Considerações sobre perdas e ganhos nesta eleição, por Andre Borges Lopes

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Andre Borges Lopes

Ref. ao post: Como Marina tenta montar o reverso de Lula

E nem parece capaz, de cuidar do que possui…

(cinco considerações domingueiras sobre perdas e ganhos nessa eleição)

1. Nas últimas cinco eleições presidenciais brasileiras ocorreu um fenômeno curioso. Desde 1989 a “direita tradicional” (tomando como critério dessa definição os grupos que apoiaram abertamente a ditadura de 1964-85) não consegue emplacar um candidato próprio competitivo nos pleitos. Nesse período a disputa real se deu sempre entre candidatos que construíram toda a sua carreira política na oposição ao regime militar (a exceção seria Ciro Gomes, que começou a carreira no PDS e teve 12% dos votos no 1º turno em 2002).

Isso não quer dizer que a direita não estivesse articulada com alguma das candidaturas (sempre esteve). Mas apenas que não deram mais a própria cara para bater. E não é diferente nessa eleição de 2014: Dilma, Aécio, o falecido Eduardo e Marina são todos crias dos diversos movimentos oposição à ditadura.

O que me leva a crer que essa “direita clássica” já se convenceu da relativa desimportância de ter candidato próprio no presidencialismo de coalizão da política brasileira. É melhor aliar-se a um candidato de conveniência e concentrar seus esforços na manutenção do poder onde realmente importa: as maiorias conservadoras nas duas casas do parlamento e o controle sobre os meios de comunicação de massa. Não por acaso, após quase três décadas de democracia os grandes oligopólios nacionais de comunicação permanecem sob o domínio de grupos e famílias que, quase invariavelmente, apoiaram o regime de 1964.

E nenhum dos candidatos competitivos à presidência ousa sequer discutir esse assunto.

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2. No último meio século, a direita brasileira já teve a cara da UDN golpista, já teve a cara do Jânio Quadros, já teve a cara dos militares que patrocinaram tortura e assassinatos, já teve a cara do Maluf, já teve a cara do “centrão” de Sarney, ACM, Bornhausen e companhia – e já teve a cara supostamente moderna do Fernando Collor.

A partir de 1995, a direita migrou paulatinamente para o PSDB, que deixou para trás sua origem social-democrata para se transformar na vertente nacional de um thatcherismo tardio. Os tucanos tiveram, na ocasião, a grande oportunidade de construir uma nova cara política para o pensamento de direita no Brasil. Como não tinham rabo preso ou qualquer compromisso com esse passado de golpes, torturas e bandidagens da velha UDN e dos militares, podiam ter tomado para si o discurso econômico liberal e o voto conservador, com o cuidado de deixar muito claro que não tinham nada a ver com trajetória de crimes e falcatruas da “velha direita” golpista.

Jogaram fora essa oportunidade histórica, quando a maior parte das lideranças tucanas assumiu o discurso raivoso das viúvas da ditadura militar. Quando trairam o Programa Nacional de Direitos Humanos, que o próprio PSDB havia iniciado. Quando o partido abandonou o discurso acadêmico da sua velha intelectualidade orgânica para abraçar a crítica primitiva e rasteira de meia dúzia de articulistas da Veja, da Globo e do Instituto Millenium. Quando, a partir da eleição de Lula, embarcaram num negacionismo tosco e inútil dos avanços sociais e econômicos obtidos pelos governos petistas.

Agora em 2014, o PSDB dá sinais de que pode ficar fora da disputa principal. O petismo (e boa parte da esquerda) já anunciam que a candidatura de Marina Silva e seu projeto de governo (que, pelas últimas notícias, encontra-se em processo contínuo de revisão tipográfica) seriam a nova cara da direita neo-liberal nessa eleição. Há, certamente, muitos que não concordam com essas afirmações.

Mas especulando que seja isso mesmo, essa migração do pensamento conservador para a candidatura de Marina Silva configuraria um enorme fracasso para o PSDB e para toda a direita golpista, obtusa e moralmente conservadora que encontra-se encastelada no oligopólio midiático nacional. Não deve ser à toa que boa parte dos pitbuls da imprensa estejam latindo e rosnando raivosos diante da pretensão dessa nova estrela em ocupar o seu pedaço.

Se Marina Silva, Beto Albuquerque, Maurício Rands, Luiza Erundina, Neca Setúbal e Eduardo Gianetti fossem mesmo os capitães da “nova direita brasileira”, convenhamos que a política nacional teria passado por um enorme ganho civilizatório. Mas eu temo que essa visão seja apenas parte do desenho de nuvens que dá formas a essa melíflua candidatura de Marina: cada um ouve e enxerga nela o que bem deseja.

