Compra de apoio é mais cara que “recuperação” econômica, por Janio de Freitas

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Beto Barata / PR / CP
 
Jornal GGN – Na corrida para a suposta recuperação econômica do Brasil, que na voz publicizada do governo “já começou”, a recuperação da imagem do presidente Michel Temer junto a seus aliados para conseguir concluir o governo tornou-se prioridade. Nessa linha, enquanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tenta bloquear o teto no limite estabelecido, o mandatário quer flexibilizá-lo em trocas de apoios.
 
É o que aponta a coluna de Janio de Freitas, deste domingo (30), que ressalta os cálculos para a obtenção da vitória de Temer na CCJ, nos últimos meses, absolvendo-o da denúncia que pretendia chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF): mais de R$ 4 bilhões só nas últimas duas semanas. 
 
Por Janio de Freitas
 
Em volta do rombo nas contas do governo Temer
 
Da Folha de S. Paulo
 

Iniciada antes das eleições de 2014, a disputa pela Presidência em 2018 volta a ser predominante no processo político. Já bem notada, a contrariedade mútua de Michel Temer e Henrique Meirelles não decorre da aparente divergência de concepções econômicas entre o ministro da Fazenda e o grupo do Planalto. O jogo é apenas de política, enquanto o país se desconstrói sob a propaganda de que “a recuperação começou”.

A divergência exposta está no montante do rombo financeiro que o governo, fracassadas as metas prometidas para 2016 e, depois, para 2017, deve admitir neste ano. Meirelles defende o teto, estabelecido como rígido e imutável, de R$ 139 bilhões. Temer e seu grupo querem elevá-lo. Só para a pretendida vitória na Câmara contra a licença para processá-lo, Temer empenhou nas últimas semanas mais de R$ 4 bilhões em pedidos de deputados: R$ 2 bilhões em junho e R$ 2,1 bilhões até meado deste mês, cuja soma equivale a quatro vezes o empenhado nos cinco meses anteriores.

Com outros gastos, veio a necessidade de aumento de impostos (dos combustíveis) e o corte de mais R$ 5,9 bilhões em investimentos previstos até o fim do ano –além dos quase R$ 40 bilhões já cancelados. Se assim está sendo para sustar o primeiro processo proposto pela Procuradoria-Geral da República contra Temer, não é difícil entender o que se deve esperar quando cheguem à Câmara as outras denúncias previstas em medida de Rodrigo Janot. O que leva a uma observação a propósito: trata-se do uso de bilhões do dinheiro público para beneficiar um político gravado em encontro clandestino para os acertos indecentes que pudemos ouvir e ler em transcrição.

Mas não só por essa expectativa Temer e seu grupo batalham pela admissão de um rombo maior nas contas do governo. Faltam cinco meses para o fim de um ano em que os políticos governistas só têm, até agora, notícias negativas para o eleitorado. E o ano que vem será de eleições. Alguma recuperação de imagem nos próximos cinco meses é ansiada pelo “centrão” pró-Temer. Seja evitando a aprovação de propostas impopulares do governo, seja com afrouxamento do arrocho aplicado pelo governo, a pretexto de uma reabilitação nacional que, todos sentem, não está nem à vista.

Antes de desligar-se do PSDB para entrar no governo Lula, e antes mesmo de entrar no PSDB, o Henrique Meirelles retornado de longa vida como banqueiro nos Estados Unidos planejou candidatar-se à Presidência (posso fazer tal afirmação porque, na época, uma assessoria contratada por Meirelles me procurou para um encontro que não aconteceu). Aspiração dessa grandeza não morre jamais, José Serra que o diga. O êxito na recuperação do crescimento econômico é, porém, a única possibilidade hoje perceptível para uma tentativa da ambição de Meirelles. Logo, para ele é indispensável a preservação do que lhe parece a maneira de chegar a tal êxito, não importa o que, quem e quantos caiam pelo caminho.

O tabuleiro em que Henrique Meirelles e Michel Temer passaram a jogar é o da política. Um e outro tornam-se seus piores antagonistas. Entre um e outro, a economia do país de 200 milhões de pessoas é um dispositivo de fazer política.

 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Emendas
    A liberação imoral de verbas das emendas é fato.A quem se destina esta dinheirama? Ao povo, aos políticos ou meio a meio?

  2. GOLPISTAS FAZEM EXATAMENTE ISSO

    Jamais se importaram com o país – e se dizem brasileiros ou, mais cinicamente, patriotas – e, por isso mesmo trabalham furiosamente para se locupletar, pois sempre foram ladrões; a camarilha não enxerga nada além do dinheiro; e o povo que se exploda.

