Coalizão pela Reforma Política é reativada em Brasília

Entenda os principais pontos da reforma que propõe mudanças eleitorais e pode reforçar retrocessos no país   

Ex-deputado Aldo Arantes, um dos articuladores da Coalizão pela Reforma Política, aborda os principais pontos da proposta em debate no Congresso
 

Jornal GGN – Mais de cem entidades civis se reuniram para reativar a Coalizão pela Reforma Política, nessa segunda-feira (17), em Brasília, dentre elas a CNBB, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, UNE e OAB Nacional. A decisão foi tomada por representantes do grupo para fazer pressão à reforma política-eleitoral, em discussão na Câmara dos Deputados.
 
Recentemente, o relator da proposta, Vicente Cândido (PT-SP), defendeu o sistema de voto em lista fechada e o financiamento público para as eleições de 2018 como um modelo de transição que vigore até as eleições de 2022. A partir do ano eleitoral seguinte, em 2026, as escolhas dos candidatos seriam realizadas no modelo distrital misto. 
 
Para o eleitor desatento, todos esses termos como “voto em lista aberta, ou fechada”, “modelo distrital puro, ou misto”, por exemplo, acabam causando confusão. Por isso, o ex-deputado pelo PCdoB e um dos articuladores da Coalizão pela Reforma, Aldo Arantes, defende a máxima divulgação do tema na imprensa e nas redes sociais. Em entrevista para Luis Nassif, do Jornal GGN, Arantes explicou que o que obrigou o Congresso a colocar na mesa a reforma política foi o fim do financiamento privado de campanha, apontando o tipo de sistema eleitoral defendido pela Coalizão e os riscos de a reforma reforçar a cultura do coronelismo no país, caso um modelo distrital consiga passar.
Antes de ir direto para a entrevista, entenda como funciona o sistema eleitoral no Brasil hoje, e quais são as principais propostas apresentadas no Congresso. 
 
Para começar, a reforma do sistema eleitoral só será possível alterando a Constituição Federal, via uma proposta de emenda, isso porque as regras atuais também estão estabelecidas na Carta de 88, além do Código Eleitoral, na lei 4.737 de 1965.  
 
O sistema vigente mantém três tipos de eleições: o modelo proporcional para a escolha de candidatos na Câmara dos Deputados, replicado também para todos os órgãos legislativos da esfera estadual e municipal, ou seja, para a escolha deputados estaduais e vereadores. O segundo modelo são as eleições majoritárias, com um ou dois eleitos para o Senado Federal. E, por fim, a eleição majoritária em dois turnos para a escolha de candidatos na esfera do executivo: presidente da república, governadores e prefeitos. Uma regra comum a todos esses modelos em vigor no país é o sufrágio universal e secreto, igual a todos os brasileiros a partir dos 16 anos. O sistema eleitoral no país também permite a combinação entre candidatos de dois ou mais partidos, formando a chamadas chapas.
 
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O sistema proporcional, utilizado para a escolha de representantes da Câmara dos Deputados e demais órgãos legislativos, está no foco do debate da reforma. No modelo atual, a distribuição dos cargos é feita em cima do sistema de lista aberta, onde os votos vão para os candidatos, e não para os partidos, e as listas partidárias são compostas pelos membros mais votados de cada partido. Assim, cada partido consegue o número de vagas na Câmara dos Deputados proporcionalmente a soma de votos de todos os seus candidatos, e os candidatos mais votados ocupam, pela ordem, as cadeiras conquistadas pelo partido ou chapa partidária. Esse modelo permite, por exemplo, que representantes de partidos pequenos conquistem espaço nas casas legislativas. 
 
Lista fechada
 
Na reforma, uma das propostas é mudar o sistema para a lista fechada, onde o eleitor passará a votar no partido, ou na chapa partidária, e não mais no candidato avulso. Ao final da votação, os votos são distribuídos pela ordem dos candidatos previamente definidos pela legenda e encaminhadas anteriormente para o Tribunal Superior Eleitoral. Esse tipo de sistema é utilizado, por exemplo, na Argentina, Espanha e Portugal. A Coalizão pela Reforma Política defende esse formato, como explicou Aldo Arantes.
 
“O sistema de lista, fechado, é profundamente democrático porque retira o processo político eleitoral da discussão em torno dos indivíduos e coloca sobre os partidos, elevando o patamar da luta política brasileira colocando questões, digamos, em torno da discussão de projetos e propostas que os partidos defendem“, disse ao jornalista Nassif, completando que o formato também reduzirá a influência do poder econômico. 
 
Mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2015, de considerar inconstitucional a doação de empresa a candidatos e partidos políticos, entendendo que os recursos repassados por essas entidades podem favorecer a corrupção, a força do capital privado foi sentida, com menor força, nas eleições de 2016. 
 
Dados produzidos pelo portal Nexo, com base em informações do TSE, mostraram que, no ano eleitoral passado, os partidos e candidatos tiveram grande dificuldade de arrecadar recursos para as campanhas registrando queda de 65% das doações feitas no primeiro turno, indo de R$ 7,2 bilhões em 2012, para R$ 2,5 bilhões em 2016. No segundo turno a queda foi de cerca de 50%. 
 
O reflexo disso foi a vantagem dos candidatos mais ricos, isso porque, paralela à proibição da doação de empresas, foi estabelecida como nova regra um aumento do limite de bens pessoais que cada candidato poderia doar diretamente para suas campanhas. Esse fator seria uma das explicações para a eleição de João Dória em São Paulo.  
 