O que explica em parte sua força eleitoral, mas é também sua maior fragilidade.

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3. Para mim, a novidade que parece estar clara é que ao menos uma parte do que poderíamos chamar de “direita liberal urbana” reinventou-se, pegando carona num novo projeto político e apresentando-se ao público com cara renovada nessa eleição presidencial. Diante disso é evidente que o discurso e as estratégias das forças de esquerda também precisam ser repensados rapidamente para fazer frente ao jogo inovador do adversário. O fato é que não faltaram nos últimos anos sinais e advertências de que a tradicional política petista sofria de envelhecimento e de severo desgaste de material após 12 anos de governo.

Descobrem-se agora os riscos da arrogância auto-suficiente de um governismo que se acomodou na zona de conforto dos índices de redução da miséria e do relativo sucesso dos programas de transferência de renda e de ação afirmativa. Evidencia-se o efeito nefasto da irritante tendência em considerar qualquer tipo de crítica interna como “traição ao projeto do PT”, empurrando as dissidências para a oposição ou transformando a grande imprensa em palco para luta interna entre grupos partidários. Do Mensalão a Pasadena, o que não faltou foi “fogo amigo” sobre as costas do próprio governo.

Ao mesmo tempo, fica clara a incapacidade petista em construir alternativas de comunicação de massa que fizessem um contraponto democrático à agenda política pautada pelos oligopólios da mídia. E vemos que o descuido no trato com os movimentos sociais reivindicatórios – e com amplos setores da sociedade civil que historicamente foram aliados ou simpatizantes da causa petista – ameaça cobrar um preço alto nessa eleição. Como na letra da canção pop, “você me tem fácil demais, que nem parece capaz de cuidar do que possui”.

Após doze anos de desgaste junto a boa parte das suas bases tradicionais em função das seguidas concessões ao conservadorismo religioso neo-pentecostal, à lucratividade do capital financeiro e aos interesses da bancada ruralista, não deixa de ser irônico o fato de que o PT esteja sendo ameaçado nas urnas por uma candidata de assumida fé evangélica, tida até ontem como inimiga figadal dos ruralistas e cuja candidatura está sendo turbinada pelo decisivo apoio de um grande banco privado, que colecionou uma série sucessiva de lucros recordes nos doze anos de governo petista.

Os deuses da política têm maneiras muito criativas de mostrar o seu senso de humor.

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4. Na hipótese de que seja mesmo consolidada a “cristianização” de Aécio Neves – e caso o PT não queira tomar um “drible da vaca” nessa eleição – a primeira questão a ser resolvida com urgência é se Dilma Roussef vai tentar bloquear as pretensões de Marina Silva posicionando-se politicamente à esquerda ou à direita da candidata do PSB. Essa postura vacilante atual – onde num dia os petistas divulgam um vídeo do Roberto Setúbal derramando-se em elogios à gestão de Lula num evento, e no outro baixam o sarrafo na Marina por conta do apoio da Neca – me parece bem pouco eficiente junto ao eleitorado.

Como já disse o Bruno Torturra, é uma tolice achar que a campanha da Marina pode ser torpedeada somente expondo à luz do dia o que ela tem de semelhante com a coligação situacionista do PT: “governa com bancos”, “acha que dá pra compor com a direita e a esquerda”, “faz o jogo dos ruralistas”, “apóia transgênicos”, “fecha com os evangélicos”. Eu agrego a essa lista do Bruno mais três semelhanças: “usa caixa dois na campanha”, “está rodeada por suspeitas de corrupção” e “há muita luta interna dentro da coligação”.

Nessa altura do campeonato, é urgente que o PT e aliados apresentem tudo que as duas candidaturas têm de diferente. E que passem imediatamente à dura tarefa de tentar convencer os eleitores de que aquilo que a Dilma propõe de diferente é o melhor para o País.

Acabaram os tempos fáceis em que bastava aos marqueteiros de campanha apontar a frágil candidatura de Aécio Neves como uma ameaça às conquistas sociais dos últimos 12 anos e um retorno aos tempos tenebrosos da dupla FHC-Armínio Fraga. A disputa para derrotar Marina Silva vai exigir mais política e menos marketing, o que no fim das contas pode ser bom.

Enganou-se somente quem achou que ia ser fácil, e que Dilma podia ganhar no primeiro turno – façanha que nem no auge da popularidade do governo Lula ela conseguiu.

