobre a situação em Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e Timor-Leste, que registrou avanços no setor de saúde.

    “O Timor-Leste ainda não atingiu a meta de redução de pobreza, mas a genete vê que o Timor é um sucesso, na verdade, na redução da mortalidade infantil e na melhoria da saúde materna. No caso dos países africanos, é uma situação complexa. A gente vê, por exemplo, Angola e Moçambique que têm um crescimento econômico astronômico. Angola, a gente sabe muito bem de todas as riquezas naturais, como diamantes e petróleo. Mas infelizmente, no caso de Angola e Moçambique, esse crescimento econômico não se traduziu numa redução da pobreza.”

    No caso da Guiné-Bissau, Rubian disse que o país enfrentou mais desafios devido a instabilidade política e acabou não registrando avanços na redução da pobreza.

    No geral, a especialista do Pnud afirmou que o mundo conseguiu reduzir a taxa de pobreza de 36% em 1990, para 15% atualmente.

    Segundo ela, os grupos mais afetados pela pobreza extrema são as mulheres, os idosos, as pessoas com deficiências e as minorias étnicas.

    Dados

    Rubian disse que houve um avanço no plano global, em termos absolutos, mas quando analisados os dados agregados, os desafios continuam em várias áreas.

    “O que a gente vê é que o Brasil já atingiu a meta internacional de redução da pobreza extrema, de US$ 1,25 (por dia de trabalho). Mas existem vários desafios que são as regiões do nordeste, as regiões do norte, onde a incidência de pobreza extrema ainda é um problema agudo e crônico.”

    No caso do objetivo 8, da parceria para o desenvolvimento global, Rubian explica que ele propõe mudanças em vários setores como o financeiro, principalmente no comércio internacional.

    Ainda na lista estão negociações para o perdão da dívida externa de países, acesso a medicamentos e à tecnologia.

    “Em termos de tecnologia a gente pode dizer que essa é uma área de tremendo sucesso. A gente até compara… em vários países uma pessoa pobre tem acesso a um telefone celular mas não tem acesso a um banheiro, a um vaso sanitário. É um dado estatístico triste mas é a realidade. Em relação à telefonia celular foi um momento enorme e temos 95% da população, a gente calcula, com acesso a um telefone celular.”

    Agenda Pós-2015

    Renata Rubian falou também sobre como a luta contra a pobreza e a fome e os esforços para o desenvolvimento se encaixam na nova agenda sustentável pós-2015, que será aprovada em setembro.

    A especialista do Pnud chamou a atenção para os princípios de sustentabilidade que vão estar incluídos no novo documento.

    Ela citou o princípio da integração entre os fatores sociais, econômicos e ambientais e também o da universalidade, que tem duas dimensões.

    Rubian explicou que a agenda será aplicada a todos os países: desenvolvidos e em desenvolvimento e trará metas universais, como por exemplo, acabar mundialmente com a pobreza e a fome até 2030.

  3. É sobre o Big Brother do Moro

    Odebrecht “peita” Moro: Lava Jato é um “reality show”

    28 de julho de 2015 | 02:19 Autor: Fernando Brito no Tijolaço

    escuta

    É impressionante a peça oferecida pela defesa de Marcelo Odebrecht em resposta ao “pedido de explicações” dirigido ao acusado pelo Juiz Sérgio Moro.

    Claro que a imprensa, como fazem a Folha, Estadão e O Globo “puxam” para o fato de que não se “apresentou explicações” sobre as anotações do executivo.

    A pergunta obvia é sobre qual o dever de apresentar explicações sobre fatos que não se constituem, em princípio, em ilícitos e nem mesmo em indícios de que possam ser ou ter relação com outros dos que o pretendem acusar.

    É nenhum, em qualquer sistema de Justiça que não tenha como regras as da fábula do lobo.

    Mas a dureza da peça vai além.

    A comparação da Lava Jato com um “reality show faz uma evidente comparação com a “Casa do Big Moro Brasil”, onde os participantes ficam enclausurados, pressionados e monitorados enquanto são preparados para a ida ao “paredão”, onde disputarão entre si aqueles que  serão eliminados ou os que cairão nas boas graças do público.

    A defesa – exercida pelos advogados Dora Cavalcanti Cordani, Augusto de Arruda Botelho e Rafael Tucherman – aliás, só comenta uma das especulações servidas para a imprensa: as sobre uma menção a “LJ” e a “ações B”, como se fossem referências à Lava Jato e a iniciativas extra-legais, afirmando que se tratam, na verdade, das iniciais do colunista da Veja, Lauro Jardim e das ações da Braskem, gigante petroquímica controlada pela Odebrecht em sociedade com a própriaPetrobras.

    Mas, de fato, importa menos a defesa técnica e pontual, porque as acusações não são, em geral, também técnicas.

    O texto da Odebrecht é político.

    Ao questionar abertamente não apenas as acusações, mas os métodos empregados para formulá-la e a parcialidade do Dr. Sérgio Moro –  afirmando que “parece fazer ouvidos de mercador” a qualquer argumento da defesa, aos agentes da Polícia Federal e à Força Tarefa do Ministério Público no caso,  fica claro que a decisão de Marcelo Odebrecht e sua empresa é a de enfrentamento  e não a de se amoldar, via “delação” , à acusação que recebe.

    O que era, aliás, a regra, antes que quatro meses de prisão “provisória” transformassem a operação num amontoado de delações de parte a parte, onde uma dúzia e meia de pessoas dizem o que a polícia e o MP querem que digam.

    É claro que nem Marcelo nem sua defesa esperam que argumentos e questionamentos vão impressionar Moro.

    São apenas preparatórios para outras instancias judiciais.

    Se nelas vão ter algum sucesso, diante do chantageamento que sobre todas exerce a pressão midiática é outra história.

    Leia a petição da defesa de Marcelo Odebrecht, publicada na íntegra pelo site Jota, especializado em cobertura de tribunais e veja se não é mais uma peça de ataque que defesa:

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

    Pedido de Busca e Apreensão Criminal no 5024251-72.2015.4.04.7000

    MARCELO BAHIA ODEBRECHT, nos autos do Pedido de Busca e Apreensão em epígrafe, vem, por seus advogados, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, em atenção ao r. despacho lançado no Evento 437, expor o quanto segue:

    Desde a prisão do peticionário, há mais de um mês, teve início a caça a alguma centelha de prova que pudesse, enfim, legitimar uma segregação baseada no nada.

    Depois do emprego deturpado da teoria do domínio do fato, da utilização de uma mensagem eletrônica de quatro anos atrás (que nem foi o paciente quem mandou e que Vossa Excelência mesmo reconheceu que precisa ser mais bem investigada), e da transformação da presunção de inocência e do exercício do direito de defesa em causas de encarceramento, era mesmo de se imaginar que houvesse uma busca por algo que disfarçasse a colossal ilegalidade da custódia de MARCELO.

    Polícia e Ministério Público Federal engajaram-se na missão com afinco, e para tanto deixaram a razoabilidade de lado.

    O Parquet adotou estratégia tão clara quanto intolerável: tudo que surgisse relacionado a qualquer executivo de empresas do grupo Odebrecht seria, automaticamente, imputado também ao requerente. Por tudo, leia- se tudo mesmo – desde documentos velhos de autenticidade duvidosíssima, engavetados para serem usados a conta-gotas, até uma artificiosa correlação entre telefonemas e depósitos bancários lógica e cronologicamente estapafúrdia, e sempre sem qualquer liame com MARCELO.

    A Polícia Federal não ficou atrás. Chegou mesmo a violar o sigilo da comunicação entre o preso e seus advogados, transformando um bilhete com tópicos para a discussão de Habeas Corpus – entregues aos defensores por um agente penitenciário, depois de ter sido a ele passado pelo requerente! – em uma esdrúxula ordem voltada ao cometimento do que seria o mais impossível dos crimes: destruir fisicamente aquela mesma mensagem eletrônica, há muito estampada no relatório policial, no decreto prisional e em dezenas de páginas de internet Brasil afora.

    Já em despacho do último dia 21, Vossa Excelência instou a defesa a se pronunciar sobre o novo capítulo da tentativa de coonestar a prisão do peticionário. Dessa feita, a autoridade policial apresentou, em anexo ao Relatório Parcial do Inquérito 5071379-25.2014.4.04.7000, um relatório de análise de notas contidas em telefone celular apreendido na residência do requerente.

    Em seu afã de incriminar MARCELO a todo custo, a Polícia Federal nem se deu ao trabalho de tentar esclarecer as anotações com a única pessoa que poderia interpretá-las com propriedade – seu próprio autor. Ao reverso, tomou desejo por realidade e precipitou-se a cravar significados que gostaria que certos termos e siglas tivessem.

    E, mais uma vez, transformou as peculiaridades do processo eletrônico em sua aliada na tática de atirar primeiro e perguntar depois. Sabedora de que a livre distribuição de chaves eletrônicas tornou os processos da Lava Jato uma espécie de reality show judiciário, a polícia lançou no mundo as anotações pessoais de MARCELO e as tortas interpretações que deu a elas, e aguardou que fossem quase instantaneamente noticiadas como verdades absolutas.

    Houvesse tido a cautela que sua função exige, e a Polícia Federal teria evitado a barbaridade que, conscientemente ou não, acabou por cometer: levou a público segredos comerciais de alta sensibilidade em nada relacionados aos pretensos fatos sob apuração, expôs terceiros sem relação alguma com a investigação e devassou mensagens particulares trocadas entre familiares do peticionário, que logo caíram no gosto de blogs sensacionalistas.

    Lamentavelmente, a obstinação investigativa e persecutória de autoridades que atuam na Lava Jato parece ter turvado sua compreensão de que o país não se resume a um caso criminal. Há indivíduos, famílias, empresas, finanças, obras e empregos em jogo – no caso das empresas do grupo Odebrecht, são mais de 160.000! –, que deveriam impor um mínimo de cuidado na análise e divulgação de documentos e informações por parte dos agentes públicos, ao menos até que bem esclarecidos seu conteúdo e eventual pertinência com as apurações.

    Com a intimação lançada no Evento 437, a defesa até imaginou que esse MM. Juízo decidira impor alguma ordem às coisas. Não obstante já então houvesse sinalizado que estava tendente a encampar as desatinadas interpretações da autoridade policial, ao menos optara por ouvir previamente a defesa sobre as anotações que, conforme vossas palavras, estavam todas sujeitas a interpretação.

    Todavia, a inobservância injustificada da contagem de prazo do processo eletrônico para a defesa se manifestar, bem como a iniciativa de Vossa Excelência – estranha ao sistema acusatório que vigora em nosso país – de dragar documentos de inquérito que estava com vista ao Ministério Público Federal para oferecimento de denúncia já faziam prever o que viria.

    Um dia depois de conceder o prazo que se esgota na data de hoje, Vossa Excelência não esperou os esclarecimentos da defesa para decretar de novo a prisão do peticionário, com fundamento exatamente naquelas anotações sujeitas à interpretação!

    Escancarado, desse modo, que a busca da verdade não era nem de longe a finalidade da intimação, a defesa não tem motivos para esclarecer palavras cujo pretenso sentido Vossa Excelência já arbitrou.