O enxugamento de recursos disponíveis para as campanhas eleitorais é também outro tema central que está sendo discutido na reforma política. Em 2014, antes da mudança na legislação, as empresas doaram juntas mais de R$ 3 bilhões às campanhas, representando cerca de 80% do total de doações. Por isso, os congressistas estão correndo atrás de novos formatos para voltar a elevar o patamar de recursos disponíveis às corridas eleitorais o que poderia ser, até mesmo, um retrocesso na decisão do STF, permitindo a volta do financiamento empresarial de campanha. 
 
Distrital misto
 
Outro ponto debatido na reforma é a alteração do sistema de votação proporcional para o voto distrital misto. No sistema de voto distrital cada membro do parlamento é eleito para representar determinado limite geográfico de um distrito. Portanto, cada partido ou chapa teria que apresentar candidatos por distrito, e não para representar todo o Estado ou município, como é hoje para a escolha de vereadores e deputados. 
 
Na proposta do distrital misto, defendida pelo relator da reforma na Câmara,  Vicente Cândido (PT-SP), haveria uma combinação do voto proporcional com o voto majoritário. Assim, os eleitores teriam dois votos para fazer: um para o candidato que representa seu distrito e outro para o partido. A crítica feita por Aldo Arantes, representando a Coalizão pela Reforma, é que essa mudança incentivaria ainda mais a cultura coronelista no país, isso porque a eleição distrital, mesmo que mista, tende a favorecer a hegemonia de setores conservadores. Enquanto as eleições proporcionais têm permitido, ao longo da história, assegurar a representatividade de minorias nas casas legislativas. 
 
Acompanhe a seguir a entrevista que Aldo Arantes concedeu ao jornalista Luis Nassif, na íntegra: 
 
https://www.youtube.com/watch?v=96ZyNkux154 width:700
 
Redação

8 Comentários

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  1. Pro povo aceitar tem que ir direto ao distrital mixto

    Metade lista fechada e metade das vagas distrito.

    è bbagem a Mídia dizer que lista fechada proteje candidato ruim.

    O Partido que “sujar” a lista vai receber pouco voto do eleitor consciente, mas, se a maioria dos eleitores de um Estado quizer”Malufar” aí não tem jeito; são as ores da democracia.

    Acho até que o Político corrupto teria melhor chance na lista aberta , pois, na formação da lista fechada o pau vai comer porque todos estão envolvidos nela e terão que vender o pacote completo, essa é uma das virtudes da lista fechada.

    Mas não existe sistema melhor que outro ; existe sim , eleitor esclarecido, consciente e participante.

  2. Já está na hora de defenderem a lista fechada!

    Toda vez que a reforma política entra em pauta há uma violenta reação dos defensores do que de pior poderia acontecer para nosso sistema eleitoral, que é a dobradinha entre o distritão (no qual apenas os currais eleitorais mais vistosos elegerão representantes) e o voto distrital misto (que é, na prática, a volta aos tempos da República Velha e seus coronéis).

    Se aqueles que representam o espectro ideológico não se moverem corremos o sério risco de voltar aos tempos em que política era coisa de gente que tinha dinheiro para bancar campanhas e defender os próprios interesses. Afinal, para defender o sistema distrital temos muita gente, alguns por oportunismo, outros por ingenuidade.

    De que adianta eleger “o seu candidato” se os motivos do voto são sempre os piores possíveis? Se é para fazer política cartorial, ao menos que se deixe o partido político daquele que vende seu voto fazer esse trabalho. É mais barato, e mais ideológico.

  3. Os que dizem que lista

    Os que dizem que lista fechada protege bandidos e corruptos esquecem de notar que isso só acontece(rá) se a lei não definir como a criação da lista será feita.

    Supondo que que cada partido decide como faz, realmente, não vai adiantar muita coisa. Os podres vão se colocar no topo ou, sabendo que vão espantar votos, colocar seus capangas favoritos no lugar. Se a lei definir que cada partido precisará ter eleições internas, entre seus filiados, para escolher quem vai pra lista, por ordem de mais votado, aí esse argumento cai por terra.

    Mas voto distrital simplesmente não dá. Só ver os EUA, “a melhor democracia do mundo”, é cheio de currais eleitorais, distritos que nunca mudam seus votos. Gerrymandering, ou como derrotar uma maioria absoluta:

    1. O que poucos percebem é que

      O que poucos percebem é que na lista fechada pouco importa quem serão os eleitos, mas o que o partido fará com o poder que ganha. O deputado deixa de agir sozinho para fazer parte de um “time” a serviço do partido X ou Y, e de suas ideias.

      Hoje cada parlamentar tem independência para votar de acordo com “o seu eleitor”, descumprindo princípios ideológicos a fim de agradar quem votou nele – e somente nele. Com a lista fechada, isso acaba: é o partido que será cobrado pelo eleitor.

      Pode existir fisiologismo? Claro que sim: eleitores “safados” elegem políticos “safados”. Entretanto, isso diminui bastante.

  4. Reforma Politica.

     Independenteade qual for o regime de eleição? O melhor seria que a Justça aplicasse corretamente a Lei da Fcha Limpa. Sendo assim resolveriamos um bocado de canalhice. 

    Agora cada Juíz da a interpretação pesoal a lei e livra uma serie de bandidos de serem punidos.

    O que está faltando aos politicos é vergonha nacara.

    1. Lei da Ficha Limpa importa

      Lei da Ficha Limpa importa muito pouco se o político em questão está em conluio com interesses poderosos. Um “bandido” pode fazer mais pelo país do que um “honesto” se sua ideologia for a favor do povo.

      Ainda vamos descobrir, tardiamente, que honestidade é a melhor desculpa para os incompetentes seguirem governando.

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