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5. Por fim: qualquer partido ou grupo político que se entenda como uma proposta de longo prazo para a construção de um projeto democrático de Nação não pode confundir “vontade de ganhar eleição” com “medo de perder eleição”. Vença quem vencer, o Brasil não vai acabar em 2015, e não há hoje nada que indique que não continuaremos a ter eleições livres de dois em dois anos.

Por isso, quem perde hoje pode ganhar amanhã caso o adversário não se mostre melhor governante. E a nossa jovem (e historicamente instável) democracia precisa se acostumar à idéia de que projetos políticos bem construídos e alicerçados de forma consistente na sociedade sobrevivem sem grandes traumas às alternâncias no poder.

O Partido dos Trabalhadores foi, por décadas, vítima de um discurso de amedrontamento eleitoral, ao ponto de ter conduzido a histórica campanha de 1989 com o lema “Sem medo de ser feliz”. Por isso fica especialmente indecoroso apelar agora para essa mesma tática de recorrer ao “medo do desconhecido” contra Marina. A disputa do PT é com uma ex-militante histórica, que deixou o governo e se tornou dissidente por vários e bem conhecidos motivos. Me parece mais coerente combater a candidatura Marina pelo que ela efetivamente é, e pelo que ela hoje assumidamente significa  – e não pelo fantasma do que ela pode vir a se tornar.  

Tampouco acho muito digno desenterrar das catacumbas da história velhas acusações conspiratórias internacionais que, no final dos anos 70 e início dos anos 80, os partidos comunistas brasileiros destilaram sem grande sucesso contra um atrevido metalúrgico do ABC que não rezava pela suas cartilhas.

O pavor de perder uma eleição e de sair do governo após 12 anos pode surgir pelos mais diferentes motivos. Alguns muito nobres e justificáveis, outros nem tanto. Mas o medo é sempre mau conselheiro no calor de uma batalha. Na política, como no futebol, quem se amedronta diante do adversário costuma perder, além do jogo, a dignidade.

Como dizia o Riobaldo, o que a vida quer da gente é coragem.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

20 Comentários

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  1. Tem para mim que sempre votei

    Tem para mim que sempre votei pensando em um país maior e melhor. Pode ser ingeunidade minha. No frigir dos ovos acho que acabei votando contra os meus próprios interesses, uma vez que financeiramente teria sido melhor votar nos neo-liberais que mantinham taxas de juros escorchantes, que via de regra aumentava meus rendimentos em aplicações de renda-fixa.

    Sinceramente vou desisitir desta atitude.

    Se uma pessoa como Marina sem propostas concretas e claras, vindo originalmente da esquerda e indo para os braços da direita tem a chance de por em risco o que a duras penas foi construído, jogo a toalha.

    Por isto nesta eleição vou ajudar a F…. o Brasil. Vou votar na Marina.

  2. o pt nbão tem muita saída a

    o pt nbão tem muita saída a não ser permanecer em suas lutas históricas de inclusão social et e tal. .

    e aí é que entra a questão  economica.

    a meu ver, o pt deveria dsconstruir marina nesse aspecto,

    por suas alianças com os banqueiros, o que levaria à financeiriação da economia criando desemprego e retirada dos ganhos da populção e dos trabalhadores nestes últimos anos,

    desemprego que cria maiores problemas economicos  como oorre na europa e eua.

    e a tática deveria ser a desmontar a mistificação montada em favor (ou em detrimento?) de marina e o monte de contraições como os desmentidos dos desmentido]s oorridos de forma recorrente nos últimos dias.

    o fato de ter coragem não quer dizer que as pessoas não tenham medo -quem não tem?

    como diria drummond o problema é o medo de ter medo.

     

  3. A contradição e o engano

    O Brasil descobre grandes reservas de petróleo, uma riqueza que está desenvolvendo a indústria naval e de equipamentos.

    E o povo vai e vota numa pessoa que é contra a exploração de petróleo.

    O Brasil está construindo a terceira maior hidroelétrica e ainda tem um grande potencial hídrico a ser explorado para geração de energia.

    E o povo vai e vota numa pessoa que é contra construção de hidroelétrica.

    O Brasil domina a tecnologia nuclear, tem 2 usinas em operação, está construindo uma terceira e desenvolve o submarino nuclear para proteger nossas riquezas marítimas.

    E o povo vai e vota numa pessoa que é contra a energia nuclear.

    O Brasil é o maior produtor e exportador de grãos e carne do mundo.

    E o povo vai e vota numa pessoa que é contra exportar grãos e produzir carne.

    Ô povo burro! Tá achando o que? Que vamos viver de vender cestas de vime e sabonete da Natura?