    Inútil falar para quem parece só fazer ouvidos de mercador.

    O peticionário deplora, isso sim, o rematado absurdo de se considerar anotações pessoais a si mesmo dirigidas, meras manifestações unilaterais de seu pensamento, como atos efetivamente executados ou ordens de fato passadas. Ainda que o conteúdo dos registros fosse aquele nascido das criativas mentes policiais, rematado absurdo, nada indica que eles de algum modo tiveram repercussão prática, ou seja, que foram de fato implementados ou determinados a terceiros.

    De mais a mais, o relatório de análise condensa anotações inseridas no campo “tarefas” do programa Outlook ao longo do tempo, umas em sobreposição a outras, sem qualquer ordem cronológica, muitas delas inclusive com seu conteúdo cortado automaticamente pelo programa por limitações de espaço no campo em que digitadas.

    Impressiona, igualmente, a dubiedade do discurso de Vossa Excelência. De um lado, quando intima a defesa, assevera que “tudo está sujeito à interpretação”. De outro, porém, antes mesmo de ouvir explicações, prende novamente quem já está preso dando por certo aquilo tudo que estava sujeito a interpretação!

    Isto é: mesmo sem poder assegurar o sentido das anotações, e muito menos se elas surtiram efeito prático, Vossa Excelência não hesitou em empregá-las para o mais drástico propósito.

    Ademais, esse ínclito Magistrado acabou por encampar o indecoroso uso que a Polícia Federal fez daquilo que a r. decisão tachou de “o trecho mais perturbador” das anotações.

    Nos dizeres do relatório policial, quando o requerente escreveu “dissidentes PF”, ele estaria se referindo à Polícia Federal, e teria “a intenção de usar os ‘dissidentes’ para de alguma forma atrapalhar o andamento das investigações”. E mais: “se levarmos em consideração as matérias (grampos na cela, descoberta de escuta, vazamento de gás, dossiês) veiculadas nos vários meios de comunicação, nos últimos meses, que versam sobre uma possível crise dentro do Departamento de Polícia Federal, poder-se-ia, hipoteticamente, concluir que tal plano já estaria em andamento”.

    A perfídia é inominável.

    Às voltas com denúncias reportadas por seus próprios integrantes de que membros da Força-Tarefa teriam plantado uma escuta ilegal na cela de presos, e depois tentado acobertar fraudulentamente esse gravíssimo fato, o Delegado de Polícia Federal que assina o relatório do inquérito insinua que por trás disso estaria…o peticionário! E não só desse fato, como também de um “vazamento de gás” nas dependências daquele Departamento!

    Ao que parece, quem tem um “plano em andamento” é uma parcela da própria Polícia Federal: expiar seus aparentes pecados à custa de MARCELO, para tanto subvertendo o sentido de palavras e adivinhando o significado de siglas na forma que lhe convém.

    Aliás, será que Alberto Youssef, que desfruta de infinita credibilidade perante a Polícia, Ministério Público e esse MM. Juízo Federal, também faz parte do “plano em andamento” levianamente atribuído ao requerente?

    Afinal, não custa lembrar que foi o eterno delator quem revelou a existência da escuta em sua cela, e afirmou categoricamente que sabia estar sendo monitorado desde o primeiro dia de prisão pela escuta que a Polícia Federal, até hoje, afirma que se encontrava desativada àquele tempo…

    Ora, uma leitura minimamente neutra das anotações selecionadas pelo agente policial que figurou como analista destacaria também as inúmeras passagens que revelam a preocupação do peticionário em esclarecer sociedade e mercado, além de dar guarida a medidas de investigação independente e de apuração interna (Evento 124, Anexo 11, pp. 3, 4 e 8, por exemplo).

    Preferiu-se, entretanto, tomar “LJ” por Lava Jato ao invés de Lauro Jardim, e “ações B” como providências do submundo, e não como alusões justamente à nota sobre a auditoria interna da Braskem publicada na mesma coluna:

    Economia – Nova postura

    Desde que as investigações, grampos, depoimentos de presos e delações premiadas foram envolvendo a Odebrecht na roubalheira da Petrobras, a empresa manteve uma postura imutável: negava tudo em comunicados escritos em tom peremptório, beirando o raivoso. Foram dezenas de textos escritos neste diapasão.

    Agora, há algo de novo no ar. A Braskem, sociedade entre a Odebrecht e Petrobras, mandou à CVM um comunicado em que “à luz das alegações de supostos pagamentos indevidos para seu favorecimento em contratos celebrados com a Petrobras “, admite que “deu início a um procedimento de investigação interna”.

    Certamente, não por vontade própria, mas por uma obrigação com o mercado de ações – não só brasileiro, pois a Braskem tem também ADRs negociadas na Bolsa de Nova York.

    Informou também que contratou “escritórios de advocacia no Brasil e nos EUA com reconhecida experiência em casos similares para conduzir a investigação”. Não disse, porém, que escritórios são esses.

    Por Lauro Jardim

    Tags: Braskem, Lava-Jato, Odebrecht

    Braskem: investigação interna

    Enfim, uma vez oferecida a denúncia, e porventura recebida em parte ou na sua integralidade, cumpre respeitar-se daqui em diante o rito do Código de Processo Penal, reservando-se o interrogatório do acusado para o final da instrução.

    Esse o contexto, além de lamentar que o empenho em se lhe aplicar pena sem processo tenha chegado a esse ponto, o peticionário requer o imediato desentranhamento dos autos do inquérito policial de informações, notas ou conversas privadas que não possuam relação com o caso, de modo a evitar a indevida exposição de terceiros alheios à apuração.

    Requer ainda seja prontamente determinado à Polícia Federal que se abstenha de lançar, neste ou em quaisquer outros autos do sistema e- proc, documentos físicos ou eletrônicos sem prévia definição de pertinência com o objeto dos autos. Na eventual impossibilidade de assim se proceder, de rigor sejam gravados daqui em diante com grau mais elevado de sigilo os documentos carreados para os autos, na medida em que o nível atual de sigilo do processo eletrônico em tela não tem logrado impedir reiterados vazamentos na imprensa.

    Termos em que,
    Pede deferimento.

     

  4. O país não resistirá ao banditismo midiático

    Publicado em 27/07/2015 no Conversa Afiada

    Gabrielli enfrenta 
    a máquina de lama

    “Nunca recebi quadros”, afirma Gabrielli sobre matéria do Estadão

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    O Conversa Afiada reproduz nota de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras.

    Prezad@s,

    Gostaria de compartilhar com vocês minha indignação com dois atuais episódios de massacre midiático a que fui submetido neste fim de semana: a ampla divulgação de um relatório de peritos policiais, sugerindo a quebra de meus sigilos bancários e fiscal, e um suposto brinde com pinturas de alto valor, oferecido pela Odebrecht, segundo o Ministério Público Federal do Paraná.

    No primeiro caso, o Estadão publicou a minha resposta na íntegra em que eu dizia:

    “Não tenho qualquer temor com a quebra do meu sigilo fiscal ou bancário em relação a comportamentos ilícitos. Todas as minhas operações financeiras e tributarias se pautaram pela extrema transparência e legalidade. Tenho, no entanto indignação com o abuso de poder que é determinar esta invasão de privacidade, sem indícios de ilicitudes, somente para testar as hipóteses dos policiais que acham que talvez eles possam existir O material divulgado sequer levanta qualquer dúvida, como no trecho a seguir, retirado do material vazado seletivamente – ‘Por fim tem o próprio Gabrielli como ultima tentativa, que poderia fazer. Ele não gosta da gente (Suzano, Quattor, sondas), mas a tese eh boa e talvez quem sabe?’.”

    Acontece que esta notícia foi reproduzida, até o sábado, por mais de 170 veículos pelo pais afora e a maioria destas publicações omitia completamente a minha resposta, ou a cortava, limitando-se a reproduzir apenas a sua primeira frase. As manchetes destacavam a quebra do sigilo, insinuando culpabilidade a priori.

    O outro episódio é de hoje, segunda feira. No sábado, às 11:12 hs uma repórter do Estadão manda um email solicitando uma resposta sobre a acusação de que eu teria recebido “pinturas de alto valor”, como brinde da Odebrecht. Por várias razões estive desconectado da Internet, no sábado e domingo, e só vi o email na manhã de hoje.

    Mandei para o Estadão a seguinte resposta:

    Estive sem conexão com a Internet neste fim de semana e não pude responder a tempo seu email enviado no final da manha de sábado.

    É absolutamente falsa a informação de que recebi “pinturas de alto valor” como brindes da empresa Odebrecht. Os brindes que recebi foram livros editados pela empresa e outros brindes típicos. Nunca recebi quadros.

    De novo, a enorme reprodução da nota do Estadão, com informação completamente desprovida de veracidade, vira verdade pela sua repetição sucessiva.

    José Sérgio Gabrielli”

     

     

  5. Odebrecht “peita” Moro: Lava Jato é um “reality show”

    Tijolaço

    Odebrecht “peita” Moro: Lava Jato é um “reality show”

     

    28 de julho de 2015 | 02:19 Autor: Fernando Brito 

    escuta

    É impressionante a peça oferecida pela defesa de Marcelo Odebrecht em resposta ao “pedido de explicações” dirigido ao acusado pelo Juiz Sérgio Moro.

    Claro que a imprensa, como fazem a Folha, Estadão e O Globo “puxam” para o fato de que não se “apresentou explicações” sobre as anotações do executivo.

    A pergunta obvia é sobre qual o dever de apresentar explicações sobre fatos que não se constituem, em princípio, em ilícitos e nem mesmo em indícios de que possam ser ou ter relação com outros dos que o pretendem acusar.

    É nenhum, em qualquer sistema de Justiça que não tenha como regras as da fábula do lobo.

    Mas a dureza da peça vai além.

    A comparação da Lava Jato com um “reality show faz uma evidente comparação com a “Casa do Big Moro Brasil”, onde os participantes ficam enclausurados, pressionados e monitorados enquanto são preparados para a ida ao “paredão”, onde disputarão entre si aqueles que  serão eliminados ou os que cairão nas boas graças do público.

    A defesa – exercida pelos advogados Dora Cavalcanti Cordani, Augusto de Arruda Botelho e Rafael Tucherman – aliás, só comenta uma das especulações servidas para a imprensa: as sobre uma menção a “LJ” e a “ações B”, como se fossem referências à Lava Jato e a iniciativas extra-legais, afirmando que se tratam, na verdade, das iniciais do colunista da Veja, Lauro Jardim e das ações da Braskem, gigante petroquímica controlada pela Odebrecht em sociedade com a própriaPetrobras.

    Mas, de fato, importa menos a defesa técnica e pontual, porque as acusações não são, em geral, também técnicas.

    O texto da Odebrecht é político.

    Ao questionar abertamente não apenas as acusações, mas os métodos empregados para formulá-la e a parcialidade do Dr. Sérgio Moro –  afirmando que “parece fazer ouvidos de mercador” a qualquer argumento da defesa, aos agentes da Polícia Federal e à Força Tarefa do Ministério Público no caso,  fica claro que a decisão de Marcelo Odebrecht e sua empresa é a de enfrentamento  e não a de se amoldar, via “delação” , à acusação que recebe.

