Crimes da ditadura militar contra presos comuns e “a serviço da Pátria”

As barbaridades cometidas pelos militares contra presos políticos na época da ditadura, muitas das vítimas professores universitários, intelectuais,estudantes de classe média, jornalistas,  parlamentares padres, personalidades de destaque na sociedade da época, acabaram ocupando tanto espaço na história que os crimes comuns acabaram não recebendo atenção. Nepotismo, corrupção, negligência, peculato, ficaram nas sombras, tanto como crimes contra a pessoa.

O delegado Fleury e bando, por exemplo,  um dos heróis mais homenageados pelas três armas, assassinava quase que diariamente presos comuns, após barbaramente torturá-los. Quando não capturava o suficiente diretamente, ia buscar alguns “exemplares” no Presídio Tiradentes. O diretor do Presídio se encarregava de sumir com a ficha. Quase todos não chegaram a ser julgados. Mas se julgados, como não se poderia sumir com o processo, registrava-se que o preso fugira. Sem problemas. E os demais, eram culpados? Certamente isso não preocupava os militares e civis que governavam na época. Fleury continuava a receber medalhas. Era um pacificador.

Outro episódio digno de ser lembrado como representativo da época vivida aconteceu em um quartel do I Exército, no Rio, também com pessoas comuns, ou seja, que não eram opositores políticos.  Alguns jovens recrutas foram presos por serem maconheiros e torturados até dizerem o nome dos demais que fumavam maconha no batalhão. Quinze no total foram presos e continuaram sendo torturados, principalmente espancados com chicotes, paus e palmatórias, a tal ponto que dois morreram.

O comandante do batalhão, um tal coronel Gladstone, mandou que seus oficiais preparassem uma simulação de fuga e até chegou a convocar os fugitivos por editais. Acontece que logo depois outros dois torturados também morreram. Sem problemas. Os militares “investigaram” e “descobriram” que esse dois tinham sido espancados até a morte pelos dois fugitivos. Certamente os demais, sabe-se lá em que estado mental e físico sobreviveram, nunca se atreveria a denunciar, muito menos haveria “traidores da pátria” entre as dezenas de oficiais do batalhão, do Hospital do Exército e demais quartéis em que se soube do episódio. De fato, apenas uma mãe de uma das vítimas, todos jovens de 19 anos, levou a denúncia ao bispo Waldir Calheiros, de Volta Redonda e ele deu início, com muita coragem e sob ameaças, a divulgação do episódio, que acabou em prisão dos torturadores.

O episódio acabou discretamente divulgado como exemplo de que o exército punia torturadores.  Na verdade, com tantos oficiais, sargentos e soldados  torturando simples viciados em maconha até a morte, eram pelo menos uma dezena,  e outro tanto de oficiais superiores encobrindo o crime, era amostra de onde o regime chegara em bestialidade, insanidade, até onde os militares se achavam sem limites legais em suas ações, se achavam no direito de decidir sobre a vida e a morte (com crueldades) dos cidadãos comuns. Envenenados pelo que ocorria, se achavam a serviço da Pátria. Difícil saber quantos outros fatos dantescos devem ter acontecido pelo país onde não houve uma mãe e um bispo corajosos dispostos a enfrentar as ameaças, mais que concretas e verossímeis, e  denunciar o fato a tal ponto que os assassinos fossem punidos.

Redação

1 Comentário

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  1. O Fleury era do DEIC antes de

    O Fleury era do DEIC antes de ir para a policia politica (DOPS) o Claudio Guerra era delegado antes de ir para a policia secreta (SNI).

    Foi feita uma pesquisa acho que em 1970 sobre o ESQUADRÃO DA MORTE  e a maioria da população apoiava os assassinatos. os policiais matavam presos comuns pregavam  um cartaz com uma caveira (igual a do BOP) colocavam no corpo e ligavam para os jornais para irem  fotografar. Esses policiais consideravam que estavam fazendo “profilaxia” mas a população os adorava   enão  não se opunha. depois eles foram fazer a mesma coisa com mais recursos na Policia Politica.

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