    Acorda!!!

  4. o comentário de borges

    O argumento segue a toada dos equidistantes e independentes que abundam neste momento da campanha presidencial. Entretanto, a rigor, ainda estamos vivendo o fim de um período fúnebre, responsável exclusivo por dois acontecimentos interligados nas atuais circunstâncias: a ascensão de Marina Silva nas pesquisas eleitorais e a alta na Bolsa de Valores de São Paulo. É costume desta cair quando seus apostadores mais ousados sentem que devem realizar os lucros acumulados depois de alguns dias de entusiasmada especulação, como agora. Mas quem cairá primeiro? A resposta para esta instigante questão é clara. Cairá primeiro a Bolsa, não porque seus operadores sabem ler o que as brumas do futuro ocultam, mas por sempre lerem em primeiro lugar o resultado das enquetes. Simples assim. Concretizada a transferência dos haveres dos desatentos habituais, outros comentários, mais objetivos, merecerão a esperada atenção dos interessados.

  5. “O que a vida quer da gente é

    “O que a vida quer da gente é coragem”. E esta coragem deve estar no programa do partido e dela não abrir mão para não se pagar um preço alto mais tarde.

    Lembram como o grande personagem do Sertão Veredas vende a alma ao diabo? Primeiro ele vai numa encruzilhada, faz umas invocações, não acontece nada. Passa o tempo e se torna o líder do bando. Ele deve então provar que é mal, que é ele quem deve ser obedecido. Assim, quando estão na estrada, eles encontram algumas pessoas desconhecidas, nada haviam feito a ele ou eles. Mas ele os maltrata, os humilha, usa de violência, faz tudo isto indo contra seus valores.

    A diferença entre Grande Sertão e o processo eleitoral é que o bando é o próprio diabo, são os donos do capital. E a Dilma emprestou a alma no primeiro mandato, mas ia querer retomá-la no segundo. E o diabo é tudo, menos bobo.

  6. Nassif. Excelente, André Borges.

    Que bom que você retorna

    Pouco tenho a acrescentar ao que foi dito na bela matéria

    Então prefiro apontar no sentido de que o blog parece estar se reencontrando com a linha editorial  e que vinha cobrando com insistência do comandante Nassif tal rumo

    Nessas últimas semanas o blog voltou a bombar

    O blog se destacou pelos excelentes editoriais e por profundos e sérios comentários elevados à Post como esse do André

    O único reparo que faço é na comparação do discurso de amedrontamento,  diferente entre o de Dilma e Lula e o de Marina

    Esse reparo é de quem acredita que politica ainda é feita por partidos fortes, representando de forma solida e coesa o que querem e esperam seus eleitores

  7. Dúvidas

    “não deixa de ser irônico o fato de que o PT esteja sendo ameaçado nas urnas por uma candidata de assumida fé evangélica, tida até ontem como inimiga figadal dos ruralistas e cuja candidatura está sendo turbinada pelo decisivo apoio de um grande banco privado, que colecionou uma série sucessiva de lucros recordes nos doze anos de governo petista.”

    Excelente post!

    Mas eu queria saber o que os demais bancos, todos os ruralistas e os outros evangélicos acham disso…

    Dilma reuniu-se a portas fechadas com Edir Macedo na inauguração do Templo de Salomão.

    Malafaia faz ameaças a Marina pelo Twitter.

    Sabemos o preço de um mas não sabemos o preço do outro…

  8. Ou seja, PT fique quieto e

    Ou seja, PT fique quieto e pronto. Ah com todo respeito ao autor, mas esse texto tah parecendo mais aqueles que querem que o PT apanhe sem dar nenhuma bordoada.

    Tampouco acho muito digno desenterrar das catacumbas da história velhas acusações conspiratórias internacionais que, no final dos anos 70 e início dos anos 80, os partidos comunistas brasileiros destilaram sem grande sucesso contra um atrevido metalúrgico do ABC que não rezava pela suas cartilhas.

    Nao tem nada que achar digno ou nao. Acusacoes conspiratorias depois de Eduardo Snowden jamais podem ser usadas para ridicularizar qualquer um. Ou o autor eh mais um que acredita nas armas de destruicao em massa e que o Obama soh espionou a BR e a presidencia pelo “bem do Brasil”? Chega ser irritante essa tegiversacao para impedir o que os marineiros jah estao percebendo: eh possivel mimguar a candidatura de Marina, e o medo maior do autor do post vem aqui:

    Como já disse o Bruno Torturra, é uma tolice achar que a campanha da Marina pode ser torpedeada somente expondo à luz do dia o que ela tem de semelhante com a coligação situacionista do PT: “governa com bancos”, “acha que dá pra compor com a direita e a esquerda”, “faz o jogo dos ruralistas”, “apóia transgênicos”, “fecha com os evangélicos”. Eu agrego a essa lista do Bruno mais três semelhanças: “usa caixa dois na campanha”, “está rodeada por suspeitas de corrupção” e “há muita luta interna dentro da coligação”.