    O que era, aliás, a regra, antes que quatro meses de prisão “provisória” transformassem a operação num amontoado de delações de parte a parte, onde uma dúzia e meia de pessoas dizem o que a polícia e o MP querem que digam.

    É claro que nem Marcelo nem sua defesa esperam que argumentos e questionamentos vão impressionar Moro.

    São apenas preparatórios para outras instancias judiciais.

    Se nelas vão ter algum sucesso, diante do chantageamento que sobre todas exerce a pressão midiática é outra história.

    Leia a petição da defesa de Marcelo Odebrecht, publicada na íntegra pelo site Jota, especializado em cobertura de tribunais e veja se não é mais uma peça de ataque que defesa:

    EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

    Pedido de Busca e Apreensão Criminal no 5024251-72.2015.4.04.7000

    MARCELO BAHIA ODEBRECHT, nos autos do Pedido de Busca e Apreensão em epígrafe, vem, por seus advogados, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, em atenção ao r. despacho lançado no Evento 437, expor o quanto segue:

    Desde a prisão do peticionário, há mais de um mês, teve início a caça a alguma centelha de prova que pudesse, enfim, legitimar uma segregação baseada no nada.

    Depois do emprego deturpado da teoria do domínio do fato, da utilização de uma mensagem eletrônica de quatro anos atrás (que nem foi o paciente quem mandou e que Vossa Excelência mesmo reconheceu que precisa ser mais bem investigada), e da transformação da presunção de inocência e do exercício do direito de defesa em causas de encarceramento, era mesmo de se imaginar que houvesse uma busca por algo que disfarçasse a colossal ilegalidade da custódia de MARCELO.

    Polícia e Ministério Público Federal engajaram-se na missão com afinco, e para tanto deixaram a razoabilidade de lado.

    O Parquet adotou estratégia tão clara quanto intolerável: tudo que surgisse relacionado a qualquer executivo de empresas do grupo Odebrecht seria, automaticamente, imputado também ao requerente. Por tudo, leia- se tudo mesmo – desde documentos velhos de autenticidade duvidosíssima, engavetados para serem usados a conta-gotas, até uma artificiosa correlação entre telefonemas e depósitos bancários lógica e cronologicamente estapafúrdia, e sempre sem qualquer liame com MARCELO.

    A Polícia Federal não ficou atrás. Chegou mesmo a violar o sigilo da comunicação entre o preso e seus advogados, transformando um bilhete com tópicos para a discussão de Habeas Corpus – entregues aos defensores por um agente penitenciário, depois de ter sido a ele passado pelo requerente! – em uma esdrúxula ordem voltada ao cometimento do que seria o mais impossível dos crimes: destruir fisicamente aquela mesma mensagem eletrônica, há muito estampada no relatório policial, no decreto prisional e em dezenas de páginas de internet Brasil afora.

    Já em despacho do último dia 21, Vossa Excelência instou a defesa a se pronunciar sobre o novo capítulo da tentativa de coonestar a prisão do peticionário. Dessa feita, a autoridade policial apresentou, em anexo ao Relatório Parcial do Inquérito 5071379-25.2014.4.04.7000, um relatório de análise de notas contidas em telefone celular apreendido na residência do requerente.

    Em seu afã de incriminar MARCELO a todo custo, a Polícia Federal nem se deu ao trabalho de tentar esclarecer as anotações com a única pessoa que poderia interpretá-las com propriedade – seu próprio autor. Ao reverso, tomou desejo por realidade e precipitou-se a cravar significados que gostaria que certos termos e siglas tivessem.

    E, mais uma vez, transformou as peculiaridades do processo eletrônico em sua aliada na tática de atirar primeiro e perguntar depois. Sabedora de que a livre distribuição de chaves eletrônicas tornou os processos da Lava Jato uma espécie de reality show judiciário, a polícia lançou no mundo as anotações pessoais de MARCELO e as tortas interpretações que deu a elas, e aguardou que fossem quase instantaneamente noticiadas como verdades absolutas.

    Houvesse tido a cautela que sua função exige, e a Polícia Federal teria evitado a barbaridade que, conscientemente ou não, acabou por cometer: levou a público segredos comerciais de alta sensibilidade em nada relacionados aos pretensos fatos sob apuração, expôs terceiros sem relação alguma com a investigação e devassou mensagens particulares trocadas entre familiares do peticionário, que logo caíram no gosto de blogs sensacionalistas.

    Lamentavelmente, a obstinação investigativa e persecutória de autoridades que atuam na Lava Jato parece ter turvado sua compreensão de que o país não se resume a um caso criminal. Há indivíduos, famílias, empresas, finanças, obras e empregos em jogo – no caso das empresas do grupo Odebrecht, são mais de 160.000! –, que deveriam impor um mínimo de cuidado na análise e divulgação de documentos e informações por parte dos agentes públicos, ao menos até que bem esclarecidos seu conteúdo e eventual pertinência com as apurações.

    Com a intimação lançada no Evento 437, a defesa até imaginou que esse MM. Juízo decidira impor alguma ordem às coisas. Não obstante já então houvesse sinalizado que estava tendente a encampar as desatinadas interpretações da autoridade policial, ao menos optara por ouvir previamente a defesa sobre as anotações que, conforme vossas palavras, estavam todas sujeitas a interpretação.

    Todavia, a inobservância injustificada da contagem de prazo do processo eletrônico para a defesa se manifestar, bem como a iniciativa de Vossa Excelência – estranha ao sistema acusatório que vigora em nosso país – de dragar documentos de inquérito que estava com vista ao Ministério Público Federal para oferecimento de denúncia já faziam prever o que viria.

    Um dia depois de conceder o prazo que se esgota na data de hoje, Vossa Excelência não esperou os esclarecimentos da defesa para decretar de novo a prisão do peticionário, com fundamento exatamente naquelas anotações sujeitas à interpretação!

    Escancarado, desse modo, que a busca da verdade não era nem de longe a finalidade da intimação, a defesa não tem motivos para esclarecer palavras cujo pretenso sentido Vossa Excelência já arbitrou.

    Inútil falar para quem parece só fazer ouvidos de mercador.

    O peticionário deplora, isso sim, o rematado absurdo de se considerar anotações pessoais a si mesmo dirigidas, meras manifestações unilaterais de seu pensamento, como atos efetivamente executados ou ordens de fato passadas. Ainda que o conteúdo dos registros fosse aquele nascido das criativas mentes policiais, rematado absurdo, nada indica que eles de algum modo tiveram repercussão prática, ou seja, que foram de fato implementados ou determinados a terceiros.

    De mais a mais, o relatório de análise condensa anotações inseridas no campo “tarefas” do programa Outlook ao longo do tempo, umas em sobreposição a outras, sem qualquer ordem cronológica, muitas delas inclusive com seu conteúdo cortado automaticamente pelo programa por limitações de espaço no campo em que digitadas.

    Impressiona, igualmente, a dubiedade do discurso de Vossa Excelência. De um lado, quando intima a defesa, assevera que “tudo está sujeito à interpretação”. De outro, porém, antes mesmo de ouvir explicações, prende novamente quem já está preso dando por certo aquilo tudo que estava sujeito a interpretação!

    Isto é: mesmo sem poder assegurar o sentido das anotações, e muito menos se elas surtiram efeito prático, Vossa Excelência não hesitou em empregá-las para o mais drástico propósito.

    Ademais, esse ínclito Magistrado acabou por encampar o indecoroso uso que a Polícia Federal fez daquilo que a r. decisão tachou de “o trecho mais perturbador” das anotações.

    Nos dizeres do relatório policial, quando o requerente escreveu “dissidentes PF”, ele estaria se referindo à Polícia Federal, e teria “a intenção de usar os ‘dissidentes’ para de alguma forma atrapalhar o andamento das investigações”. E mais: “se levarmos em consideração as matérias (grampos na cela, descoberta de escuta, vazamento de gás, dossiês) veiculadas nos vários meios de comunicação, nos últimos meses, que versam sobre uma possível crise dentro do Departamento de Polícia Federal, poder-se-ia, hipoteticamente, concluir que tal plano já estaria em andamento”.

    A perfídia é inominável.

    Às voltas com denúncias reportadas por seus próprios integrantes de que membros da Força-Tarefa teriam plantado uma escuta ilegal na cela de presos, e depois tentado acobertar fraudulentamente esse gravíssimo fato, o Delegado de Polícia Federal que assina o relatório do inquérito insinua que por trás disso estaria…o peticionário! E não só desse fato, como também de um “vazamento de gás” nas dependências daquele Departamento!

    Ao que parece, quem tem um “plano em andamento” é uma parcela da própria Polícia Federal: expiar seus aparentes pecados à custa de MARCELO, para tanto subvertendo o sentido de palavras e adivinhando o significado de siglas na forma que lhe convém.

    Aliás, será que Alberto Youssef, que desfruta de infinita credibilidade perante a Polícia, Ministério Público e esse MM. Juízo Federal, também faz parte do “plano em andamento” levianamente atribuído ao requerente?

    Afinal, não custa lembrar que foi o eterno delator quem revelou a existência da escuta em sua cela, e afirmou categoricamente que sabia estar sendo monitorado desde o primeiro dia de prisão pela escuta que a Polícia Federal, até hoje, afirma que se encontrava desativada àquele tempo…

    Ora, uma leitura minimamente neutra das anotações selecionadas pelo agente policial que figurou como analista destacaria também as inúmeras passagens que revelam a preocupação do peticionário em esclarecer sociedade e mercado, além de dar guarida a medidas de investigação independente e de apuração interna (Evento 124, Anexo 11, pp. 3, 4 e 8, por exemplo).

    Preferiu-se, entretanto, tomar “LJ” por Lava Jato ao invés de Lauro Jardim, e “ações B” como providências do submundo, e não como alusões justamente à nota sobre a auditoria interna da Braskem publicada na mesma coluna:

    Economia – Nova postura

    Desde que as investigações, grampos, depoimentos de presos e delações premiadas foram envolvendo a Odebrecht na roubalheira da Petrobras, a empresa manteve uma postura imutável: negava tudo em comunicados escritos em tom peremptório, beirando o raivoso. Foram dezenas de textos escritos neste diapasão.

    Agora, há algo de novo no ar. A Braskem, sociedade entre a Odebrecht e Petrobras, mandou à CVM um comunicado em que “à luz das alegações de supostos pagamentos indevidos para seu favorecimento em contratos celebrados com a Petrobras “, admite que “deu início a um procedimento de investigação interna”.

    Certamente, não por vontade própria, mas por uma obrigação com o mercado de ações – não só brasileiro, pois a Braskem tem também ADRs negociadas na Bolsa de Nova York.

    Informou também que contratou “escritórios de advocacia no Brasil e nos EUA com reconhecida experiência em casos similares para conduzir a investigação”. Não disse, porém, que escritórios são esses.

