Comissão da Verdade do Rio entrega relatório final no próximo dia 10

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro acompanhando, em abril de 2013, no cemitério de Inhaúma, a exumação do corpo do militante de esquerda Alex Xavier, assassinado em 1972 pelo DOI-Codi de São Paulo. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Jornal GGN – No próximo dia 10, a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro realiza, em cerimônia no Palácio da Guanabara, a entrega do Relatório Final ao governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), após dois anos e oito meses de trabalho. O documento está dividido em seis partes, englobando desde o contexto de criação das Comissões da Verdade até as recomendações ao Estado sobre políticas de não-repetição de graves violações de direitos humanos.

Passando pelas listas de mortos e desaparecidos no Rio, dos agentes que atuaram em nome da repressão, dos casos investigados e da identificação de locais de prisão e tortura, o relatório também apresenta pesquisas a respeito do papel do empresariado na ditadura, e da violência aos trabalhadores rurais e urbanos, aos militares perseguidos, aos moradores de favela, à população negra, às mulheres e aos setores LGBT.

Na visão dos organizadores, o documento apresenta alguns “avanços em relação ao Relatório da Comissão Nacional da Verdade: inclui três novos nomes na lista de perpetradores (José Paulo Boneschi, José Ribamar Zamith e Magno Cantarino Mota) e acrescenta informações na descrição do médico Amilcar Lobo, suspeito de ser mandante do assassinato de Nilson Diogo, um ex-funcionário que movera ação trabalhista indenizatória. Dois meses antes de sua morte, Nilson havia denunciado ao delegado de polícia de Vassouras ter recebido ameaças de morte de Amílcar Lobo.

A pesquisa Conflitos por Terra e Repressão no Campo no Estado do Rio de Janeiro (1946-1988), contemplado no edital lançado em parceria com a FAPERJ (Programa “Apoio ao estudo de temas relacionados ao direito à memória, à verdade e à justiça relativas a violações de direitos humanos no período de 1946 a 1988”), traz dados inéditos.

O capítulo 5 mostra um quadro com os conflitos no estado do Rio de Janeiro: assassinatos (45), desaparecidos (3), tortura (18), prisões (184), agressão física (43) e contratos forçados de parceria e arrendamento (8) e outro com o nome de mortos e desaparecidos do campo. São 16 camponeses mortos, três desaparecidos e outros 29 casos para os quais não dispõe de informações biográficas e contexto das mortes, mas que inserimos no nosso relatório. Do total, 15 nomes são inéditos (14 de mortos e um de desaparecido; dois nomes de mortos já haviam sido citados no relatório da CNV).

A Comissão do Rio dedicou um capítulo do relatório a fim de homenagear as pessoas perseguidas, presas e torturadas, que procuraram espontaneamente o grupo para prestar depoimento. Dos nove casos tratados no capítulo 13, a CEV-Rio conseguiu elucidar os seguintes: Rubens Paiva, Mario Prata e Raul Amaro e, consequentemente, a investigação sobre o Hospital Central do Exército. O relatório traz também os casos investigados pela CEV-Rio, que esclareceu detalhes até então desconhecidos: Chacina de Quintino e bomba da OAB, com a divulgação do nome da pessoa que levou a bomba que vitimou Lyda Monteiro.

A CEV-Rio trabalhou pela transformação do prédio do DOPS em local de memória: diligências realizadas, com a presença de ex-presos políticos, uma audiência pública com a presença do representante da Polícia Civil e um seminário. A mobilização do GT DOPS, conjuntamente com a campanha Ocupa DOPS, culminou no edital da Comissão de Anistia, divulgado no início do mês, para contratação de um consultor que vai elaborar uma metodologia de trabalho, sistematizar o material já produzido e reunido sobre a história do prédio do DOPS no Rio de Janeiro, bem como apresentar uma proposta museológica, de forma a subsidiar a criação de um Espaço de Memória da Resistência e dos Direitos Humanos.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. .

    Na foto, de terno e gravata, o meu amigo Gilles Gomes. Ele participou da Comissão Nacional da Verdade e eu não sabia que ele estava agora na Comissão da Verdade do Rio de Janeiro.

    Parabéns, Gilles. Quando voltar aqui para Caxias do Sul vê se liga e vamos tomar um trago tchê! 

  2. Erro na fotolegenda

    Consta “morto em 1972 pelo pelo DOI-Codi de São Paulo”. Deve corrigir o erro de digitação: “assassinado em 1972 pelo pelo DOI-Codi de São Paulo.”.

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