    Ou seja, “deixa disso PT”, apanhe e fique quieto.

  9. muito bom!

    – Vai batendo de frente e que sinuca pegaram eles!

    .Não deve ser à toa que boa parte dos pitbuls da imprensa esteja latindo e rosnando raivosos diante da pretensão dessa nova estrela em ocupar o seu pedaço.

    – Esqueceu o perigo? Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS, o próprio nefasto da politica brasileira e se somar todos que citou abaixo não chega perto deste escombro.  Que seleção: (PSB, PPS, Partido Pátria Livre, PARTIDO LIBERAL, Partido Humanista da Solidariedade, Partido Republicano Progressista e Partido Social Liberal Nacional).

    .Se Marina Silva, Beto Albuquerque, Maurício Rands, Luiza Erundina, Neca Setúbal e Eduardo Gianetti fossem mesmo os capitães da “nova direita brasileira”, convenhamos que a política nacional teria passado por um enorme ganho civilizatório.

    – O STF fez o que a direita queria e afastou a cúpula do PT, não sei se só foi envelhecimento mais também o sistema politico interno do PT. Calaram o PT. O partido ficou destrocado, não conseguia quem assumisse a posição de liderança e as correntes foram enfraquecidas para a eleição do primeiro mandato de Lula. Outros foram colocados e cargos da administração petista. O mensalão foi pior para o partido do que para os acusados.

    .O fato é que não faltaram nos últimos anos sinais e advertências de que a tradicional política petista sofria de envelhecimento e de severo desgaste de material após 12 anos de governo.

    – Reconstruir a Dilma é esta a única estratégia e solução. Além de que se a onda da Marina passar (?) os votos retornam para ela.

  10. Outro grande texto, talvez o melhor

    da serie do blog nesta manhã de 2ª feira.

    Acho até que os textos do blog a respeito da situação política brasileira neste ponto do processo eleitoral tem sido de altíssimo nível, melhores até que os da última Carta Capital, que é o que se salve da mídia brasileira (o que vem dos grupos globo, abril, folha/uol, oesp é absolutamente ridículo, de fundo raso e de forma boçal).

    É até engraçado o que me acontece pessoalmente. Depois de uma formação bem típica (engenharia + MBA na França) fui executivo de grupos nacionais, portanto familiares, tendo inclusive trabalhado na Duratex (grupo Itaú, famílias Setubal e Villela) até a hora que o irmão mais velho da Neca chegou á presidência (preferi mudar de ares no que os anos seguintes me deram total razão). Portanto (já que a história de vida de cada um define bastante nosso posicionamento político) votei (em SP capital) PSDB desde a fundação do partido. 

    Viajando e trabalhando muito, pouco tempo tive para refletir sobre a política brasileira a não ser lendo FSP, exame e quetais. Abandonei a FSP em 1991 por que eu escutava os podres do governo Collor nas salas de embarques de Congonhas e Santos Dumont e não lia nada na FSP.

    Abandonei “exame” na crise de final de ’98 – início de ’99 pelo comportamento ridículo da revista. Alias foi nesta crise que aprendi a ter um ouvido crítico sobre os bancos e outros gestores de $$$$: em novembro ’98 era claro que o Brasil estava quebrando, liguei para meu banco para trocar minhas aplicações, “dolarizando” tudo. A gerente tentou me remover da ideia, acabei “dolarizando” só a metade do meu $$$$: lá por fevereiro ’99 estava claro que eu tinha razão e meu banco errado (ele teve um prejuízo enorme e foi vendido ao HSBC por quase nada).

    Foi o começo da minha reflexão sobre política. Depois vieram a leitura dos livros do Nassif sobre o período. Abandonei o PSDB de vez só em 2006 (lembrem-se da minha formação), passando a eleitor dos candidatos do PT ou coligados (votei para deputado federal no Protógenes/PCdo B no que foi um das minhas grandes decepções).

    Sou hoje considerado no meu meio social (classe media/media alta paulistana/paulista) um “petista”, portanto digno de opróbrio, um traidor de sua classe, tenho que usar guarda-chuva para me proteger da baba quando a turma fala comigo.