    Por Lauro Jardim

    Tags: Braskem, Lava-Jato, Odebrecht

    Braskem: investigação interna

    Enfim, uma vez oferecida a denúncia, e porventura recebida em parte ou na sua integralidade, cumpre respeitar-se daqui em diante o rito do Código de Processo Penal, reservando-se o interrogatório do acusado para o final da instrução.

    Esse o contexto, além de lamentar que o empenho em se lhe aplicar pena sem processo tenha chegado a esse ponto, o peticionário requer o imediato desentranhamento dos autos do inquérito policial de informações, notas ou conversas privadas que não possuam relação com o caso, de modo a evitar a indevida exposição de terceiros alheios à apuração.

    Requer ainda seja prontamente determinado à Polícia Federal que se abstenha de lançar, neste ou em quaisquer outros autos do sistema e- proc, documentos físicos ou eletrônicos sem prévia definição de pertinência com o objeto dos autos. Na eventual impossibilidade de assim se proceder, de rigor sejam gravados daqui em diante com grau mais elevado de sigilo os documentos carreados para os autos, na medida em que o nível atual de sigilo do processo eletrônico em tela não tem logrado impedir reiterados vazamentos na imprensa.

    Termos em que,
    Pede deferimento.

    http://tijolaco.com.br/blog/?p=28524

     

  6. E à Chevron, também

    Publicado em 27/07/2015 no Conversa Afiada

    Haddad: Cerra se aliou
    às trevas e ao submundo

    Se eles perdem com o todo o PiG e com tanto dinheiro é porque são muito ruin

     

     

    Na Rede Brasil Atual:

     

    Haddad: ‘Quem não tem projeto usa a irracionalidade para interditar o debate’

    Para prefeito de São Paulo, artificialismo do noticiário interessa ao conservadorismo. E manter a irracionalidade na discussão sobre políticas públicas serve para desviar atenção do projeto de cidade

    São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, não tem ilusões de que o ambiente das eleições municipais, no próximo ano, privilegie o debate de ideias sobre projetos de ampliação do exercício da cidadania. “O que vai acontecer em São Paulo no ano que vem, e de uma maneira geral, nas grandes cidades, tem a ver com a questão nacional”, acredita. Em conversa com jornalistas na semana passada, o prefeito disse acreditar que o campo conservador não tem qualidade para vencer o debate e tentará colher, nas próximas eleições, os frutos de ter desviado o debate para o que chama de “subterrâneos” da política.

    “O que vivemos hoje começou a germinar há pelo menos dez anos. Desde a reeleição do Lula se cultiva um sentimento no subterrâneo da sociedade, contraditório com os índices de aprovação das próprias pesquisas. A popularidade do Lula não parava de subir, chegando a mais de 80%, o ruim e péssimo do Lula chegaram a 4%. Nem assim se dava de barato que a Dilma seria eleita. Como é que com 83% de aprovação ainda se podia ter dúvidas sobre a vitória?”, questiona, observando que o conservadorismo, na ocasião “sem chance campo socioeconômico”, impôs-se no campo do moralismo, do comportamento, da cultura. O prefeito admite que a situação econômica hoje já não é tão favorável, pelo fato de o governo ter cometido erros de diagnóstico – “temos que calibrar (o ajuste) para antecipar a retomada do crescimento”.

    Mas ainda vê muito espaço para o debate de ideias e projetos, algo que falta no espectro oposicionista. “Os adversários estão errando a mão, com faziam há dez anos. Batiam todo santo dia no Bolsa Família. Você não ia conseguir nunca para o Bolsa Família, nem com R$ 1 bilhão de publicidade, o que conseguiu com o Jornal Nacional, por vias tortas”, ironizou. Para Haddad, não resta à esquerda opção que não seja conduzir o debate para o campo do projeto: “Eles não poderiam perder uma eleição nunca com o poder econômico e político e midiático concentrado do jeito que é. Perdem porque são ruins. Observe o que estão fazendo no Plano Nacional, o Aécio é visto hoje por muita gente boa como patético”.

    Leia a seguir alguns dos trechos das intervenções do prefeito.

    ‘Em 2012 não fugimos da discussão
    ética. E não vamos fugir em 2016’

    “Ainda existe espaço de autonomia no debate de questões locais. Em 2012, fizeram coincidir o julgamento do mensalão durante os 45 dias do programa eleitoral gratuito na TV. Às vésperas do primeiro turno, o Jornal Nacional levou um especial que durou uns 18 minutos para praticamente proferir a sentença de um julgamento que não havia ocorrido ainda. Mesmo com tudo isso, conseguimos travar um debate na cidade, que passou também pela ética. Não fugimos disso, como não vamos fugir ano que vem. E o fato é que tivemos êxito.

    “As pessoas costumam dizer que São Paulo é uma cidade conservadora e eu sempre respondo: é uma cidade onde atuam forças conservadoras. Nunca dou de barato que a cidade é conservadora, mesmo porque a gente ganha, às vezes. Isso significa que tem espaço para o jogo aqui. O que nós estamos vivendo hoje, na verdade começou a germinar há pelo menos dez anos. Desde a reeleição do Lula se cultiva um sentimento no subterrâneo da sociedade, inclusive contraditório com os índices de aprovação das próprias pesquisas. A popularidade do Lula não parava de subir, chegando a mais de 80%, o ruim e péssimo do Lula chegaram a 4%. Nem assim se dava de barato que a Dilma seria eleita, por exemplo. As chances eram boas, mas como é com 83% de aprovação ainda se podia ter dúvidas sobre a vitória?

    “A gente sabia que no subterrâneo da sociedade se travava outro tipo de disputa. Como naquela ocasião o debate socioeconômico estava vencido, a vitória estava dada no campo progressista, começaram a impor uma posição no campo do comportamento, da cultura, e não é por outra razão que eles fizeram várias tentativas de criar uma animosidade sobre temas caros à esquerda. Perderam – mas tentaram.

    “Por exemplo, a questão da transferência de renda, a primeira tentativa foi tentar dizer que os pobres iam acabar se acomodando, que era um paternalismo, clientelismo. Quando na verdade era um programa anticlientelista, por ser universal, de superação da extrema pobreza no país, hoje vitrine no mundo inteiro. Mas houve uma tentativa da direita de desconstituir o Bolsa Família, tentando fazer com que a maioria da população não beneficiada se voltasse contra os beneficiários.”

    ‘O Serra se aliou às trevas e ao submundo’

    “Outra tentativa deles foi dizer que a meritocracia estava sendo colocada de lado… Aqui em São Paulo, a primeira atitude minha foi cravar cotas raciais – não é nem social, era racial, para negros no serviço público. Não tinha um procurador negro. No último concurso, de 70, 14 entraram. E estamos melhor do que estávamos. Em 2010, a discussão do aborto, que queira ou não queira é debate sobre gênero – também tentaram entrar nessa. Em 2012, veio a questão LGBT. Usaram o fato de eu ter sido ministro da Educação para vir com aquela história de kit gay, coisa absurda, o que foi derrotado depois, quando se mostrou que os materiais eram muito semelhantes aos já distribuídos pelo governo do estado. Eles foram pra cima, e se nós tivéssemos recuado, como a Marina fez em 2014, eu não sei o que teria acontecido.

    “Se eu tivesse piscado, quando o Malafaia veio a convite do Serra para São Paulo, e ele disse que ia “me destruir”, se eu tivesse reagido ali com um “olha, vamos conversar?, vou sentar com o Malafaia para me explicar…” Eu falei simplesmente que o Serra estava se aliando às trevas, e que o submundo da política não vai ditar as normas aqui em São Paulo. Saiu em todo lugar que eu chamei o Serra de submundo, de trevas. Dentro do PT teve quem disse ‘pô, você está louco, falando mal de pastor?’

    “Então, não teve tema em que esses caras não tentaram colocar as camadas da sociedade umas contra as outras. Eles não tiveram êxito eleitoral, mas houve impacto. Essa ação de dez anos cultivando a intolerância tem efeito sobre a sociedade. Como disse o Umberto Eco, a internet é dar um microfone na mão de todo mundo, inclusive na dos idiotas também. O que acaba acontecendo com isso é que se você conversar hoje com uma parte da juventude, ela está contaminada com o discurso de intolerância. E mesmo nas camadas ascendentes que deveriam ser protagonistas de um avanço maior no ponto de vista civilizatória, muitos estão reféns deste discurso de intolerância.”

    ‘Problema não é fiscal, é monetário.
    Juro de 14% ao ano é insustentável’

    “Meu pai dizia ‘não se mata uma vaca que não deu leite em um ano’, e aqui em um ano eles vêm e passam a faca. Não estou dizendo que o governo não errou. Houve problemas de diagnóstico, e algumas medidas que foram tomadas agravaram – na boa intenção de mitigar. Houve uma série de políticas anticíclicas que não surtiram efeito. O problema da política atual nem é a política fiscal. Na verdade, criamos um buraco fiscal que momentaneamente precisa ser observado. Mas a política monetária atual, esta sim, pode comprometer não só o crescimento como o próprio ajuste fiscal, do qual dependemos para retomar o crescimento. É completamente insustentável taxa de juros em 14% ao ano, nas condições dadas de retração do PIB, do desemprego em 8%, inflação perto de 10%.

    “Então, estamos vivendo um momento em que houve um trabalho no campo do comportamento, da cultura, durante dez anos, que já está tendo algum êxito. Você tem uma parte de população que já nem vota. E um governo tinha 85% de aprovação em 2010 e ganhamos de 55% a 45%. Não tem moleza. Daí hoje vem a crise econômica e junto toda uma operação jurídico midiática em torno da questão da Petrobras, você tem todos os ingredientes de uma crise institucional. Essa que é a verdade. O governo tem de ter um pé de apoio.

    “Neste contexto, o que podemos fazer? Executar nossa visão de cidade. Educação, moradia, mobilidade, tudo. Não estou querendo aqui condescendência, mas não é fácil ser prefeito convivendo com zero porcento de crescimento. Em todo o meu mandato, a economia do país terá crescido zero, e a paulistana terá decrescido. Eu não conheço um governante que tenha vivido esta situação: zero de crescimento durante quatro anos, R$ 2,3 bi de perda de arrecadação de tarifa, R$ 1 bi de IPTU e R$ 1,5 bi de pagamento de precatórios a mais do que se pagava – isso em três anos, com precatórios ainda não sei o que vai ser da minha vida ano que vem. Depende de decisão do Supremo e do Congresso.”

    ‘Em dois anos recebemos R$ 400 milhões
    do PAC; o Rio, em um ano, teve o dobro’

    “O milagroso dessa história toda é que no ano passado nós batemos o recorde de investimentos. E o que nós fizemos foi atuar sobre o custeio como nunca se atuou. Cada contrato dessa prefeitura foi revisto, começando pelos maiores. Teve contrato que nós tiramos 25% do valor sem mexer na quantidade, só mexendo no preço. Então foi se criando um espaço de atuação junto à dívida ativa, uma série de procedimentos, que nos deu sustentabilidade, apesar dessa conjuntura. Não estou recebendo apoio federal, desde que tomei posse. Em dois anos de gestão entregaram R$ 400 milhões do PAC – e só ano passado o Rio de Janeiro levou R$ 800 milhões. A renda da situação da dívida foi deixada para o ultimo ano. Fiquei três anos pagando. Conseguimos (rever toda a dívida), mas para as próximas administrações; para o meu atual governo, se tiver, vai ser para o ano que vem. Muito em cima da eleição.