  3. Meirelles joga combinado: maior déficit, sobe juros.
    Não sei se Meirelles está tão contra assim, ou se é jogo combinado, do tipo “fui contra, mas fui voto vencido. Então, como o mercado precifica o rombo exigindo um prêmio mais alto pelo risco maior da rolagem da dívida, os juros da dívida pública subirão”, para felicidade geral dos bancos (mais juros) e do Jucá-Temer (mais bufunfa liberada para políticos).Dá álibi até para Meirelles Ilan justificar os juros superfaturados (injustificáveis em plena deflação, principalmente de preços não indexados). Passam a ter o superfaturamento explicado pelo risco que o mercado atribui à dívida.

  4. TROIKA quer amarrar o Brasil de volta “aos trilhos” do FMI
    Começo a achar que o plano do mercado já não é mais necessariamente ganhar as eleições em 2018 nem mesmo inviabilizar o pleito (claro que tentarão ganhar e afastar o povo do poder seria bemvindo pelo mercado, mas não será mais questão de vida ou morte; e eleições “livres” pode até fazer parte da estratégia como válvula de escape da panela de pressão). Acho que o plano do mercado é quebrar o Brasil de novo com rombos realimentando juros mais altos, para elevar o risco da dívida e colocar o Brasil de volta à tutela do FMI, para independer de quem seja eleito em 2018. Para qualquer governo ficar de mãos atadas diante da governança de fato do mercado. E se um governo de esquerda ganhar, a TROIKA (Itau, Bradesco e Santander) resolve seu descontentamento dizendo que maior risco exige juros mais altos para rolar a dívida.

    1. No tangente à Globo.

      Vale ler novamente e tentar endender onde é que surgiu a Globo/Mossack-Fonseca nesse texto do Janio de Freitas. Bem, talvez por estar expresso que ambos assaltantes do Palácio da Alvorada, Michel Temer e Meirelles, estão jogando o jogo político com a visão já voltada para 2018. Assim, em se tratanto de jogo político, o comentarista pode ter se lembrado do maior e mais poderoso de todos os partidos políticos, a Globo/Mossack-Fonseca. Isso é verdade já reconhecida antes da Privataria dos anos 90. O preclaro Deputado Fernando Ferro (PT-PE) já denominava esse partido com as iniciais PiG, Partido da Imprensa Golpista, lá pelos idos dos anos 90. Quanto à “TV do Governo”, o Requião disse, e tem credibilidade para dizê-lo, e tantos outros já disseram e ouviram falar que o Zé Dirceu considerava esse partido, o PiG, como um partido aliado no início do primeiro mandato do Lula. E não é tão estranho que assim fosse. O Zé tinha ido ao exterior explicar-se sobre as pretensões e ousadias do seu partido e o Lula havia escrito a CARTA AOS BRASILEIROS oferecendo garantias aos donos do Poder Permanente de que seriam respeitados os “contratos” vigentes. Ou seja, não havia riscos no horizonte próximo de ameaças de se realizar a AUDITORIA DA DÍVIDA PÚBLICA e nem mexer com a Regulação das Comunicações no país. Então a rede sonegadora de televisão tinha sinalização de sua Matriz para negociar composição com o novo governo e tinha necessidade de apoio do governo (como sempre) porque estava quebrada pela variação cambial do governo anterior e fizera operações ilegais para adquirir os direitos de transmissão da Copa do Mundo 2002. Então, a pergunta é a seguinte, Pedro Augusto: Qual é o crime presente, se o Zé Dirceu negociou apoio político com um partido reconhecidamente adversário e considerou em algum momento que teria desse adversário (ou inimigo?), senão apoio, pelo menos, imparcialidade na cobertura das ações do Governo?

  5. Alguém se lembra de um tal de mensalão.

    Alguém se lembra? Houve uma época, num passado não tão distante, em que um único bufão do reino, revoltado com os seus proventos vindos do palácio, resolveu denunciar que no reinado havia compra de votos do conselho para aprovar questões de interesse do Rei. Denuncia jamais investigada e, muito menos, comprovada. Foi um escândalo terrível que abalou todas as aldeias do reino de Sua Magestade, trombeteado e multiplicado pelos tambores de todo o reinado até que cairam e foram presos, em julgamento sumário, e condenados à morte (moral), os principais SUSPEITOS da prática de tal crime, jamais conhecido, demonstrado ou comprovado.

    Agora compra-se parlamentares de baciada, como dizem os pecuaristas, de porteira fechada, ou daquela outra forma – paga-se o preço por hora de passagem da boiada pela porteira. E tudo parece normal, naturalizado pelas reportagens que antes se escandalizavam pela simples suposição de supostos crimes que jamais existiram. Um tipo de crime que ocorreu e é conhecido em 1997 e ocorre e é conhecido agora, bem debaixo dos nossos narizes.

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