    Reconheço os perigos que uma vitória da Marina podem representar, mas me pergunto:

    1 – será que não seria uma lição de vida para os que melhoraram de vida nos “anos Lula” e vão ter problemas rapidamente com as consequências nos seus empregos e renda das decisões dos Fraga/Lara Resende?

    2 – será que não seria uma oportunidade dos 2 partidos centrais PT  e PSDB se repensaram? No caso do PSDB é se reinventar mesmo com outro nome, No caso do PT é se renovar.

    1. Interessante relato,

      Interessante relato, Lionel! 

      E sobre as perguntas:

      O item 1 vai na linha do “bem feito” do Nassif. Mas ainda imagino que muita gente não vai cair na real, alegando que o PT deixou uma bomba para ela, etc. Ou pior ainda, acontecer um desapontamento geral com a democracia, abrindo caminho para um quadro “pós-Jânio”.

      Em relação ao item 2, eu vejo o PSDB embarcando no governo Marina sem pensar, até porque hoje não tem um Covas para segurar FHC e cia, como ocorreu na época do Collor. O Serra, por sinal, é um que deve ir sem dúvidas, até pra começar a construir pontes para 2018, pois o Aécio já era, não passa de Minas.

      Já o PT, aposto que irá para oposição, mas não boto a mão no fogo. E se o PT não for, vai deixar puto todo mundo que viu na Marina uma opção anti-petista e contra “tudo que tem aí”, o que seria engraçado até.

      E apesar de não ter falado no PSB, já imagino que teve seu futuro promissor enterrado junto com o Campos. A Marina vai sair das “entranhas” do partido ao criar a Rede, que provocará tanto dano como se fosse o Alien dos filmes de terror de hollywood pulando da barriga de alguém.

      1. Ed, quando escrevi sobre o PSDB se reinventar

        eu estava pensando no partido necessário no tabuleiro político brasileiro para representar os empresários, a classe media alta, os conservadores (mas não reacionários), enfim o que foi o Partido Republicano dos EUA quando se reinventou depois das surras eleitorais da época F. D. Roosevelt. Que “quadros” do PSDB vão aderir em massa na aventura Marina, não há dúvidas mas serão engolidos (de novo) pelos fatos, e vão sumir do mapa. Como sumirá Aécio na minha opinião. Agora acho que este partido só pode ter futuro se ele se afastar do reacionarismo boçal das famílias marinhos, frias e quetais.

        Quanto ao PT, ele pode também perder quadros para a aventura Marina, mas continuará, talvez menor, mas como real “partido de poder”, pronto para novas alternâncias, ou você acha que Haddad vai sair dele e embarcar na aventura Marina?

    1. Eu ia dizer que video game é

      Eu ia dizer que video game é coisa do demo, Gilson…mas tem gente que acha pior que o capeta até. Segundo um projeto de lei abortado (link abaixos), até o satanismo é vítima dos jogos eletrônicos.

      http://omelete.uol.com.br/games/projeto-de-lei-contra-games-ofensivos-e-retirado-do-senado/#.VASCMcVdXDY

      http://jovemnerd.com.br/jovem-nerd-news/games/projeto-de-lei-pretende-proibir-jogos-ofensivos-no-brasil/

      O relator do projeto, o senador Valter Pereira, sem partido, MS ([email protected]) em sua análise do projeto disse que apesar dos jogos serem classificados pelo Ministério da Justiça, eles desprezam o comportamento correto das crianças. O relator ainda alega que “religiões como o satanismo, budismo, hinduismo, judaísmo e o cristianismo, são ofendidas”.

  11. Resumiu meu sentimento

    E deu forma consistente às minhas melhores reflexões. É assim que penso. Acrescentaria apenas que essa acomodação é também fruto da caminhada que acredito o PT tem feito nos últimos 20 anos em direção a ser um partido de quadros e perdendo sua característica mais revolucionária que era ser majoriatriamente um de massas. Na UFPE onde trabalho, não há um núcleo sequer de estudos ou articulação. Como é possível abandonar a formação política desses jovens que não fazem idéia do jogo que se joga no Brasil? Minha geração formou-se na luta contra a ditadura. Ensina muito. Num estado democrático os inimigos são bem menos definidos, necessitam-se de ferramentas analíticas que permitam entender o cenário.

  12. Lúcida e brilhante análise

    Lúcida e brilhante análise que aponta o grande dilema do PT desde que “sentiu o gostinho” do poder: fazer política eleitoral sem abandonar a Política como processo de construção da nova história do Brasil baseada no princípio pétreo da busca de uma democracia socialista (que articula democracia representativa e democracia direta) como evolução da democracia liberal.