    “E mesmo assim por que eu acho que ainda somos competitivos, dentro deste contexto? Porque em São Paulo está se discutindo política pública. Ninguém está discutindo se sou honesto ou não. Está se discutindo a mais avançada política pública possível em uma cidade. Tem feito muito sucesso na periferia você levar universidade pública para os CEUs, Para um sujeito que mora na periferia a USP não existe, é um sonho irrealizável. Mas se você fala que no CEU ali e tem uma vaga pública, começa a aproximar o jovem de periferia.

    “Na questão da mobilidade estamos no terceiro ano de mudanças. Primeiro ano, foi pau nas faixas de ônibus. Só parou com ciclovia. Esqueceram a faixa de ônibus, e pau na ciclovia. Largaram a ciclovia agora, e pau na questão da redução da velocidade. Então, as duas primeiras já vencemos, consolidou. E essa ultima ainda vamos vencer, porque o resultado é muito importante. Li numa reportagem do Le Monde que a redução da velocidade em Paris, de 80 (km/h) para 70, aumentou em 18% a velocidade média dos carros. Os prefeitos de Londres e de Paris estão sabendo o que está acontecendo aqui em São Paulo. Quando eu falei que a OAB ia entrar com uma ação contra a redução, me perguntaram: ‘Como assim? A Ordem dos Advogados vai entrar com uma ação contra a prefeitura?’ Os dois me disseram: ‘Olha, no caso do ônibus e ciclovias, o retorno é muito de médio e longo prazo, mas na redução em dois, três meses vai ter o que apresentar. Segura firme que vai passar’.

    “Na campanha dará tempo de mostrar que isso vai salvar vidas e melhorar a fluidez no trânsito, porque hoje ninguém quer saber. Você tem Bandeirantes, Jovem Pan, Estadão batendo… Não querem nem saber. O jornal que elogiou o Kassab quando reduziu a velocidade na Avenida 23 de Maio é o mesmo que critica a redução nas marginais. Na 23 de Maio já melhorou a situação. Mas ninguém quer saber. A irracionalidade que hoje tem uma dose forte de artificialismo interessa à política conservadora. Manter o quadro de irracionalidade. De interdição do debate sobre políticas públicas. Tudo isso desvia a atenção do que está em jogo.”

    ‘No combate à corrupção, não tem
    governo que tenha feito mais’

    “Numericamente, estamos entrando em todas as áreas da prefeitura, subprefeituras, secretarias, passando pente fino em tudo. Contrato por contrato, servidor por servidor, toda a evolução patrimonial, inclusive dos gestores políticos, tudo é conferido e acompanhado. Não tem um debate que não podemos ganhar. Mas vai ser a eleição mais difícil do mundo. É mais fácil estar melhores condições em 2018 do que e 2016.

    “Os adversários estão errando na mão pois estão criticando coisas que são parecidas com o que faziam há dez anos. (E causando um efeito inverso.) Batiam todo santo dia no Bolsa Família. Você não ia conseguir essas publicidade nunca para o Bolsa Família como a imprensa acabou fazendo. Se tornou uma coisa só, Lula e Bolsa Família. Nem com R$ 1 bilhão de publicidade você ia conseguir o que conseguiu com o Jornal Nacional, por vias tortas. Não criticavam exatamente, mas ficavam problematizando, aquilo foi colando e se agigantou.

    “Eles não poderiam perder uma eleição nunca com o poder econômico e político e midiático concentrado do jeito que é. Perdem porque são ruins. Observe o que estão fazendo no plano nacional, estão se desconstruindo. O Aécio é visto hoje por muita gente boa como uma pessoa patética.

    “Mas vai ser um ano daqueles. Vão centrar muita força. Em 2012, o que eles fizeram quando perderam em São Paulo foi vergonhoso. Eles vão redobrar as energias para tentar nos fazer perder em 2016 e selar o destino das próximas eleições presidenciais. Agora, temos de ver o que acontece até o final do ano. Vai ser um semestre complicado, teste de fogo para o governo federal. E vai depender muito do desfecho desta crise internacional o que que vai ser da esquerda a partir do ano que vem. Então, é um semestre delicado, até porque também estamos errando do nosso lado. Temos que calibrar (o ajuste) para antecipar a retomada do crescimento.”

     

  7. Reflexões sobre a velhice – por Ricardo Kotscho

    Do Blog do Kotscho:

     

     

    Nós e o tempo: breve reflexão sobre a velhice

     

    “Quando a velhice chegar

    Eu não sei  se terei

    Tanto amor pra te dar”

     

    (“Os Velhinhos”, música de José Messias, que foi gravada por Roberto Carlos no começo dos anos 70).

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=bSgC8E7xWh8%5D

     

     

    Em tempo (atualizado às 9p0 de domingo, 26/7):

    o domingo amanheceu ensolarado, o frio deu uma trégua, hoje é Dia dos Avós e tem festa de aniversário do grande cidadão Audálio Dantas (idade indefinida), no 38 Social Clube, na Lapa, com música ao vivo e churrasquinho. Viva a vida!

    Nada como um dia após o outro.

    ***

    Sabadão de inverno, bem frio e chuvoso. Dia bom para ficar em casa e ler um livro. O primeiro que vi na estante foi um que ganhei no ano passado do bom amigo Eros Grau, o ex-ministro do STF, uma grande figura, que encontro vez ou outra no bar da esquina.

    Dei sorte. O livro dele “Paris _ quartier Saint-Germain-des-Prés” é um passeio afetivo de quem ama e conhece bem a cidade e sua vila mais charmosa, onde tem passado boa parte do ano. Já li quase cem páginas, mas resolvi dar uma parada para escrever este texto.

    Não tem nada a ver com o livro nem com o autor, mas venho pensando neste tema da velhice já faz algum tempo. “Você não é velho”, retrucam parentes e amigos quando toco no assunto. Eles não entendem que a mesma idade cronológica não é igual para todo mundo. Tem gente com 80 anos que parece estar com 70 _ e vice-versa.

    A sensação do tempo passado vem vindo de mansinho, aos poucos, sem aviso prévio. Não marca dia. Vai se insinuando pelas frestas da alma e dos joelhos, cada dia mais um pouco. A família brinca comigo sobre esta mania de falar que estou ficando velho desde quando era moço.

    Só que agora não é mais brincadeira. Aos 67 anos, mais de meio século trabalhando como jornalista, depois de dar várias voltas por todos os Estados brasileiros e por meio mundo, passar por umas 15 cirurgias e por quase todas as grandes redações brasileiras, sinto-me como um maratonista, feliz pelo percurso vencido, quando olho para trás, mas cada vez mais cansado, sem saber quanto falta para chegar.

    Cansado de fazer, ouvir e falar as mesmas coisas; de dar murros em ponta de faca; de nadar contra a maré; de sonhar sonhos impossíveis; de acreditar em quem não merece; de jogar tanto tempo fora com coisas que não valem a pena.

    Pois chega a hora em que dá mesmo uma certa “lebensmüde”, expressão alemã que não tem tradução em português, e significa mais ou menos cansaço da vida ou bateria fraca. O problema não é só físico, mas mental. A gente sabe que precisa fazer caminhadas, nadar, correr, cuidar do corpo, do espírito e da cabeça, mas cadê força de vontade para fazer o que o geriatra manda?

    No último aniversário, ganhei até uma bicicleta ergométrica que fica aqui no escritório só me olhando, pedindo para ser usada. Fica sempre para amanhã, enquanto passo o tempo todo lendo ou escrevendo, gastando a cabeça e o que me resta de neurônios. Para quê?

    Se algum leitor está passando pelo mesmo problema e tem a receita para enfrenta-lo, envie, por favor, aqui para o Balaio.

    Apesar de tudo, vida que segue.

    Bom final de semana.

      

     

  8. Blog dá passo a passo de como estuprar mulheres em baladas e esc

    Blog dá passo a passo de como estuprar mulheres em baladas e escolas

    Por iG São Paulo | 

    27/07/2015 18:57 – Atualizada às  

    27/07/2015 19:35

     

    Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) iniciou investigação para descobrir se dono da página é seu aluno

    Um blog chamado “tioastolfo” tem ultrapassado todos os limites do mau gosto e da ilegalidade ao postar textos em que, dando um passo a passo detalhado, ensina homens a praticar estupros em lugares públicos como casas noturnas e escolas. 

    Nesta segunda-feira (27), a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) divulgou nota na qual afirma que sua ouvidoria começou a investigar se a página é de autoria de um de seus alunos, conforme lhe foi denunciado. 

    Além de imagens pornográficas e de vítimas de violência sexual, o blog traz entre seus posts guias de como praticar abusos sexuais na adolescência e textos com títulos como “aprenda a lidar com uma vagabunda”, no qual se lê: “Por mais feio, velho e pobre que seja um homem, ele ainda é superior a uma mulher pois pode quebrar o pescoço da vadia a hora que ele quiser”.

    Veja a incitação a alguns crimes postada no blog:

    Guia passo a passo do estupro publicado na página, que continuava no ar nesta segunda-feira (27). Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherDescrição de como praticar o crime é feita em detalhes na página. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherAlém do estupro, a página também promove o ódio total contra as mulheres. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherHomem com livro de autoria de Adolf Hitler no blog (legenda diz que é advogado da página). Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherTexto postado na página tioastolfo, que seguia normalmente no ar nesta segunda-feira (27). Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherTexto misógino na página, cujo autor ainda não foi divulgado. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherMulher de bem tem de ser virgem, diz a página de ódio contra o sexo feminino. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherEm texto, homossexualidade é condição descrita como doença mental. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherA suspeita é de que o autor seja aluno da Unesp, que investiga página. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulher   Guia passo a passo do estupro publicado na página, que continuava no ar nesta segunda-feira (27). Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherDescrição de como praticar o crime é feita em detalhes na página. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherAlém do estupro, a página também promove o ódio total contra as mulheres. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherHomem com livro de autoria de Adolf Hitler no blog (legenda diz que é advogado da página). Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherTexto postado na página tioastolfo, que seguia normalmente no ar nesta segunda-feira (27). Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherTexto misógino na página, cujo autor ainda não foi divulgado. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherMulher de bem tem de ser virgem, diz a página de ódio contra o sexo feminino. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherEm texto, homossexualidade é condição descrita como doença mental. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherA suspeita é de que o autor seja aluno da Unesp, que investiga página. Foto: Tioastolfo - página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulherGuia passo a passo do estupro publicado na página, que continuava no ar nesta segunda-feira (27). Foto: Tioastolfo – página que dá passo a passo sobre como estuprar uma mulher 1/9 close

    A violência dos posts só piora. Em um outro, em que o autor dá dicas de como estuprar mulheres na escola – “pois, quanto mais cedo você estupra a mulher, menor a probabilidade de ela te contaminar com HIV” –, enumera até os tipos de armas que podem ser usados para intimidar a vítima, enquanto ilustra o texto com fotos de Liana Friedebach (morta pelo então adolescente Roberto Aparecido Alves Cardoso, conhecido como Champinha, após três dias de seguidos estupros, em 2003).