  13. Pois eu acrescentaria o nosso

    Pois eu acrescentaria o nosso poder judiciário a esses poderes que realmente importam para a direita…

    Ou será que alguém discorda?

  14. Dizer que independentemente

    Dizer que independentemente de quem vai ganhar o Brasil sobreviverá é o óbvio ululante. A questão é: como? Em minha roda de conversas com amigos que não curtem muito política mas têm acompanhado o PT nas últimas eleições presidenciais o argumento recorrente para justificarem a mudança, embora reconheçam que o país não está atolado no caos como é desenhado pela mídia hegemônica, para que essa guinada seja dada, é a confiança de que se tudo der errado terão Lula que retornará para consertar o estrago. É incrível, mas a maioria dos ex eleitores do PT que dizem que votarão em Marina estão pensando exatamente assim. 

    E se o “estrago” estiver para além da capacidade do presidente Lula consertar, ele voltará à disputa correndo o risco de queimar sua briografia? Ou preferirá ficar de longe, apenas como expectador privilegiado, opinando como estadista?

    Caso Marina Silva vença essas eleições e seu programa de governo que é um misto de democracia direta com neoliberalismo em estado puro seja de fato executado, será humanamente impossível contemplar todos os intereses. Não dá para governar atendendo reivindicações históricas dos movimentos sociais ao mesmo tempo em que se entrega a cereja do bolo para a banca financeira.

    Não dá para garantir os empregos da cadeia produtiva ao mesmo tempo em que se compromete com a autonomia legal do BC e se faz uma defesa ainda mais agressiva do tripé econômico. Não dá para fazer das fontes de energias renováveis a principal política energética sem ignorar os investimentos feitos no pré sal.

    Não é o PT que está fazendo a campanha do medo da qual sempre foi vítima. É o programa de Marina que examinado à luz da exequibilidade se mostra impraticável e se prenúncia como mais catástrofe política que teremos de assistir vendo o circo pegar fogo.

    E se isso se confirmar, não for apenas um jogo de cena para capitalizar os votos dos eleitores que detestam política, já no dia seguinte a sua posse começará a buscar as mesmas alianças que deram sustentação política aos governos do PSDB e do PT, no que acredito piamente que ela fará, será uma questão de sobrevivência, estaremos diante de um estelionato eleitoral ainda maior do que o de Collor.

    Mas se isso se confirmar, as ruas desse país estarão em permanente conflagração porque centrais sindicais, movimentos sociais, ongs e estudantes não vão assistir o desmonte do estado passivamente, a perca de conquistas do emprego, da valorização salarial e de programas sociais de inclusão ainda mais que boa parte dessa onda resulta das manifestações de Junho de 2013 e dos movimentos Não Vai Ter Copa e Imagina Copa.

    No primeiro momento conforme declarado pelo vice Beto Albuquerque o povo será chamado as ruas para pressionar o congresso a executar o programa de governo de Marina naquilo que mais urge, reformas política e tributária. Quando sua política econômica do desmonte do estado estiver sendo plenamente executadas e os efeitos disso sentidos na população. esse mesmo povo voltará as ruas e trirá-lo de lá vai ser muito difícil.

    Por sorte temos uma ação que dependendo de como o governo Marina se sairá será transformada numa ação de crime eleitoral e o TSE impugnará o registro de sua candidatura e ela perderá o mandato. Isto é, se o país atingir o clima de comoção, de crise institucional com o povo revoltado pedindo o fim de seu governo antes de completarem os 4 anos de mandato.

    Para isso Janote abriu um procedimento preliminar para investigar a compra do avião que matou Dudu e no qual Marina voou.

     

     

  15. Antecipando o 2º turno já!

    PARA QUE 2º TURNO?

    Excelente o comentário do André Borges ao dizer que não é nada demais, para um grande partido, a alternância de poder com a perda de uma eleição majoritária, o que virá inclusive renovar as bases de lideranças do PT. Todos que vivem o ambiente político sabemos que desde o escândalo do mensalão, a Pasadena e André Vargas/Yousself, o fogo amigo tem atuado na disputa interna de poder do partido do governo. A alternância de poder é uma das melhores virtudes da democracia.

    Pelo bem do Brasil, a tragédia e a fortuna colocaram à disposição dos brasileiros a candidatura do PSB no colo de MARINA e que poderá edificar um governo de coalizão e transição democrática se confirmar o favoritismo consagrado pela opinião e voto da maioria dos cidadãos. 