    “A Unesp informa que repudia quaisquer opiniões preconceituosas e que incitem à discriminação, à violência e a sentimentos de ódio realizadas por pessoas ligadas ou não à instituição”, disse a universidade em nota. “Posições como essa vão contra os princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da convivência democrática. São, também, consideradas infrações às leis brasileiras e, portanto, passíveis de punições.”

    Na página, também é incitado o racismo, a homofobia e o antissemitismo – uma foto no blog mostra um homem segurando nas mãos o livro “Minha Luta”, de Adolf Hitler (na legenda diz que ele é advogado da página).

    Nesta segunda-feira (27), um post do blog trouxe o nome e informações pessoais do suposto dono da página, que desafiou as autoridades em texto. “Quando o blog começou a repercurtir, confesso que senti medo. Até tirei o meu Facebook da página. Mas, após uma conversa com o sujeito que está me ajudando a manter este site, que me assegurou que seus advogados já estão encarregados da minha defesa, resolvi tocar o foda-se e dar a cara a tapa”, escreveu.

    “Se eu fosse um cara bonito, do tipo aquele ator do ’50 Tons de Cinza’, estaria um mar de vagabundas aqui pagando meu pau e querendo meu telefone. Como sou gordo, fora do padrão estético, estou sendo discriminado, vítima de racismo por ser parto (me considero branco de coração).”

    O acusado, no entanto, rechaçou ser o responsável pelo blog em seu site pessoal e afirmou que seu dono é outro sujeito, que teria sido preso em 2012 por incitações criminosas semelhantes.

    Procurados, o Ministério Público Estadual de São Paulo e a Polícia Federal não se pronunciaram sobre o assunto até a publicação desta matéria. 

     

  9. http://www.vermelho.org.br/no

    http://www.vermelho.org.br/noticia/268037-1

    27 de julho de 2015 – 9p0 

    Roberto Amaral: Estamos vendo o desenvolvimento de um embrião fascista

    Em mais uma atividade do Fórum21, Roberto Amaral destacou que a sociedade brasileira está sendo preparada diariamente para a interrupção do governo Dilma.

    O Brasil está assistindo ao crescimento de uma onda conservadora e autoritária, de cunho fascista, que pode lançar o país em um grave retrocesso político, econômico e social nos próximos anos. Toda vez que o país se deixou dominar pelo pensamento de direita, acabou sendo tomado pelos valores do autoritarismo, que vem das raízes escravocratas das nossas chamadas elites, preguiçosas, incultas e profundamente perversas. 

    A advertência é do cientista político, escritor e um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Roberto Amaral, que esteve em Porto Alegre na última sexta-feira (24) para lançar e debater seu mais recente livro, “A serpente sem casca. Da crise à Frente Popular” (Altadena Editorial) . O lançamento ocorreu no auditório do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e região, reunindo lideranças políticas e sindicais, jornalistas, estudantes e professores universitários.

    O fio condutor do livro de Roberto Amaral tem a forma de um alerta. A escolha do ovo da serpente como metáfora para falar da atualidade brasileira, enfatizou, é pela possibilidade de enxergamos a gestação de um embrião fascista no Brasil. “O fascismo não começa pela sua exasperação, ele começa lento, com ofensas verbais, e depois evolui para agressões físicas e coletivas. Esse conservadorismo é tão mais perigoso na medida em que ele está presente em todos os meios de comunicação e é destilado dia e noite junto à população”.

    Para Amaral, a sociedade brasileira está sendo preparada diariamente para a interrupção do governo Dilma. “Já estamos vivendo uma série de golpes. Essa eleição vai se resolver em cinco ou seis turnos”. Neste contexto, ele defende a necessidade de formar uma frente popular, de caráter amplo e democrático, capaz de erguer uma barragem ao avanço do pensamento de direita no país.

    Autor da apresentação do livro, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, destacou a existência hoje no Brasil de um conjunto de movimentos frentistas que partem de uma mesma constatação: a forma pela qual se estabeleceram as coalizões políticas no país nos últimos anos está esgotada, o que exige pensar uma nova forma de organização, mais programática e que tenha uma estrutura frentista clara. Na mesma linha, Raul Carrion, da direção estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), assinalou que o momento é para avançar na direção da construção de uma frente popular e democrática ampla no Brasil, em torno de objetivos programáticos e não meramente eleitorais.

    A coisa mais importante dessa frente, disse a cientista política Céli Pinto, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é que ela precisa dar conteúdo à palavra “esquerda”. “Não podemos mais ficar dizendo que somos de esquerda porque estamos à esquerda da direita. Precisamos retomar algum conteúdo importante. Nós perdemos a nossa condição de esquerda e precisamos reconstruir isso”.

    Ao final do encontro no Sindicato dos Bancários, Céli Pinto leu um manifesto em defesa da construção de uma frente dessa natureza e colocou-o aberto para receber assinaturas de apoio.

    Roberto Amaral conversou com o Sul21 sobre o seu novo livro e sobre o atual momento político do país. A seguir, um resumo dessa conversa e de alguns dos principais pontos apresentados pelo autor durante sua fala no SindBancários:

    O ovo da serpente e o embrião fascista

    “O ovo da serpente tem uma característica especial: ele não tem casca, mas sim uma película muito fina e transparente que permita que se veja o embrião se desenvolvendo. O que quero dizer com essa metáfora é que nós estamos vendo o desenvolvimento de um embrião fascista no Brasil. Está em nossas mãos a decisão. Podemos deixar esse embrião crescer, sair desse ovo e amanhã picar o nosso calcanhar, ou podemos esmagá-lo agora. O ovo da serpente permite que vejamos à frente. Estou tentando chamar a atenção, não só da esquerda, mas das forças progressistas e democráticas em geral, para a ameaça de um grave retrocesso político e ideológico no país. Esse retrocesso não se mede apenas pela crise dos partidos, em particular pela crise dos partidos de esquerda e, de modo mais particular ainda, pela crise do PT. Tampouco se mede apenas pela crise do governo Dilma. Ele se mede, fundamentalmente, pela ascensão de uma opinião, que já está se tornando orgânica, de retrocesso conservador.”

    “Já há um baluarte institucional perigosíssimo desse processo, que é a Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha não foi colocado ali pelo acaso, ele representa um núcleo pensante conservador brasileiro. Esse núcleo, na Câmara, está representado pela chamada bancada BBB, ou seja, os grupos do boi, do agronegócio atrasado, da bala e da Bíblia, que reúne os evangélicos primitivos e midiáticos. Isso tudo se juntou”.

    Esquerda não levou a sério o tema da comunicação

    “Mas é preciso dizer que a grande responsabilidade por isso é da esquerda e dos nossos governos de centro-esquerda. Há mais de 40 anos, eu e outras pessoas – aqui no Rio Grande do Sul havia uma pessoa que lutava muito por isso, o Daniel Herz – viemos alertando sobre o poder dos meios de comunicação de massa no Brasil, sobre o monopólio da informação e a cartelização das empresas. A esquerda nunca acreditou nisso.”

    “A primeira eleição do Lula serviu para mascarar esse problema. Nós metemos na cabeça que essa gente não formava mais opinião. Nos descuidamos e ficamos assistindo à construção de um monopólio ideológico, destilando conservadorismo de manhã, de tarde e de noite. Aqui, não estou me referindo apenas à Rede Globo, ao Globo, Estadão e Folha de São Paulo. Pior do que isso talvez sejam as rádios evangélicas, as rádios AM e FM, despejando diariamente xenofobia, racismo, machismo, homofobia e tudo o que é atrasado. Paralelamente a isso, nós não construímos uma imprensa nossa. E nem estou falando de uma imprensa nossa para falar com a sociedade. Não construímos uma imprensa nossa sequer para falar conosco mesmo. Os militantes do movimento sindical e dos partidos se informam das teses de suas lideranças pela grande imprensa. Nem criamos uma imprensa de massa, nem criamos uma imprensa própria.”

    “Nos anos 1950 e 1960, nós tínhamos O Semanário, que circulava no Brasil inteiro defendendo as teses do Petróleo é Nosso e da Petrobras, tínhamos Novos Rumos, do Partido Comunista, a imprensa sindical e circulava também a Última Hora. Havia, então, um esforço para garantir um mínimo de debate. Isso tudo desapareceu e nada foi colocado no seu lugar. Com a chegada de Lula ao governo, os principais quadros do PT foram transferidos da burocracia partidária para a burocracia estatal e o partido acabou se esfacelando. Os principais quadros do movimento sindical também foram transferidos para os gabinetes da Esplanada”.

    “A grande dificuldade que temos hoje para promover a defesa do governo Dilma é que perdemos o diálogo com a massa. Eu conversava dias atrás com uma ex-presidente da UNE e ela me dizia: ‘Professor, como é que eu posso entrar em sala e chamar os estudantes para uma passeata quando o governo está reduzindo as verbas para as bolsas de estudo’. Há um paradoxo entre a nossa política e a nossa base social. A Dilma não foi eleita pela base com a qual está governando. Ela atende os interesses dessa base com a qual está governando e não tem o apoio dela. Por outro lado, ela contraria os interesses da base progressista, a qual nós temos dificuldade de mobilizar para defendê-la. Esse paradoxo precisa ser enfrentado.”

    “Não devemos nos iludir com os compromissos democráticos da direita”

    “Ninguém deve se iludir com os compromissos democráticos e legalistas da direita brasileira. É uma direita que sempre apelou para o golpe e para o desvio democrático. Está aí a história dos anos 1950 e 1960 repleta de exemplos disso. Ela não tem compromisso com a democracia. Seu único compromisso é com seus interesses de classe. E, lamentavelmente, parece que a burguesia no Brasil tem mais consciência de classe do que muitos setores proletários.”

    “Há um segundo paradoxo, que é difícil explicar a não ser que você use aparelhos ideológicos. Nós já sofremos, de fato, dois golpes nos últimos meses. A direita perdeu as eleições, mas ganhou a política. Esta política econômica que está sendo aplicada é a política da direita. O segundo golpe foi a implantação de uma nova forma de parlamentarismo, que vive de subtrair poderes do Executivo. E há ainda um terceiro golpe em curso que consiste em refazer a Constituição sem ter poder originário para tanto, retirando da Carta de 1988 conquistas que levamos décadas para aprovar e consolidar”.

    Sobre a construção de uma frente ampla, popular e democrática

    “Diante deste cenário, precisamos articular a formação de uma frente ampla, de uma frente popular que reúna os setores progressistas e democráticos do país. Eu não estou falando de uma frente de esquerda, pois com isso estaríamos nos encerrando em um casulo, voltando a ser ostra. Precisamos retomar um discurso para a classe média, que perdemos em função dos desvios éticos do PT. Nós não estamos pagando o preço de erros de governo, mas sim dos desvios éticos. Precisamos retomar um discurso que fale para os trabalhadores, para os setores médios, para as forças progressistas, que não são necessariamente de esquerda, falar com a empresa nacional que, neste momento, está sendo destruída neste País. Há uma tentativa de acabar com as principais empresas brasileiras, detentoras de know how, não por uma questão moral, mas para colocar no lugar delas empresas espanholas, chinesas e americanas.”

    “Não estou pensando a constituição desta frente com objetivos imediatos e de caráter eleitoral, mas sim na perspectiva da reconstituição das forças progressistas. O ponto de partida para essas forças é construir uma barragem para conter o avanço do pensamento e da ação da direita. Para isso, precisamos voltar às ruas e voltar a debater com a população. Na minha opinião, o modelo no qual devemos nos inspirar não é o da Frente Ampla uruguaia. Esta tem algo que nós temos, partidos. É uma frente de partidos. Nós temos que construir uma frente de movimentos, da sociedade, preparada para receber os partidos e oferecer a eles um novo discurso, uma nova alternativa. Mas não trabalho com a ideia de um modelo pronto e acabado. O que vai decidir isso, como sempre, é o processo histórico”.

    A ameaça do impeachment

    “Irrita-me o fato de nossas forças estarem acuadas por fantasmas. O nosso governo está acuado, enquanto ele tem o que dizer. Em face disso, como não há espaço vazio, a direita vem avançando e preparando ideologicamente a ideia do impeachment. Precisamos por isso a nu e exigir que a direita assuma publicamente se é golpista ou não. O senhor Fernando Henrique Cardoso tem que ser chamado às favas. O PSB e o PMDB têm que ser questionados a assumir se são golpistas ou não. Creio que a melhor forma de enfrentar a ameaça do impeachment, seja ela pequena ou grande, é dizer que ela existe. Dizer que ela não existe é perigoso. E o objetivo principal nem é mais a Dilma, é o Lula. Querem liquidar o Lula e o PT. Não se iludam. Se isso acontecer, não atingirá só o PT, mas toda a esquerda brasileira. Temos responsabilidades distintas pelo que está acontecendo, mas estamos todos no mesmo barco”. 
     

    Fonte: Carta Maior, com informações do Sul21

     

  10. Aonde vamos? Irresponsabilidade …

    https://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/190620/Dallagnol-tenta-p%C3%B4r-Lava-Jato-acima-do-bem-e-do-mal.htm

     

    Dallagnol tenta pôr Lava Jato acima do bem e do mal

    28 de Julho de 2015Compartilhe no Google +Compartilhe no TwitterCompartilhe no FacebookHeuler Andrey:

    Nunca tive religião. Só frequentei igrejas, templos e sinagogas por razões sociais, como assistir a casamentos, batizados e cerimônias fúnebres.  

    Essa situação me ajudou a ter um convívio enriquecedor com várias correntes religiosas, usufruindo da diversidade cultural de nossa época, a partir da compreensão de que a diferença não nos afasta, mas pode nos aproximar e fortalecer.

    Estou convencido de que entender que somos iguais em nossas diferenças é um dos principais aprendizados do século XXI, numa  civilização onde a intolerância deixou marcas terríveis e profundas.

    Um de meus grandes amigos foi Jaime Wright, pastor protestante, grande militante de direitos humanos. Convivi com pessoas de profunda fé católica, boa parte em minha família. Mantive longos diálogos com o rabino Henri Sobel, orador capaz de rezas emocionantes. Conversei menos do que gostaria com Leonardo Boff. Já maduro, após uma viagem a Paris — olha só — tive um longo contato com lideranças umbandistas. Graças aos romances de Nagib Mahfouz e aos ensaios de Edward Said, compreendi a riqueza da cultura árabe e da religião muçulmana.

    Escrevi os parágrafos acima porque me confesso chocado com as revelações de Bernardo Mello Franco, na Folha de S. Paulo de hoje.

    Ontem, Mello Franco esteve numa igreja batista na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, onde o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato, falou para cerca de 200 pessoas.

    A reportagem descreve: “Antes de falar, o procurador, que tem mestrado em Harvard, foi apresentado como ‘servo’ e ‘irmão.’ De terno e gravata, discursou do púlpito, citou a Bíblia e disse acreditar que Deus colabora com a Lava Jato.”

    O jornalista cita um diálogo entre Dallagnol e os fiéis: 

    “Dentro da minha cosmovisão cristã, eu acredito que existe uma janela de oportunidade que Deus está dando para mudanças”, afirmou.

    “Amém”, respondeu a plateia.

    “É isso aí. Deus está respondendo”, devolveu Dallagnol.

    O procurador também disse: “se nós queremos mudar o sistema, precisamos orar, agir e apoiar medidas contra a corrupção”, disse, antes de acrescentar: “O cristão é aquele que acredita em mudanças quando ninguém mais acredita. Nós acreditamos porque vivemos na expectativa do poder de Deus”.

    Em seguida, Dallagnol pediu apoio para um abaixo-assinado favorável a um projeto de lei do Ministério Público que pede mudanças na lei contra corrupção.

    Eu acho errado e inaceitável.

    A Lava Jato é uma operação policial feita por homens de carne e osso, com qualidades e defeitos. Podemos listar uns e outros, mas este não é o caso, agora.

    Quando as mudanças nas leis contra corrupção, basta saber que, no Supremo, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello fazem críticas à alteração principal, aberração que tenta permitir que a Justiça aceite provas obtidas de modo ilícito. (Algo a ver com as escutas da Lava Jato, terrestres e ilegais? Quem sabe).

    Cabe estranhar que seu responsável, chefe da força-tarefa, condição que lhe dá uma posição muito especial no Ministério Público, e uma força interna muito grande frente ao PGR Rodrigo Janot, tente apresentar  a Lava Jato num patamar acima de toda crítica, sugerindo que se trata de uma obra divina.  “Deus está respondendo.” É isso aí?

    Se isso é feito por puro marketing, é desprezível. Se apoia-se numa crença verdadeira, hipótese em que acredito, é mais grave ainda — pois, através de convicções religiosas, exprime um absurdo viés antidemocrático, anterior à Revolução Francesa de 1789. Em qualquer caso, é uma postura estranha — eu diria incompatível até — com a justiça dos homens.

    Se aprendemos que o bom Direito se revela através do conflito e do contraditório, como conciliar essa noção, moderna, herética, com noções divinas, quando sabemos que o sagrado é intocável?

    Deltan Dallagnol é procurador da República, num país onde o artigo 127 da Constituição diz que o “Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

    Em seu artigo 5o, parágrafo VI, a Constituição diz ainda que é “inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”

    No artigo 19, inciso I, se afirma que é “vedado a União, Estados e Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.”

    São regras importantes. O  Estado não pode perseguir religiões. Também não pode ter preferências.

    O Brasil define-se como um Estado laico desde 1889, na proclamação da República. Essa visão se contrapõe a de um Estado confessional, aquele onde uma religião específica tem proteção especial e direitos específicos.

    O Brasil, há 126 anos, optou pelo caminho da tolerância e da igualdade entre as religiões, proibindo até que estabeleçam “relações de dependência ou aliança.”

    É esta “ordem jurídica” que cabe a um procurador desta República defender. E só. 

    Alguma dúvida?

  11. *

    Após pior queda na Bolsa de Xangai em 8 anos, China investiga ‘irregularidades’ nos mercados

    Opera Mundi

    http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/41167/apos+pior+queda+na+bolsa+de+xangai+em+8+anos+china+investiga+irregularidades+nos+mercados.shtml

    No país, há cerca de 90 milhões investidores individuais, em grande parte amadores, que tornam o mercado de ações cada vez mais instável

    EFE


    Colapso financeiro na segunda maior economia do mundo pode afetar os mercados internacionais

    De acordo com o porta-voz do órgão, Zhang Xiaojun, as instituições financeiras do Estado continuarão comprando ações para tentar estabilizar as bolsas, informou a agência estatalXinhua. Além disso, o BC (Banco Central) chinês garantiu que manterá nesta terça a liquidez no mercado em um nível “razoável e apropriado”.

    Hoje, os principais mercados ainda abriram em baixa, mas com uma performance melhor do que na segunda-feira: Xangai iniciou a jornada em baixa de 4,09% e a Bolsa de Shenzhen, de 4,06%.

    Há cerca de 20 dias, o governo chinês anunciou medidas para estabilizar o mercado após ações desvalorizarem 30% em junho. No país, há cerca de 90 milhões investidores individuais, em grande parte amadores e sem conhecimentos financeiros, que tornam o mercado de ações instável e volátil.

    No início de 2015, houve um aumento no volume de negociações muito grande, em uma estratégia definida pelo governo para supervalorizar as principais bolsas e usá-las para induzir o crescimento econômico. No primeiro trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) chinês avançou 7%, o pior ritmo em 6 anos.

    Ainda não se sabe exatamente o motivo da queda das bolsas chinesas. Uma das possibilidades é a existência de uma bolha no mercado de ações que estaria em vias de estourar na segunda maior economia do mundo.

    De todo modo, os impactos dessa instabilidade já são sentidos internacionalmente: por conta da queda, o dólar fechou ontem em R$ 3,352 – a maior cotação em mais de 12 anos no Brasil.

  12. A variável Lula

    A variável Lula

    É Lula que pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, democráticas e populares, recomposição que deve ser feita com novas plataformas.

    por Emir Sader em 27/07/2015 às 07:12

     

     Emir Sader

     

    Lula foi situado no centro da vida política brasileira. Todos os holofotes se concentram sobre ele: ou será abatido no voo pela direita, tirando-o, no tapetão, da vida política, ou exercerá seu papel de eixo da recomposição da esquerda brasileira e conseguirá dar continuidade ao processo iniciado em 2002, com todas as adequações necessárias.

     

    Em um marco de crise de credibilidade das instituições, das forças políticas e sociais, das lideranças, a exceção fica com Lula. Não fosse assim, ele não seria alvo dos ataques concentrados da direita. Se acreditasse nas suas pesquisas, bastaria a direita esperar até 2018 e derrota-lo com qualquer um dos seus candidatos.

     

    O destino da direita depende de conseguir inviabilizar juridicamente a candidatura do Lula e ter assim o caminho aberto para reconquistar a presidência da república. Caso contrario, teria que se consolar com um novo mandato do Lula, limitando-o pela revogação da reeleição.

     

    Do lado do campo popular, Lula também é a referência, é o grande patrimônio, com ele pode contar. O maior líder popular da história do Brasil, Lula mantém vínculos profundos com a massa da população, seus governos ficaram marcados na consciência e na memoria das pessoas, Lula representa a auto estima dos brasileiros. Por tudo isso, apesar da brutal campanha contra sua imagem, ela permanece arraigada no seio do povo.

     

    Mas ele não se limita a estar na memória do povo, ele representa também sua esperança. Ninguém tem o carisma e a mística que a liderança de Lula possui.