    O fato revelado pela opinião pública de 70% dos brasileiros já não creem no atual sistema e nem na representação política na forma atual. A carga tributária excessia e concentrada no governo federal precisa ser melhor distribuida aos municípios e estados onde reside o cidadão. Nada justifica que Brasília decida através de ´emendas´ parlamentares o envio de uma ambulância do SAMU para Tiririca da Serra. É a população local que deve decidir a prioridade do que fazer com os recursos públicos. As reformas são estruturais e indispensáveis.

    Já pensaram o LULA, o FHC, o SERRA, o ALCKIMIN, o TARSO, a DILMA, o SIMON, a ERUNDINA, o MAURÍCIO HANDS, o BETO ALBUQUERQUE, o MERCADANTE, o CHICO ALENCAR, o CRISTÓVÃO BUARQUE, o RANDOLFE, o CASA GRANDE, o BETO RICHA, o AECIO, a GLEIZI, o TAQUES etc., enfim, as grandes lideranças nacionais sentando à mesa para as reformas políticas, tributárias, judiciário etc., na busca do consenso?

    Pois isso é possível e sem nenhum trauma institucional.

    Esse conjunto de forças legítimas, deliberando, por exemplo, uma ERUNDINA – na presidência da Câmara dos Deputados, um SERRA ou ALOISIO, em importantes Ministérios ou um MERCADANTE como presidente do Congresso no governo de coalizão da Presidenta MARINA, visando sanear o ambiente político e oferecer estabilidade econômica e pacificação política para as reformas estruturais que o país reclama.

    Com essa coalizão não há que se falar em crises de governabilidade. A convocação de uma Assembleia Constituinte Revisora Exclusiva, em mensagem de iniciativa da atual Presidenta, prevendo a eleição no final de 2015 de constituintes com mandato único e exclusivo de dois anos para os debates nacionais das reformas, sinalizariam os limites e objetivos da coalizão.

    Para sedimentar tal ambiente, 2º turno para que? Se até meados de setembro for mantida a atual tendência eleitoral, Aécio e o PSDB poderão dar contribuição extraordinária para o momento político com um ato inédito e de impacto ímpar a favor da cidadania: renunciar à candidatura para evitar um custoso 2º turno. Além de custoso a disputa em segundo turno implica no acirramento das disputas entre ´nós x eles´, o que dificultará ou impedirá um ambiente político que facilite as reformas consensuais tão necessárias. E para isso precisamos do PT e do PSDB.

    Mas por ser competitiva cabe ao PT-DILMA manter a disputa no 1º turno e lutar para reverter a atual tendência. Porém, declarando também assumir esse compromisso, se vitoriosa, de igualmente convocar um governo de coalizão para as reformas.

    Sem o 2º turno, a candidata vitoriosa terá os meses de outubro, novembro e dezembro para coordenar os entendimentos prévios do governo de coalizão a ser anunciado ainda antes da posse numa grande festa cívica nacional.

    A instituição de 2º turno visa assegurar disputas plurais de projetos distintos a fim de assegurar ao vencedor a segura maioria de votos populares. Ora, se não há uma terceira via competitiva, e patente à conveniência da convocação das reformas consensuais, segundo turno para quê?

    Para isso, os tucanos, se mantida a diferença tão grande nas pesquisas, nesse gesto de extraordinária grandeza política deviam reconhecer e declarar expressamente, que, a população anseia pelas mudanças e que chegou a hora delas serem realizadas apoiando MARINA, e com isso, reconhecendo e acatando que a população escolherá entre DILMA e MARINA a condutora de um governo de transição com o expresso compromisso de fim das reeleições.

    Esse governo de transição comprometido a fazer apenas as reformas constitucionais necessárias, de forma consensual, com estabilidade econômica num governo de maioria com a coalizão do que há de bom nos principais partidos, com isso, assegurando condições para a disputa eleitoral em 2018 (ou 2019, se mandatos com cinco anos) com novo ambiente político e livres dos nefastos caciques Sarneys, Renans, Collors, Malufes, Arrudas, Barbalhos, Jeffersons, Dirceus cujo fim de ciclo está ao nosso alcance. 

    As precondições estão dadas, em ambiente de paz e de conciliação, dependente apenas da grandiosidade política dos principais líderes partidários.

    Enfim, ser ´sonhático´ faz parte de quem acredita que é possível colocar o Brasil no prumo e no rumo certo: economicamente próspero; politicamente democrático e socialmente justo. “Nós não vamos desistir do Brasil”.

     

  16. Foi o Zé Dirceu quem escreveu o artigo?
    Concordo com tudo, especialmente quando diz que o medo de perder não pode superar a vontade de vencer.

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