     

    Desde a crise de 2005, quando a imagem do PT passou a ser afetada negativamente, a imagem do Lula foi se descolando do partido, conforme o governo foi ganhando prestigio, com o sucesso das politicas sociais. Mesmo quando a imagem do governo de Dilma e a do PT sofrem com a mais dura das campanhas da oposição, a imagem de Lula resiste e as próprias pesquisas que dão resultados muito ruins para o PT e Dilma, tem que revelar que Lula teria pelo menos 33% de apoio.

     

    Mas o Lula de agora precisa propor ao país novas utopias, novos objetivos, continuidade e aprofundamento do que foi feito a partir do seu governo, precisa diálogo com novos setores sociais, especialmente os jovens, tanto os da periferia quanto os da classe média, precisa surgir como quem reivindica não só a visibilização desses setores, como os espaços das mulheres, rejeitadas nas suas reivindicações. Em suma, Lula tem que representar, ao mesmo tempo, a retomada do que foram seus governos, da forma de fazer política que unifique as forças que apoiem os programas propostos nos seus governos, como também renovador. Nas reivindicações, na linguagem, na interpelação e integração de setores até aqui marginalizados.

     

    É Lula que pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, das forças democráticas e populares, recomposição que tem que ser feita com novas plataformas, novos programas, que deem vida a um amplo movimento social, político, econômico, cultural, que consolide os avanços, altere profundamente as relações de poder que resistem a esses avanços e aponte para o Brasil a que Lula abriu o caminho com seus governos e sua liderança.
     
     

    Qualquer especulação política sobre o futuro do Brasil que não leve em consideração a variável Lula, está equivocada, está fora da realidade, não considera o fator determinante do futuro político do país. Candidatos tucanos já conhecidos, nomes sem nenhuma viabilidade popular do PMDB ou outros nomes que aventuras políticas apontam, se chocam com essa realidade incontornável. Uma vez mais, quem não decifra o enigma Lula é devorado por ele, como tem acontecido reiteradamente. 

     

  13. *

    Depois de quatro anos, Santa Teresa vive ‘alegria tímida’ com volta do bondinho

    Júlia Dias Carneiro
    Da BBC Brasil no Rio de Janeiro 

    http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150727_bonde_rio_jc_lk

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    Bonde de Santa Teresa (Foto: Henrique Freire / SETRANSAutoridades concluem 1,7 quilômetro de trilhos de um total de 10,5

    Um rapaz com macaquinho de atleta corre por Santa Teresa cumprindo etapas de um decatlo “olímpico” no canteiro de obras que virou o bairro, como “marcha sobre trilhos”, “400 metros com busão” e “bike na cratera”.

    São cenas do vídeo Parque Olímpico de Santa Teresa, do coletivo Mídia Ninja – uma boa dose de humor e ironia para denunciar o longo suplício dos moradores de Santa Teresa, que há quase dois anos amargam uma obra sem fim com ruas abertas, sucessivos atrasos, erros de percurso e dores de cabeça diárias.

    Após tanta espera, o bonde enfim volta a circular pelo bairro nesta segunda-feira, com a ativação do primeiro trecho dos trilhos em caráter preliminar. De segunda a sábado, das 11h às 16h, ele circulará do Largo da Carioca, no Centro, até o Largo do Curvelo – voltando enfim a passar por cima dos Arcos da Lapa, cartão postal que ficara vazio sem o bonde amarelinho.

    Trata-se apenas de 1,7 km do total de 10,5 km de trilhos que ainda precisam ser entregues. A previsão inicial do governo do Estado era de que as obras ficariam prontas para a Copa do Mundo. Agora, nem para as Olimpíadas: na semana passada, o governador do Rio Luiz Fernando Pezão disse que a nova previsão é apenas o primeiro semestre de 2017.

    A notícia vem a um mês do quarto aniversário do trágico acidente que matou seis pessoas no bonde, em 27 de agosto de 2011, e levou à desativação do bondinho, que, além de ícone e principal meio de transporte do bairro, é um dos grandes símbolos do Rio.

    De acordo com o presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa, Jacques Schwarzstein, o bairro recebe o primeiro trecho do bonde com “uma alegria tímida”, acompanhada do receio de novas frustrações.

    “Não podemos nos iludir. Existe uma enorme esperança e vontade de ajudar o governo para que as obras sejam concluídas com segurança e respeito aos moradores”, afirma.

    “Mas na verdade esse início da operação é em um trecho muito pequeno que vai atender principalmente a turistas e visitantes. Não altera ainda a vida no bairro, e a grande maioria dos moradores vai continuar dependendo dos ônibus, que são muito predatórios para o bairro.”

    No protesto de maio, um folheto listava as reivindicações da Associação de Moradores de Santa Teresa – como, por exemplo, a elaboração de um projeto executivo para as obras, até hoje inexistente. “Vamos colocar essa obra maluca nos trilhos!”, dizia. “Chega de bagunça e incompetência!”

    Obras do bonde de Santa Teresa (Foto: BBC)Obras em bonde de Santa Teresa começaram em novembro de 2013

    As obras e consequentes interdições têm infernizado a vida em Santa Teresa. As dificuldades de acesso e locomoção afastaram visitantes, trouxeram prejuízo a lojas e restaurantes e geraram queixas de insegurança no bairro.

    ‘Passo o ponto’

    A revolta dos moradores teve o ápice entre abril e junho deste ano. Primeiro, foram surpreendidos pela notícia de que o consórcio Elmo Azvi, responsável pelas obras, havia errado na instalação dos paralelepípedos ao longo dos trilhos, impedindo o funcionamento integral do sistema de frenagem dos bondes.

    Depois, o consórcio interrompeu a obra após desavenças com o governo do Estado. Por cerca de dois meses, trechos da principal rua do bairro ficaram abertos.

    Com crateras abertas na frente da entrada, o restaurante japonês Sansushi, que está no bairro há 15 anos, não aguentou tantas noites às moscas. Logo a placa de “passo o ponto” estava pendurada na fachada.

    “Teve duas noites seguidas em que eu não vendi nem R$ 10. Saí do restaurante chorando”, conta o dono, o gaúcho Claudio Lucas Figueiredo.

    A cratera foi fechada recentemente, mas na semana passada uma britadeira abria novos buracos do outro lado da mesma rua, iniciando a reforma dos trilhos no sentido oposto. Figueiredo diz que o clima é de desânimo e frustração.

    “A gente fica sem saber isso vai demorar um ano, dois anos. Antes que eu fique com uma bola de neve gigantesca de dívidas, resolvi parar”, lamenta.

    Seu vizinho Marco Aurélio Cardoso, dono do restaurante Marcô, diz que seu faturamento caiu em pelo menos 40% e que todos estão tendo “enormes perdas”.

    “Até o bonde voltar a circular pelo bairro todo, vamos continuar na precariedade. Obra a gente sabe que causa transtorno, mas chega uma hora que termina. Aqui, não. Não tem fim”, queixa-se.

    Erros de execução

    O consórcio responsável pela obra teve que corrigir a falha serrando meio milímetro dos paralelepípedos ao longo dos trilhos. Foi multado duas vezes pelo governo do Estado, no valor total de R$ 1,35 milhão, pelos erros de execução.

    De acordo com o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, o consórcio agora está sub judice até setembro. A continuidade do contrato dependerá do cumprimento de metas estabelecidas até então, afirma.

    “O planejamento anterior foi descumprido pelo consórcio em várias etapas. Agora adotamos uma política de tolerância zero”, diz Osório à BBC Brasil.

    Marco Aurélio Cardoso (Foto: BBC)

    Marco Aurélio Cardoso diz que o faturamento de seu restaurante caiu 40%

    “Temos mecanismos para cancelar o contrato, mas estamos fazendo um esforço para evitar uma nova licitação, o que levaria entre quatro a seis meses.”

    Perguntado se admite os erros e se a previsão de entregar as obras até 2017 é realista, o consórcio disse à BBC Brasil apenas que “está alinhando com o governo do Estado a definição das frentes de trabalho para cumprir o cronograma para as novas etapas da obra”.

    “O consórcio possui um contrato assinado com o governo e tem, como princípio, honrar seus compromissos”, acrescentou em nota.

    Bonde ‘chorando’

    No Largo do Curvelo, a estação do bonde foi toda grafitada e recebeu um memorial em homenagem às seis vítimas do acidente. O rosto sorridente do motorneiro Nelson Corrêa da Silva, que morreu conduzindo o bonde depois que o freio falhou, está pintado em um colorido painel.

    Ao longo dos últimos anos, a revolta dos moradores se espalhou por muros, carros e janelas do bairro todo, com cartazes, adesivos e placas pedindo o fim do “caos” e ostentando a onipresente imagem do bonde “chorando”, criada no dia seguinte ao acidente pelo artista plástico Zod, morador de Santa Teresa.

    “Não consegui dormir naquela noite e criei aquela imagem. No dia seguinte estava todo mundo usando como foto do perfil no Facebook. Quatro anos depois, ainda estamos aqui nessa novela que não vai para lado nenhum”, diz ele.

    Morador da Casa Coletiva, em Santa Teresa, um dos projetos da rede Fora do Eixo, Filipe Peçanha encarnou o “repórter gringo” no vídeo do Parque Olímpico de Santa Teresa, que viralizou nas redes sociais.

    Artista plastico Zod (foto: BBC)

    Artista plástico criou desenhou que foi adotado por moradores da região em protesto

    “Santa Teresa é sempre usada para vender o Rio, o bonde foi usado no vídeo promocional para trazer as Olimpíadas para cá. Usa-se o bairro como marketing, mas aqui vemos todo esse descaso. As proporções são descabidas”, diz ele. “Só mesmo irreverência e escracho para denunciar isso aqui.”

    De marchinhas à ararinha Blu

    O bonde de Santa Teresa é o único remanescente dos bondes do Rio antigo, criado em 1877, diz o historiador Milton Teixeira. Ele diz que em 1966 apenas duas linhas ainda existiam na cidade, as de Santa Teresa e do Alto da Boa Vista. Uma grande enchente na Baía de Guanabara queimou os motores de todos os bondes e foi o pretexto para o então governador, Negrão de Lima, anunciar seu fechamento.

    “Na calada da noite, moradores de Santa Teresa e funcionários da companhia pegaram motores velhos, já obsoletos, fizeram um gato elétrico e colocaram os bondes para funcionar como se nada tivesse acontecido”, conta Teixeira. “Essa operação fez com que os bondes de Santa Teresa fossem os únicos a sobreviver no Rio.”

    O historiador lembra que o bonde já foi personagem de marchinhas de carnaval, novelas e até da animação Rio, de Carlos Saldanha, o da ararinha Blu.

    Jacques Schwarzstein, da associação de moradores, diz que o diálogo com o governo do Estado melhorou após a entrada, em janeiro, de Carlos Roberto Osório na Secretaria de Transportes.

    “O governo anterior se recusava a conversar. Agora a interlocução melhorou e isso cria condições para que se cometam menos erros, e as obras sejam menos agressivas para os moradores”, opina, dizendo-se esperançoso de que a nova gestão aprenda com os erros cometidos.

    “Mas ainda temos muito mais incertezas que certezas”, lamenta, lembrando que o governo ainda não descartou a possibilidade de romper o contrato com o consórcio. “Não temos segurança de nada.”

     

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